O período de três semanas que se inicia em 17 de Tamuz e termina em Tishá b’Av, 9º dia do mês de Av, é uma época de luto para o Povo Judeu.

O 17º dia de Tamuz, que este ano cai no dia 19 de julho, é um dia de jejum que se inicia antes do nascer do sol e termina após o anoitecer. Nove de Av, neste ano em 9 de agosto, é o dia mais triste do calendário judaico e se jejua o dia inteiro. Excetuando-se Yom Kipur, Tishá b’Av é o único dia no ano judaico no qual somos obrigados a jejuar desde o anoitecer de um dia até o anoitecer do dia seguinte. Mas, enquanto Yom Kipur é um dia solene, mas feliz – por ser o dia do perdão, no qual jejuamos para nos elevarmos espiritualmente – o 9º dia de Av é um dia de tristeza e luto, no qual lamentamos a destruição dos dois Templos Sagrados, ambos ocorridos nessa data sinistra.

Não é coincidência o fato de que tanto o primeiro quanto o segundo Templo Sagrado tombaram nessa data. Ensina o Talmud que as ocasiões felizes tendem a ocorrer em datas auspiciosas e as infelizes em datas infaustas. Por exemplo, o Povo Judeu foi perdoado por D’us pelo pecado do bezerro de ouro no 10º dia do mês hebraico de Tishrei. Esse dia se tornou um precedente para o perdão Divino e foi instituído, pelo Criador, como Yom Kipur – o Dia do Perdão e da Expiação – para todas as gerações subseqüentes.

Mas o inverso também é verdadeiro. Eventos infelizes que ocorreram em certas datas marcaram-nas como dias adversos para as futuras gerações. O 17º de Tamuz foi um desses. O Talmud lista vários eventos trágicos ocorridos nessa data. O primeiro deles, o precedente que marcaria essa data como um dia infausto, foi o pecado do bezerro de ouro, ocorrido no Deserto de Sinai, apenas 40 dias após D’us Se ter revelado a todo o Povo Judeu e proclamado os Dez Mandamentos, que atestam Sua absoluta unidade e unicidade e que proíbem estritamente a idolatria.

O episódio do pecado do bezerro de ouro é um dos relatos mais polêmicos da Torá. Através dos tempos, os Sábios e eruditos tentaram explicar o que levou o povo a cometer tão grave pecado. Especialmente intrigante é o momento de sua ocorrência: realizou-se logo após os Filhos de Israel terem vivenciado a maior Revelação Divina de todos os tempos. Está além do escopo deste ensaio uma análise profunda e completa do episódio, mas o que podemos dizer é que o Povo Judeu cometeu vários erros, o que o levou a criar o bezerro de ouro.

O primeiro deles foi um simples erro de cálculo, mas teve consequências catastróficas. Após a Revelação Divina no Monte Sinai, Moshé ascendeu ao mesmo para receber a Torá. Ele disse ao povo que retornaria em 40 dias. Eles o esperavam de volta no dia 16 de Tamuz, pois contavam o dia de sua subida como o primeiro dos 40. Quando chega o 16º dia sem que seu líder tivesse retornado, eles pressupõem que ele estivesse morto. Eles não percebem que ele voltaria quando se completassem 40 dias completos, ou seja, no 17º dia de Tamuz. Pensando, então, que Moshé tivesse morrido, o povo se pergunta: Agora que nosso pastor se foi – o homem que nos ligou a D’us, e que serviu de Seu porta-voz, comunicando-nos a Sua Vontade – quem irá substituí-lo? Quem servirá de interface entre D’us e nós?

Decidem, então, que seria um bezerro feito em ouro. Por que um bezerro, especificamente? Porque quando D’us Se revelou no Monte Sinai, o povo, que teve a maior visão profética de todos os tempos – que suplantou mesmo a do profeta Ezequiel – contemplou a visão sublime e mística da Merkavá, a Divina Carruagem Celestial, e julgou perceber, entre outros, as feições de um touro. Como o Povo Judeu viu a imagem de um touro ser projetada pela Carruagem Divina, julgou que esta imagem seria o meio adequado para lhes servir de conexão com D’us. Para muitos judeus, o bezerro de ouro serviria, pois, não como substituto de D’us, mas de Moshé.

