“Em 1945, eu acreditava que o antissemitismo houvesse morrido em Auschwitz, mas estava errado. Suas vítimas pereceram, o antissemitismo não”. – Elie Wiesel.
Mesmo antes de 7 de outubro de 2023, a Liga AntiDifamação já relatava níveis crescentes e alarmantes de atos antissemitas. No entanto, desde o pogrom de 7 de outubro e o sequestro de mais de 250 pessoas, seguido pela resposta militar de Israel em Gaza, o antissemitismo alcançou níveis jamais vistos desde o Holocausto. Esse verdadeiro tsunami de ódio está alarmando os judeus em todo o mundo. Desde o fatídico 7 de outubro, os judeus e instituições judaicas na Diáspora sentem-se ameaçados e estão em estado de alerta.
Hoje, os antissemitas, entre os quais aqueles que no passado jamais ousaram expressar publicamente seu ódio, sentem-se encorajados a fazê-lo, mas o fazem sob uma bandeira diferente – a do antissionismo. Aquilo que, desde a Antiguidade, se dizia sobre os judeus, está sendo dito, hoje, sobre o Estado Judeu. Proliferam na Internet e nas mídias sociais mitos e linguagem antissemitas e antissionistas, reacendendo o ódio gratuito pelos judeus.
Muitos antissionistas argumentam que antissionismo não é o mesmo que antissemitismo, e que equiparar os dois viola a liberdade de expressão. Abaixo, examinaremos algumas definições e conceitos-chave que ajudam a elucidar por que razão pedir a destruição de Israel é, por definição, um exemplo de antissemitismo.
O que é antissemitismo?
Antissemitismo é o termo usado para referir-se ao antijudaísmo, ao ódio aos judeus. Antissemitismo é a hostilidade, marginalização, opressão, discriminação ou violência contra pessoas judias. Baseia-se em estereótipos, mitos e desinformação sobre o Povo Judeu, o Judaísmo e o Estado de Israel. Durante séculos, atribuíram-se aos judeus características físicas e morais repulsivas – retratando-os como gananciosos, malévolos e responsáveis por todo o mal no mundo. A desumanização do Povo Judeu é usada para justificar o ódio, a violência e o desprezo contra eles: se os judeus, como povo, são seres horríveis, então qualquer violência contra eles é justificada.
O próprio termo “antissemitismo” é em si antijudaico, cunhado no final do século 19 por Wilmer Marr, um declarado antissemita. O termo “antissemitismo” dá a ideia de ser um sentimento contra todos os semitas1, os diferentes povos que surgiram na Arábia 3.500 anos antes da Era Comum. No entanto, o termo é utilizado apenas para descrever o antijudaísmo.
Ao contrário da discriminação racista, onde a raça discriminada é retratada como inferior, o antissemitismo retrata os judeus como inferiores e superiores, ao mesmo tempo. Inferiores em características físicas e valores morais, mas superiores em poder, dinheiro e dominação mundial.
O antissemitismo tem muitas faces, mas todas levando à difamação, discriminação, exclusão social, perseguição, expulsão e, até mesmo, ao assassinato de pessoas judias. Na Idade Média, culminou na criação de guetos, nas expulsões em massa, nos pogroms e na Inquisição. Na Alemanha nazista, no Holocausto.
Antissemitismo – um vírus milenar
Não há ódio com história tão extensa e letal quanto o antissemitismo – “o mais prolongado dos ódios”, como o intitulou o historiador Robert Wistrich. O preconceito contra os judeus já existia na Antiguidade – no Egito, na Grécia, no Império Romano.
Ao longo dos séculos, o ódio contra os judeus mudou diversas vezes sua roupagem e forma de atuação, mas nunca desapareceu.
Com o surgimento e fortalecimento do Cristianismo, o ódio contra os judeus passou a ter um caráter religioso. Os judeus, como um todo, eram acusados de “deicidas” – de matar Jesus, e de não o reconhecer como o Messias. Na Europa, a Igreja e os governantes promulgavam decretos explicitamente antijudaicos que os segregavam e discriminavam. Vez após vez, os judeus foram vítima de perseguições e expulsão dos países onde viviam. Muitas vezes, tiveram que escolher entre a conversão ou a morte. A imagem do judeu era distorcida para incitar e justificar a violência cometida contra seu povo.
Nos tempos modernos, o antissemitismo passou a ser um ódio racial – tornou-se uma questão “de raça e de sangue”. O “problema judaico” não podia mais ser resolvido através da assimilação ou conversão. E, na medida que eram acusados de serem os responsáveis por toda e qualquer calamidade que se abatesse sobre uma nação, eles precisavam ser eliminados para o bem-estar geral da sociedade na qual viviam.
Para a “ideologia” nazista o “sangue judaico” contaminava a “pureza do sangue da raça ariana”. Um cristão com apenas um avô judeu era um “Mischlinge” (“mestiço”), e quanto à “Solução Final da Questão Judaica” era tratado como judeu. Para os nazistas a implementação da Solução Final – o extermínio de todos os judeus – era a única forma de resolver a “questão judaica”. O antissemitismo racial culminou no Holocausto durante o qual seis milhões de judeus, incluindo 1,5 milhão de crianças judias foram assassinadas.
O antissemitismo não morreu com suas vítimas nos campos de concentração. E, até hoje, antissemitas utilizam-se de imagens ou acusações típicas do antissemitismo cristão e do racial em seus ataques contra judeus. E, nas últimas décadas, surgiu uma nova variante do antissemitismo: o antissionismo.
Como era incitado o ódio contra os judeus na Idade Média?
Na Europa medieval surgiram diversos libelos contra os judeus. Como disse o Rabino Lord Jonathan Sacks zt”l, “Em todos os libelos se deduz que, para que os homens sejam livres, nós, os judeus, e/ou o Estado de Israel, precisamos ser destruídos. Assim se iniciam os grandes crimes”.
Entre as graves acusações antissemitas que circulavam em toda a Europa uma das mais nefastas foram os libelos de sangue em que os judeus eram acusados de matar crianças cristãs para utilizar seu sangue em rituais religiosos. Outras acusações que custaram a vida de milhares de judeus foram a suposta profanação da hóstia e o envenenamento dos poços d’água.
