'A alma do homem é a vela de D'us' (Provérbios, 20:27)
O principal mandamento Divino da festa de Chanucá é o acendimento da Chanuquiá, uma Menorá de oito braços. Na primeira noite acende-se uma vela; na segunda, duas; na terceira, três; e assim por diante. Este aumento progressivo culmina com o acendimento de oito velas, na última noite da festa.
A Chanuquiá representa a Menorá que era acesa no Templo Sagrado de Jerusalém, e as luzes de Chanucá relembram dois milagres realizados por D'us em prol de nossos antepassados, na época do Segundo Templo. Por isso, ao acendê-la, é sempre preferível usar azeite de oliva virgem em vez de velas, já que a Menorá do Templo era acesa diariamente com azeite ritualmente puro.
O primeiro milagre, o menos destacado e, no entanto, o mais significativo, foi a vitória militar dos Macabeus, um grupo de valentes guerreiros judeus que se revoltaram contra as forças sírio-gregas do rei selêucida, Antíoco IV, que então dominava a Terra de Israel, governando-a de forma tirânica e cruel. O rei queria helenizar os judeus à força, extirpando a prática do judaísmo. Como conseqüência da vitória dos Macabeus, o Povo Judeu recuperou o Templo Sagrado de Jerusalém e re-inaugurou o serviço Divino que nele era praticado. Mas, quando os judeus procuraram azeite de oliva ritualmente puro para acender a Menorá, encontraram apenas um pequeno frasco que tinha escapado à profanação dos gregos. Os judeus perceberam que aquela quantidade de azeite não seria suficiente para manter a Menorá acesa até que se produzisse mais quantidade. Não obstante, decidiram acendê-la.
Foi quando ocorreu o segundo milagre: o azeite, que deveria durar um dia apenas, manteve o candelabro aceso durante oito, tempo suficiente para que mais azeite fosse produzido de acordo com as leis judaicas de pureza ritual. Esse segundo milagre, certamente o mais enfatizado na festa de Chanucá, foi um sinal Divino de que a vitória militar dos Macabeus era feito do Eterno e de que o triunfo dos judeus sobre os gregos fora um milagre.
Não fosse pelo milagre do azeite, poder-se-ia atribuir a vitória dos Macabeus à sua bravura e às suas astutas táticas de guerrilha. A vitória dos judeus sobre os gregos constaria nos livros de História como uma espécie de Guerra do Vietnã, durante a qual guerreiros determinados e dispostos ao auto-sacrifício foram capazes de derrotar uma superpotência militar. Mas, para dissuadir qualquer dedução neste sentido, a Providência Divina determinou que o pequeno frasco de azeite queimasse durante oito dias.
Mas aqui surge a pergunta: por que o azeite queimou durante oito dias, e não dez ou mais? Se tivesse durado mais tempo, o milagre teria sido considerado maior ainda. A resposta é que, no judaísmo, o número oito é extremamente significativo. O número sete representa o ciclo natural: são sete os dias da semana. Já o número oito simboliza o que está acima da natureza, ou seja, o milagroso, o sobrenatural.
O pequeno frasco de azeite durou precisamente oito dias para que o Povo Judeu compreendesse que fora D'us quem derrotara os gregos. Não fosse por Sua Providência e Misericórdia, não haveria como os Macabeus derrotarem os selêucidas, uma das superpotências militares da época, e recapturarem o Templo - por mais valentes que fossem.
O fato do número oito representar a ligação sobrenatural que existe entre D'us e o Povo de Israel explica a razão para que o Brit Milá, a circuncisão, seja realizada no oitavo dia de nascimento de um menino judeu. Como o próprio nome indica, o Brit Milá é uma aliança entre o Criador e cada um dos Filhos de Israel. A circuncisão é feita no oitavo dia porque simboliza que o vínculo entre D'us e o Povo Judeu transcende a natureza e todas as suas limitações.
Em resumo, durante a festa de Chanucá, celebram-se dois milagres: a vitória militar dos judeus e a queima do azeite durante oito dias. O fenômeno sobrenatural de um pequeno frasco de azeite ter durado oito dias foi um milagre por si só, mas também serviu ao propósito de revelar que a vitória dos Macabeus foi milagrosa, e não fruto de sorte, bravura ou táticas militares. Portanto, o principal mandamento da festa gira em torno do acendimento de uma Menorá de oito braços. Há, porém, diferenças entre a Menorá do Templo Sagrado e a Chanuquiá. A mais óbvia delas é que a primeira tinha sete braços, enquanto a última tem oito. Mas apesar das diferenças, uma não deixa de ser representação da outra. E, portanto, para se adquirir um entendimento mais profundo e místico da festa de Chanucá, faz-se necessário analisar a Menorá do Templo e o que representava.