No entanto, havia também aqueles que entendiam o bezerro de ouro como “substituto” de D’us. Alguns milhares de egípcios que haviam deixado sua terra junto com os judeus interpretaram a suposta morte de Moshé de maneira diferente, mas que também os levou a convencer os judeus a criar um bezerro. Quando Moshé não desce da montanha no dia esperado, os egípcios especulam que talvez houvesse outra explicação para as pragas que se haviam abatido sobre seu país. Quem sabe, pensavam, não fora o D’us dos judeus quem vencera a natureza e os salvara, mas simplesmente uma força da natureza se tivesse sobreposto a outra?

Os egípcios tinham um culto especial de adoração ao carneiro, cujo símbolo no Zodíaco é Áries, e que é associado ao mês de Nissan, mês em que ocorreu o Êxodo judaico. O símbolo que se segue no Zodíaco é Touro. Os egípcios raciocinaram que talvez os judeus tivessem sido salvos no mês de Nissan porque Touro tivesse vencido Áries. Sua teoria era tão “racional” e convincente que alguns judeus a aceitaram e, por essa razão, o ídolo que construíram foi um bezerro, filhote do touro. Cabe notar que em Salmos, 106:20, o bezerro de ouro é especificamente chamado de “touro”.

O pecado do bezerro de ouro foi, portanto, resultado de vários fatores: um erro de cálculo e falta de paciência, interpretação errônea de uma impactante experiência mística e argumentos convincentes de idólatras, que acreditavam nas forças da natureza e sinais astrológicos, mas não n’ Aquele que os criou e tudo controla. Essas justificativas para o pecado do bezerro de ouro não o desculpam por completo: de fato, os judeus cometeram um terrível ato de idolatria. E esse pecado foi tão grave que quando Moshé retorna ao acampamento judaico em 17 de Tamuz e vê, com seus próprios olhos, o povo adorar o bezerro de ouro, ele quebra as Tábuas dos Dez Mandamentos que D’us Próprio moldara. Além disso, o pecado do bezerro de ouro quase resulta no aniquilamento do Povo Judeu por D’us. Moshé teve que orar, com todo fervor, durante 120 dias, e invocar os méritos dos três Patriarcas para que o povo fosse poupado. Apesar do perdão Divino, que foi concedido em Yom Kipur – o dia em que Moshé retornou com um segundo par de Tábuas contendo os Dez Mandamentos – o pecado do bezerro de ouro marcava o dia 17 de Tamuz como um dia infausto no nosso calendário. Através da história judaica, antiga e contemporânea, nesta data ocorreram vários eventos trágicos para todo o nosso povo.

Tishá b’Av e os dez espiões

O dia 17 de Tamuz é um dia de jejum que marca o início das três semanas de luto, mas o dia mais triste do calendário judaico é o último dia desse período infausto: Tishá b’Av, o 9º dia do mês hebraico de Menachem Av. Qual o evento que marcou esse dia como o mais nefasto em nosso calendário? Foi um incidente que também ocorreu enquanto nosso povo se encontrava no deserto de Sinai, apenas um ano após o pecado do bezerro de ouro.

Esse episódio está relatado na porção Shelach da Torá, no quarto livro, Números – em hebraico, Bamidbar. O Povo Judeu estava prestes a entrar na Terra Prometida quando seus integrantes tiveram uma idéia e a sugeriram a Moshé: que se fizesse uma missão de reconhecimento na Terra de Israel – uma vistoria militar exploratória para coletar informações sobre a mesma – para que assim a pudessem conquistar mais facilmente. Moshé consulta o Eterno acerca da idéia e D’us lhe diz, pela primeira vez na vida do profeta, que ele agisse de acordo com sua intuição.

Moshé convoca doze líderes do povo, um de cada tribo, e os manda espionar a Terra Prometida. (Ver Morashá n0 37). Havia várias razões para ele levar avante a idéia da missão de reconhecimento. Primeiro, os espiões iriam familiarizar-se com a Terra de Israel: esse seria o primeiro passo para conquistá-la. Segundo, Moshé acreditava que após ver a Terra, os espiões ficariam ainda mais entusiasmados em conquistá-la e nela habitar, e inspirariam os demais com sua vibração. Terceiro, a missão tinha uma razão mais profunda, espiritual: ele mandara doze homens, um de cada tribo, porque a Terra seria dividida em 12 partes, uma para cada tribo. Os espiões deveriam percorrer toda a Terra para possuí-la espiritualmente para suas respectivas tribos: tratava-se de um prelúdio para a posse física da Terra.

