A criação do Estado de Israel exigiu muitos sacrifícios de jovens que, motivados por uma causa, enfrentaram obstáculos constantes e deram suas vidas ao altar da pátria.


Há pouco mais de 50 anos, durante a Guerra de Independência de Israel, 35 combatentes da Haganá foram mortos durante uma missão de socorro aos kibutzim de Gush Etsion – ao sul de Jerusalém, cercados pelos árabes. Desde então, ergueram-se monumentos em memória desses 35 heróis – em hebraico, Lamed Hê, além de um kibutz e uma estrada terem recebido o seu nome. Segundo o jornal The Jerusalem Post, foram também evocados em um famoso poema do escritor israelense Haim Guri, também conhecido como o Cantor do Palmach.

A região de Gush Etsion é, atualmente, uma ilha isolada de assentamentos. Seu destino, desde o Acordo de Paz de Oslo, de 1993, ainda é incerto. As cidades vizinhas de Jaba e Tsurif, cujos habitantes foram acusados de ter matado e mutilado os Lamed Hê, ainda têm uma sólida reputação como antro de terroristas. Foi em Tsurif, que, em 1996, foi descoberta uma célula do Hamas responsável pela morte de onze israelenses em uma série de emboscadas e ataques suicidas.

Uma luta difícil

Em novembro de 1947, a Assembléia Geral das Nações Unidas votou uma moção aprovando a Partilha da Palestina e marcando o fim do Mandato Britânico na região. Os kibutzim de Gush Etsion – Kfar Etsion, Matsuot, Itzak, Ein Tzurim e Revadim, segundo o plano da ONU, tinham sido excluídos do futuro Estado de Israel. Os judeus que viviam na área os consideravam uma zona-tampão crucial contra os ataques a Jerusalém vindos do sul. Bandos de árabes haviam cortado a estrada meses antes e 450 residentes e combatentes da Haganá estavam sitiados em meio a hostilidades incessantes.

Em janeiro de 1948, tropas árabes – com mais de mil homens – organizadas pelo combatente palestino Abdul Husseini, pai do líder da OLP Fayssal El Hussein, atacaram Gush Etsion. Diante da situação, a Haganá decidiu mandar um pelotão de socorro com material médico e munições, elementos indispensáveis para ajudar os moradores da região durante os ataques seguintes.

Quarenta dos melhores membros da Haganá e do Palmach partiram sob o comando de Dany Mass. Motivado e bem-equipado, o grupo chegou ao Moshav Har Tuv, arrasado por novos ataques dos árabes. As armas foram escondidas em um caminhão blindado. Durante o trajeto, cinco homem foram deixados para trás, entre os quais havia um ferido. Foram justamente estes homem que sobreviveram ao terrível destino de seus companheiros.

O grupo que chegara a Har Tuv decidiu, então, tentar uma nova investida contra os inimigos, na noite seguinte. Mais uma vez, no entanto, foram surpreendidos pelos árabes. Sua situação era mais vulnerável durante o dia, por estarem em uma colina que era mais baixa do que as cidades vizinhas. Outro erro de estratégia foi o fato de o comandante ter subestimado a rapidez e a intensidade da reação da população árabe local.

As munições trazidas pelos Lamed Hê se esgotaram e o combate só terminou com a morte do último homem. Segundo a lenda, por falta de balas, ele morreu com uma pedra na mão.

Grande sacrifício

No dia 17 de janeiro de 1948, o comandante de Jerusalém enviou a seguinte mensagem ao Gush Etsion: "Acabamos de saber que 35 cadáveres jazem entre Jaba e Tsurif". A notícia desse massacre logo se alastrou na comunidade judaica sitiada.

Eliezer Schmueli, estudante de 19 anos da Escola Normal de Beit Hakerem – ponto de encontro das tropas do Palmach e da Haganá e local de partida do grupo dos Lamed Hê – foi escolhido para anunciar a notícia. Schmueli lembra os rumores da época sobre a operação, dizendo: "A comunidade de Jerusalém se inquietava, nós não estávamos acostumados a ver morrer nossos jovens. Mas a época era de sacrifício, a ponto de nos sentirmos entristecidos por não ter morrido junto. Quando li a lista com o nome de todos que eu conhecia, comecei a chorar de desespero".

A falta de informações sobre os desaparecidos levou um inspetor da polícia britânica a enviar uma comissão a Tsurif. Foram, então, encontrados os cadáveres mutilados dos 35 jovens, dos quais somente dez puderam ser identificados. Os britânicos decidiram enterrá-los em Gush Etsion, temendo represálias se os funerais fossem em Jerusalém. Na lista das vítimas, professores, cientistas, generais....

A historia dos Lamed Hê vai-se apagando da memória, oculta por outros episódios mais gloriosos. Cinqüenta anos depois, porém, as novas gerações têm a missão de relembrar os jovens que deram sua vida, com patriotismo, por nossa causa.