"Porém aos quinze dias do sétimo mês, quando tiverdes recolhido os produtos da terra, celebrareis a festa do Senhor por sete dias; ao primeiro dia e também ao oitavo haverá descanso solene..." (Levítico XXIII, 39-40)
De acordo com as explicações de nossos Sábios, o fruto da árvore descrita no texto em hebraico como sendo a árvore do hadar é o etrog, e a árvore de avot, o hadass e o mirto. E assim, no primeiro dia da festividade de Sucot, deve-se adquirir como propriedade pessoal um etrog, um ramo de palmeira, mirto e salgueiro; e com estes rejubilar-se na presença de HaShem, nosso D’us. O etrog simboliza sustento e aroma; o lulav, sustento sem aroma; o mirto, aroma sem sustento; e o salgueiro, nem o sustento nem o aroma, sendo simplesmente um pedaço de madeira. Juntos, os quatro indicam com muita clareza tudo o que foi criado por D’us para o homem; mostram, claramente, tudo o que a natureza deu ao homem para seu bem: (1) coisas na Natureza que não requerem toques de acabamento pela mão do homem, tais como o ar que respiramos, a luz que brilha sobre nós; a beleza que nos faz feliz; o doce aroma que nos refresca e inebria, etc. Entre estes, o mais marcante é o aroma. (2) Coisas na Natureza inerentemente benéficas para o homem, mas das quais o próprio homem tem que extrair tal benefício, como por exemplo, todos os meios de sustento – de modo geral, o alimento. (3) Coisas que para serem consumadas dependem inteiramente da mão do homem, sobre as quais o homem exerce seu poder de posse e das quais, graças à sua habilidade, extrai toda a utilidade, cabendo à Natureza apenas suprir a matéria-prima – como exemplos, a sua moradia, suas roupas, utensílios, etc., em geral representados pela madeira. A primeira destas categorias é representada pelo mirto, a segunda pelo ramo de palmeira, a terceira pelo salgueiro e o etrog completa, em conjunto, a primeira e a segunda. Tome as quatro como sendo a representação de tudo o que D’us oferece ao homem como dádivas da Natureza; leve-as como se fossem suas próprias dádivas diante de HaShem, seu D’us; reconheça e proclame que é D’us quem, com condescendência, outorga ao homem tudo o que há de bom na vida. Agarre-se às mesmas apenas como um meio de vida diante da presença de D’us de acordo com Sua vontade; rejubile-se com as mesmas diante de Seu D’us como forma de cumprir seus deveres.
Se o cumprimento do mandamento da sucá, durante a Festa de Sucot, ou das Cabanas, tem o dom de nos libertar das amarras com as quais nos prendemos a posses terrenas como se fossem a base de nossa vida e a âncora para nossas esperanças; se nos ensina a humildade apesar de nossa riqueza material e a confiar em D’us mesmo que não possua tal riqueza – então o cumprimento do mandamento do lulav nos faz alçar a coisas mais elevadas – como a simchá, o júbilo diante de D’us por tudo o que Ele nos concedeu.
A sucá nega as posses materiais como sendo o valor supremo; enquanto que o lulav nos traz de volta à nossa dependência aos bens móveis. A sucá nos ensina a não valorizar demasiadamente nossos bens terrenos, e o lulav, a atribuir-lhes seu real valor. A sucá nos impede de nos tornarmos muito mundanos, enquanto que o lulav nos recorda que não devemos subir muito acima do mundano. A sucá nos protege contra nos tornarmos vis em virtude de nossa riqueza, enquanto o lulav nos ensina a preservar nossas posses e a dedicá-las a propósitos sagrados por serem dádiva de D’us. A lição que tiramos da sucá é que a aquisição de bens não é o único objetivo da vida; o lulav nos ensina a reunir os bens como instrumento de nossa forma de viver diante de D’us; e por conseguinte nos traz simchá, júbilo por vivermos diante de D’us em uma vida de santidade. Pois se assim for entendida a vida, não faz nenhuma diferença o fato de o indivíduo ter construído muito ou pouco; a avaliação de sua vida depende de se a viveu respeitosamente, de acordo com o muito ou o pouco que amealhou. Disso brota a eterna alegria da fonte da vida sublimada pelo serviço a D’us, da simchá diante de D’us, daquela alegria que enche de júbilo aquele que possui muito ou pouco como dádiva de D’us, e cuja posse serve para poder cumprir o desejo de D’us na Terra – a felicidade de viver na presença de D’us, o Seu Senhor; uma felicidade que é tão eterna quanto a própria vida e quanto D’us, que é a própria Origem dessa vida.
Deve-se tomar de um lulav, dois ramos de salgueiro, três brotos de mirto, e atá-los juntos, bem apertados, geralmente com folhas de lulav. O mirto deve ser mais alto do que o galho de salgueiro. É comum fazer-se a amarração com três laçadas em torno do lulav, com o propósito de mantê-lo bem firme (O. Ch. 651). As quatro espécies unem-se para formar e cumprir uma idéia religiosa, e se uma das quatro estiver faltando, o cumprimento da idéia também não será completo. Para que, sob quaisquer circunstâncias, a lembrança da mitzvá nunca se desvaneça, a pessoa deve utilizar-se das espécies que estiverem disponíveis, sem no entanto recitar a berachá; porém, não é permitido substituir as espécies em falta por outras, nem tampouco acrescentar nada mais às quatro espécies (O. Ch. 651).
De modo a cumprir a obrigação religiosa do lulav, deve-se tomar o mesmo com todos os seus componentes, e segurá-lo com a mão direita, como se faz com algo que lhe pertence, e, com a esquerda, o etrog, com a parte superior voltada para cima. Para expressar simbolicamente que vemos nesses produtos dádivas de D’us, pois que tudo o que há no universo a Ele pertence, e essas quatro espécies nada mais são do que uma representação simbólica de tudo o que D’us criou para o homem, deve-se voltar o lulav para o oriente, para o sul, para o ocidente, para o norte, para cima e para baixo, assim declarando que tudo o que nos é dado através das bênçãos de D’us em todas as partes e a toda hora é algo que nos é ofertado por Ele em virtude de nossa dedicação prazeirosa em cumprir Seus mandamentos (O. Ch. 651). Apenas o período que o indivíduo dedica às suas atividades – a dizer, as horas do dia – é adequado à devoção a serviço de D’us. Assim sendo, cumpre-se a mitzvá do lulav apenas durante o dia e nunca à noite.
De acordo com as ordens da Torá, a obrigação do lulav aplica-se somente ao primeiro dia (na diáspora, aos dois primeiros dias), como no caso da matzá; e apenas no Templo sagrado a prática era instituída durante todos os sete dias (onde, acima de tudo, como bem o demonstram as oferendas de Sucot, o significado mais profundo da festividade era renovado a cada um dos dias de Sucot). Desde a destruição do Templo, o dever do cumprimento da mitzvá do lulav tem sido instituído em todos os sete dias, como recordação do costume do Templo (O. Ch. 658). Por esta razão, muitas das situações que tornam o lulav inválido para o primeiro dia não o invalidam nos dias subseqüentes; por exemplo, um etrog tomado por empréstimo ou maculado por algum furo; em todas as outras situações, no entanto, não há diferença (O. Ch. 649). Porém no Shabat, mesmo se for o primeiro dia da festividade, o lulav não deve ser utilizado (O. Ch. 658).
1 Se tomadas em conjunto, resultam no seguinte padrão:
o salgueiro = receptividade (material)
o mirto, palmeira = beleza, bondade
o etrog = consumação, beleza e bondade
Traduzido por Lilia Wachsmann