Quando, em 1348, a Peste Negra varreu a Europa matando um terço da população, os judeus são acusados de envenenar os poços de água e espalhar a doença. Esses rumores levaram a explosões populares de histeria contra os judeus. Ninguém duvidava que eles fossem os culpados, ainda que eles fossem igualmente vitimados pela Peste.
Naturalmente, os judeus nunca drenaram o sangue de cristãos, nunca envenenaram os poços, nem cometeram nenhum dos crimes hediondos dos quais eram acusados.
O que são "Os Protocolos dos Sábios de Sion"?
Ao longo de sua trajetória, Os Protocolos dos Sábios de Sião, “obra prima” da literatura racista, tornou-se eficiente ferramenta para o antissemitismo moderno. O documento, considerado a mais notória fraude política dos tempos modernos, foi fabricado e produzido pela polícia secreta do czar, na Rússia, em 1895. O panfleto contém uma suposta conspiração judaica para dominar o mundo: uma mentira cujas terríveis repercussões chegaram aos nossos dias. Composto de 24 capítulos ou protocolos, contém minutas de um suposto conclave secreto de líderes mundiais judeus, que, supostamente, acontecia uma vez a cada 100 anos. O conclave tinha como objetivo arquitetar a manipulação e o controle do mundo. O panfleto é usado por antissemitas como a “prova cabal” da existência de uma “conspiração judaica mundial” para “dominar o planeta”.
Os Protocolos foram usados para justificar a perseguição de judeus na Rússia czarista e no período comunista, e foi utilizado por Hitler para justificar as leis e atos antissemitas, até mesmo o extermínio em massa, como forma de impedir os judeus de exercerem o “domínio” mundial.
Desde 1921, Os Protocolos vêm sendo usados extensivamente no mundo islâmico, onde são distribuídos gratuitamente, tendo sido usados inclusive para produzir minisséries de TV transmitidas em horário nobre. O “plano judaico de dominação mundial” é o tema central dos enredos usados para incendiar o ânimo dos espectadores contra os judeus e contra Israel. Os Protocolos são usados pelo grupo terrorista Hamas como “prova” do “plano” sionista de dominar o mundo.
Os Protocolos se tornaram o documento antissemita mais lido no mundo, e continuam em uso, até hoje. Os judeus ainda são acusados de conspiração e de controle da mídia, da política e da economia mundial. Faz parte do embasamento ideológico da extrema-direita, bem como da extrema-esquerda, da Europa e dos Estados Unidos.
Em discurso na formatura de Harvard deste ano, a oradora principal, a jornalista filipina Maria Ressa, fez uma alusão a essas acusações. “Porque aceitei o convite para estar aqui hoje, fui atacada online e chamada de antissemita pelos detentores do dinheiro e do poder porque eles querem dinheiro e poder”. A fala de Ressa fez com que o rabino da faculdade se retirasse da cerimônia.
Adotado por todos os inimigos dos judeus e do Estado de Israel, Os Protocolos dos Sábios de Sion tornou-se a própria “bíblia” dos antissemitas e antissionistas.
O que é Sionismo?
O Sionismo moderno, um movimento de profundo significado histórico, surgiu no século 19, na Europa, como um movimento político e secular. Seu objetivo era estabelecer uma pátria judaica na terra histórica de Israel, uma terra com a qual os judeus têm uma conexão religiosa e uma presença contínua há mais de três mil anos.
Esse movimento estava enraizado na crença de que um Estado Judeu moderno proporcionaria aos judeus, que sofriam perseguição por milênios, um refúgio contra o antissemitismo – contra a violência, a discriminação, bem como os massacres e expulsões. Um Estado Judeu garantiria que os judeus tivessem o mesmo direito à nacionalidade e autodeterminação que têm as outras nações.
O Sionismo não está conectado a nenhum partido político ou religião. Não é necessário ser judeu para ser sionista, e ser sionista não exclui o apoio a um Estado Palestino. Muitos não-judeus, governos ocidentais e muitos cristãos evangélicos, entre outros, consideram-se sionistas.
O que é antissionismo?
O antissionismo nega a Israel o direito de existir e nega ao Povo Judeu o direito concedido a outros povos e estados de soberania e nacionalidade. Os antissionistas atacam a legitimidade do Estado de Israel e minimizam ou negam a conexão histórica e espiritual judaica com sua milenar Terra de Israel, sugerindo a eliminação de Israel como pátria soberana dos judeus. O antissionismo é distinto da crítica a políticas ou ações específicas do governo de Israel.
Antissionismo é antissemitismo?
O antissemitismo tem muitas faces e o antissionismo é uma delas. As principais “ferramentas” do “novo antissemitismo”, como é chamado, são as campanhas de deslegitimação e demonização do Estado Judeu. Se antes os judeus eram os responsáveis por todos os males, hoje o culpado é Israel.
É inegável que a maioria dos antissemitas usa uma retórica anti-Israel, escondendo-se atrás dela. Hoje, criticar ou acusar Israel é socialmente aceitável, mas odiar judeus, ainda não o é.
E os judeus religiosos antissionistas?
Aqueles que argumentam que antissionismo não é igual a antissemitismo frequentemente mencionam grupos judeus ultraortodoxos marginais, como os Neturei Karta, que são veementemente contra o Estado de Israel. Os Neturei Karta acreditam que o verdadeiro Estado Judeu só deverá ser estabelecido por D’us, mediante a vinda do Messias, com a criação de um estado teocrático religioso. Com grande fervor, acreditam na reivindicação judaica à Terra de Israel, mas discordam de sua forma atual.
Protestos antissionistas – são também antissemitas?
Os protestos antissionistas que surgiram desde o ataque a Israel de 7 de outubro são prova de que antissionismo é antissemitismo. As mesmas pessoas que afirmam o contrário não fazem qualquer distinção entre judeus e Israel.