Para essa importante missão, Moshé escolhe os 12 Meraglim, espiões em hebraico – a nata do Povo Judeu. Eles retornam 40 dias depois. Dez deles colocam-se diante de todo o povo e fazem exatamente o contrário do que seu líder esperava. Ao invés de louvar a Terra, ao invés de demonstrar entusiasmo e confiança em sua capacidade de conquistá-la, eles difamam a Terra Prometida e fazem um relato nefasto. “É uma terra que engole seus habitantes”, dizem ao povo. “Gigantes a povoam; é maciçamente fortificada. Sentimo-nos como gafanhotos perante seus habitantes e, de fato, assim eles nos viram. É demais para nós. Jamais a poderemos conquistar”. Somente dois dentre os 12 Meraglim – Yehoshua bin Nun (Ver artigo pág. 12) e Calev ben Yefuné – foram totalmente contrários ao relato. Mas em quem os judeus optaram por acreditar? Na maioria, nos dez espiões. Seguiu-se uma verdadeira comoção coletiva. Choro e lamentos por toda parte, expressando o desejo de retornar ao Egito. Quando D’us ouve o povo chorar, em total falta de fé no Criador e em Sua promessa de os levar à Terra Prometida, Ele emite o seguinte decreto: “Esta noite choram sem razão. Eu prometo que no futuro, hei de lhes dar boas razões para chorarem”. A noite na qual os espiões difamaram a Terra perante o Povo Judeu e na qual houve total descontrole e choro coletivo era 9 de Av, Tishá b’Av.

A reação Divina a todo o episódio dos espiões e à reação do povo é muito intensa e grave. O Todo Poderoso executa os espiões e ameaça aniquilar o Povo Judeu. Assim como no incidente do bezerro de ouro, Moshé intercede junto a D’us em favor de seu povo. D’us se compadece e poupa Seu povo da destruição, mas Ele decreta algo que não havia decretado após o pecado do bezerro de ouro. À exceção de Yehoshua e Caleb, aquela geração de judeus, que chorara ao ouvir o relato dos dez Meraglim, morreria no deserto. Eles haviam reagido de forma descontrolada porque tiveram medo de adentrar na Terra, e, portanto, seu desejo seria concedido: nenhum deles teria permissão de pisar em Israel. Somente seus descendentes, a próxima geração de judeus, iria entrar na Terra Prometida, liderada por Yehoshua bin Nun, servo fiel de Moshé.

Comparando os dois pecados

Dos dois episódios acima descritos, qual dos dois poder-se-ia dizer ser o pecado mais grave: cometer idolatria ao moldar e adorar um bezerro de ouro ou difamar a Terra de Israel e demonstrar falta de fé em D’us? A maioria das pessoas julgaria ser o primeiro, já que a idolatria é um pecado cardinal no judaísmo; é a rejeição de toda a Torá e é um dos poucos pecados que um judeu tem que evitar a todo custo, mesmo à custa de sua vida. Por outro lado, o incidente dos espiões nem sequer parece ser um pecado. Não fosse pela reação Divina e por Seu decreto de que o povo permaneceria no deserto, talvez nem atribuíssemos qualquer transgressão aos dez Meraglim. Afinal, eles foram enviados para espionar a Terra e quando retornaram, simplesmente relataram o que viram. Não mentiram nem exageraram. A Terra era, de fato, habitada por gigantes; era maciçamente fortificada e exigiria, como ocorreu, sob a liderança de Yehoshua, intensas batalhas e milagres, para que pudesse ser conquistada.

O pecado dos espiões residiu na forma como fizeram seu relato. Eles tinham sido enviados por Moshé – não pelo Povo Judeu; portanto, deveriam ter apresentado seu relatório apenas a ele, em particular. Se tinham preocupações ou temores, eles deveriam tê-los levado a seu líder. Mas, ao invés disso, apresentaram seu relatório perante todo o Povo Judeu, causando aquele tumulto de massa. No tocante aos judeus, seu pecado, que lhes custou a entrada na Terra Prometida, foi que, em um único momento, a psique de um povo todo se modificou. Eles se esqueceram da redenção no Egito, das Dez Pragas, da abertura do mar, da Revelação no Monte Sinai e das promessas Divinas de que eram o Povo Escolhido por D’us e de que Ele os conduziria em segurança à Terra Prometida. Ao ouvir o relato dos dez espiões, eles expressaram a mentalidade de escravos: temor, apreensão e o sentimento de que nós, judeus, somos pequenos e fracos, e que o mundo é grande e forte. Desaparecera sua fé no Todo Poderoso, apesar de todos os Seus sinais, milagres e revelações.

