No dia 27 de janeiro, Dia Internacional da Memória do Holocausto, foi realizada uma cerimônia no local do antigo campo de extermínio de Auschwitz II-Birkenau, hoje um memorial, para marcar os 80 anos de sua libertação pelo Exército Vermelho.

A cerimônia ocorreu em frente ao Portão da Morte, um dos sinistros símbolos de Auschwitz, por onde entravam os vagões ferroviários repletos de prisioneiros que, em sua maioria, seriam mortos logo após lá chegarem. Os nazistas construíram os campos de extermínio próximos a linhas ferroviárias para “facilitar” o transporte dos prisioneiros deportados de todas as partes da Europa.

Era sábado à tarde, dia 27 de janeiro de 1945. Forças soviéticas, em seu avanço contra o exército alemão, entraram no maior centro de extermínio nazista, o campo de Auschwitz II-Birkenau. Para 1,1 milhão de vítimas assassinadas nesse campo – 90% delas, judeus, a libertação viera tarde demais. Em seus relatos, os soldados contaram que ao entrar logo se deparavam com uma visão do inferno. O lugar cheirava a morte e carne humana queimada, e era difícil distinguir os vivos dentre os moribundos e os mortos. Havia pilhas de corpos nus, covas com centenas, às vezes milhares de cadáveres apodrecendo.

Os soviéticos encontraram sete mil sobreviventes, famintos e doentes – 500 deles crianças, muitos dos quais morreriam nas horas e dias seguintes. Os sobreviventes haviam sido deixados para trás pelos alemães, em fuga. Preocupados em apagar provas de seus crimes antes da chegada do Exército Vermelho, implodiram as câmaras de gás e evacuaram a maioria dos prisioneiros, às pressas.

A cerimônia para marcar os 80 anos da libertação do campo contou com a presença de personalidades vindas de 60 países e 56 sobreviventes do Holocausto que passaram por Auschwitz ou por outros campos nazistas. Uma delas, Jona Laks, de 94 anos, falou sobre a angústia de voltar ao local de tanto sofrimento. Jona e sua irmã gêmea, Miriam, haviam sido submetidas aos sádicos experimentos “médicos” conduzidos pelo médico das SS Josef Mengele.Isto não fará bem ao nosso coração, à nossa mente, a nada. Mas é necessário. É necessário que o mundo saiba.”

Entre as personalidades presentes à cerimônia havia membros da realeza de vários países, presidentes, primeiros-ministros e diplomatas, rabinos, delegações de entidades judaicas, representantes das Igrejas Cristãs, bem como de inúmeras instituições internacionais, museus e memoriais dedicados ao Holocausto. Ausente a delegação russa, que a Polônia não convidou, justificando a decisão com a guerra de agressão contra a Ucrânia. Nenhum representante do mundo árabe participou do evento.

Entre os presentes estavam o rei Charles III do Reino Unido, Felipe VI da Espanha, Willem-Alexander dos Países Baixos, Philippe da Bélgica, Frederik da Dinamarca, o príncipe herdeiro Haakon da Noruega e a princesa herdeira Victoria da Suécia; os presidentes da França, Emmanuel Macron; da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier; e da Ucrânia, Volodymyr Zelensky; o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz; os presidentes do Congresso Judaico Mundial, Ronald S. Lauder, e do Yad Vashem, Dani Dayan. Vicky Safra – fundadora e coordenadora geral da Revista Morashá – que preside a Associação de Amigos de Yad Vashem no Brasil – fazia parte da delegação de Yad Vashem.

Após as orações judaicas, acompanhadas por músicas compostas por prisioneiros de Auschwitz, os sobreviventes e os representantes de cada país acenderam velas em homenagem às vítimas.

Durante a cerimônia, que durou  90 minutos, apenas Piotr Cywiński, diretor do Museu e Memorial Estatal de Auschwitz-Birkenau, e Ronald Lauder, presidente do Congresso Judaico Mundial, discursaram, diferentemente das cerimônias de anos anteriores, nenhuma outra das personalidades presentes foi convidada a falar. O foco da cerimônia eram os sobreviventes.

