Esta é a história de como Israel arquitetou e executou o impensável em uma das operações militares mais perigosas e audaciosas jamais tentadas visando eliminar a ameaça nuclear iraquiana. Desafiando seus aliados americanos e europeus, Israel levou a cabo uma missão cujo desenrolar é digno de um filme de Hollywood. O feito foi uma das surpresas militares mais cruciais de todos os tempos. Os riscos não poderiam ter sido maiores, mas a recompensa foi a segurança e existência continuada do Estado Judeu.

Trata-se de uma história de heróis, dos melhores pilotos possíveis, de brilhantes estrategistas, de agentes do Mossad, de um destemido primeiro-ministro e de um país que ainda que isolado, queria assumir riscos para defender sua existência. Trata-se de uma história de como Israel impediu que um governo perigoso, fomentador do terrorismo, obtivesse armas nucleares.

Ambições nucleares do iraque

Após a Guerra da Independência de Israel (1948-1949), o Iraque foi o único país árabe a não assinar um acordo de cessar-fogo com Israel e, tecnicamente, os dois países se encontravam em contínuo estado de guerra, desde então.

O Iraque não possuía os recursos nem o know-how necessários para construir um reator nuclear, mas estava determinado a tê-lo. Tendo petróleo e bilhões de dólares à vontade para gastar, o Iraque saiu à procura de um reator. Saddam Hussein, então vice-presidente do Iraque1, havia desenvolvido um vínculo pessoal com o primeiro-ministro da França, Jacques Chirac. Os dois eram frequentemente vistos juntos e a França era um antigo parceiro comercial do Iraque. Quando Saddam Hussein saiu atrás de um reator, soube que seu amigo francês estava disposto a vendê-lo.

O acordo foi anunciado em 1975. Chirac cobrou do Iraque US$ 200 milhões para construir dois reatores nucleares e ainda vender-lhe caças Mirage F-1, tanques, mísseis, bem como outros equipamentos militares, além de milhares de Renaults. O governo francês defendia suas ações afirmando que a instalação seria meramente um reator civil com fins energéticos. No entanto, todos os sinais apontavam para uma história bem diferente…

A construção do reator começou a alguns quilômetros ao sul de Bagdá. Os franceses intitularam o reator com o nome Osirak, uma mistura de Osiris – a classe desse reator – com Iraque, o nome do país.

Saddam Hussein chamou o reator de Tamuz, o nome do mês, no calendário judaico, em que Nabucodonosor II, rei da Babilônia, lançara seu ataque contra o Reino de Judá no ano de 586 a.E.C., que levaria, nos meses seguintes, à devastação de Jerusalém e à destruição do Primeiro Templo Sagrado. Tamuz também foi o mês em que o partido Ba’ath de Saddam subira ao poder, em 1968.

Israel tinha motivos de sobra para se preocupar, a começar pelo fato de Saddam Hussein ter jurado destruir Israel. E depois, porque o Iraque era um dos principais exportadores de energia e não precisava de energia nuclear. Esse país também havia negociado um contrato com a Itália para a construção de um laboratório de “células quentes” (câmaras de contenção de radiação nuclear blindadas), que podia extrair radioisótopos do combustível irradiado do reator. Um dos isótopos é o plutônio, principal ingrediente da bomba atômica. Ademais, o Iraque tentara adquirir na Alemanha Ocidental dez toneladas de urânio empobrecido – o combustível usado para fazer plutônio.

A inteligência israelense também descobriu que os cientistas iraquianos haviam criado um programa secreto para extrair plutônio enriquecido do reator, o que constitui o primeiro passo, crucial, para a criação de uma bomba atômica. E também que os iraquianos estavam trabalhando sob a premissa de que duas a três bombas seriam o suficiente para destruir Israel. Não fosse o ataque israelense, acreditam os especialistas que o Iraque já estaria de posse de armas nucleares desde 1985. Outro importante motivo de preocupação era o fato de os iraquianos já possuírem um sistema de mísseis soviéticos capazes de transportar bombas atômicas.

Se ainda pairasse alguma dúvida em relação às intenções de Saddam Hussein, durante a guerra Irã-Iraque de 1980-1988, após os iranianos terem infligido leves danos ao reator, o ditador publicou uma declaração ao povo iraniano afirmando que a capacidade nuclear do Iraque não seria utilizada contra eles, mas unicamente contra a “entidade Sionista”.

