O mundo tem enfrentado, nos últimos meses, fenômenos singulares e imprevisíveis, causados por uma pandemia de proporções há muito não vistas, que o vem assolando. Tem sido, infelizmente, uma dura lição de humildade para a humanidade.
Em questão de semanas, a vida mudou para bilhões de pessoas. Até as liberdades mais básicas, que considerávamos óbvias, foram drasticamente reduzidas. Durante meses, bilhões de pessoas em todo o mundo, inclusive a maioria da população do Brasil, não puderam sequer fazer as coisas do dia-a-dia: ir à escola ou ao trabalho, visitar um parente ou amigo, passear ou fazer compras. O mundo teve de parar; fábricas e empresas foram fechadas, viagens foram proibidas.
As economias dos países mais ricos do mundo se contraíram a níveis nunca vistos desde a Grande Depressão. O mundo inteiro virou de cabeça para baixo – de repente, inesperadamente, em questão de poucas semanas.
Pela primeira vez na história, quase todas as sinagogas do mundo inteiro, tanto em Israel quanto na Diáspora, foram fechadas.
Nesse tempo em que todos tivemos de ficar isolados constatamos que, mesmo com toda evolução que houve no mundo e apesar de todos os avanços científicos, médicos e tecnológicos dos últimos anos – levando muitas pessoas a acreditar que o homem se tornara o mestre do mundo e de seu destino – com tudo isso, não temos a prevenção nem a cura para esse vírus e, apesar de bilhões de dólares investidos e muitos meses de trabalho, uma vacina ainda não está disponível. Percebemos nossa vulnerabilidade e o quão pouco sabemos e podemos controlar.
Constatamos que não governamos o mundo e humildemente reconhecemos que tudo o que temos é uma dádiva Divina, que tudo depende de D’us. A pandemia já causou muito sofrimento para toda a humanidade: milhões de seres humanos foram infectados e centenas de milhares morreram. Muitos chegaram a acreditar que a pandemia significaria o fim da humanidade.
Como disse o Rabino Lorde Jonathan Sacks: “Acredito que haverá consequências positivas que advirão desta triste situação em que estamos – temos apenas que manter nossa coragem, confiança e esperança até podermos todos virar esta página. Por mais difícil que seja imaginar isso hoje, olharemos para trás e diremos: Por tudo isso, emergiremos destes tempos difíceis pessoas melhores do que éramos”.
O Judaísmo nos fornece a sabedoria para podermos tirar lições deste período extremamente difícil e nebuloso.
A resiliência do Povo Judeu e a força e otimismo que o mantiveram vivo por milênios deve servir como fonte de inspiração para toda a humanidade. Nós, judeus, mais do que nenhum outro povo, sabemos que o mundo já passou por épocas muito turbulentas e sombrias. Não devemos, portanto, perder as esperanças. É inegável que não podemos trazer de volta as vidas levadas pela pandemia – assim como não podemos trazer de volta os milhões de judeus que foram mortos no Holocausto. Mas a história judaica nos ensina que podemos sempre reconstruir o que foi destruído e, se necessário, começar de novo.
O Rei Salomão, o mais sábio de todos os homens, ensinou-nos a lição atemporal de que tudo na vida passa. Esta pandemia também passará. Mas até que isso ocorra – e rezamos para que seja o mais breve possível, o Judaísmo e a própria história do Povo Judeu nos ensinam a ser fortes e resilientes e a não nos desesperarmos.
À luz dos mais recentes avanços científicos e tecnológicos, muitas pessoas podem ter julgado essas preces desnecessárias e anacrônicas. Hoje, vemos que apesar de toda a genialidade do homem, essas orações são mais relevantes do que nunca.
Neste Rosh Hashaná, oraremos por um ano bom e doce para toda a humanidade: um ano de cura, no qual o mundo não apenas derrotará definitivamente a pandemia, como também emergirá dela mais forte do que nunca.
Shaná Tová Umetucá!
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