Os testemunhos dos sobreviventes são fundamentais para manter vivos, na memória da humanidade, os horrores perpetrados pela Alemanha nazista. O diretor do Museu de Auschwitz, Piotr Cywiński, declarou: “A memória dói, a memória ajuda, a memória orienta, a memória adverte”.

Lutar para que o Holocausto não se torne apenas uma página num livro de História é de suma importância – especialmente hoje, quando o antissemitismo ressurgiu com força total, acompanhado de um crescimento do negacionismo e uma distorção da história do Holocausto, impulsionados, sobretudo, pelas redes sociais.

A Claims Conference1 estima que apenas mil sobreviventes de Auschwitz ainda estejam vivos, a maioria com mais de 80 anos, e muitos já ultrapassando os 90. A grande questão é como transmitir a verdade sobre o Holocausto quando não houver mais nenhum sobrevivente vivo para contar sua história?

Como escreveu o rei Charles III no livro de visitantes, após uma visita ao antigo campo de extermínio: “Lembrar o que aconteceu aqui e aqueles que foram cruelmente assassinados é um dever – um dever sagrado que deve ser preservado”.

A Voz das Testemunhas

Quatro sobreviventes – Marian Turski (98), Janina Iwanska (94), Tova Friedman (86) e Leon Weintraub (99) – discursaram diante de reis, príncipes e presidentes para relatar os horrores que haviam sofrido naquele mesmo lugar onde estiveram, num dos momentos mais trágicos da História humana.

Marian Turski

Sobrevivente de Auschwitz, cofundador do Museu da História dos Judeus Poloneses, em Varsóvia, e presidente do Comitê Internacional de Auschwitz, foi o primeiro a falar.

Turski nasceu como Moshe Turbowicz em 26 de junho de 1926, em Druskininkai, na Lituânia. Sendo judeu, aos 14 anos ele foi trancafiado junto com seus pais e seu irmão mais novo no Gueto de Lódź. Em 1944, seus pais e seu irmão foram deportados para Auschwitz-Birkenau. Duas semanas depois, Marian também foi enviado para o campo, em um dos últimos transportes do Gueto de Lódź. Em janeiro de 1945, perante o avanço das tropas soviéticas, os nazistas abandonaram apressadamente Auschwitz e forçaram 60 mil prisioneiros a marchar em direção ao oeste, nas chamadas “marchas da morte”. Turski estava entre eles. Foi levado ao campo de Buchenwald e depois para o de Theresienstadt. No dia 9 de maio de 1945, os soviéticos libertaram o campo. Ainda que debilitado pelo tifo, ele sobreviveu, mas 39 membros de sua família haviam sido assassinados. Ao contrário da maioria dos sobreviventes, decidiu ficar na Polônia e dedicou sua vida à história e ao jornalismo.

Turski iniciou seu discurso com as palavras: “É compreensível, até mesmo óbvio, que as pessoas e a mídia se voltem a nós – os sobreviventes – para compartilharmos nossas lembranças. Mas sempre fomos uma minoria ínfima... Daqueles que costumavam ser ‘aprovados’, pelas seleções dos nazistas, pouquíssimos de nós sobrevivemos. E apenas uma fração daqueles sobreviveram para ver a liberdade”. Por isso ele continuou: “Nossos pensamentos devem se voltar para a grande maioria, os milhões de vítimas que nunca poderão nos contar o que viveram e o que sentiram, simplesmente porque foram consumidas pela Shoá ”.

Em seu discurso, Turski afirmou que hoje o mundo enfrenta um verdadeiro tsunami de antissemitismo, “o mesmo antissemitismo que levou ao Holocausto”. Ele alertou para as consequências do ódio e das teorias da conspiração. Em seguida, exigiu que “isso tenha um fim!” e pediu um momento de silêncio.