Saddam Hussein já dera provas suficientes de quão pouco lhe importavam as vidas humanas, mesmo que fossem seus próprios conterrâneos, e estava determinado a destruir Israel. A possibilidade de uma retaliação nuclear por parte de Israel não bastaria para detê-lo. Por outro lado, Menachem Begin, nosso primeiro-ministro, já estava escolado e não duvidava, por um minuto sequer, quando um poderoso assassino jurava destruir o Povo Judeu. Levando a sério as ameaças, recorreu a todos os métodos disponíveis para impedir que o reator aquecesse: diplomacia, espionagem, sabotagem e, como último recurso, a ação militar.

Não restava dúvida de que a existência de um Iraque nuclear representava uma ameaça real, especialmente para Israel e para vários outros países no Oriente Médio e, num futuro próximo, para os Estados Unidos e seus aliados.

Tentativas diplomáticas

O programa nuclear do Iraque fez um grande progresso, crucial mesmo, nos anos de 1979 e 1980, graças à tecnologia e materiais nucleares importados da França e da Itália. Em julho de 1979, diplomatas americanos comunicaram a suas contrapartes italianas que os Estados Unidos “acreditavam firmemente” que o Iraque estivesse tentando tornar-se uma potência nuclear.

Israel, por outro lado, repetidamente exortava franceses e italianos a cessarem sua ajuda aos iraquianos, deixando claro que, em hipótese alguma, permitiria que uma nação inimiga desenvolvesse armas de destruição em massa contra nosso povo.

Todos esses desdobramentos não bastaram para suscitar preocupação em nenhum outro país e os franceses despacharam o primeiro núcleo do reator ao Iraque em junho de 1980. Ao vencer as eleições presidenciais americanas em novembro de 1980, Ronald Reagan sequer tinha em sua agenda o programa nuclear do Iraque.

Mossad

Desde o início, Begin instruíra o Mossad para seguir em frente por seus próprios meios. Naqueles anos, a Agência conseguira reunir uma enorme quantidade de informações sobre o andamento da construção do reator Osirak e sobre o empenho dos iraquianos em adquirir equipamentos no exterior. O objetivo inicial da Agência era retardar o término da construção do reator e se certificar de que um reator iraquiano completo teria a tecnologia necessária para a produção de plutônio.

Com imagens de satélite, Israel monitorava o progresso da construção. Os iranianos também colaboravam fornecendo imagens de reconhecimento. As fotografias revelaram que a instalação era fortificada com artilharia antiaérea e mísseis superfície-ar (SAM).

A construção do reator envolvia várias dezenas de experts estrangeiros e o Mossad empenhava-se em recrutar os informantes necessários. A Agência descobriu que o primeiro núcleo do reator estava pronto para ser embarcado de um porto pequeno, La Seyne-sur-Mer, no sul da França. Em 6 de abril de 1979, explodiu o depósito onde o núcleo estava sendo mantido, em circunstâncias “misteriosas”. Não podendo ser consertado devido à magnitude do dano sofrido, o projeto viu-se atrasado em mais alguns meses.

O Mossad também conseguiu infiltrar-se na Comissão de Energia Nuclear da França, identificando um importante cientista nuclear egípcio que trabalhava para Saddam Hussein em Paris. Em 14 de junho de 1980, o Dr. Yaya el Meshed era assassinado em seu quarto de hotel, no Hotel Méridien, em Paris. Ao longo da construção do reator, cerca de uma dúzia de cientistas nucleares envolvidos no projeto perderam a vida.

Os contínuos empenhos de sabotagem do Mossad retardaram o término da construção do reator iraquiano em cerca de dois anos e meio. Nada, no entanto, detinha Saddam em seu afã de terminar a construção. Até chegar o momento em que o Mossad informou a Begin que tinham-se esgotado todos os seus recursos.

O planejamento do ataque

Os planos para o ataque final estavam em andamento há mais de três anos. Begin encarregara o Comandante da Força Aérea de Israel, General David Ivry, de planejar secretamente um ataque cirúrgico ao reator. A missão acabaria sendo uma das mais notáveis e ousadas operações militares de que se tem notícia. Foi intitulada de Operação Ópera – nome escolhido aleatoriamente por um computador.

Já era 1981 e o reator estava prestes a aquecer ao ponto de fusão; o governo de Israel tinha informações da inteligência de que deveria estar pronto no início de julho. O reator era o centro de uma enorme instalação nuclear localizada a alguns quilômetros de Bagdá e a cerca de 1.100 km de Tel Aviv.

Menachem Begin sabia que o tempo se esgotava para Israel.Segundo Arye Naor, seu chefe de gabinete, Begin estava determinado a atingir o reator iraquiano “ainda que fosse seu último ato como primeiro-ministro”.

