Sefirat Haômer (a Contagem do Ômer) é uma mitsvá da Torá que consiste em contar os 49 dias entre a segunda noite de Pessach – o 160 dia do mês de Nissan – e Shavuot, a festa que comemora o recebimento da Torá no Monte Sinai. A palavra Sefirá significa “cálculo” ou “contagem”, enquanto Ômer refere-se a uma antiga medida de volume, equivalente a 1,5 kg, aproximadamente.

No segundo dia de Pessach (16 de Nissan), uma oferenda especial chamada Korban Haômer era ofertada no Templo Sagrado de Jerusalém. Essa oferta consistia em um ômer de cevada, colhida da primeira safra do ano na Terra de Israel. A cevada era preparada de maneira específica: os grãos eram torrados e moídos até se tornarem uma farinha fina, que era misturada com azeite, e sobre ela era colocada uma certa quantidade de olíbano. Um punhado dessa mistura era, então, queimada e levada ao Altar como parte da oferenda. O restante era consumido pelos Kohanim (sacerdotes), conforme acontecia com a maioria das demais ofertas de farinha.

O Korban Haômer possuía um propósito duplo. Primeiramente, representava um ato de agradecimento a D’us pela colheita e por Sua bondade em sustentar o Povo Judeu com os frutos da Terra de Israel. Além disso, tinha um aspecto prático: a Torá proíbe o consumo de qualquer safra nova das cinco espécies de grãos – trigo, cevada, aveia, centeio e espelta – até que o Korban Haômer seja ofertado no Templo.

A obrigatoriedade do Korban Haômer é um  mandamento da Torá, conforme descrito no livro de Levítico (23:10-11): “Quando entrarem na terra que Eu lhes dou e ceifarem a sua colheita, trarão ao sacerdote um feixe  (ômer) das primícias da vossa colheita. Ele moverá o feixe perante o Senhor para que vocês sejam aceitos; no dia seguinte ao Shabat, o sacerdote o moverá”. De acordo com a tradição rabínica, o termo Shabat nesta passagem refere-se ao primeiro dia de Pessach, e não ao Shabat semanal. Assim, a oferenda do Ômer era apresentada no dia 16 de Nissan, independentemente do dia da semana.

O mandamento do Korban Haômer estava profundamente ligado a outra mitsvá da Torá: a Contagem do Ômer (Sefirat Haômer). Na noite de  16 de Nissan, iniciava-se a contagem dos 49 dias, pois no Judaísmo o dia começa ao entardecer. A oferenda do Ômer era trazida no Templo na manhã do mesmo dia.

O Korban Haômer não apenas marcava o início da Contagem do Ômer, mas também simbolizava uma transição profunda: da gratidão material pela colheita para a preparação espiritual até  o evento mais significativo da  história do Povo de Israel – a revelação Divina no Monte Sinai  e o recebimento da Torá. Por sua  vez, o mandamento de Sefirat Haômer, cumprido durante  49 dias consecutivos, oferece uma oportunidade única de crescimento, introspecção e elevação espiritual, refletindo a conexão entre a Providência Divina no mundo físico e o propósito espiritual da existência.

Como cumprir a mitsvá de Sefirat Haômer

Durante as sete semanas da Contagem do Ômer, cumpre-se essa mitsvá ao recitar a bênção associada a esse mandamento para, em seguida, realizar a contagem do Ômer.

A bênção recitada antes da Contagem do Ômer (Sefirat Haômer) é a seguinte:

בָּרוּךְ אַתָּה ד', אֱ–לֹהֵֽינוּ מֶֽלֶךְ הָעוֹלָם, אֲשֶׁר קִדְְּשָֽׁנוּ בְְּמִצְוֹתָיו, וְְצִוָּֽנוּ עַל סְְפִירַת הָעֹֽמֶר:

Baruch Atá Ado-nai Elo-henu Melech HaOlam Asher Kideshanu Bemitzvotav V’tzivanu Al Sefirat Haômer.

Bendito és Tu, Senhor nosso D’us, Rei do Universo, que nos santificaste com Teus mandamentos e nos ordenaste a respeito da Contagem do Ômer.