Há cinco anos, nesse mesmo local, ao ter a palavra, Turski alertara a humanidade contra a indiferença. “Auschwitz não apareceu do nada. Auschwitz foi-se enroscando, passo a passo, achegando-se cada vez mais perto, até que a tragédia aconteceu bem aqui.” Citando as palavras de outro sobrevivente, Roman Kent, Turski afirmou que deveria haver um 11o Mandamento: “Não ficarás indiferente”. Porque se você ficar indiferente, de repente sem que você se aperceba, outro Auschwitz surgirá do nada para seus descendentes…

Infelizmente, a cerimônia dos  80 anos da libertação foi a última vez que Turski pôde alertar o mundo. Ele faleceu menos de um mês após a cerimônia, em 18 de fevereiro de 2025, aos 98 anos, em Varsóvia, na Polônia.

Tova Friedman

Sobrevivente de Auschwitz, escritora e acadêmica, ela nasceu Tova Grossman em 7 de setembro de 1938, em Gdynia, na Polônia. Por ser judia, os nazistas a confinaram, com seus pais, no Gueto de Tomaszów Mazowiecki e, posteriormente, em um campo de trabalho, em Starachowice. Em meados de 1944, seu pai foi enviado para Dachau, enquanto ela e sua mãe foram deportadas para Auschwitz-Birkenau. Ela tinha apenas cinco anos quando chegou no campo. Quando Auschwitz foi libertado, em 27 de janeiro de 1945, Tova estava com seis anos de idade, uma das sobreviventes mais jovens de Auschwitz.

Tova Friedman iniciou seu discurso dizendo que sempre considerou o dia 27 de janeiro o dia de seu aniversário. “Muitos dos meus amigos não sabem que, na verdade, essa não é a minha data de nascimento.”

Continuou dizendo que sempre acreditou ser seu sagrado dever honrar a memória das crianças que morreram no Holocausto. “Da minha cidade, apenas quatro sobreviveram. Estou aqui para falar por aquelas que não estão mais (....) Minhas lembranças são muito vívidas graças à minha mãe, que sempre me confirmou os acontecimentos à medida que ocorriam. Ela nunca, jamais, tentou esconder nada de mim.” Tova  contou que tinha apenas cinco anos,  quando viu de seu esconderijo no campo de trabalho de Starachowice uma cena que jamais se esqueceria: “todos meus amiguinhos foram reunidos e levados para a morte, enquanto ouvia os gritos desesperados de seus pais  cair em ouvidos surdos. Depois  que todas as crianças foram levadas e o pátio ficou vazio, pensei comigo mesmo: ‘Será que sou a única criança judia que resta no mundo?’ ”.

Ela se recorda nitidamente em sua chegada a Auschwitz-Birkenau,  dos “gritos de mulheres desesperadas, do cheiro terrível, das chaminés dos fornos crematórios e das crianças de seis, sete anos, levadas descalças pela neve em direção às câmaras de gás”.

Tova revelou que ela não foi  enviada imediatamente às câmaras de gás. Rasparam-lhe a cabeça, tatuaram seu braço e a confinaram ao Kinderlager, o chamado  “campo das crianças”. Lá ela sobreviveu à fome e aos constantes maus-tratos nazistas e a duas idas à câmara de gás. A primeira foi no dia 7 de outubro2. Naquele dia, os mecanismos da câmara falharam porque outros prisioneiros haviam detonado explosivos na câmara de gás. Ela escapou mais uma vez da morte porque seu número tatuado não constava nas listas dos oficiais nazistas encarregados de enviar os judeus “selecionados” para as câmaras de gás. Quando os nazistas abandonaram o campo, em janeiro de 1945, ela e sua mãe se esconderam entre os corpos, na enfermaria. Os soldados soviéticos que libertaram Auschwitz fotografaram Tova com a manga da roupa levantada, exibindo sua tatuagem – uma imagem que mais tarde se tornaria um ícone da guerra e do Holocausto.

