O Campeonato Mundial de Selos, realizado em Tel Aviv, é prova de que, mesmo na era da Internet, os selos não perderam relevância. Muito pelo contrário, são uma ferramenta educativa que traz inúmeras informações, inclusive sobre a história judaica e sionista.
Mesmo nos dias de hoje, na era da comunicação instantânea e das vídeo-conferências, colecionar selos ainda é um hobby que atrai adeptos no mundo todo. O sucesso de público e de participantes no Campeonato Mundial de Selos (World Stamp Championship) realizado em Tel Aviv (Israel), em maio de 2008, comprova que esses pequenos e valiosos pedaços de papel ainda despertam a imaginação de pessoas de diferentes gerações e testemunham fatos marcantes na história da humanidade.
O evento, incluído no calendário oficial que marcou a comemoração dos 60 anos do Estado de Israel, contou com a presença de colecionadores israelenses e estrangeiros. Organizada pela Federação Filatélica de Israel e pelo Serviço de Filatelia da Companhia de Correios de Tel Aviv, a cada dez anos realiza-se em Israel uma grande exposição internacional de selos e, a cada dois, a edição nacional.
O que torna uma coleção de selos realmente especial? Vários fatores garantem a singularidade dos selos, entre os quais, a raridade, a temática e seu potencial educativo. Difícil imaginar quanta informação pode ser transmitida em um pedaço tão pequeno de papel, seja através da ilustração ou texto do selo, ou em função do evento comemorativo que registra. Tanto em Israel quanto em outros países, é tradição lançar selos alusivos a importantes datas ou personalidades. Além disso, nas exposições filatélicas internacionais, como o recente evento, em Israel, são expostos, além de selos, cartas, cartões postais e envelopes com nomes, endereços e datas históricas. Todas essas informações ajudam a contar a história e, não raro, de uma maneira pela qual nunca tinha sido escrita.
O Campeonato Mundial de Selos, de Tel Aviv, foi dividido em diferentes categorias. As exibições foram classificadas por tema. Por exemplo, a exibição denominada "Marry Me" (Case-se comigo), exibiu uma coleção de selos relacionados a casamento, que a Baronesa de Luxemburgo passou a colecionar após o casamento do príncipe Charles com Diana. Outra exibição temática mostrou a evolução dos correios e exibiu um selo que passou por vários processos de desinfecção para evitar a possibilidade de contaminar quem o manuseasse. Naturalmente, não faltou a categoria tradicional - com selos de determinados períodos ou locais de relevância histórica.
Foi um colecionador francês quem exibiu o primeiro selo emitido pelo Estado de Israel. O selo revela que os preparativos para a criação do Estado incluíram a impressão de selos. Mas como o nome do Estado judeu ainda não havia sido decidido, David Remez, então ministro de Transportes do governo judaico provisório, decidiu que seriam impressas no selo as palavras Doar Ivri, ou seja, Correio Hebraico. O primeiro selo foi desenhado pelo artista gráfico polonês Otte Wallish, que fizera aliá da então Checoslováquia, em 1935. Além de ilustrar 54 dos primeiros 81 selos emitidos pelo Estado de Israel, Wallish foi responsável também pelo design da Declaração de Independência e de algumas moedas e papel-moeda do Estado de Israel.
Mas a história filatélica na Terra de Israel é mais antiga que a do próprio Estado judeu. A exibição de Zvi Alexander sobre "O correio turco na Terra Santa", cobrindo o período de 1841 a 1918, revela que a primeira agência de correios da então Palestina foi instalada na cidade de Acco (Acre) em 1865; antes disso, todo o serviço postal para a Terra Santa passava por Beirute.
Outra coleção revela que uma das formas pelas quais as potências européias tentavam marcar presença na Terra de Israel era abrindo agências de correio. O primeiro país a montar uma agência estrangeira de correio na Terra Santa foi a Áustria, em 1852, seguida pela França, no mesmo ano. A Rússia fez o mesmo em 1856 e, os alemães, em 1898, pouco antes da famosa visita do kaiser Guilherme II a Jerusalém. A Itália apenas o fez em 1908.
Era bastante intensa a concorrência entre as diferentes agências de correios europeus na Terra de Israel. Para conquistar clientes judeus, alguns países abriram agências em assentamentos de pioneiros, como Rishon Letzion. Havia também agências em Jerusalém, Tel Aviv e Haifa. Em 1909, a Áustria promoveu uma pequena revolução no mundo filatélico ao lançar o primeiro selo em hebraico, no qual estava escrito Petach Tikva, em caracteres hebraicos. O selo, que custava 14 paras (moeda utilizada na época pelo Império Otomano), poderia ser utilizado exclusivamente para o correio local. Porém, tudo isso chegou ao fim, com a eclosão da 1a Guerra Mundial. No dia 30 de setembro de 1914, o Império Otomano, prestes a se aliar à Alemanha, fechou todas as agências estrangeiras de correios na Terra Santa.
