Noa Tohar Tishby nasceu em Tel Aviv, Israel, em maio de 1975. É atriz, modelo, escritora, produtora e ativista israelense. Com grande criatividade e garra ajudou a desenvolver, criar, produzir e vender conteúdo para TV, made in Israel, para o mercado internacional. Atuou, também, em vários filmes e séries americanos, incluindo The Affair, The Island, […]
Noa Tohar Tishby nasceu em Tel Aviv, Israel, em maio de 1975. É atriz, modelo, escritora, produtora e ativista israelense. Com grande criatividade e garra ajudou a desenvolver, criar, produzir e vender conteúdo para TV, made in Israel, para o mercado internacional. Atuou, também, em vários filmes e séries americanos, incluindo The Affair, The Island, Charmed, Big Love, Star Trek, NCIS e outros.
Desde 2008 ela é uma vibrante ativista que advoga, incansavelmente, em defesa de Israel. Desde então vem combatendo ferozmente o antissemitismo e a retórica anti-Israel nos meios de comunicação e foi das primeiras a identificar que o campo onde essa batalha se travava era exatamente a mídia social.
Ela é a principal palestrante em eventos mundo afora em defesa de Israel, já tendo inclusive falado perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas. Colabora, também, com inúmeros jornais israelenses e norte-americanos, tais como The Jerusalem Post e The Huffington Post.
Em abril de 2021, Noa lançou seu primeiro livro, A Simple Guide to the Most Misunderstood Country on Earth,traduzido ao português com o título de Israel, Uma Nação Fascinante e Incompreendida. Em abril de 2022, foi nomeada pelo então primeiro-ministro Yair Lapid como Enviada Especial para o Combate do Antissemitismo e a Deslegitimação de Israel – a primeira pessoa a ocupar essa posição, recém-criada.
Grande defensora de Israel e de nosso povo, ela sabe explicar as complexidades do país de forma clara e acessível. Em abril de 2023, Noa veio ao Brasil a convite do Fundo Comunitário - Keren Hayesod de São Paulo. Morashá teve a oportunidade de entrevistar a ativista recentemente. Abaixo, os principais pontos dessa entrevista:
Seu livro recente, "Israel, Uma Nação Fascinante e Incompreendida", despertou grande interesse. Compartilhe, com nossos leitores, por favor, o que a inspirou a escrevê-lo.
NT – Sentia que esse livro me fazia falta. Venho trabalhando no campo do ativismo em favor de Israel e do Povo Judeu pela maior parte destes últimos 15 anos e ouvia sempre me dizerem algo como “Você explica de uma forma tão simples… será que há algo mais que eu possa ler sobre o assunto?”. Sabia que não havia tal livro no mercado, uma obra que contasse a história de Israel de forma facilmente compreensível, engraçada e leve. E logo soube que eu tinha que escrevê-lo. Pois então escrevi o livro que eu precisava para dar a meus amigos e colegas, em Hollywood e em toda parte dos Estados Unidos.
Conte-nos alguns conceitos errôneos sobre Israel que você espera ter esclarecido em seu livro.
NT – São tantos os equívocos acerca de Israel… Julgo que um dos piores é o fato de pensarem que Israel é muito mais militarizado e muito mais religioso do que de fato é, em ambos os casos. E como uma israelense-americana, foi um choque perceber o quão mais puritanos os Estados Unidos são, comparando-se com Israel. Por exemplo: em Israel as pessoas são mais abertas a pessoas LGBT+ e a famílias alternativas. Posso também dizer certas coisas, na TV israelense, que seriam censuradas nos EUA. Há muito mais abertura, em Israel, do que lá, de várias maneiras. Julgo que este seja um dos grandes equívocos. Sem falar, obviamente, no mito da limpeza étnica, do apartheid, do genocídio, em suma, de todas essas mentiras que são apenas o “libelo de sangue” de nossos dias, quando se trata de Israel e seu povo. E a desmistificação desses equívocos se tornou a minha raison d’être.
Você declarou que o antissionismo é a versão “politicamente correta” do antissemitismo. Poderia comentar essa afirmação?