Em seu discurso, Tova contou: “Enquanto um guarda me espancava, sem nenhuma piedade, por estar irrequieta durante as três horas da chamada, olhei para os olhos de minha mãe que, silenciosamente, me imploravam: ‘Aguenta firme, não chora’. E me lembro de pensar: ‘Nunca deixarei que eles saibam o quanto estão me machucando’. Tenho certeza de que muitos de vocês que aqui estão também tiveram momentos em Auschwitz quando todo o seu ser se revoltava, mas vocês se sentiam impotentes, desamparados e até mesmo resignados. Naquele momento éramos vítimas de um vácuo moral. No entanto, hoje, todos temos a obrigação não apenas de recordar, mas também alertar e ensinar que o ódio atrai e gera mais ódio, e o assassinato, mais mortes”.

“Nossa vingança” continuou  Tova, “foi construir um país  judeu forte e criar nossas famílias  em paz. Mas, 80 anos após a libertação desse campo, o mundo enfrenta novamente uma crise. Nossos valores judaico-cristãos  estão sendo ofuscados pelo preconceito, pelo medo, pela desconfiança e pelo extremismo.  O antissemitismo desenfreado que se está disseminando entre os países é um choque para nós, para nossos filhos e para nossos netos. Israel, a única democracia do Oriente Médio, luta por sua existência e por seu modo de vida. Choramos não apenas pelos soldados que tombaram e  pelos reféns que estão presos, mas também pela turbulência e desconfiança dentro da nossa própria sociedade”.

“Nós todos temos que despertar nossa consciência coletiva para transformar a violência, a raiva, o ódio e a maldade que tomaram conta de nossa sociedade, com tanta força, em um mundo mais humano e justo, antes que essas forças negativas nos destruam. Trata-se de uma tarefa enorme, mas, como disseram nossos Sábios: ‘O tempo é curto e a tarefa, gigantesca’. Talvez não a possamos completar, mas somos obrigados a iniciá-la”, completou Tova.

Janina Iwanska

Sobrevivente de Auschwitz, católica polonesa, Janina nasceu em  12 de junho de 1930, em Varsóvia. Ela foi deportada em agosto de 1944. Janina contou que havia  sido deportada para Auschwitz partindo de Pruszków, no campo de trânsito Dulag 121, onde havia  sido enviada pelas SS depois do Levante de Varsóvia3 quando a Armia Krajowa (Exército Clandestino Polaco) tentou libertar Varsóvia do controle da Alemanha Nazista.

Janina contou: “Recebi o número 85595 e fui marcada como prisioneira política, com um distintivo vermelho. Fiquei alojada no bloco infantil nº16. Em janeiro de 1945, uma semana antes da libertação do campo, fomos forçados a marchar em direção a Wodzisław Śląski, de onde fomos enviados para diferentes destinos. Fui levada para Ravensbrück e, depois, para um subcampo em Neustadt-Glewe. Para mim, o Dia da Libertação ocorreu no 2 de maio de 1945”, o dia em que a Alemanha assinou a rendição.

Em seu discurso Janina contou como as famílias dos povos romani4 e sinti eram levadas para uma parte de Auschwitz conhecida como “campo das famílias”, onde o médico nazista Josef Mengele conduzia seus “experimentos” em crianças, muitos delas recém-nascidas. “Na noite do dia 3 agosto de 1943, os cerca de  4 mil romanis e sintis que lá viviam foram todos levados diretamente para as câmaras de gás. Na manhã seguinte, não restava um único romani vivo, porque Mengele havia concluído seus experimentos e não precisava mais do ‘material’ para suas pesquisas.”