Se o grau de punição é sinal da intensidade de um pecado, então o episódio dos espiões foi mais grave do que o do bezerro de ouro. Como vimos acima e isto merece ser repetido, os judeus foram proscritos de entrar na Terra após o pecado dos espiões, não do bezerro de ouro. Mas, ainda mais significativa é a data do pecado dos espiões – Tishá b’Av – que se tornou o dia mais nefasto do calendário judaico. Em 17 de Tamuz nós jejuamos durante o dia; em Tishá b’Av, o fazemos noite e dia. Ao longo da História Judaica, aconteceram eventos tristes na data de 17 de Tamuz, mas foi em 9 de Av que os eventos mais trágicos na história de nosso povo ocorreram. Entre esses, a queda dos dois Templos, que resultaram na Diáspora e em seus inúmeros episódios dolorosos – a longa história de perseguições e discriminação, decretos e expulsões humilhantes, os pogroms, a Inquisição e, acima de tudo, o Holocausto.

Há uma pergunta que paira no ar: por que o pecado dos espiões, mais do que o do bezerro de ouro, teve conseqüências maiores e de mais longo alcance na História Judaica? 

As falhas da liderança

A palavra Torá deriva da palavra hora’á, que significa instrução. Tudo que consta na Torá é uma lição para todos os judeus e para todas as gerações. O livro sagrado não descreve as transgressões de nossos antepassados para difamá-los, mas para nos ensinar uma lição. Neste artigo, também, nosso propósito não é apontar erros e falhas em nossos antepassados – aqueles que tiveram o mérito de ouvir a Voz de D’us e de receber a Torá – mas, sim, aprender com seus erros. Para enfatizar esse ponto, é apropriado relatar a seguinte história.

Certa vez, um judeu foi ao Rabi Menachem Mendel de Kotzk, o famoso Rebe de Kotzk, que era conhecido por sua devoção à verdade. “Rebe,” perguntou o judeu, “não entendo por que prezamos tanto o Chumash. Esta obra está repleta de relatos de pecados: o pecado do bezerro de ouro, o pecado dos espiões, e tantos outros pecados”. E o Rebe lhe respondeu: “Meu caro judeu. A partir dos pecados e transgressões daquela época compilou-se uma Torá. Temo que a partir de suas virtudes e mitzvot, não se compilará uma Torá”.

D’us escreveu na sua Torá relatos que nem sempre são elogiosos a nossos antepassados porque Sua intenção era ensinar lições a todas as gerações do Povo Judeu. O episódio do pecado do bezerro de ouro, por exemplo, contém inúmeras lições dentro de si. Ensina-nos que não necessitamos de objetos ou seres humanos para nos conectar com D’us. Bem verdade, um ser como Moshé é importante; carecemos de líderes espirituais e mestres. Mas na falta destes, não buscamos intermediários. D’us está em toda parte e Ele nos deu os meios de nos conectarmos a Ele, que são Sua Torá e seus Mandamentos, as orações e os atos de bondade. Outra lição: não precisamos ir atrás de experiências místicas que levem à confusão espiritual e ao distanciamento da Torá, pois isso geralmente resulta na prática da idolatria ou em uma forma não autêntica de judaísmo. E, por fim, não devemos nos deixar influenciar por argumentos racionais e convincentes vindos de quem nega a existência e a unicidade de D’us.

O pecado dos dez espiões também nos ensina várias lições. O episódio deixa claro que quem não valoriza a Terra de Israel não é digno de lá viver. A Terra Prometida é a Morada Terrena da Shechiná, a Presença Divina. Essa Terra foi prometida aos Patriarcas – Avraham, Itzhak e Yaacov – como herança eterna do Povo Judeu. Aqueles que não têm amor pela Terra, aqueles que se opõem à presença judaica em seu território, independentemente de serem ou não judeus, far-lhes-ia um grande bem estudar a história dos espiões. Esses dez homens que difamaram a Terra foram prontamente aniquilados por D’us e o povo que chorou e se lamentou foi impedido de pisar no solo sagrado.