NT – É muito importante que nossa comunidade entenda que antissionismo É antissemitismo – e nada mais. Os dois termos são única e exatamente a mesmíssima coisa. Mundo afora as pessoas tentam separar a identidade judaica do Sionismo e da Terra de Israel, e não podemos deixar que isso aconteça. Se alguém me diz: “Não sou antissemita, sou apenas antissionista”, eu gosto de perguntar a essa pessoa quais os outros países que ela pretende desmantelar… pois, em geral, elas querem desmantelar um único país, apenas… e só esse único país…
Costumo diferenciar entre ser antissionista e criticar o governo de Israel, as políticas israelenses, os seus políticos… tudo bem, não há problema algum em fazê-lo. É o que fazemos nos EUA. E é o que vocês fazem aqui no Brasil. Isto é algo que as democracias têm que suportar – e Israel faz isso, sabe lidar com as críticas. Não vejo problema algum em criticar as políticas governamentais israelenses. No entanto, negar a Israel o direito de existir como um Estado Judeu, negar ao Povo Judeu o direito de se autogovernar e ter autodeterminação em sua Terra ancestral, é puro antissemitismo! É preciso que saibamos diferenciar entre críticas e aniquilação. E que fique bem claro: antissionismo é antissemitismo. É impossível separar-se o Sionismo, a existência do Estado de Israel, da identidade judaica. O Sionismo não é uma postura política ou uma opinião política. Sionismo é inseparável da identidade judaica e isto é algo que é preciso ser incorporado e entendido.
Tomando por base suas vivências no meio estudantil, por que razão o antissionismo é tão prevalente entre os estudantes universitários, nos Estados Unidos?
NT – O motivo para tamanha popularização do antissionismo tem muito a ver com o ponto em que se encontra a sociedade americana, atualmente. Todo o conceito de se julgar tudo com base na percepção de quem é o opressor e quem é o oprimido, é justamente o que grupos anti-Israel usaram para deturpar a realidade e colocar o Sionismo no lado errado, no entender de muitos universitários. É preciso entendermos que a palavra Sionismo foi roubada de nós. Todos esses grupos anti-Israel, como o BDS, decidiram chamar o Sionismo de racismo, calcados na Resolução da ONU de 1975, que posteriormente até foi revogada. Temos que recuperar a palavra e explicar às pessoas que Sionismo é, simplesmente, o direito do Povo Judeu a ter seu país, a ter seu autogoverno e a sua autodeterminação na terra de seus antepassados, no Estado Judeu. Mas Sionismo nunca implicou em que Israel fosse um estado exclusivamente judeu e Israel não um país exclusivamente judaico. Na verdade, os residentes e cidadãos não judeus do Estado de Israel têm mais direitos do que teriam em praticamente todo o Oriente Médio. E os grupos anti-Israel estão-se utilizando da premissa errada – para início de conversa – de que Israel é um país branco que oprime as pessoas de outra raça. Isto não é verdade! Israel não é, de jeito algum, um país branco, e o Povo Judeu é natural da Terra de Israel.
Nenhuma país se permitiria ser alvo de foguetes – mas quando Israel se defende, e defende seus cidadãos e suas crianças, é criticado por grande parte da mídia. Como você explica a forma como a mídia cobre Israel?
NT – A cobertura da mídia sobre Israel é algo que me intriga, há décadas, portanto, quem me dera ter uma explicação para esse fator incompreensível. Acredito que haja um tremendo preconceito quando se trata de Israel; e os jornalistas caem constantemente nessa mesma armadilha. Mas, honestamente, não tenho certeza absoluta da razão para um viés tão destorcido, para o nosso lado.
Venho tentando combater essa situação já há muito tempo e continuarei lutando esta batalha enquanto for viva. Mas temos que entender que há um preconceito inerente contra o Povo Judeu, de modo geral. E que esse preconceito subconsciente está impactando o julgamento, a opinião e o posicionamento das pessoas acerca de Israel – quer o saibam ou não. A opinião pública sobre Israel se baseia em sentimentos – não em fatos. E assistimos isso dia após dia, no mundo todo.
Em seu livro, você diz que o “BDS é um movimento em que, com frequência, os mal-intencionados se aproveitam dos desinformados”. Você poderia nos explicar essa afirmação?
NT – Eu quis dizer que o BDS se apresenta como uma coisa, quando, na realidade, é outra totalmente diferente. O movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções está fazendo um trabalho muito bom se posicionando nos campi das universidades como um movimento progressista “woke”1, de justiça social, quando, na verdade, o movimento busca erradicar o Estado de Israel da face da Terra. Os fundadores do BDS não escondem o fato de que não querem que Israel exista, mas não o dizem abertamente… Não o dizem aos ativistas nas universidades, mesmo sendo a única coisa que pretendem. Essa gente sabe que os jovens universitários desconhecem a realidade histórica e os fatos, e o BDS vai atrás deles, vigorosamente, contando-lhes mentiras – e consegue convencê-los! Portanto, os mal-intencionados, aqueles que tentam erradicar Israel mas escondem seus verdadeiros motivos, pregam para os desinformados, ou seja, os jovens universitários americanos.