Leon Weintraub

Leon Weintraub, sobrevivente de Auschwitz, dá palestras sobre o Holocausto na Polônia e Alemanha. Leon nasceu em 1º de janeiro de 1926, em Lódź, na Polônia. Por ser judeu, foi confinado com sua família ao gueto de sua cidade. Em agosto de 1944, a família Weintraub foi deportada para Auschwitz. Leon foi separado de sua mãe e irmãs. Após algumas semanas, foi transferido para Gluszyce, depois para o campo de Dörnhau e, posteriormente, para outros campos de trabalho. Nos meses seguintes, sobreviveu também aos campos de Gross-Rosen e Flossenbürg. Ao todo, perdeu 64 familiares mais próximos durante o Holocausto.

Em sua fala, Leon afirmou: “Esse campo nazista simboliza a crueldade, sem precedentes, no tratamento de seres humanos, em toda a História. Foi o lugar onde as técnicas de assassinato industrial e em massa foram aplicadas, pela primeira vez”. E, dirigiu-se a todas as pessoas de boas intenções, especialmente os jovens, e conclamou-os “a serem atentos a todas as expressões de intolerância e ressentimento com aqueles que são diferentes”. E continuou: “Repito: sejam atentos e vigilantes! Nós, os sobreviventes, sabemos que a consequência de ser ‘diferente’ é a perseguição ativa, cujos efeitos eu, pessoalmente, vivenciei… Temos que evitar o erro da  década de 1930, quando o mundo falhou em levar a sério o regime nazista e seus planos de criar um país livre de judeus, de romanis e sintis, e de todas as pessoas com opiniões diferentes, ou enfermas, ou aqueles considerados inadequados à vida, e todos eles foram subestimados... Estamos aqui para proclamar… que não podemos nunca, jamais permitir que a História se repita”.

Ronald S. Lauder

Durante a cerimônia de 80 anos  da libertação de Auschwitz,  Ronald S. Lauder, representando aqueles que apoiam o Memorial e Museu de Auschwitz, fez o discurso mais impactante da noite.  Alguns trechos são reproduzidos a seguir.

Lauder iniciou sua fala recordando as palavras do sobrevivente Roman Kent no 70o aniversário da libertação, que disse, na ocasião: “Não queremos que nosso passado seja o futuro de nossos filhos!  Pois se Roman Kent estivesse aqui”, disse Lauder “e visse o que está acontecendo com o Povo Judeu, no mundo todo, em 2025, ele não poderia conter o pranto. É difícil para qualquer um de nós acreditar no que vemos, hoje: o súbito aumento da violência e do ódio contra os judeus, destacando o único Estado Judeu, as enormes demonstrações gritando calúnias antissemitas, por toda parte. Tudo isso é muito difícil de assistir, para qualquer um de nós... Imaginem então como foi para os quase 50 sobreviventes que estão aqui conosco, hoje.

Sabemos que 1,5 milhão de crianças foram mortas no Holocausto – o número mais devastador em um oceano de devastações. Mas, há 15 meses – não 80 anos atrás – vimos crianças judias serem mortas, novamente, por uma única razão: por terem nascido judias. Basicamente, o que ocorreu em Israel em 7 de outubro e o que aconteceu aqui em Auschwitz têm um denominador comum: um ódio ancestral contra os judeus. Em 27 de janeiro de 1945, quando o Exército Vermelho adentrou por esses portões, o mundo finalmente viu, passo a passo, até onde chega a progressão do antissemitismo. Ela chega até aqui. As câmaras de gás. As pilhas de corpos. Todos os horrores aqui dentro destes portões.