Oito pilotos da Força Aérea de Israel (FAI) foram selecionados para a missão: Ze’ev Raz, Yadlin, Yaffe, Hagai Katz, Amir Nachumi, Spector, Relik Shafir e Ilan Ramon. Este último, o mais jovem dentre eles, posteriormente seria o primeiro astronauta israelense e, infelizmente, viria a falecer no desastre do ônibus espacial Colúmbia, em 2003. Na Operação Ópera, Ramon era um oficial de navegação encarregado de preparar os mapas e confirmar se os jatos poderiam fazer a viagem de volta. Aquela seria sua primeira missão operacional e Bagdá era um lugar para onde a Força Aérea de Israel nunca tinha sido enviada, anteriormente.

Após retornar de um treinamento nos Estados Unidos, onde haviam aprendido a pilotar os F-16s – os aviões recém-adquiridos –, os pilotos começaram a treinar para a delicada missão. Hoje em dia, o F-16 é um jato de combate amplamente usado pela FAI, ao passo que o ataque ao Iraque seria o primeiro voo operacional desses caças. Foram necessários mais seis meses de treinamento, incluindo o aprendizado de como atingir um alvo rodeado por sistemas de defesa aérea, antes que os oito pilotos tomassem seus lugares nos cockpits e partissem para Bagdá. Esses rapazes foram os verdadeiros Top Guns de Israel.

Os 1.100 km até Bagdá e a volta constituíam um pouco mais do que o alcance desses jatos. Além disso, a FAI ainda não tinha a capacidade de reabastecer os F-16s em pleno voo – o que estava projetado para 1982, quando os reatores seriam operacionais. Mas já seria tarde demais.

O ataque não podia ser retardado, e eles tiveram que usar vários truques para expandir suas reservas de combustível. Modificaram os caças, agregando-lhe dois tanques adicionais de combustível e eliminando tudo que não fosse equipamento essencial. Os oito F-16s decolaram para sua missão transportando um peso que excedia praticamente o dobro do que pediam as especificações da aeronave.

O comandante da missão, Ivry, acreditava que os jatos poderiam tranquilamente alcançar o Iraque e seu reator; o problema era voltarem com vida. O ataque foi marcado para um domingo, com base na suposição de que mais de 100 experts estrangeiros que trabalhavam no reator estariam de folga no dia de descanso para os cristãos. Os pilotos foram instruídos a evitar batalhas aéreas – as dogfights no jargão dos pilotos de combate – com os jatos MiG iraquianos, de fabricação soviética, caso houvesse aviões civis nas proximidades. A rota planejada passava bem próximo à rota dos voos das aeronaves civis iraquianas.

O ataque sobre Osirak

Em 1º de junho, um jornal francês noticiou que a construção do reator iraquiano estava terminada. Faltavam ainda semanas ou meses até que as instalações estivessem plenamente operacionais e com estoques de combustível.

O primeiro-ministro Begin ordenou que a operação fosse realizada no domingo, 7 de junho, indo contra a opinião de vários de seus ministros e alguns de seus assessores para a área de segurança e inteligência.

Em 7 de junho de 1981, às 16:00h, oito caças F-16s decolaram de uma base aérea secreta, de Israel, no deserto do Sinai, em direção ao território inimigo. Haviam recebido uma missão dupla: eliminar o reator e retornar para casa.

Segundo o relato de Shafir – um dos pilotos – antes de decolarem, o Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, o General Rafael Eitan, deu-lhes alimentos e 1.000 dinares iraquianos em caso de seus aviões serem abatidos e precisarem escapar.

Os oito F-16s voavam em pares, com três segundos de diferença, rádio em modo silencioso e com os radares desligados. “Fomos até lá como um comboio. Assim sendo, eles veriam o primeiro jato, mirariam no segundo; ajustariam o alvo no terceiro; e abateriam o quarto (por canhões antiaéreos)”, contou Ramon em uma entrevista logo após seu retorno. A avaliação era que um ou dois caças não retornariam…

Raz, um dos pilotos que participaram na missão, contou: “Ramon era o último piloto do comboio – o oitavo dos dois conjuntos de quatro caças. Todos sabem que o último é o que corre o maior risco”.

Dois F-15s escoltavam o grupo e uma quantidade de F-15s patrulhavam outras regiões do Iraque. Eles voaram pelo espaço aéreo jordaniano e saudita – ambos inimigos de Israel, à época – a uma impensável altitude de 100 pés acima do solo. Não queriam que nenhum desses países os detectassem. A Arábia Saudita acabara de comprar aviões espiões americanos que patrulhavam seu espaço aéreo, em uma busca contínua por invasões inimigas. Ao sobrevoarem esse país, o panorama mudou drasticamente, com picos e vales, o que fazia com que voar na altitude de 100 pés fosse extremamente difícil mesmo para o mais experiente dos pilotos. Ao sobrevoarem a Arábia Saudita, os caças israelenses largaram seus tanques de combustível vazios.