A Menorá e as sete Sefirot da emoção
A Cabalá ensina que as sete lâmpadas da Menorá simbolizam as almas dos sete Pastores do Povo de Israel. São eles os três Patriarcas - Avraham, Itzhak e Yaacov - e quatro outras figuras centrais na história judaica: Moshé, o maior de todos os profetas, que nos deu a Torá; Aharon, irmão de Moshé e o primeiro Cohen Gadol, Sumo Sacerdote; Yossef HaTzadik, filho de Jacob e Rachel; David, o maior rei na história judaica, que fundou Jerusalém como capital eterna do Povo Judeu e estabeleceu as fundações do Templo Sagrado.
Cada um desses sete homens personificou uma das Sefirot da emoção. Estas são emanações Divinas que criam, controlam e influenciam toda a existência. A Criação, em geral, e a alma humana, em particular, são compostas das dez Sefirot: sete emocionais: Chessed (Bondade, Generosidade), Guevurá (Severidade, Disciplina), Tiferet (Harmonia, Compaixão), Netzach (Eternidade, Vitória), Hod (Esplendor, Humildade), Yessod (Fundamento, Carisma) e Malchut (Realeza, Liderança); e três intelectuais, que são Chochmá (Sabedoria), Biná (Compreensão) e Daat (Conhecimento). (V. Morashá n0 29, 31 e 61).
Os sete Pastores e as Sefirot que personificam são tema de duas festas judaicas: Sucot e Pessach. Ambas têm duração de sete dias, apesar de mais um dia festivo ser observado por todos que vivem fora da Terra de Israel. A Cabalá ensina que em cada um dos sete dias de Sucot, as almas dos sete Pastores visitam todas as sucás. No primeiro dia da festa, Avraham lidera os outros seis; na segunda noite, é Itzhak quem o faz; na terceira é Yaacov; na quarta, Moshé; na quinta, Aharon; na sexta, Yossef e, na sétima noite, é o Rei David. Esta ordem não é cronológica, afinal, Yossef faleceu antes do nascimento de Moshé e Aharon. A ordenação das Sefirot segue a Árvore da Vida da Cabalá. Em Pessach, não se convida os Pastores para o Seder, mas se enfatiza as Sefirot que eles personificam, pois a partir da segunda noite da festa, inicia-se a contagem diária do Omer, que dura sete semanas e termina em Shavuot, quando celebramos o recebimento da Torá. Cada uma dessas semanas é associada a uma das sete Sefirot da emoção, que são tema central da contagem.
Mas, o que poucos sabem, é que as Sefirot emocionais também fazem parte da festa de Chanucá, pois como explica a Cabalá, eram representadas pelas sete lâmpadas da Menorá do Templo, acesa diariamente com azeite de oliva.
Está escrito no Livro dos Provérbios que a vela de D'us é a alma do homem. Cada um dos judeus é representado por uma das sete lâmpadas da Menorá. Estas representavam o recebimento da influência Divina, transmitida pelos sete Pastores, que, por sua vez, personificam os sete principais caminhos para se servir a D'us. Em outras palavras, cada um dos Pastores abriu um caminho espiritual através do qual podemos conhecer D'us e com Ele nos relacionar. Isto não significa que o ser humano está limitado a um único caminho espiritual; tampouco significa que este seja imutável. Pois todo homem contém, em maior ou menor medida, todas as Sefirot. Porém, a maioria das almas humanas são regidas principalmente por uma Sefirá específica, que influencia sua forma de pensar, falar e agir.
