O mandamento primordial de Chanucá é o acender de candelabros com óleo de oliva ou velas durante as oito noites desta festividade. Suas luzes nos fazem lembrar e celebrar o milagre ocorrido logo após a vitória dos Macabeus contra os greco-sírios: quando os Macabeus recapturaram o Templo Sagrado de Jerusalém, encontraram uma única jarra com azeite de oliveira não profanado para com ele acender a Menorá.
E D’us realizou um milagre: aquela única jarra de azeite, que deveria durar apenas um dia, ardeu ininterruptamente durante oito dias – tempo suficiente para que o Povo Judeu pudesse produzir mais quantidade do azeite ritualmente puro. Para celebrar esse triunfo dos Macabeus, simbolizado pelo milagre do suprimento de azeite que manteve acesa a Menorá por oito dias, nossos Sábios instituíram a Festa das Luzes – Chanucá.
Como se trata de uma festa de oito dias, o candelabro que usamos durante a festa, a Chanuquiá, tem oito braços. Contudo, a Menorá do Templo possuía sete braços. Na Torá, o número sete é altamente significativo, sendo uma das razões o fato de D’us ter criado o universo em um processo que durou sete dias.
Veremos, a seguir, o que cada um dos sete braços da Menorá representa e o significado do braço adicional, o oitavo, da Chanuquiá.
Os sete braços da Menorá representam os sete pastores do Povo de Israel – as figuras centrais que influenciam a vida espiritual de todos os judeus. Eles são: Avraham, Yitzhak, Yaakov, Moshé, Aharon, Yossef e David e aparecem em diferentes contextos e ocasiões. São os Ushpizin, os visitantes celestiais, que visitam toda Sucá durante os sete dias de Sucot. Os sete braços da Menorá representam cada uma de suas contribuições espirituais singulares. E cada um deles personifica um dos sete atributos da Árvore da Vida da Cabalá, também conhecidos como as Sete Sefirot Emocionais.
O estudo das Sefirot é um dos alicerces da Cabalá. Elas são modos ou atributos mediante os quais D’us Se manifesta – três delas são intelectuais e sete, emocionais. É imperativo enfatizar-se que as Sefirot não representam D’us, mas sim, o meio pelo qual a Torá atribui ao Infinito qualidades e atributos específicos. Exemplificando: é um grave erro acreditar que D’us é amor. D’us é Infinito e Indefinível. O amor – uma manifestação da Sefirá de Chessed – é uma emanação de D’us. Esse mesmo conceito vale para as demais Sefirot: não constituem D’us, e sim, emanações Divinas por meio das quais D’us cria, sustenta e Se relaciona com toda a Sua Criação.
As Sefirot constituem a composição espiritual de cada ser humano. Um dos significados do ensinamento da Torá de que D’us criou o homem à Sua imagem é que assim como D’us opera por meio das Sefirot, o homem também o faz. Quando uma pessoa utiliza as Sefirot que tem dentro de si – isto é, os poderes de sua alma – em seu serviço a D’us aqui em nosso mundo, ela tem condições de impactar sua origem, as Sefirot, nos mundos superiores.
Como nosso propósito neste artigo é explicar o significado cabalístico de cada um dos sete braços da Menorá, discutiremos as sete Sefirot emocionais que eles representam – e não as três intelectuais. Nosso objetivo ao descrevê-las é indicar de que forma o ser humano pode utilizá-las em seu relacionamento com D’us.
Chessed, Guevurá e Tiferet
O primeiro braço da Menorá representa a primeira Sefirá emocional, Chessed – amor, bondade, generosidade e benevolência. Chessed também é conhecida como Guedulá – grandeza – porque a vida provém de D’us e é dirigida a um número quase ilimitado de mundos e criaturas. O Zohar, obra fundamental da Cabalá, se refere a Chessed como “o primeiro dia (o primeiro atributo) que acompanha todos os demais dias da Criação” (Zohar 1, 46a). Erepresenta a benevolência ilimitada com que D’us criou e permeou toda a Criação, como bem o descreve um versículo do Livros dos Salmos (89-3): “O mundo foi construído com Chessed”.
A Cabalá nos ensina que Chessed foi o motivo para a Criação. D’us criou os mundos para que Ele tivesse sobre quem derramar Sua bondade – como nos é explicado em Etz Chaim1: “Fazer o bem é da natureza d’Aquele que é bom”.
Uma das razões para a Torá descrever a criação do mundo como um processo de sete dias é o fato de que cada dia da semana corresponde a uma das sete Sefirot emocionais. Como nos ensina a Torá, no Primeiro Dia, D’us criou a luz. Na linguagem da Cabalá: “No início, uma luz infinita, não condicionada, preencheu toda a Criação”. Essa luz construiu toda a Criação.
O primeiro braço da Menorá, que simboliza Chessed, a primeira Sefirá emocional, refere-se a Avraham Avinu, primeiro dos Patriarcas do Povo de Israel, ele próprio a personificação desse atributo e que sintetiza o “homem de bondade e benevolência”, que amava D’us e os homens e praticava uma ilimitada generosidade – material e espiritual.
Em nosso relacionamento com D’us manifestamos Chessed ao expressar nosso amor por Ele e por outros seres humanos. Como nos ensina o Talmud, uma das formas de se unir a D’us é emular Suas qualidades, as Sefirot. Quando uma pessoa pratica Chessed, realizando atos de bondade, amor e generosidade, ela está emulando D’us, unindo-se, assim, a Ele.