Após recitar a bênção, declara-se o dia correspondente da contagem. É importante que tanto a bênção quanto a contagem sejam realizadas à noite, pois, no Judaísmo, o dia começa ao pôr do sol. Caso a pessoa se esqueça de contar à noite, pode fazê-lo durante o dia seguinte, porém sem recitar a bênção, para manter a sequência correta da contagem. No entanto, se a pessoa esquecer completamente de contar um dia, deve continuar a contagem nos dias seguintes, mas sem recitar a bênção a partir de então.

A cada dia da Contagem do  Ômer, menciona-se tanto o número de dias quanto o número de semanas já transcorridos. Por exemplo, no primeiro dia,  declara-se: “Hoje é um dia do Ômer”. Ao completar uma semana, no sétimo dia, diz-se: “Hoje são sete dias, que constituem uma semana do Ômer”. A partir do oitavo dia, adiciona-se a contagem combinada de dias e semanas, como no caso: “Hoje são oito dias, que constituem uma semana e um dia do Ômer”. Esse processo é realizado diariamente até o quadragésimo nono dia, quando a contagem é concluída, marcando o término da mitsvá de Sefirat Haômer. Não há contagem no dia 50, pois Shavuot é o resultado dessa contagem.

A Contagem do Ômer pode ser realizada em português ou em qualquer outro idioma que a pessoa compreenda. O mais importante é que a contagem seja plenamente entendida por quem a realiza, pois a intenção (kavaná) e a conscientização sobre o ato são fundamentais para o cumprimento dessa mitsvá. Tanto na recitação da bênção quanto na contagem, é essencial ter a intenção clara de cumprir a mitsvá de Sefirat Haômer. O entendimento das palavras recitadas é parte central dessa intenção. Além disso, tanto a bênção quanto a contagem do Ômer precisam ser verbalizadas; não é suficiente apenas pensar nelas ou recitá-las mentalmente.

Os dias da Contagem do Ômer representam um período único no calendário judaico – um tempo dedicado à introspecção e ao crescimento pessoal. É uma oportunidade para preparar-se espiritualmente para Shavuot, a celebração do recebimento da Torá – o evento mais significativo na história do Povo de Israel.

A Contagem do Ômer: Uma jornada de significado material e espiritual

A Contagem do Ômer (Sefirat Haômer) termina 49 dias após o segundo dia de Pessach. Na noite seguinte, inicia-se a festa de Shavuot. Nos tempos do Templo Sagrado de Jerusalém, Shavuot era marcado por uma oferenda singular chamada de Shtei HaLechem (“dois pães”). Diferente da oferenda do Ômer, que era feita de cevada – um grão comumente utilizado como alimento para animais –, o Shtei HaLechem era preparado com trigo, um grão tradicionalmente associado ao consumo humano e à elevação espiritual.

Enquanto a oferenda do Ômer marcava o momento em que os grãos da nova colheita se tornavam permitidos para consumo pessoal, era o Shtei HaLechem, oferecido no  50º dia (em Shavuot), que autorizava seu uso nos sacrifícios do Templo. Essa progressão reflete o ritmo agrícola e espiritual do calendário judaico, no qual as colheitas físicas e os marcos espirituais estão profundamente interligados.

A passagem da Torá que aborda o mandamento de Sefirat Haômer encontra-se no livro de  Levítico (23:15-16): “Contem para vocês mesmos... desde o dia em que trouxerem o Ômer como oferta movida, sete semanas completas... Contem até o dia após a sétima semana, [isto é,] o 50º dia, no qual vocês deverão trazer uma nova oferta de alimentos ao Senhor.”

A princípio, a Contagem do Ômer parece marcar os dias entre Pessach e Shavuot, a festa que comemora o recebimento da Torá no Monte Sinai. No entanto, a Torá apresenta a contagem como algo associado à oferenda do Ômer e culminando no Shtei HaLechem, a oferenda de trigo. Isso suscita uma questão mais profunda: a contagem está primordialmente ligada ao ciclo agrícola ou à antecipação espiritual para Shavuot?