A operação foi programada para ocorrer durante a mudança de guardas entre os turnos do dia e da noite. Momentos antes que se iniciasse o ataque, os técnicos que lidavam com a artilharia antiaérea e os mísseis superfície-ar haviam feito seu intervalo para o jantar.

Os pilotos israelenses esperavam ser detectados no mínimo 15 minutos antes do ataque, mas, por alguma razão inexplicável, os guardas do local do reator haviam desligado o radar que poderia tê-los detectado. Quando os pilotos israelenses ligaram seus próprios radares e viram que não havia caças inimigos sobrevoando Bagdá, foram tomados pela surpresa.

O ataque a Osirak ocorreu durante a guerra Irã x Iraque, sendo assim os pilotos israelenses haviam treinado para enfrentar a defesa aérea iraquiana. No entanto, a atenção do Iraque se voltara à ameaça do Irã, a Leste, sem poder imaginar um ataque vindo do Oeste. Por volta das 17:30h, os oito pilotos israelenses atingiram e destruíram o reator nuclear Osirak, no Iraque. Cada um dos caças atingia o Osirak cinco segundos após o que o precedera. Cada uma das bombas atiradas acertou precisamente o seu alvo. Eram bombas comuns, não bombas inteligentes, o que demonstrava a precisão dos pilotos em atingir esses alvos. Apesar de que duas das bombas tivessem falhado, não detonando, a cúpula da usina ficou em ruínas. Uma destruição total e irrecuperável. O ataque foi preciso: apenas o alvo foi completamente destruído.

Houve 11 baixas: dez soldados iraquianos e um técnico francês. A maioria das baixas se originaram dos disparos da artilharia iraquiana, que cegavam os céus, lançados a esmo enquanto aguardavam que o radar, que fora desligado, voltasse a aquecer. O combustível nuclear armazenado nas proximidades não foi atingido, evitando a ocorrência de uma potencial contaminação nuclear radioativa.

A tarefa seguinte dos pilotos era voltar com vida. Felizmente, eles voltaram em segurança, tendo completado as duas missões. O Iraque não retaliou. Muitos dos que estiveram envolvidos no planejamento e execução do ataque eram filhos ou netos de sobreviventes do Holocausto, empenhados em uma missão para evitar outro holocausto judaico. Eles sabiam que mesmo se viessem a morrer, aquela missão tinha que ser cumprida.

Ilan Ramon falou sobre o que sentira antes do ataque, o medo de que pudesse não retornar. “Quando me lembrei das minhas origens, da minha história e da história do nosso Povo, pensei: ‘De jeito nenhum deixarei isso acontecer de novo, independentemente do que possa me acontecer’”.

O mundo condena Israel

Em 9 de junho de 1981, a manchete do The New York Times dizia: “Jatos israelenses destroem reator atômico iraquiano; ataque condenado pelos Estados Unidos e países árabes”.

O mundo foi tomado de surpresa pelo bombardeio da usina de Osirak. Nem mesmo os Estados Unidos haviam sido alertados sobre a operação. Em todo o mundo, os experts militares ficaram chocados com a coragem da missão e a perícia com que fora executada. Como pôde Israel atacar de uma distância tão grande sem ser detectado?

Ao mesmo tempo, a comunidade internacional condenou as ações israelenses. Ao tomar conhecimento da notícia, o presidente Reagan declarou: “Rapazes sempre serão rapazes”. Contudo, seu vice, George Bush pai, e seu chefe do Estado-Maior, James Baker, pediam ações punitivas contra o Estado Judeu. Os Estados Unidos de imediato condenaram o ataque. O porta-voz do Departamento de Estado, em Washington, denunciou-o como “um acontecimento muito sério e fonte da maior preocupação”. A administração americana estava tentando melhorar suas relações com Bagdá.

Além disso, o ataque fora executado com caças F-16s de fabricação americana, e Israel fora solicitado a não os utilizar para atacar seus vizinhos a menos que em “legítima defesa”. O governo americano retardou o envio de outros F-16s enquanto não fosse realizada uma análise legal do ataque. O embaixador de Israel em Washington, Ephraim Evron, transmitiu a Reagan a surpresa e preocupação de seu governo.

A ONU votou unanimemente para condenar Israel pelo ataque. Apesar das demandas do vice-presidente Bush e dos países árabes por medidas mais rígidas contra Israel, nenhuma foi promulgada.