Quem acredita que a Torá é a Palavra de D’us não pode opor-se à presença judaica em toda a Terra de Israel. Não surpreende, pois, que tantos milhões de cristãos em todo o mundo, que acreditam no Tanach – ao qual chamam de Velho Testamento – dêem seu total apoio ao Estado de Israel. É também digno de menção o fato de que os cidadãos de Israel se referem a seu país como “Haaretz” – “a Terra”, e não “HaMediná”, o Estado. Está além do poder de qualquer ser humano ou de qualquer organismo político modificar as fronteiras da Terra de Israel. Somente D’us pode fazê-lo. De fato, nossos Sábios ensinam que na Era Messiânica, a Terra de Israel, Eretz Israel, espalhar-se-á e cobrirá o mundo todo. Ou seja, sua santidade será disseminada por toda a Terra.

Ambos os episódios – o do bezerro de ouro e o dos espiões – ensinam-nos muitas lições, mas as mais reveladoras são as que se originam da comparação entre ambos. Ao analisá-los em conjunto, fica claro que a Torá nos ensina que a confusão espiritual e os pecados cometidos contra D’us são menos sérios que a falta de fé n’Ele e o pânico e o descontrole coletivo. A pessoa pode ser perdoada por cometer um pecado terrível como a idolatria; mais difícil é perdoar a total falta de confiança no Eterno e em Suas promessas.

O Povo Judeu cultuou e adorou um bezerro de ouro porque se sentiu desgovernado, sem Moshé; vivenciaram um evento místico – a visão da Merkavá – A Carruagem Celestial – que talvez tenha sido muito forte para a maioria deles. Pecados desse tipo, pelos quais pedimos perdão em Yom Kipur, são chamados de “pecados cometidos pela confusão do coração”.

Mas o episódio dos espiões foi cometido pela liderança do Povo Judeu – por pessoas mais preparadas que as demais. Há inúmeras explicações para o que fizeram: a generosa, é que difamaram a Terra porque queriam permanecer no deserto estudando a Torá liderados por Moshé; entrar na Terra significava ter de lutar, trabalhar e se preocupar com os afazeres do cotidiano. Outra explicação, não tão generosa, seria a de que entraram em pânico e contaminaram o povo todo com seus medos. Mas, seja qual for a razão para agir como agiram, o resultado final foi terem difamado Eretz Israel – Morada da Divina Presença na Terra e herança eterna do Povo Judeu – levando os judeus ao total descontrole. Verdadeiros líderes não agem assim, jamais. Um homem pode pecar em sua vida privada e ser perdoado por D’us, mas um líder, uma pessoa responsável por outros – e não importa se é um pai, professor, rabino ou o primeiro ministro de Israel – não pode permitir-se falhar em sua posição de poder, pois suas falhas afetam a vida de muitos outros.

Ao discutir o pecado do bezerro de ouro e o dos dez Meraglim, pode-se estabelecer um interessante paralelo com os reinos dos dois primeiros reis de Israel – Shaul e David. Ensina-se que Shaul era uma alma mais pura que David, mas que este último era um melhor rei. Shaul pecou enquanto rei; ao passo que se o Rei David pecou no episódio de Bat-Sheva, este episódio é passível de discussão. Mas mesmo que tenha pecado, tratou-se de um pecado particular: não afetou o Povo Judeu como um todo. Shaul pode ter tido um caráter impecável, mas David foi um líder impecável. E, portanto, a monarquia de Israel foi tirada da Casa de Shaul e entregue, perpetuamente, à Casa de David. Não surpreende, portanto, que o Mashiach, que erguerá o Terceiro Templo de Jerusalém, seja descendente do Rei David. De fato, há uma opinião no Talmud que indica que seu nome será David. Sabemos que os dois Templos Sagrados foram destruídos em Tishá b´Av – a data em que dez líderes judeus expressaram falta de confiança em D’us e falharam como líderes.

O Mashiach, que irá personificar a liderança do Rei David e infundir a humanidade com conhecimento e fé em D’us, irá reverter o dano causado pelos líderes do passado, cujas ações criaram um precedente que, mais tarde, levou à destruição do Palácio de D’us e ao exílio de Seu Povo.

Há uma tradição de que a alma do Mashiach nasceu no dia de Tishá b'Av quando o Templo foi destruído, e que permanece em Gan Eden, no Paraíso, aguardando para vir ao mundo. Há, também, uma tradição que diz que ele virá a este mundo em Tishá b'Av, para que a redenção ocorra na data da destruição. Que isso ocorra muito em breve, em nossos dias.

Bibliografia:
Chumash Shemot - The Book of Exodus - With an Interpolated English Translation and Commentary Based on the Works of the Lubavitcher Rebbe, Kehot Publication Society