Alguns comentaristas da Torá explicam que, idealmente, a contagem deveria começar no primeiro dia de Pessach, pois simboliza a jornada em direção ao recebimento da Torá. Afinal, o ato de contar reflete antecipação e anseio, demonstrando nosso profundo desejo pela revelação Divina no Sinai, que é comemorada em Shavuot.  No entanto, iniciar a contagem no primeiro dia de Pessach poderia desviar o foco da celebração do Êxodo, que é o tema central da festa. Para evitar que o significado do Êxodo seja ofuscado, a contagem começa no segundo dia de Pessach. Assim, em vez de relacionar a contagem diretamente aos dias decorridos desde Pessach, o foco é colocado no Ômer, a oferenda agrícola apresentada naquele dia.

Outras interpretações vinculam a contagem diretamente aos ciclos agrícolas e rituais descritos na  Torá. A Contagem do Ômer começa com a colheita de cevada e termina com a oferenda dos dois pães de trigo (Shtei HaLechem). Como  este período coincide com a colheita das novas safras, ele serve como  um lembrete para rezar a D’us por uma colheita abundante e bem-sucedida.

Assim, a Contagem do Ômer  não constitui apenas uma forma de marcar o tempo, mas também um exercício espiritual que assegura que as pessoas se lembrem de sua dependência da Providência Divina, mesmo enquanto estão imersas nas demandas do trabalho agrícola. Além disso, a Torá ordena essa contagem para evitar que as pessoas fiquem tão envolvidas no trabalho físico da colheita a ponto de perderem de vista a preparação espiritual necessária para Shavuot. Isso reforça a importância de manter o objetivo final – o recebimento da Torá – como prioridade em suas mentes.

Em um nível mais profundo, a distinção entre a cevada da oferenda do Ômer e o trigo do Shtei HaLechem carrega um simbolismo significativo. A cevada, muitas vezes considerada um grão mais apropriado para o consumo animal, representa um estado básico e não refinado de existência. Por outro lado, o trigo, visto como o grão essencial para a alimentação humana, simboliza refinamento e elevação espiritual.

Os comentaristas explicam que os 49 dias da Contagem do Ômer devem ser um período de autoaperfeiçoamento e crescimento pessoal. Cada dia corresponde a uma das 49 características ou traços da alma humana que necessitam de introspecção e aprimoramento. Esse processo reflete a transição da oferenda de cevada, que representa um estado inicial e bruto, para a oferenda de trigo, que simboliza um nível mais elevado e refinado de existência.

Dessa forma, a Contagem do Ômer não se limita a marcar os dias entre o Êxodo e o recebimento da Torá. Constitui uma jornada transformadora de preparação, durante a qual os indivíduos se elevam espiritualmente para se tornarem dignos de receber a Torá. À medida que os dias passam, a contagem reflete o trabalho contínuo de refinar o caráter e se aproximar de D’us.

A Contagem do Ômer conecta dois mundos: o físico e o espiritual. Pelo ponto de vista agrícola, ela liga a primeira colheita de cevada à culminação da colheita de trigo, criando um ciclo de gratidão e reconhecimento da Providência Divina. Espiritualmente, ela marca o caminho da libertação física, celebrada em Pessach, à liberdade espiritual alcançada com a Torá, em Shavuot.

Ao instituir essa prática, a Torá entrelaça os aspectos físicos e espirituais da existência, lembrando-nos de que o sustento material e o crescimento espiritual estão profundamente interligados. A Contagem do Ômer torna-se um ritual que não apenas honra o papel de D’us no mundo natural, mas também nos prepara para receber o sustento espiritual supremo proporcionado pela Torá.

BIBLIOGRAFIA

What Was the Omer Offering (Korban Ha’omer)?, artigo de Yehuda Surpin publicado no site https://www.chabad.org/library

What Is the Counting of the Omer?, artigo  publicado no site https://www.chabad.org/library e extraído da obra

Book of Our Heritage, publicação e copyright da Feldheim Publications

Why Do We Count the Omer?, artigo de Yeruchem Eilfort publicado no site https://www.chabad.org/librarywww.chabad.org/library