A palavra “sionista” tornou-se um eufemismo para “judeu” e tem sido usada como uma forma injuriosa para atacar judeus. Khadim Hussain, por exemplo, político britânico, foi suspenso do Partido Trabalhista após compartilhar uma postagem no Facebook que se referia aos “seis milhões de sionistas que foram mortos por Hitler”. Em campi universitários, por exemplo, estudantes judeus são verbal e fisicamente agredidos enquanto são chamados de sionistas.
Desde o ataque do Hamas, em 7 de outubro, estudantes judeus ouvem frases, ditas raivosamente, como “voltem para a Polônia”, país onde milhões de judeus foram assassinados em câmaras de gás durante o Holocausto; “somos todos Hamas”; “morte a todos os judeus”; “queimem Tel Aviv”; “não queremos sionistas aqui” e “parem de matar crianças”. Na Columbia University, um manifestante gritou para os alunos judeus: “O dia 7 de outubro será todos os dias para vocês!”. Havia outro manifestante mascarado com uma placa que dizia “Próximo Alvo de Al-Qasam” com uma seta apontando para os contra manifestantes judeus nas proximidades. Al-Qasam é o braço militar do Hamas.
Na Cornell University, em Nova York, ameaças anônimas inundaram um quadro de mensagens online: “Se você vir uma ‘pessoa’ judia no campus, siga-a até casa e lhe corte a garganta”. Na Northeastern, em Boston, violentos insultos antissemitas foram esbravejados, entre estes, “matem os judeus”. Manifestantes intimidam, assediam, ameaçam, incitam à violência e, em alguns casos, até mesmo agridem fisicamente alunos e professores judeus. Muitos deles foram impedidos de entrar no campus ou de ir às aulas pelos manifestantes. Estudantes judeus relataram ameaças de morte por apoiadores do Hamas. Essas ameaças fizeram com que alguns alunos temessem frequentar as aulas ou, em alguns casos, até mesmo sair de seus dormitórios. Na Columbia University, um rabino do campus recomendou que os estudantes judeus voltassem para a casa de sua família, visto que a universidade já não conseguia garantir a segurança de seus alunos e professores judeus.
Uma nova pesquisa, divulgada conjuntamente pela Liga AntiDifamação (ADL) e o Hillel – a organização judaica nos campi universitários – relata que 73% dos estudantes universitários judeus e 44% dos não-judeus nos Estados Unidos foram vítima ou presenciaram incidentes antissemitas após o ataque do Hamas em 7 de outubro, variando de vandalismo antissemita a ameaças de violência física. Os alunos judeus já não se sentem seguros ou bem-vindos em muitas universidades pelos Estados Unidos e pelo mundo.
Esses manifestantes não fazem distinção entre judeus e cidadãos israelenses e, após uma série de comportamentos violentos, não podem mais se esconder por trás do argumento de que antissionismo não é antissemitismo. Eles demonstram, de forma clara, que eles próprios não conseguem distinguir entre o ódio contra judeus e o ódio contra Israel. Infelizmente, esse não é um fenômeno restrito a campi universitários. Por exemplo, após 7 de outubro, no metrô de Nova York, uma cidade que abriga 1,3 milhão de judeus, é comum se ver grafitti com frases como “Judeus pertencem ao forno”, “Matem todos os judeus”, “Asfixiem os judeus”, “Adolf estava certo”, entre muitas pichações antissemitas.
Antissemitismo e antissionismo são, nitidamente, sinônimos – basta observar a linguagem, os alvos, o timing e a natureza dos ataques aos judeus em nome de protestos anti-Israel.
Toda crítica contra o Estado de Israel é antissemita?
Pedir a destruição de Israel é antissemitismo; criticar alguma política ou algum membro do governo não é. Israel é um país como qualquer outro, com políticas que variam de louváveis a questionáveis. Não há nada de errado em criticar as políticas do governo israelense, assim como se poderia criticar as políticas de qualquer outra nação, desde que a crítica seja proporcional àquela feita a outros países. Isso é o que fazem muitos israelenses e muitos sionistas, ao redor do mundo, inclusive a imprensa israelense. O debate e a livre troca de ideias são pilares da democracia em qualquer país democrático. Questionar ações específicas do governo de Israel é completamente distinto da crença de que esse país não deveria existir.
E não há nada de antissemita em defender a opinião que os palestinos devem ter seu próprio Estado ou em pedir mais ajuda para a população palestina, desde que não se defenda a destruição de Israel.
No entanto, pedir a eliminação do Estado Judeu, elogiar ou fazer apologia ao Hamas ou outras entidades terroristas que pedem a destruição de Israel, ou sugerir que apenas os judeus não têm direito à autodeterminação é antissemitismo.
Como reconhecer críticas antissemitas?
Às vezes, a crítica ou condenação de Israel é nitidamente um antissemitismo velado. Quando a crítica a Israel e a seu governo ultrapassa os limites do discurso razoável, essa crítica cruza a linha para o antissemitismo. Listaremos apenas alguns exemplos.
Negar ou questionar o direito de Israel existir.
Negar ou questionar o direito de existência a Israel e negar ao Povo Judeu o direito de autogoverno em sua Terra ancestral, no único Estado Judeu em existência, é antissemitismo.
Negar a conexão judaica com a Terra de Israel.
É antissemita retratar os judeus como colonizadores, sem qualquer conexão com a Terra de Israel, quando os judeus lá vivem há mais de três mil anos. É antigo o vínculo entre o Povo Judeu e sua terra – os judeus se estabeleceram na Terra de Israel cerca de 1.300 anos antes do surgimento do Cristianismo e cerca de 1.900 anos antes do Islã.
Uso da palavra ou de símbolos nazistas.
A associação entre Israel e símbolos nazistas é o tema favorito dos atuais antissemitas. São frequentes e infelizes as comparações entre políticos israelenses e Hitler, entre israelenses e nazistas e entre palestinos e as vítimas judias do Holocausto. Segundo a narrativa antissemita, os israelenses são os novos nazistas e os palestinos, os novos judeus.