Os judeus servem a D'us principalmente através da Sefirá personificada pelo Pastor com o qual eles mais se identificam. Alguns judeus são como Avraham (Chessed): amam a D'us e a seus semelhantes de forma praticamente incondicional. Outros, como Itzhak (Guevurá), levam uma vida de rigor e disciplina e servem a D'us com temor e reverência. Alguns, como Yaacov (Tiferet), conseguem mesclar essas duas formas de se relacionar com o Criador e com as pessoas. Há ainda judeus, como Moshé (Netzach), que zelam pela Lei Divina e buscam a vitória e a realização de feitos eternos. Outros, como Aharon (Hod), são humildes e desprovidos de ego, fomentam a paz entre os homens e se submetem aos desejos do Eterno. Aqueles judeus, cujas vidas se assemelham à de Yossef (Yessod), costumam ser justos por natureza e trabalham para canalizar e disseminar a riqueza material e espiritual pelo mundo. Finalmente, há pessoas que são líderes por natureza. Como o Rei David (Malchut), personificam a realeza e a liderança; costumam ser comunicadores talentosos, homens e mulheres de grandes feitos, que empregam seus talentos e habilidades para liderar os outros no serviço a D'us.
Em resumo, os sete Pastores nos fornecem os caminhos para se obter sucesso espiritual e adquirir conhecimento de D'us e de Sua Torá. Um judeu pode nem mesmo conhecer os Pastores; não obstante, o caminho espiritual que percorrerá no decorrer da vida foi aberto por um deles. Esses sete caminhos espirituais são representados pelas sete lâmpadas da Menorá. Todo indivíduo recebe inspiração de uma delas. Quanto mais aberto à espiritualidade estiver, isto é, quanto maior a sua ligação com D'us, maior será o seu poder de absorver as energias espirituais de um ou mais braços da Menorá.
É fundamental enfatizar que esses sete caminhos não significam uma divisão dentro do Povo de Israel. Muito pelo contrário. A Menorá do Templo representava a união das almas de todos os judeus. Forjado numa única peça de ouro, o candelabro de sete braços simbolizava a absoluta necessidade da união entre o nosso povo e o conceito cabalístico de que todo judeu é parte de um único organismo. Cada alma é única, diferente de todas as outras, por ser constituída por diferentes combinações de Sefirot, e tendo, portanto, diferentes personalidades e missões de vida. Porém, todas as almas fazem parte de uma única alma coletiva, da mesma forma que os sete braços faziam parte da Menorá forjada de uma única peça de ouro. Utilizara-se o ouro mais puro em sua fabricação para simbolizar a beleza do Povo Judeu. Pois, como está escrito no Cântico dos Cânticos, "Tu és toda formosa, Minha amada, e em ti não há defeito" (Cântico dos Cânticos, 4:7).
A Torá e seus mandamentos
A palavra hebraica "ner", traduzida como vela, é de origem bíblica. Denota o tipo de lâmpada usada na antiguidade: um receptáculo contendo azeite e um pavio. No Livro dos Provérbios, do Rei Salomão, está escrito que a alma do homem e o mandamento Divino são "a lâmpada de D'us". Traça-se um paralelo entre a alma humana e a mitzvá. Ao mesmo tempo, está escrito que a Torá é luz, o que significa que, apesar de suas semelhanças, há uma distinção entre a Torá e seus mandamentos. Uma das diferenças mais significativas é que a Torá, sendo a luz do mundo, é permanente, enquanto que uma mitzvá é temporária. De fato, pode-se apagar uma lâmpada, mas não a própria luz. Um judeu pode "acender" ou não uma mitzvá; é dado a ele o livre arbítrio de cumprir ou não os mandamentos Divinos. Mas a existência da Torá não depende de ninguém, a não ser de D'us. O homem pode-se esconder da Torá, da mesma forma como pode baixar as persianas para impedir que a luz do sol entre em seu lar. Mas a Torá, como o sol, não pára de brilhar.
Um dos principais temas da Cabalá é a Luz Infinita que emana de D'us, denominada de Or Ein Sof. Através dessa Luz, pode-se enxergar o Universo, do começo ao fim. Mas, por ser demasiadamente forte para o ser humano, a Luz Infinita foi ocultada por D'u.s Pergunta-se: onde o Criador a ocultou? E a resposta é: na Torá, e principalmente nos livros da Cabalá, como o Zohar. É por esse motivo que o Talmud chama a Torá de Oraita, ou Luz, em aramaico. A Torá é a própria Luz. Já a mitzvá provê essa Luz de forma específica a um indivíduo que a está cumprindo. O cumprimento de um mandamento Divino é, portanto, a forma de refletir a Luz de D'us na realidade física deste mundo.