Outros países, amigos e inimigos em igual medida, condenaram o ataque. A França, ao menos publicamente, demonstrou estar furiosa. No entanto, a portas fechadas, a Arábia Saudita e alguns outros vizinhos do Iraque expressaram sua satisfação com a remoção daquela severa ameaça à sua segurança nacional. Israel havia restaurado o equilíbrio de poder no Oriente Médio e neutralizado um ditador extremamente violento.

Em seu editorial, o The New York Times descreveu o ocorrido como “um ato de agressão indesculpável e míope” que derrubara “mais uma das frágeis barreiras do sistema internacional contra a anarquia”. Para Israel, a crítica era compensada pela segurança adquirida com um Iraque não-nuclear.

A resposta de Begin

O primeiro-ministro Menachem Begin justificou a ação como essencial para impedir que o presidente Saddam Hussein atacasse as cidades israelenses com bombas atômicas do tipo das usadas contra Hiroshima, durante a 2a Guerra Mundial.

Begin declarou que essas instalações nucleares estavam praticamente prontas e programadas para entrar em operação dentro de alguns meses, mas ainda careciam de estoque de combustível nuclear. A seguir, o anúncio oficial israelense sobre a operação declarava que um ataque à usina nuclear, uma vez que estivesse estocada de combustível nuclear, teria coberto toda Bagdá de radiação. “Sob tais circunstâncias”, dizia a declaração, “nenhum governo de Israel poderia imaginar o bombardeio do reator”.

Três semanas após o ataque sobre Osirak, Begin venceu a corrida pela reeleição em Israel contra Shimon Peres. Segundo Menachem Begin, Shimon Peres, líder do Partido Trabalhista, havia sido informado sobre os planos do ataque três meses antes, mas tinha sido reticente quanto à sua execução.

Considerações finais

Seriam necessários quase dez anos – com a invasão por Saddam Hussein do vizinho Kuwait em 2 de agosto de 1990, para que o mundo reconhecesse a importância da missão israelense. Os Estados Unidos montam uma coalizão de 39 países para libertar o Kuwait, na ação que se tornou conhecida como a Guerra do Golfo. Ironicamente, o seu presidente era George Bush pai, aquele mesmo que pedira por duras sanções contra Israel quando do bombardeio da usina de Osirak.

Durante a guerra, 42 mísseis iraquianos Scud caíram sobre Israel, ainda que Israel não tivesse integrado a coalizão. Por fim, o mundo mudara de opinião. Os especialistas em legislação política finalmente definiram o ataque sobre Osirak como um ato de autodefesa, e várias altas patentes americanas que previamente se haviam oposto, ao ver as ações de pura agressão de Saddam Hussein, entenderam que um Iraque destituído de poder nuclear tornava o mundo um lugar mais seguro.

O comandante da Força Aérea de Israel, General David Ivry, recordava que em 1991, ao fim da primeira Guerra do Golfo, o então secretário de Estado americano, Dick Cheney, e futuro vice-presidente lhe deu uma foto em preto e branco do reator bombardeado, em ruínas. E escreveu na foto: “Isso facilitou muito o nosso trabalho”.

O ataque à usina de Osirak foi o primeiro ataque preemptivo bem-sucedido a um reator nuclear, e anunciava a disposição de Israel de atacar preventivamente para evitar que seus inimigos adquirissem armas nucleares. Serviu também para mostrar a capacidade israelense de atacar seus inimigos em geografias distantes de suas fronteiras.

As consequências deste ataque tiveram grande significado à época e continuam a ser incrivelmente relevantes ainda hoje, especialmente no contexto do programa nuclear iraniano. O ataque aéreo no coração do programa nuclear de Saddam Hussein foi, e continua sendo, o mais ousado ataque de Israel.

Bibliografia
35 years on, IAF pilots recall daring mission to bomb Saddam’s nuke reactor, artigo publicado em 4 de junho de 2016 no jornal Times of Israel
40 years since Operation Opera, attack against Iran ‘would be different’, artigo de Anna Ahronheim publicado em 20 de junho de 2021 no jornal The Jerusalem Post
IDF releases new footage of Ilan Ramon discussing Operation Opera, artigo de Anna Ahronheim publicado em 22 de junho de 2021 no jornal The Jerusalem Post
Israeli Jets destroy iraqi atomic reactor: attack condemned by U.S. and arab nations, artigo de David K. Shipler publicado em 9 de junho de 1981 no jornal The New York Times
Raid on the Reactor – How Israel stopped Saddam Hussein from destroying the world, https://www.youtube.com/watch