Há vários motivos por trás da utilização dos símbolos nazistas para caracterizar Israel, entre eles, deslegitimizar o Estado Judeu associando-o ao “mal absoluto”; humilhar o Povo Judeu, igualando-o moralmente a seus algozes; demonizar Israel imputando-lhe “qualidades” nazistas e, assim, legitimar qualquer tipo de incitamento violento contra Israel e os judeus.
Campanha e difamação.
Quando são feitas insidiosas comparações com o regime de Apartheid da África do Sul, quando Sionismo é equiparado ao racismo, quando Israel é acusado de ser um estado colonizador imperialista branco ou quando é dito que Israel comete limpeza étnica e genocídio – isso é antissemitismo. São declarações mentirosas, infundadas e feitas para deslegitimar Israel e criar um ambiente que faz com que o ódio aos judeus e a Israel seja mais aceitável.
Tratar Israel de forma diferente dos outros países.
Incluído na definição de antissemitismo pela IHRA (Aliança Internacional de Memória do Holocausto) está o uso de dois pesos e duas medidas aplicado a Israel, exigindo deste país um comportamento que não é esperado ou exigido de nenhuma outra nação democrática.
Quando Osama bin Laden e a Al-Qaeda executaram o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001, derrubando as Torres Gêmeas na cidade de Nova York, e colidindo contra o Pentágono, o mundo esperou uma resposta forte dos EUA. No dia 7 de outubro de 2023, as piores atrocidades foram cometidas. Mulheres estupradas, mutiladas, bebês queimados em fornos, pessoas decapitadas, mulheres grávidas que tiveram os bebês extirpados de dentro de seu ventre, além de 1.200 pessoas brutalmente assassinadas e mais de 250 sequestradas, inclusive um bebê de menos de um ano e idosos sobreviventes do Holocausto.
O uso de dois pesos e duas medidas ocorre quando Israel se torna o único país que não tem direito a se defender após um ato de guerra como o de 7 de outubro. Mesmo antes da resposta militar destinada a resgatar os reféns e combater o grupo terrorista responsável pelo massacre, já haviam surgido, ao redor do mundo, inúmeras críticas a Israel, bem como “justificativas” para os assassinatos e atrocidades contra civis do país.
Um outro exemplo de dois pesos e duas medidas são as manifestações estudantis onde são comuns palavras de ordem como “Somos Hamas” ou “Globalize a intifada”. Esses mesmos alunos que se autointitulam “humanistas”, “liberais” e a favor da liberdade e igualdade, quando a barbárie foi contra judeus se calaram ou até apoiaram o dia 7 de outubro.
Khymani James, um dos líderes do protesto estudantil anti-Israel na Columbia University é não-binário e membro da comunidade LGBTQIA+. Khymani declarou “Não deveria haver sionistas em lugar algum. Sionistas são nazistas... Sionistas não deveriam viver neste mundo”. Khymani e muitos dos manifestantes chegam a se opor à libertação dos reféns. Esses alunos pró-Hamas decidiram se posicionar contra Israel e a favor de um grupo terrorista muito conhecido por perseguir, torturar e matar pessoas da comunidade LGBTQIA+.
Dar uma atenção desproporcional a Israel é antissemitismo.
Quando pessoas, organizações, meios de comunicação ou até governos só se focam negativamente em Israel e não se incomodam com outros acontecimentos no mundo, isso é antissemitismo.
Quando a guerra em Gaza é noticiada diariamente nos jornais enquanto pouco se fala sobre a Ucrânia ou outros conflitos pelo mundo – isso é antissemitismo. A crítica desproporcional a Israel – um país livre e democrático – comparada à falta de crítica a países que, ao contrário de Israel, violam direitos humanos, direitos das mulheres e da comunidade LGBTQIA+, como o Irã, a Rússia ou a China – isso é antissemitismo. Onde estão os protestos estudantis contra a Rússia por ter invadido a Ucrânia? Onde estão os protestos contra o Irã por perseguir, matar e estuprar mulheres que não usam o véu (hijab) da forma que o governo considere adequada? Este foco desproporcional em Israel é antissemitismo.
Responsabilizar todos os judeus ao redor do mundo pelas ações de Israel é antissemitismo.
Um exemplo claro disso são os estudantes judeus que estão sendo barrados de entrar nos campi de algumas faculdades, simplesmente por serem judeus. Em diversos países do mundo, os judeus estão sendo hostilizados nas ruas por causa da guerra em Gaza.
Pedir ou justificar violência contra Israel e o Povo Judeu é antissemitismo.
Demonstrações que apoiam o Hamas – ou outro grupo terrorista – e pedem pela destruição do Estado de Israel, que levaria ao extermínio ou exílio de metade da população judaica do mundo, é antissemitismo. Usar slogans como “Do Rio ao Mar” que clamam pela destruição do Estado Judeu é antissemitismo.
Justificar o estupro e mutilação de mulheres judias e israelenses como foi feito por algumas organizações feministas, é puro antissemitismo. A UN Women – entidade das Nações Unidas pró Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres – levou meses para se pronunciar sobre a violência contra as mulheres no atentado do dia 7 de outubro. Estupro e violência contra mulheres é inaceitável para essas feministas, a não ser que as vítimas sejam judias. No caso da mutilação e estupro de meninas e mulheres, em Israel, alguns grupos feministas afirmaram: “Estupro é resistência”. Defendem o Hamas, grupo conhecido pela opressão das mulheres, em Gaza, e justificam a violência contra as mulheres judias. Isso é antissemitismo flagrante.
O Povo Judeu não deveria ter que argumentar pelo seu direito de existir. Mais uma vez, na História Judaica, os judeus são alvo de ameaças existenciais. A frase “Morte a todos os judeus” não deveria ser ouvida em campi universitários ou em qualquer outro lugar do mundo.
O que é Antissionismo Soviético?
A nação que inundou o mundo com Os Protocolos dos Sábios de Sião também foi a criadora do antissionismo em seu atual formato.