Vimos mais acima que as sete lâmpadas e braços da Menorá representam as sete Sefirot da emoção. Por outro lado, a luz que a Menorá emite simboliza as Sefirot do intelecto. A Torá, Luz do Mundo, está associada à primeira Sefirá intelectual - Chochmá, a Sabedoria. Pois a Torá é a Sabedoria de D'us; é a planta com a qual o Todo Poderoso criou o mundo, é o plano Divino para a Criação. Ao estudar a Torá, ligamos a nossa sabedoria, que é finita, à Sabedoria Infinita. Quando analisamos os ensinamentos da Torá, principalmente uma passagem de difícil compreensão, e nos esforçamos para entender o que ela objetiva transmitir, estamos empregando a segunda Sefirá intelectual - Biná, a Compreensão ou Entendimento.
Finalmente, quando assimilamos um ensinamento da Torá, quando permitimos que nossas vidas sejam guiadas e moldadas pela Sabedoria Divina, empregamos a terceira Sefirá intelectual - Daat, o Conhecimento. Já vimos que a luz da Menorá simboliza as Sefirot intelectuais. Aliando-as às sete Sefirot emocionais - representadas pelas sete lâmpadas da Menorá, chegamos à totalidade das dez Sefirot.
Há, porém, mais uma Sefirá - a décima primeira - que é denominada de Keter, Coroa. Keter faz parte da Árvore da Vida cabalística, mas é uma Sefirá que se encontra em nível espiritual demasiadamente alto; portanto, é comum referir-se a dez, não a onze Sefirot. Keter é a Vontade de D'us, algo além da compreensão humana. O que D'us deseja, e o porquê de Seus desejos; é algo que a mente humana finita não consegue entender. O pouco que se sabe sobre Keter é que essa Sefirá é transmitida ao mundo através das mitzvot, os mandamentos Divinos. D'us deseja que certos atos sejam realizados de certa forma e a Torá, a Sabedoria Divina, é a estrutura através da qual Ele transmite Seus desejos. Já os mandamentos, estes são a própria realização da Vontade Divina. Apesar de D'us ser Infinito e perfeito e o homem, finito e imperfeito, Ele se alegra quando Sua vontade é atendida. Isto não é tão surpreendente, pois se Ele decidiu criar o mundo é porque deseja que Sua criação seja "administrada" conforme Suas vontades. Quem atende aos desejos Divinos torna-se, portanto, parceiro de D'us.
Pode-se entender, assim, por que a Torá é comparada à luz, e por que as mitzvot e a alma humana são chamadas de "velas de D'us". Para o azeite queimar, é necessário um pavio e um vasilhame, pois o azeite e o pavio não podem gerar luz se não houver um receptáculo que os contenha. O ser humano é o utensílio, "a lâmpada ", que contém o azeite e o pavio. A alma humana é o pavio, a chama que o acende é a Torá e o azeite são os mandamentos. Todos esses três elementos são necessários para que a Vontade Divina seja cumprida.
A obrigação do ser humano é criar luz; mas, para fazê-lo, ele necessita de um corpo. Afinal, a alma por si só, por mais elevada que seja, não consegue colocar os Tefilin, acender velas de Chanucá ou fazer caridade aos necessitados. Ao mesmo tempo, precisa-se de uma chama para acender o pavio. Sem a Torá, que é a chama original, não seria possível cumprir os mandamentos Divinos, pois não teríamos como saber o que D'us deseja de nós. Mas, por outro lado, também não basta o vasilhame e o pavio, se não há azeite. Sem os mandamentos, que são comparados com o azeite, todo o propósito da Criação seria frustrado. O homem receberia a luz, que é a Torá, mas não faria bom uso da mesma.
Esta metáfora de luz e lâmpadas - a chama, o vasilhame, o pavio e o azeite - explica por que o estudo da Torá é tão enfatizado no judaísmo. É inegável que não devemos fazer distinção entre os mandamentos Divinos, pois todos originam da mesma Fonte. Porém, está escrito que o estudo da Torá é primordial. E o motivo é que ao cumpri-lo, nos envolvemos simultaneamente com a Sabedoria e com a Vontade de D'us.
