Nos séculos 20 e 21, a roda da fortuna dos judeus do Irã girou várias vezes. De uma comunidade pobre e desprezada, tornou-se uma das mais ricas do mundo judaico com a subida ao poder da dinastia Pahlavi. mas, Sua época áurea chegaria ao fim em 1979, com a revolução islâmica. Hoje, os oito mil judeus que vivem no Irã se encontram ao sabor das circunstâncias. Não têm nenhum tipo de “escudo” que possa proteger sua vida ou os poucos bens que ainda possuem.

Nas primeiras décadas do século 20, a Pérsia, como era chamado o Irã até 1935, encontrava-se em uma difícil situação política e econômica. Desde 1909, com a assinatura do tratado anglo-persa, o país estava sob controle britânico de facto e enfrentava um quadro de insolvência fiscal, inflação e fome. Foi justamente nesse clima de instabilidade que um oficial do exército iraniano, Reza Mirpanj, entrou na cena nacional. Em 1921, liderou o golpe que depôs o último xá da dinastia Qajar, instalando-se como ministro da Guerra e, depois, como primeiro-ministro. Em outubro de 1923, com a aprovação do Parlamento, tornou-se chefe do governo provisório e, em dezembro, ascendeu ao trono com o nome de Reza Khan Pahlavi.

O novo xá implantou reformas que transformaram a estrutura econômica, social, política e cultural da Pérsia para dela fazer um país secular e ocidentalizado. Para tanto, fez do nacionalismo o elemento de coesão do povo em detrimento do Islamismo. Excluiu o clero xiita de qualquer decisão de Estado e aboliu o milenar conceito de “impureza ritual” dos judeus. Com essas medidas, os judeus conseguiram dar os primeiros passos na ascensão socioeconômica. Passaram a atuar no comércio, indústria e turismo. Tiveram mais acesso a universidades e escolas, tanto como estudantes quanto como professores. No entanto, ainda eram alvo de restrições e discriminações, pois, apesar de o xá ter proibido os mulás, o clero muçulmano, de insuflarem as massas contra eles, a aversão aos judeus era enraizada.

Com a ascensão do nazismo na Alemanha e a aproximação de Reza Khan a Hitler, a versão local do antijudaísmo religioso incorpora uma vertente racista importada da Alemanha. Os persas passaram a ver-se como “superiores”, descendentes de povos arianos que se estabeleceram no Planalto iraniano já na Antiguidade. Em 1935, o xá mudou o nome do país para Irã, que, para o monarca, refletiria melhor essas supostas raízes étnicas.

Durante a 2ª Guerra Mundial, os jornais iranianos referiam-se aos judeus como a “mais mortífera ameaça à humanidade”, “responsáveis por todas as misérias do Irã e do mundo”. Para os partidos fascistas, os judeus “deviam ser expulsos do país”.Em 1941, em resposta à aproximação do xá com a Alemanha, tropas britânicas e russas invadiram o Irã para assegurar o acesso dos Aliados aos recursos petrolíferos do país. Sob pressão das potências ocupantes, o soberano abdicou em favor de seu filho, Mohammad Reza Pahlavi, coroado em setembro daquele ano.

As relações entre o Ishuv (o núcleo judaico em Eretz Israel) e o Irã iniciaram-se em 1942, quando a Agência Judaica abriu um escritório em Teerã para ajudar refugiados poloneses vindos da Rússia a emigrarem para Israel.

Durante a votação para a Partilha da Palestina nas Nações Unidas, em novembro de 1947, o Irã votou contra a moção, juntamente com os outros países muçulmanos. Segundo estatísticas da Agência Judaica em Teerã, em 1948, a população judaica do país era de 100 a 120 mil, 50 mil só na capital. Com o avanço internamente da propaganda antissemita, após a criação do Estado Judeu, mais de 35 mil judeus, sobretudo das camadas mais pobres, fizeram aliá entre 1948 e 1970.

O xá Mohammad Reza Pahlavi mantinha ligações estreitas com o Ocidente, principalmente com os EUA, e reconheceu o Estado de Israel de facto1 em 1949. As relações com o novo país eram “discretamente oficiosas”, mas próximas.