Na época da Declaração do moderno Estado de Israel, acreditava-se que o recém-criado país se alinharia com a então União Soviética. O ditador soviético Joseph Stalin havia adotado uma política externa pró-sionista, não por simpatia aos judeus, mas porque acreditava que Israel seria socialista e reduziria a influência e presença britânica no Oriente Médio. Contudo, quando os partidos pró-soviéticos perderam a primeira eleição ao Knesset, em janeiro de 1949, Stalin retirou seu apoio a Israel. A URSS logo mudou de lado no conflito árabe-israelense, apoiando abertamente os países árabes contra Israel, a partir de meados da década de 1950.
Durante a Guerra Fria, a União Soviética adotou uma política pró-árabe e anti-Israel. Depois da Guerra dos Seis Dias, em 1967, percebendo o claro alinhamento dos países árabes com a URSS, Washington aumentou a venda de armas a Israel. Os Estados Unidos passaram a ser o maior aliado do Estado de Israel. Paralelamente, Moscou intensificou sua propaganda antissionista.
A propaganda antissionista era oficialmente patrocinada pelo Departamento de Propaganda do Partido Comunista da União Soviética e pela KGB. A máquina de propaganda antissionista da União Soviética criou e difundiu a ideia de que o Sionismo era uma forma de “imperialismo racista” usada pelos judeus e americanos. Textos antissionistas foram produzidos, diretamente baseados em Os Protocolos dos Sábios de Sião. Centenas de livros e milhares de artigos foram publicados retratando o Sionismo como uma ideologia racista.
A propaganda antissionista soviética também equiparou o Sionismo ao Nazismo, Fascismo e Apartheid. De acordo com o Partido Comunista Soviético, “os principais postulados do Sionismo moderno são chauvinismo militante, racismo, anticomunismo e antissovietismo... luta aberta e velada contra os movimentos de liberdade e contra a URSS”.
Caricaturas antissionistas apareciam nos jornais soviéticos e o “sionista” nessas caricaturas era o mesmo judeu estereotipado da propaganda nazista. Líderes soviéticos se referiam ao governo de Israel como um “regime terrorista” e afirmavam que o antissionismo não era antissemitismo, citando a existência de “antissionistas judeus” na URSS.
A propaganda soviética distorcia a narrativa, independentemente dos fatos. O resgate em Entebe, por exemplo, foi uma das missões israelenses que mais surpreendeu o mundo, tornando-se um exemplo de heroísmo e de combate ao terrorismo. Em 27 de junho de 1976, terroristas da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) sequestraram um avião da Air France durante o voo Tel Aviv-Paris, com 258 pessoas a bordo e pousaram o avião no aeroporto de Entebe, com o aval do presidente da Uganda. Os terroristas libertaram os passageiros que não eram judeus ou israelenses e ameaçaram matar os reféns caso suas demandas não fossem atendidas. Em vez de ceder aos terroristas, os reféns foram resgatados por uma unidade de Comando israelense – liderada por Yonatan Netanyahu, irmão do atual primeiro-ministro de Israel –, em uma operação quase perfeita. Enquanto, ao redor do mundo, Israel era admirado pelo combate ao terrorismo, a mídia soviética acusava Israel de ser o agressor e relatava: “Israel cometeu um ato de agressão contra Uganda, atacando o aeroporto de Entebe.”
Há um paralelo claro entre a linguagem e a narrativa distorcida criada pela propaganda antissionista soviética e o que vemos hoje em manifestações anti-Israel. Os manifestantes usam a mesma linguagem e as mesmas mentiras que foram criadas pelo Departamento de Propaganda do Partido Comunista e pela KGB. A União Soviética não existe mais, mas sua campanha antissionista continua viva.
A propaganda anti-Israel
Veremos a seguir algumas das grandes mentiras ditas contra o Estado Judeu. Essas mentiras são espalhadas para os jovens pelas mídias sociais – como Tik Tok e Instagram. Sites e mídias sociais são usados para apresentar teorias de conspiração antissemitas e têm criado o maior movimento antissemita desde o Holocausto. Segunda a Liga AntiDifamação (ADL), logo após o 7 de outubro, o conteúdo antissemita disparou mais de 919% no X (antigo Twitter), e 28% no Facebook, em um mês. O TikTok – mídia social chinesa com 150 milhões de usuários somente nos Estados Unidos – ampliou o conteúdo antissemita e anti-Israel, bem como o conteúdo pró-Palestina. Desde 7 de outubro, o sentimento antissemita e anti-Israel cresceu desenfreado na internet chinesa e na mídia dominada pelo Estado.
Afirmação Falsa: “Sionismo é Racismo”
Depois da Guerra dos Seis Dias, em 1967, a União Soviética começou a promover o conceito de “Sionismo é igual a racismo” como uma forma de fortalecer suas relações com os países árabes.
A propaganda antissemita soviética começou a vincular o Sionismo ao racismo, baseando suas acusações nos notórios Os Protocolos dos Sábios de Sião e argumentando que o conceito judaico de “o povo escolhido” promovia superioridade racial. Isso é uma distorção religiosa.
Em 1975, visando a envergonhar os Estados Unidos e conquistar a simpatia dos países árabes, em um dos momentos mais nefastos da estratégia anti-israelense, Moscou liderou a aprovação da declaração na ONU que equiparava o “Sionismo a uma forma de racismo e discriminação racial”. A resolução foi apresentada pelo México.
Era durante a Guerra Fria e os países nas Nações Unidas geralmente estavam alinhados com uma das duas grandes potências – a União Soviética ou os Estados Unidos. Registraram-se 72 votos a favor, 35 contra e 32 abstenções, numa demonstração da força diplomática da aliança entre URSS e países árabes, muçulmanos e africanos. O Brasil, sob a liderança de Geisel, também votou a favor.
Antes da votação, o representante dos EUA na ONU, Daniel Patrick Moynihan, alertou que “A ONU está prestes a tornar o antissemitismo uma lei internacional”. Chaim Herzog, embaixador de Israel nas Nações Unidas, em 1975, e futuro presidente de Israel, declarou: “O antigo antissemitismo dizia que o judeu não tem lugar na sociedade. O moderno antissionismo diz que Israel não tem lugar no mundo”.