Por um lado, o estudo da Torá é uma mitzvá: é uma ação, o cumprimento de um Desejo Divino. Este estudo, como os outros mandamentos, envolve nossa parte física: abrimos o livro, folheamos as páginas, estudamos e discutimos o conteúdo. Ao mesmo tempo, ao se estudar Torá, estabelece-se contato com a Sabedoria Divina, que é a fonte das outras mitzvot. Através do estudo da Torá, utiliza-se a mais alta faculdade humana, a mente. Como foi explicado acima, uma das diferenças entre a luz, a Torá, de um lado, e a lâmpada, a mitzvá, do outro, é que a luz não pode ser desligada, contrariamente à lâmpada.
De fato, o cumprimento de praticamente qualquer mandamento, mais cedo ou mais tarde, acaba cessando. Por exemplo, pode-se usar Tefilin durante alguns minutos ou algumas horas, mas nunca o dia inteiro. Além disto, eles nunca passam a fazer parte da pessoa que os coloca: são utilizados e, em seguida, removidos e guardados. Já o estudo da Torá passa a fazer parte do ser humano. A realização da mitzvá de se estudar Torá é necessariamente interrompida, como no caso da maioria das outras mitzvot, mas o conhecimento adquirido da Sabedoria Divina continua a existir dentro da mente e da alma, mesmo após o término do estudo. O estudo da Torá, portanto, além de atender uma vontade de D'us, é, ao mesmo tempo, a forma de absorver a Luz Divina. Desta forma, se alcança as duas Sefirot mais altas, Keter e Chochmá. Além disso, é esse estudo o que nos leva ao cumprimento dos mandamentos de forma correta, da mesma forma como é o azeite o que permite que o pavio continue a queimar, irradiando luz.
Como escreve o Talmud, "Valioso é o estudo, pois leva à ação". Se observarmos as luzes de Chanucá, fica claro que quanto mais azeite houver e quanto maior for o pavio, por mais tempo brilhará a luz. Se o pavio for de boa qualidade, maior será a iluminação; se houver bastante azeite, a luz demorará mais a se apagar. Esta analogia simboliza o ensinamento talmúdico de que alguém que estuda a Torá, mas que não cumpre os mandamentos além daquele de estudá-la, não a detém, de fato. Pois sem o azeite, a luz inevitavelmente se apagará. Da mesma forma em que azeite impuro e um pavio de qualidade inferior não iluminam de forma adequada, também o homem não pode deixar de estar constantemente se auto-aperfeiçoando caso aspire a ser uma vela de D'us. Quando alguém estuda a Sabedoria Divina, mas não se comporta de forma adequada - o efeito é visível: produz-se uma chama fraca, um cheiro de queimado e espessa fumaça. Portanto, não basta almejar a sabedoria e conhecimento da Torá, simbolizadas pela luz da Menorá. Deve-se também aprender com suas sete lâmpadas e braços. Estes nos ensinam que todo ser humano deve constantemente se esforçar para melhorar seus atributos emocionais. Já o oitavo braço da Chanuquiá, este nos ensina que a própria existência de nosso povo é um milagre. Esta oitava lâmpada transmite a mensagem de que nossa ligação com D'us está acima de todos os limites, inclusive da lógica humana. O Povo de Israel estuda a Sua Sabedoria e cumpre a Sua Vontade, única e simplesmente para servi-Lo.
A luz, que é um sinônimo da Torá, foi a primeira criação de D'us. A Cabalá faz distinção entre a Torá Celestial, que é a Luz Infinita e invisível, e a Torá Terrestre, que é a luz finita e visível. O que denominamos de Torá é apenas uma parte finita e ínfima do espectro da Luz Infinita que constitui o universo.
A Torá Terrestre, com seus 613 mandamentos, é o reflexo terrestre da Torá Celestial. Ao estudar a Torá e cumprir seus mandamentos, o homem permite que a Luz Divina se manifeste no mundo físico. Este é, de fato, o propósito do ser humano e de toda a Criação. Mas é apenas o homem quem pode ligar o Infinito ao finito, pois sua alma é Divina e seu corpo é terrestre.
A alma humana encarnada é o pavio da vela de D'us, sendo, portanto, o mediador entre a luz, a Torá, e o azeite, os mandamentos. A alma humana deve estar sempre queimando e iluminando o mundo.
Quando um número suficiente de velas de D'us forem acesas e quando estas acenderem outras velas, a escuridão do mundo será banida e isto trará uma nova era, o Mundo Vindouro, que é chamado de "o dia em que tudo será luz" (Midrash, Provérbios, 1).