Com base em suas pesquisas e experiência, morando nos EUA, poderia nos dizer se, em anos recentes, houve uma mudança na maneira como o público norte-americano vê Israel?
NT – Sim, houve uma mudança na forma como os americanos veem Israel. A boa notícia é que as pessoas ainda apoiam Israel, nos EUA, de modo geral. A má notícia é que quando se começa a analisar os números, a situação se torna bem preocupante. Quando mais descemos na escala etária, pior Israel fica. À medida que subimos a faixa etária, e entre pessoas mais conservadoras, melhor Israel se sai.
Precisamos nos concentrar na geração mais jovem, pois é entre os jovens que está havendo mais problemas. E o BDS concentra seus esforços justamente nessa turma, e é nela que a mídia social faz um ótimo trabalho em seu empenho de destruir a reputação de Israel. É nessa faixa que está “pegando a moda de Israel” ser chamado de Estado apartheid, pois se você é adulto e você sabe o que ocorre no mundo, você obviamente sabe que o que eles dizem não é verdade. Portanto, ainda que, atualmente, de modo geral, o apoio a Israel seja forte, se não acordarmos a tempo, vamos perder a geração mais jovem. Não sei dizer se podemos reverter essa tendência, mas, justamente por isso, precisamos nos concentrar nos jovens.
O que você considera que seja mais difícil de desmistificar entre os mitos e as mentiras sobre Israel?
NT – O mais difícil… Há muito o que desmistificar e desmascarar quando se trata de Israel. Quando você fala com base nos fatos, muita gente se surpreende. Quando as pessoas falam sobre apartheid e você lhes diz que um juiz árabe sentenciou o primeiro-ministro anterior de Israel e o colocou na prisão… as pessoas ficam confusas e não acreditam. Quando você diz: “um voto para cada cidadão”, essas pessoas não acreditam. E você diz que os cidadãos árabes têm os mesmos direitos que os judeus… elas não acreditam… Mas uma das coisas que eu vejo que mais choca as pessoas é quando explico que nunca houve uma Palestina. Quando digo isso às pessoas, escuto, literalmente, o seu cérebro ferver! E elas me dizem: “O quê?”. E eu respondo: “Nunca houve uma Palestina. Não estou dizendo que não devesse haver, mas apenas o fato de que isso nunca existiu”. Elas não conhecem os fatos. Explico um fato simples, que a palavra Palestina se refere à extensão geográfica que ia do Mediterrâneo até o Iraque e o Líbano e a Síria, mas as pessoas não acreditam…
O conceito de Palestina está cimentado tão profundamente no inconsciente coletivo da humanidade, atualmente, que eles não entendem que nunca houve um país nem uma cidadania da maneira como nós hoje entendemos o que seja um país ou uma cidadania. Obviamente, repito, isso nada tem a ver com o fato de que venha a existir uma Palestina.
Esse é um dos grandes mitos. É sempre interessante porque eu digo a verdade a eles e uso fatos incontestáveis e às vezes é muito difícil entenderem – pois foram tão manipulados que simplesmente não conseguem entender.
Qual tem sido o aspecto mais gratificante de seu trabalho em prol de Israel? E o mais desafiador?
NT – O mais desafiador é acordar diariamente sabendo que estou enfrentando um ódio que já existe há milhares de anos e não serei capaz de acabar com ele. Sei que meu trabalho nunca conseguirá ser concluido, e que apenas posso amenizar um pouco essa realidade. E isso é bem difícil… Cada dia surge algo novo. Cada dia há outro ataque antissemita e cada dia eu sou atacada por enfrentar esse antissemitismo.
Mas o mais gratificante e que suplanta tudo é quando eu me encontro com os mais jovens, geralmente alunos universitários ou do Ensino Médio, e eles me dizem a diferença que o meu trabalho faz para eles. Eles se sentem como jovens sem voz nesse ambiente e consideram que eu sou a voz deles nesse meio estudantil. Portanto, isso para mim é a parte mais gratificante do meu trabalho. É insubstituível e é o máximo! Simplesmente o máximo! E me sinto extremamente honrada de poder fazer esse trabalho.
1Woke – palavra que está muito na moda, nos EUA, quer dizer, literalmente, estar acordado, desperto. Mas, recentemente, o termo, que originalmente era usado pela comunidade afro-americana para dizer “estar alerta para a injustiça racial”, passou a ser usado amplamente significando “estar consciente sobre temas sociais e políticos, especialmente o racismo”, desde 2017, com o movimento Black Lives Matter.