Em 1991, após o fim da Guerra Fria, a Assembleia Geral da ONU revogou a resolução, com 111 votos a favor.
Israel é um país multicultural e multiétnico. O Sionismo não pode ser uma forma de racismo quando não nega nem denigre outras raças ou religiões, quando acolhe uma população judaica racialmente diversa, quando uma população não judaica diversa pode e se tornou cidadã e quando os árabes israelenses constituem mais de 20% da população do país, com os mesmos direitos que todos os outros cidadãos.
São enganosos os argumentos de que a “Lei do Retorno” de Israel torna racista o Sionismo, já que não-judeus não têm cidadania automática, pois Israel tem processos e procedimentos semelhantes aos de muitos outros países, para que não-judeus obtenham a cidadania israelense. Em contraste, muitos países adotam o jus sanguinis – no qual o direito a cidadania do país é passado por meio de sua ascendência. Em países como a Itália, Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Japão, Austrália, Alemanha e Holanda, a criança só recebe a cidadania através do direito de sangue, ou seja, se um dos seus pais ou avôs possuir a nacionalidade. Se a criança nascer em solo italiano, por exemplo, e seus pais não forem italianos, a criança não terá nacionalidade italiana. Não obstante, a Itália, a Espanha, o Japão, não são chamados de racistas.
Os opositores de Israel têm empregado a frase “Sionismo é racismo” para deslegitimar o movimento pela autodeterminação judaica e negar ao Povo Judeu um direito concedido a outras nações sob o Direito Internacional. A frase demoniza o Sionismo, visa a deslegitimar o Estado Judeu e minimiza a diversidade da vida judaica em Israel.
Afirmação Falsa: “Israel está promovendo Limpeza Étnica dos Palestinos”
A definição de limpeza étnica é a expulsão, prisão ou assassinato de uma minoria étnica por uma maioria dominante para alcançar homogeneidade étnica. Genocídio e limpeza étnica resultam no extermínio parcial ou total da população na área geográfica onde aplicada.
Israel é uma sociedade diversificada, com considerável população não-judia, e nunca cometeu limpeza étnica. Esta é uma das maiores calúnias criadas contra o Estado Judeu e é um fato fácil de verificar. A título de comparação, segundo fontes das Nações Unidas, em 1948 e 1949, durante a Guerra entre o recém-declarado Estado de Israel e cinco exércitos árabes, 711 mil palestinos saíram ou foram forçados a deixar Israel. Ao final da guerra, 150 mil árabes haviam permanecido em Israel e se tornaram cidadãos com plenos direitos. A população árabe-israelense se multiplicou e, em 2023, havia 2.080.000 árabes israelenses, que representam mais de 20% da população, com cidadania e os mesmos direitos dos judeus israelenses.
Paralelamente, desde a votação na ONU pela Partilha da Palestina sob Mandato Britânico, os judeus foram expulsos – ou pressionados a se retirar – dos países muçulmanos. Entre 1947 e 1948, 856 mil judeus tiveram que sair de países árabes. Ao todo, desde a declaração do Estado de Israel, mais de 1,4 milhão de judeus foram forçados a sair de países árabes.
Nos países árabes de fato ocorreu uma limpeza ética. Na Argélia, por exemplo, havia 140 mil judeus em 1948; hoje o país não tem judeu algum que viva lá. No Iraque, em 1948, eram 135 mil, hoje há apenas cinco judeus. Na Líbia eram 38 mil em 1948, hoje a população judaica é igual a zero.
Por outro lado, a população árabe israelense está em constante crescimento. Não só vivem e constroem suas famílias em segurança, em Israel, como são membros integrais da sociedade, votam, são membros do Knesset e desempenham papéis proeminentes em todos os aspectos da sociedade israelense – servem como juízes, médicos, atores, jornalistas etc.
E os palestinos em Gaza e na Cisjordânia? A população palestina na Cisjordânia e em Gaza também se multiplicou. De acordo com os números das Nações Unidas, em 1950 a população da Cisjordânia somava aproximadamente 765 mil, enquanto a população da Faixa de Gaza chegava a uns 245 mil. Em 2022, havia três milhões de palestinos na Cisjordânia e dois milhões em Gaza – uma estatística que desmente quaisquer alegações de genocídio ou limpeza étnica contra os palestinos.
Afirmação Falsa: Israel comete genocídio.
Genocídio é um ato cometido com a intenção deliberada de matar e destruir sistematicamente um grupo de pessoas por causa de sua etnia, nacionalidade, religião ou raça. O termo foi cunhado por Raphael Lemkin, um jurista americano nascido na Polônia, para descrever o Holocausto. A palavra genocídio é derivada do grego genos (“raça”, “tribo” ou “nação”) e do latim cide (“matar”).
Quando Hitler chegou ao poder em 1933, aproximadamente 9,5 milhões de judeus viviam na Europa – e representavam 60% da população judaica mundial. Até 1945, seis milhões de judeus – dois terços dos judeus europeus – haviam sido assassinados. Os judeus eram o inimigo número um dos nazistas. No entanto, os nazistas também cometeram genocídio contra os romani (ciganos) e outros grupos.
Em 1946, a Assembleia Geral das Nações Unidas reconheceu o genocídio como um crime sob o Direito Internacional. Outros eventos na História Moderna frequentemente citados como genocídio incluem o genocídio armênio (1915-1916) pelo Império Otomano – estima-se que entre 664 mil e 1,2 milhão de armênios tenham sido mortos – e o assassinato de aproximadamente 800 mil tutsis pelos hutus, em Ruanda, na década de 1990, entre outros.
A acusação de que Israel está cometendo genocídio em Gaza é chocante e puramente antissemita. Israel é o único país do mundo frequentemente acusado por grupos ativistas de praticar o genocídio. Esta é a maior calúnia fabricada contra o Estado Judeu.