No início dos anos 1950, a crise política no Irã dominava as atenções no Reino Unido e nos EUA. Nas eleições parlamentares de 1951, a Frente Nacional, uma coalizão de partidos de oposição ao xá, alcançou maioria, e seu líder, Mohammed Mossadegh, tornou-se primeiro-ministro. Sob a liderança do novo chefe de governo, aprovou-se a nacionalização das reservas de petróleo, até então controladas pelo Reino Unido. A crise política forçara toda a família real a fugir do país e foi nessa ocasião que se consolidaram os laços entre o monarca e a comunidade judaica iraniana. Ao saber que Reza Pahlavi estava hospedado em Roma, um empresário judeu, Morad Arieh, enviou-lhe um cheque em branco, junto com uma carta na qual permitia ao soberano efetuar saques ilimitados e pagar o empréstimo quando tudo voltasse ao normal.

Em 1953, Mossadegh foi deposto por um golpe militar, e o xá Reza Pahlavi voltou ao trono. O reinado do xá foi uma era de transformações e realizações para a comunidade judaica. O fato de o Xiismo não ser mais o fator de união nacional abrira espaço para as minorias, na restruturação do país. O período da chamada Revolução Branca (1963-1970) foi a Idade de Ouro dos judeus iranianos, que atingiram níveis de prosperidade jamais vivenciados até então.

A Idade de Ouro

O rápido florescimento da comunidade judaica deveu-se, em grande medida, à ideologia dos Pahlavi, que queriam um Irã ocidentalizado. A meta da Revolução Branca, iniciada em 1963, era a secularização e modernização do país. A industrialização tornou-se uma prioridade, e realizou-se uma ampla reforma agrária, inclusive nas terras dos clérigos xiitas. As mulheres iranianas foram emancipadas.

Em 1966, viviam no país 60.683 judeus de acordo com o censo (70 mil de acordo com fontes judaicas). Com o forte crescimento econômico das décadas de 1960 e 1970, eles tiveram oportunidades econômicas excepcionais. Nunca, em toda a sua história, haviam alcançado tal patamar de riqueza, instrução e êxito profissional, tanto que a grande maioria pertencia à classe média ou média alta. Em base per capita, tornaram-se uma das comunidades judaicas mais ricas do mundo. Contavam com excelentes escolas, organizações sionistas e ativa vida religiosa. Apenas em Teerã, havia mais de 30 sinagogas.

O Irã e Israel mantinham sólidas relações nas áreas de comércio, agricultura, medicina e militar. Por exemplo, o país muçulmano fornecia petróleo ao Estado Judeu e havia voos regulares da EL AL entre os dois países. A Guerra dos Seis Dias, em 1967, é considerada um dos pontos altos desse relacionamento. Após a Guerra do Yom Kipur, em 1973, houve uma maior aproximação entre o xá e Anwar al-Sadat, presidente do Egito. Acredita-se que o soberano iraniano tenha sido um dos que aconselharam o então chefe de governo egípcio a fazer a paz com Israel.

No entanto, essa nova realidade não significava o fim do antissemitismo. Nas cidades pequenas, os judeus ainda eram insultados e espancados. Além disso, sempre que o clero xiita ganhava espaço ou havia algum tipo de instabilidade no país, nossos correligionários eram alvo de violência.

Oposição interna

Nos anos 1970, cresce o ressentimento popular contra o governo do xá. Com a crise do petróleo de 1973, o país mergulhou em problemas econômicos, políticos e sociais.

O clero xiita e os muçulmanos conservadores condenavam a “ocidentalização” e exigiam a volta dos costumes islâmicos. Os liberais acusavam o soberano de corrupção e gastos bilionários em armamentos, além de criticarem seu estilo autocrático e política repressiva. Com o endurecimento do regime, cada vez mais iranianos engrossavam as fileiras da oposição.

O aiatolá Ruhollah Khomeini, exilado em Paris, enviava ao Irã mensagens contrárias ao xá gravadas em fitas cassete que eram veiculadas nas mesquitas. Aos olhos das massas muçulmanas, Khomeini tornara-se um herói nacional desde sua prisão, em 1962. Dois anos mais tarde, o aiatolá foi exilado, mas não silenciado.

A oposição ao xá envolvia uma coalizão de nacionalistas, secularistas, esquerdistas e islâmicos. As mesquitas de todo o país tornaram-se os centros da Revolução Iraniana, e, com habilidade, Khomeini projetou-se como uma figura unificadora das diversas vertentes de oposição.

Em 1978 e 1979, greves e protestos paralisaram o país. À medida que os manifestantes contrários ao xá alinhavam as suas reivindicações em termos religiosos, a retórica islâmica acabou por prevalecer. Khomeini passou a ser reverenciado como uma figura sagrada que lutava não só para libertar o Irã da opressão, mas também para transformar o país na sociedade descrita no Alcorão.