Mas, o que levou ao resultado final do Holocausto? Começou lentamente, primeiro com os judeus sendo apontados nas universidades, excluídos de seus empregos, com boicotes e ataques na mídia. Sim, começou bem devagarinho e... de repente, aconteceu tudo de uma vez só! Ao longo de toda a década de 1930, o ódio contra os judeus talvez tenha sido acendido por Hitler na Alemanha e Áustria, mas na França, Itália e até Inglaterra e nos Estados Unidos, haviam forças poderosas que apoiaram esse ódio…

Hoje vemos estranhos paralelos em todo o mundo. Através da Europa, América do Norte, e até mesmo na Austrália, universitários judeus têm sido apontados e ameaçados em suas universidades. Hoje professores judeus estão sendo despedidos. Hoje, crianças judias foram avisadas para esconder qualquer sinal de serem judeus em suas vestimentas. Hoje, há manifestações de massas contra os judeus em toda a mídia social. Será preciso lembrar-lhes que não estamos em 1933 nem 1939; estamos em 2025!

O antissemitismo teve cúmplices naquela época e ainda os tem, hoje. Você não pode ser judeu ou não-judeu e não se preocupar com o que estamos vendo, hoje, ao nosso redor.

Mas, aqui estão esses portões e somos forçados a responder a uma pergunta importante: quando contamos a história de Auschwitz, todos sabem o que aconteceu aqui. Mas ninguém consegue dizer por que aquilo aconteceu. Sim, foi passo a passo, devagar, e teve a colaboração daqueles que odiavam os judeus. Mas foi alimentado pela indiferença de pessoas que pensavam que não eram afetadas pelo antissemitismo já que não são judias. E foi o silêncio do mundo o que nos levou a Auschwitz.

Quando Hitler ouviu aquele silêncio após a Kristallnacht – a terrível Noite dos Cristais Quebrados, em 1938, ele soube que poderia fazer o que quisesse com os judeus… Hoje, ocorre a mesma história: silêncio, indiferença e aceitação do ódio. Então hoje, todos nós temos que nos comprometer a nunca silenciar quando se trata de antissemitismo, ou, aliás, qualquer outro tipo de ódio.

Essas lições de Auschwitz não se destinam apenas aos judeus. Destinam-se ao mundo todo! Porque os judeus são os canários nas minas de carvão. Quando o canário morre, os mineiros sabem que têm que deixar a mina, o mais rápido que puderem. O canário morreu há 15 meses, no dia 7 de outubro. E esse é o aviso mais significativo e consequente para o mundo inteiro.

Portanto, que hoje seja o dia em que todos nós – líder mundial ou um simples cidadão, judeu ou não-judeu, velho ou jovem –, faremos um compromisso solene de parar agora com isso! Antes que seja muito tarde… antes que seja tarde. Agora! … Nós devemos, você deve assegurar-se de que em cada um de seus países, não será tolerado nenhum ódio contra os judeus, e, aliás, contra qualquer povo que seja!” e com estas palavras Lauder desceu do púlpito…

1  Claims Conference é a Conferência das reclamações contra a Alemanha para indenizar os judeus e lhes restaurar propriedades roubadas durante o Holocausto.

2  Em 7 de outubro de 1944 ocorreu a revolta do Sonderkommando em Auschwitz. Prisioneiros judeus rebelaram-se mataram três guardas, explodiram o crematório e a câmara de gás adjacente. A rebelião, foi rapidamente contida pelos guardas do campo. Todos os envolvidos foram exterminados.

3  O Levante de Varsóvia, que iniciou-se em 1 de agosto de 1944, cerca de um ano após a Revolta do Gueto de Varsóvia, deveria durar alguns dias, até que o Exército Soviético chegasse à cidade. O avanço soviético, no entanto, foi interrompido, mas a resistência polaca continuou por 63 dias, até sua rendição  às forças alemãs em 2 de outubro.  A população civil de Varsóvia foi expulsa da cidade e enviada para o campo de trânsito Dulag121 em Pruszków.

4  Romani é um termo usado para descrever um grupo étnico originário do noroeste da Índia que migrou para várias partes do mundo ao longo dos séculos. Conhecido pelo termo pejorativo “ciganos” foram ao longo da história marginalizados e vítimas de preconceitos. O regime nazista persegui os romanis por motivos raciais e assassinaram entre 200 a 500 mil. Já os sinti são um subgrupo do povo romani.