Novamente ocorre a utilização dos símbolos nazistas para caracterizar Israel e deslegitimar o Estado Judeu associando-o ao “mal absoluto”. Usar o termo genocídio humilha o Povo Judeu, igualando-o moralmente aos nazistas; e equipara uma guerra pela sobrevivência do Estado de Israel com o extermínio de seis milhões de judeus. O uso do termo genocídio, criado para descrever o Holocausto, incita ao ódio e legitima qualquer tipo de violência contra Israel e os judeus. Esta acusação falsa tem como objetivo demonizar o Povo Judeu, diminuir o Holocausto e até mesmo apagar a História Judaica.
Paralelamente, o mundo nada ou pouco fala sobre o fato de que o grupo terrorista que atacou Israel em 7 de outubro de 2023 – o mesmo grupo que controla a Faixa de Gaza – prega abertamente o genocídio contra os judeus. Desde sua fundação, em 1987, o Hamas jura lutar pela aniquilação de Israel e prega a morte de judeus não somente em Israel, mas também ao redor do mundo. Isto consta em seu estatuto e nas declarações dadas publicamente. Em 1988, o Hamas publicou seu estatuto, declarando ser uma obrigação religiosa travar uma guerra armada contra Israel e contra os judeus. Consta em seu preâmbulo a seguinte declaração: “Israel existirá e continuará a existir até que o Islamismo o oblitere, assim como obliterou outros, anteriormente”. Em seu artigo 7 declara: “O dia do Julgamento não ocorrerá até que os muçulmanos lutem contra os judeus e os aniquilem”.
Desde sua fundação, o grupo terrorista tem agido de acordo com seus estatutos cometendo atentados suicidas, tiroteios, envio de balões incendiários e, ao longo dos anos, disparando dezenas de milhares de foguetes a partir de Gaza para Israel. Sem o Domo de Ferro – sistema de defesa antimísseis de Israel – o número de vítimas israelenses seria incalculável.
No dia 7 de outubro de 2023, o Hamas foi responsável por efetuar o ataque mais mortal na História de Israel. O ataque traumatizou e mudou o país e a sociedade israelense. “Israel era um país em 6 de outubro e outro em 7 de outubro”, disse Michael Herzog, embaixador de Israel nos Estados Unidos. Entretanto, o Hamas prometeu repetir o dia 7 de outubro “continuamente, até que Israel seja aniquilado”.
O estatuto da organização afirma que “o Hamas rejeita qualquer alternativa à libertação total e completa da Palestina, 'do Rio (Jordão) ao Mar (Mediterrâneo)' ”. O slogan “do Rio ao Mar” é um apelo genocida e conclama à destruição do Estado de Israel e à aniquilação ou expulsão dos judeus que vivem entre “o Rio e o Mar” – ou seja, em todo o território israelense.
Por outro lado, Israel está lutando uma guerra pela sua sobrevivência, uma guerra que não queria e não iniciou, tomando todas as precauções necessárias para minimizar as baixas civis, apesar das circunstâncias as mais desafiadoras. No entanto, este é um tipo diferente de guerra. É uma guerra urbana em uma das regiões mais densamente povoadas do mundo. Com apenas 41 km de comprimento e 10 km de largura, Gaza possui mais de dois milhões de habitantes. A maioria dos que vivem em Gaza são jovens, sendo que praticamente 40% da população tem menos de 14 anos, e a idade média de seus habitantes, em 2020, era de apenas 18 anos.
É uma guerra contra um grupo terrorista que está profundamente infiltrado e se esconde entre a população. O Hamas intencionalmente usa escudos humanos e localiza bases operacionais embaixo de hospitais, lança foguetes de dentro de escolas e abrigos, constrói acesso aos túneis embaixo de quartos de crianças e armazena armas em escolas, hospitais e mesquitas. Os terroristas se camuflam entre a população civil em meio à guerra contínua.
Israel visa a ativos militares – combatentes armados, lançadores de foguetes, quartéis-generais terroristas, túneis e outras infraestruturas; no entanto, uma vez que uma parte integrante da estratégia do Hamas seja embrenhar-se entre civis, os alvos militares geralmente ficam entre populações densas.
Em meio às alegações de Israel de que o Hamas usa civis como escudos humanos, a TV russa perguntou a Mousa Abu Marzouk, importante oficial do Hamas, por que razão a organização cavara 500 quilômetros de túneis, mas nunca construiu abrigos para civis se esconderem durante bombardeios, nem permite que civis se refugiem nos túneis sob Gaza. Marzouk declarou que os túneis subterrâneos construídos na Faixa de Gaza são para proteger os “combatentes” do Hamas, e a responsabilidade de proteger os civis cabe às Nações Unidas e à Israel.
O Hamas não luta para proteger a população de Gaza, como eles mesmos afirmam. Após iniciar uma guerra, o Hamas correu para se esconder em túneis, deixando a população vulnerável e usando vítimas civis para avançar a sua causa. O Hamas luta pelo estabelecimento de um estado islâmico sob a lei da Sharia – leis islâmicas baseadas no Alcorão –, e pela destruição de Israel. Eles consideram a morte de civis bom para sua causa. Em 26 de outubro de 2023, o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, comentou sobre a perda de vidas civis em Gaza e disse: “O sangue das mulheres, crianças e idosos [...] nós somos os que precisamos desse sangue, para despertar dentro de nós o espírito revolucionário.”
As Forças de Defesa de Israel (FDI) estão lutando em condições impossíveis, com 300 a 500 quilômetros de túneis subterrâneos construídos sob as cidades, com saídas desconhecidas usadas pelos terroristas, sem saber onde os reféns estão escondidos; contra um inimigo que se esconde atrás de escudos humanos. Estima-se que antes do dia 7 de outubro, a ala militar do Hamas era composta por 30 a 40 mil combatentes.
Proteger a população civil de Gaza é particularmente desafiador, mas as FDI implementam ativamente medidas para evitar mortes de civis. As FDI fornecem avisos e procuram evacuar áreas urbanas antes que comece o ataque aéreo e terrestre. E também interrompem o combate para permitir que os civis saiam das zonas de guerra. Com frequência, o exército faz ligações telefônicas e envia mensagens de texto e lança panfletos notificando as pessoas para evacuarem a área antes do ataque.