Às vésperas da Revolução Iraniana, viviam no país 80 mil judeus em meio a uma população de 40 milhões. Em uma situação agora precária, a comunidade judaica tinha razões de sobra para estar temerosa. O aiatolá Khomeini emitia declarações explicitamente antissemitas. Em seus discursos e textos, acusava os judeus, entre outros, de “deturpar” o Islã, traduzir de forma errônea o Alcorão e dominar a economia iraniana. Em um guia de sua autoria para o cotidiano da vida muçulmana, escrito no início dos anos de 1960, dava ênfase à “impureza” dos judeus.

Em 16 de janeiro de 1979, o xá Mohammad Reza Pahlavi foi forçado a deixar o Irã. Duas semanas mais tarde, Khomeini, voltou triunfante ao país, após 15 anos no exílio.

A República Islâmica e os judeus

O aiatolá e seus seguidores assumiram o poder em 11 de fevereiro de 1979. Com isso, criou-se a República Islâmica do Irã (RII), uma teocracia islâmica xiita cujas leis e regulamentos seguem a Sharia, sistema jurídico baseado no Alcorão. Na recém-criada república, os poderes executivo, legislativo e judiciário são “supervisionados” pelo “Líder Supremo”, o aiatolá, e seu “Conselho dos Guardiões”.

Após tomar o poder, Khomeini mandou executar figuras revolucionárias, antigos aliados, e prender membros importantes da comunidade judaica iraniana. Causou abalo a notícia da execução, em 9 de maio de 1979, de Habib Elghanian, grande empresário, filantropo e figura de muito destaque entre os judeus de Teerã, sob a acusação de espionagem e arrecadação de fundos para Israel.

As lideranças comunitárias sabiam que tinham de agir sem demora. Formou-se um grupo para ir até Qom reunir-se com Khomeini para pedir ao “Líder Supremo” alguma garantia de segurança. No final da reunião, o aiatolá concluiu: “Reconhecemos nossos judeus sob uma ótica independente desses sionistas hereges e sanguessugas”. Logo após, emitiu uma fatwa2 em que exigia, para os judeus, proteção de acordo com a Sharia.

A ideologia da RII, porém, inclui as ideias antissemitas de Khomeini, segundo o qual “o sionismo é culminação da conspiração judaico-cristã contra o Islã, minando sua histórica missão”. Até hoje, o Irã ameaça, com frequência, exterminar Israel. Oficialmente, o governo do país faz uma distinção entre “judeu”, “sionista” e “Israel”, mas a acusação mais comum contra os nossos irmãos na RII é o fato de manterem contatos com o Estado Judeu.

Diante dessa nova realidade, por volta de 30 mil judeus abandonaram o país às pressas. Tiveram seu patrimônio, de aproximadamente US$ 1 bilhão, confiscado pelo governo, que, além disso, se recusava a emitir-lhes passaportes como forma de lhes impedir a partida. No entanto, milhares deixaram o Irã de forma clandestina apesar do perigo. Em caso de captura, poderiam ser mortos. Atualmente, há várias comunidades de origem iraniana em diferentes países.

Logo após a tomada do poder, Khomeini descumpriu todas as promessas de liberdade de expressão que fizera. Foram proibidos todos os grupos que não seguiam sua linha religiosa, e os direitos das mulheres, revogados. O controle de todos os aspectos civis e políticos da vida nacional foi atribuído a um grupo de jovens radicais conhecidos por Hezbollah, o Partido de D’us.

As duas principais metas dos aiatolás são a propagação da revolução xiita pelo mundo afora e a destruição de Israel. De acordo com o iraniano-americano Efe Vali Nasr, professor da Escola de Estudos Internacionais Avançados John Hopkins, “A revolução no Irã permitiu ao fundamentalismo tornar-se uma força que mudou a concepção do Islã político do Marrocos à Malásia”.

Khomeini faleceu em 1989, mas sua ideologia ainda é um princípio basilar para a RII e para os grupos xiitas de outros países. Seu sucessor, o aiatolá Ali Khamenei, o principal arquiteto de todas as políticas iranianas, detém poder absoluto.