Outras coleções expostas no Campeonato Mundial de Selos de Tel Aviv abordaram o tema do Mandato Britânico na Terra de Israel. A medida adotada pelos ingleses, no início de 1948, como parte dos preparativos para abrir mão de seu mandato, foi interromper os serviços de correio local e internacional na então Palestina. Para evitar que estes serviços permanecessem inoperantes até o estabelecimento do Estado de Israel, a Agência Judaica assumiu essa responsabilidade, e imprimiu a palavra Doar - correio, em hebraico - sobre os selos emitidos. Esta medida manteve-se em vigor até 15 de maio de 1948.
Contar um pouco da história de Israel foi o principal objetivo da exibição de selos do colecionador Lawrence Fisher. Profundamente interessado no conflito árabe-israelense, Fisher, que serviu nas forças armadas israelenses, fez deste tema o ponto central de sua coleção. Possui mais de mil selos cujos principais temas são o conflito entre árabes e israelenses e o uso de selos como propaganda de guerra contra o Estado judeu.
A coleção exposta por Fisher inicia-se demonstrando o desespero dos judeus no Holocausto, através de cartões postais enviados dos campos de concentração e uma carta que os judeus de Varsóvia enviaram para membros da comunidade judaica em Xangai, pedindo alimentos. Através da correspondência trocada por imigrantes clandestinos judeus, aprisionados em campos de detenção britânicos, Fisher retrata os confrontos entre judeus e ingleses acerca da imigração judaica para a então Palestina. A coleção inclui, ainda, uma carta enviada de Latrun para o Campo Gilgil para deportados, no Quênia, cujo selo foi retirado pelos britânicos, sob a suspeita de ocultar uma mensagem cifrada.
As preciosidades deste colecionador prosseguem narrando a criação do Estado de Israel e suas guerras, e finalizam com os selos utilizados como propaganda contra o país pelo Irã, Jordânia, Iêmen, Tunísia, Marrocos e Iraque. Lawrence Fisher conseguiu retratar, de forma brilhante, através da grande coleção de selos que acumulou durante muitos anos, a complexa história de Israel.
Filatelista brasileiro ganha Medalha de Ouro em Israel
O colecionador brasileiro, Marcos Chusyd, participou do Campeonato Mundial de Selos (World Stamp Championship) realizado em Tel Aviv de 14 a 21 de maio, com a coleção "Casa da Moeda 1881-1888", recebendo a Medalha de Ouro.
O grande prêmio da exposição em Israel foi para Luis Alemany, da Espanha, com a coleção "Olhos de Boi", do Brasil.
Não é a primeira vez que Chusyd participa desta mostra - em 1998, quando Israel comemorou 50 anos de independência, ele se fez presente com a coleção "D. Pedro II", ocasião em que também recebeu Medalha de Ouro.
Colecionador de selos desde os 10 anos de idade, Chusyd é um nome respeitado no universo filatélico há quase três décadas, com ampla participação em eventos no Brasil e no exterior. No primeiro semestre deste ano, organizou uma exposição em homenagem aos 60 anos de Israel, na sede do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro. A exibição permaneceu aberta ao público durante dois meses e mostrou a formação do Estado judeu, através da filatelia, durante a época em que a Palestina estava sob domínio do Império Turco, no século 19, durante o Mandato Britânico, além da formação das agências postais da Áustria, Alemanha, Rússia, Itália e França e nos primeiros anos de Israel.
Apesar de colecionar selos sobre temas ligados a Israel há anos, foi a primeira vez que o material foi exposto. A mostra no AHJB incluiu, ainda, o documento original da Partilha da Palestina, aprovada pelas Nações Unidas, em 1947; uma carta original assinada por Theodor Herzl; selos de países árabes que trazem desenhos contra Israel; e quatro em homenagem a Oswaldo Aranha, que presidiu a célebre sessão das Nações Unidas, em 29 de novembro de 1947. Há, também, muitos materiais sobre a Guerra dos Seis Dias, de 1967, e selos recentes, de 2008, comemorativos dos 60 anos de Israel.
Embora reconhecido internacionalmente pelas séries com temática brasileira, como "Inteiros postais do Brasil no século 19", "Casa da Moeda 1881-1888" e "O Carimbo Francês no Brasil", Chusyd confessa que as que mais o emocionam são "Israel", "Judaica" e "História Postal de Israel".
Segundo o filatelista, "há diversas maneiras de se entender a história, mas a evolução filatélica é uma forma bastante particular de se compreender as transformações históricas e geopolíticas de uma nação. Além de uma rica fonte de estudo, o selo é uma expressão artística e um canal de comunicação pelo qual um país deixa registrado interna e externamente todo um conjunto de valores, códigos e mensagens.
A filatelia não acaba, pois sua finalidade não é somente postal, mas apresenta cultura, arte, história, conhecimento de cada país e permite o intercâmbio entre pessoas de varias nacionalidades, religião e cultura".
Ele esteve presente, também, em uma importante exposição nacional, realizada em junho último em Florianópolis, através da Federação dos Filatelistas do Brasil. O evento contou com a presença de colecionadores de todo o País.