Até janeiro de 2024, as FDI haviam feito 79 mil ligações telefônicas, lançado 7,2 milhões de panfletos e enviado 13,7 milhões de mensagens de texto e 15 milhões de chamadas gravadas para os palestinos em Gaza, com avisos de evacuação. Por outro lado, o Hamas não hesita em impedir que a população saia das zonas de perigo para aumentar o número de mortes e promover sua causa.
Alertar o inimigo sobre um ataque iminente é uma prática incomum entre estrategistas militares. Exércitos não divulgam seus alvos para manter o elemento de surpresa e não permitir que o inimigo se prepare. Mas, para minimizar mortes de civis, as FDI adotam essa prática.
Toda guerra é uma tragédia e, apesar de todos os esforços, esta não é diferente. Que civis sejam mortos como resultado desta guerra é uma tragédia, que a infraestrutura de Gaza tenha sido destruída é uma tragédia, que 75% de sua população tenha sido deslocada é uma tragédia, que Gaza precise ser reconstruída é uma tragédia. O conflito armado, mesmo quando totalmente justificado, é trágico, brutal e custa a vida de civis inocentes.
As palavras, no entanto, importam. Palavras usadas erroneamente e com má intenção só geram mais antissemitismo. Por mais trágico que o conflito em Gaza seja, não se trata, de forma alguma, de um genocídio. O objetivo não é matar um grupo de pessoas. Pelo contrário, Israel alerta ao máximo a população sobre seus alvos militares. O objetivo é retirar do poder um grupo terrorista que ataca continuamente Israel, e recuperar as pessoas que foram roubadas de Israel e permanecem em cativeiro, muitas sendo continuamente estupradas e abusadas.
Desde 2007, Israel tem sentido as consequências de viver lado a lado de um grupo terrorista que prega o genocídio contra os judeus e os israelenses. Por anos, Israel tem convivido com foguetes constantemente disparados contra sua população, homens e mulheres-bomba e outros ataques terroristas. Mas, em 7 de outubro, o Hamas provou ser muito mais letal, organizado e com recursos muito maiores do que anteriormente se imaginava. O Hamas massacrou, estuprou, torturou, mutilou, queimou e sequestrou pessoas em Israel e ainda mantém mais de 100 reféns. Israel não pode mais ignorar as ameaças de genocídio do Hamas.
Israel está lutando uma guerra por sua sobrevivência. Israel trava uma guerra contra o Hamas, não contra o povo de Gaza. É profundamente preocupante que o mundo pareça ter esquecido 7 de outubro. "Aqui estamos nós, não 75 anos depois, mas apenas sete meses e meio depois, e as pessoas já estão se esquecendo", disse o presidente americano Joe Biden no Dia da Lembrança do Holocausto. "Elas já estão esquecendo que o Hamas desencadeou esse terror, que foi o Hamas que brutalizou os israelenses, que foi o Hamas que levou e continua a manter reféns. Eu não esqueci, nem vocês, e não esqueceremos, nunca!"
Israel – reduto seguro para os judeus
Hoje, um número cada vez maior de pessoas, entre as quais alguns judeus, estão convencidos de que o antissemitismo somente acabará com o desaparecimento do Estado Judeu. Muitos argumentam que Israel é a causa do novo antissemitismo. De fato, o Estado Judeu parece estar no centro da tempestade antissemita, sendo o foco de matérias difamatórias e incendiárias mesmo antes do dia 7 de outubro. O argumento é que o antissemitismo cessaria quando as pessoas não mais tivessem que ver, pela televisão, imagens de Israel bombardeando Gaza. Contudo, a história de antissemitismo de mais de dois mil anos é evidência de que o antissemitismo pode até sofrer mutações, porém nunca desaparece.
Atualmente, os poucos judeus que se posicionam contra o Estado de Israel recebem muita mídia e validam o argumento mentiroso de que antissionismo não é antissemitismo. Negar o fato de ser judeu, rejeitar nossa conexão com nossa pátria e nossa identidade não irá frear o antissemitismo, esse vírus que existe e vem-se mutando desde o Egito Antigo e a Grécia Antiga. Os antissemitas e os terroristas não fazem a distinção entre judeus sionistas e judeus contra Israel – os judeus são seu alvo independentemente de suas posições políticas. Os pogroms russos e o Holocausto foram provas disso – judeus religiosos e seculares, judeus assimilados ou judeus do shtetl foram igualmente vítima da violência e do genocídio.
Se Israel for eliminado, os judeus ao redor do mundo não estarão mais em segurança. O Povo Judeu enfrentou a aniquilação repetidas vezes e, até 1948, não tinha para onde se voltar. Os países não protegeram os judeus nem mesmo após a libertação dos campos de concentração e os horrores do Holocausto terem sido divulgados para todo o mundo. Depois do assassinato de seis milhões de judeus, esperava-se que os países sentissem uma vergonha terrível por não terem aberto suas portas enquanto havia tempo e por não terem intercedido em favor dos judeus. No entanto, mais uma vez o mundo se omitiu e os países continuaram com as portas fechadas para os poucos judeus que conseguiram sobreviver. Dois terços dos judeus europeus haviam sido assassinados e os que sobreviveram viviam mais uma tragédia. Ninguém os queria; ninguém queria os refugiados judeus.
Israel é o fiador da existência judaica contínua. É o único país que mantém suas portas abertas para todo judeu, ao redor do mundo. Cerca de metade dos judeus do mundo vivem em Israel, e destruí-lo como um Estado Judeu significaria o genocídio ou a deportação de milhões de judeus israelenses. Além disso, colocaria em perigo os judeus da Diáspora, que, mais uma vez, não teriam um refúgio quando necessário.
O Povo Judeu passou por milênios de sofrimento em mãos de outros povos e por tantas tentativas de liquidá-los. A história de mais de dois mil anos de antissemitismo prova que a existência do Moderno Estado Judeu não é a raiz do problema e sim a solução, a apólice de seguro de vida de todos os judeus da Diáspora.
- A palavra semita tem origem no Tanach (a Bíblia judaica) e se refere à linhagem de descendentes de Sem (Shem), um dos filhos de Noé (Noach).
Por Tamara Djmal