Vida judaica no Irã

Desde o início do novo regime, Khomeini declarou o maior jihad de todos: limpar o país de toda “decadência moral” e de costumes ocidentais. É impossível listar os milhares de motivos pelos quais a “polícia da moralidade” podia efetuar prisões. Estavam sujeitos a detenção, entre outros, homens de mangas curtas, mulheres que não usassem “adequadamente” o hijab (véu islâmico) e pessoas de sexos opostos sem parentesco que se socializassem. As escolas foram segregadas. Essa “limpeza” visava à separação de muçulmanos e “infiéis”, que, por exemplo, só podiam usar determinados bebedouros e banheiros nas instituições de ensino. Se fosse o caso, os comerciantes deviam colocar, na entrada de seu estabelecimento, os dizeres: “Esta loja é operada por um não-muçulmano”.

Desde 1979, os judeus, assim como as mulheres, perderam direitos civis e econômicos adquiridos na era dos Pahlavi. Apesar das garantias constitucionais para as minorias religiosas e existência de um representante judeu no Parlamento, o status dos judeus e de outros grupos não muçulmanos é de dhimmis.

Logo após a Revolução, os diretores das cerca de 20 escolas judaicas em funcionamento em todo o país foram substituídos por muçulmanos. Ao longo dos anos, a maioria desses estabelecimentos foi fechada de forma que só restam cinco, em Teerã. Supervisionado pelo governo, o currículo é islâmico, e o hebraico é proibido como idioma de instrução para estudos judaicos.

A organização ortodoxa “Otzar ha-Torah”, responsável pela educação religiosa, ministra aulas às sextas-feiras. Os sábados não são mais reconhecidos como o Shabat, e os alunos são forçados a frequentar a escola nesse dia. As sinagogas foram, em sua maioria, fechadas, e algumas chegaram a ser depredadas. Várias vezes, nos últimos anos, cemitérios judaicos foram tomados pelas autoridades locais para fins de desenvolvimento urbano.

No mínimo 14 judeus foram mortos pelos agentes do regime, dois morreram na prisão e 11 foram oficialmente executados. Um desses últimos, Ruhollah Kakhodah-Zadeh, acusado de ter auxiliado judeus a emigrarem, foi preso e enforcado – sem julgamento – em maio de 1998. No ano seguinte, Feizollah Mekhoubad, chazan de uma sinagoga em Teerã, foi executado após terríveis torturas.

Naquele mesmo ano de 1999, 13 judeus de Shiraz foram acusados de espionagem a favor de Israel e submetidos a julgamento. O fato tornou-se uma “cause célèbre” no Ocidente e levou alguns governos a intercederem em favor dos réus. No fim, três foram absolvidos, e os outros dez, sentenciados a prisão. Em fevereiro de 2003, os últimos cinco foram libertados.

O século 21

No início dos anos 2000, viviam no Irã cerca de 30 mil judeus. Atualmente, acredita-se que restem apenas oito mil, a maioria em Teerã. O regime costuma inflar esse número para 20 mil como parte de uma campanha mundial para se gabar de ter no país uma comunidade judaica grande, florescente e, com isso, desviar as atenções das acusações de antissemitismo que pesam sobre ele. Com a teocracia islâmica há quatro décadas no poder, a mídia, controlada pelo governo, costuma veicular propaganda antijudaica. Em duas ocasiões, em 1994 e 1999, publicou em persa Os Protocolos dos Sábios de Sion, uma famigerada falsificação czarista e “obra-prima” da literatura antissemita.

Não temos informações exatas da real situação dos judeus que permanecem no Irã. Sabemos, porém, que pagam um alto preço para manter uma relação tolerável com as autoridades. Para o governo, tudo que lhes diga respeito é extremamente político e tem ligação direta com Israel. Obrigados a falar e fazer tudo que é exigido, reafirmam constantemente que são “iranianos de fé mosaica”, não são sionistas e não concordam com a existência do Estado Judeu.

Em 2020, no Dia de Al-Quds3, a manifestação anual que pede a destruição do Estado Judeu, a página de mídia social do aiatolá Khamenei publicou uma ilustração do Monte do Templo, em Jerusalém, com a bandeira palestina erguida sobre a mesquita Al-Aqsa e o texto: “A Palestina será livre. A solução final: resistência até o referendo”. Cabe notar que a expressão “solução final” era usada pelos nazistas como eufemismo para se referir ao extermínio do nosso povo. Em resposta às acusações de que clamava por um novo Holocausto, Khamenei afirmou que o Irã busca a aniquilação “apenas de Israel”, não dos judeus.

Na verdade, é cada vez mais tênue a linha que separa a propaganda anti-israelense e antissionista do antissemitismo. A mídia, os sermões semanais dos líderes religiosos, as escolas e os órgãos públicos têm servido de veículo para o discurso oficial contra o Estado Judeu, a negação do Holocausto e propaganda antissemita. De fato, o ex-presidente Mahmoud Ahmadinejad, que, clamava com frequência que Israel seria varrido do mapa, não se cansava de repetir que a Shoá não passava de um grande mito.

É comum a representação de chefes de governos estrangeiros como fantoches controlados pelos judeus em charges de jornais e outros veículos. Em janeiro de 2021, o governo anunciou os vencedores da terceira edição de seu “Festival de Caricaturas do Holocausto”, já realizado em 2006 e 2016.

Igualmente preocupante é o que os iranianos aprendem nas escolas. Um estudo feito pela Liga Antidifamação acerca dos livros-texto das escolas estatais para o período de 2020-21 constatou que os judeus “são retratados de acordo com uma ampla variedade de mitos antissemitas e alegorias odientas contra os judeus”. O Sionismo é descrito como uma “invenção racista e imperialista semelhante a outras conspirações judaicas ou ocidentais contra o Islã e que os judeus sionistas são os inimigos do Islã”.

A verdade é que nossos oito mil irmãos que vivem no Irã estão à mercê dos governantes xiitas e sob constantes ameaças de que uma multidão possa virar-se contra eles. Não há como defender-se de uma turba enfurecida incitada por alguém no poder. Também é possível que, algum dia, sejam presos sob a acusação de manter algum tipo de relação com Israel e condenados à morte.

Entretanto, estariam os judeus livres para deixar o Irã? Essa é a pergunta que muitos se fazem. A lei proíbe que todos os membros de uma família judaica saiam juntos do país. Ao menos um, geralmente o pai, tem que ficar para trás. Contudo, em raras ocasiões, se a esposa e filhos já tiverem partido, ele poderá ir desde que abandone algo de valor significativo, como a casa da família.

Também é preciso levar em conta que, no Irã, a comunidade judaica tem muitas pessoas idosas que só falam persa. Ademais, boa parte dela compõe-se de pequenos comerciantes que mantêm lojas tradicionais no centro das cidades, com rendas que proporcionam um relativo bem-estar financeiro. Fora do país, teriam que recomeçar a vida.

Após o 7 de outubro

É público e notório que o Irã ajudou a planejar o 7 de outubro, e, como disse Mark Hetfield, presidente da HIAS (Sociedade de Ajuda à Imigração Judaica): “A situação no Irã – em particular a dos judeus – deteriorou-se ainda mais após 7 de outubro...”.

Sob pressão, os judeus no país têm condenado publicamente as ações de Israel. O regime tem olhos e ouvidos por toda parte. Segundo relatórios de liberdade religiosa do Departamento de Estado dos EUA, a comunidade judaica iraniana é monitorada, de perto, pelo Ministério da Cultura e Orientação Islâmica, bem como pelo Ministério da Inteligência e Segurança.

Em abril de 2023, os judeus foram obrigados a não comemorar o fim de Pessach para participar da demonstração anual do Dia de Al-Quds. Foram também forçados a lamentar publicamente a morte do líder da Hezbollah, Hassan Nasrallah, conhecido por sua ideologia antissemita. Em 2002, ele afirmou que “se todos [os judeus] se reunirem em Israel, isso nos poupará o trabalho de persegui-los mundo afora”.

Alireza Nader, analista político e especialista em Irãdo jornal The Jerusalem Post, analisou a situação dos judeus que ainda vivem no Irã: “A pequena comunidade judaica do país é mantida refém dos caprichos do regime. Sempre que quer se vingar de Israel, este se volta contra os judeus iranianos”.

BIBLIOGRAFIA

Sarshar, Houman M.,The Jews of Iran: The History, Religion and Culture of a Community in the Islamic World. eBook Kindle

Klüsener, Edgar, Jews in Iran since the revolution of 1979: Caught between a rock and a hard place. eBook Kindle

  1. Um país com reconhecimento de jure, ao contrário de um Estado com reconhecimento de facto, cumpre todos os requisitos estabelecidos nas Leis Internacionais.
  2. Pronunciamento legal emitido sobre a lei islâmica (Sharia).
  3. Dia de protestos contra o Estado de Israel que ocorre na última sexta-feira do mês de Ramadã. A data foi instituída pelo aiatolá Khomeini em 1979.