O segundo braço da Menorá simboliza a segunda Sefirá emocional – Guevurá – que significa disciplina, força, bravura e justiça. Guevurá é um movimento que segue em direção oposta a Chessed. Se, este, por um lado, representa doação e compartilhamento, mesmo quando de forma incondicional e não criteriosa, Guevurá representa o contrário – retenção e retraimento. Como um poder da alma, representa o atributo emocional da reverência, do temor e da restrição. Chessed é atração, ao passo que Guevurá é repulsa. O primeiro determina que se deve doar generosa e incondicionalmente, sem considerar o mérito de quem irá receber. Já Guevurá argumenta contra a doação àquele que não a merece ou que fará mau uso do que receber.
Contudo, Guevurá também possui um aspecto essencial da bondade Divina, pois se a torrente de Chessed de D’us fosse irrestrita, provocaria o anulamento de toda a existência. Como nos ensina a Matemática, qualquer número, por maior que seja, é anulado no Infinito. Assim sendo, Guevurá, como Chessed, mantém a existência do mundo. A Sefirá de Guevurá é a manifestação do poder Divino em restringir e ocultar Sua Luz Infinita, possibilitando que Suas criaturas recebam o Chessed Divino segundo sua capacidade – sem serem anulados por Sua Infinitude.
A Sefirá de Guevurá caracteriza o Segundo Dia da Criação – quando D’us criou oFirmamento – em hebraico, Rakía – uma barreira restritiva sem a qual a vida na Terra não seria possível.
Guevurá é a Sefirá emocional associada a Yitzhak Avinu, nosso segundo Patriarca. O evento paradigmático na vida de Yitzhak foi quando ele anulou sua vontade, permitindo ser amarrado no altar a fim de ser sacrificado por seu pai, Avraham. O Midrash descreve como Yitzhak estava em completo controle de si mesmo. Ele personificou a bravura, a Guevurá, em sua capacidade e força de dominar seu sentido natural de autopreservação, exercendo total disciplina e resiliência ao se dispor a sacrificar sua vida em obediência à ordem de D’us.
Servimos D’us com Guevurá por temor e reverência a Ele. Aquele que serve a D’us com Guevurá exerce disciplina ao cumprir Seus mandamentos, não cedendo à tentação. A Cabalá nos ensina que assim como um pássaro necessita duas asas para voar, também nós, seres humanos, devemos amar e temer a D’us, ao mesmo tempo, ou seja, servindo a D’us com os atributos de Chessed e de Guevurá.
O terceiro braço da Menorá simboliza a terceira Sefirá emocional – Tiferet, que tem várias definições: beleza, harmonia, compaixão, misericórdia, verdade e paz.
Tiferet promove a harmonia entre Chessed e Guevurá. Se D’us emanasse apenas Chessed, o mundo seria anulado perante sua Guedulá, sua Grandeza Infinita. Por outro lado, se D’us manifestasse apenas Guevurá, se Ele Se contivesse totalmente, o mundo deixaria de existir. Nosso mundo somente pode existir se Chessed e Guevurá se equilibrarem, uma à outra. Tem de haver uma constante interação, uma reciprocidade, entre essas duas Sefirot. Tiferet possibilita que as duas se autoequilibrem, uma à outra, a fim de que este nosso mundo finito possa absorver a Infinita benevolência Divina, sem deixar de existir.
No Terceiro Dia da Criação, D’us determinou um equilíbrio entre água e terra, de forma que ambos sustentassem o reino vegetal – e, subsequentemente, o reino animal e o humano.
Yaakov Avinu, o terceiro e último dos Patriarcas, é o pastor que personifica a Sefirá de Tiferet. O Patriarca Jacob foi a primeira pessoa na Torá a revelar o espectro total das emoções humanas. Ele combina o Chessed de seu avô, Avraham, com a Guevurá de seu pai, Yitzhak. Em nosso relacionamento com D’us, expressamos Tiferet ao estudar a Sua Torá, que representa a busca pela harmonia, verdade, compaixão e paz. Também exercitamos esta Sefirá glorificando D’us por meio do embelezamento do cumprimento dos mandamentos de Sua Torá.
Netzach, Hod e Yessod
O quarto braço da Menorá representa a quarta Sefirá emocional – Netzach – que significa “conquistar” ou “vencer”. Denota a ideia de dominação, ambição e a iniciativa necessária para se chegar à vitória.
Esta Sefirá caracterizou o Quarto Dia da Criação – quando D’us criou as estrelas e os corpos celestes. Estes são uma expressão de Netzach pelo fato de exercitarem uma medida de dominação sobre todos os seres vivos. Exemplificando: a luz do Sol é imperativa para a existência de vida na Terra. Dia e noite, as quatro estações, o Shabate os Chaguim – os dias festivos no calendário judaico – dependem do ciclo lunar e do ciclo solar. Os corpos celestes expressam Netzach de uma outra forma: eles não se desviam de sua missão, seguindo as rígidas leis que lhes foram impostas por D’us.
Entre os sete pastores, cabe a Moshé Rabenu – o maior dos líderes e profetas judeus, em todas as épocas – personificar a Sefirá de Netzach. Todas as ações de Moshé foram duradouras, especialmente ao trazer a Torá à Terra e a transmitir ao Povo Judeu.
Aquele que serve a D’us com o atributo de Netzach está determinado a cumprir Sua Vontade, quaisquer que sejam os desafios ou dificuldades. A qualidade de Netzach que reside na alma de cada pessoa depende da confiança que ela tem na missão Divina que lhe cabe. E essa pessoa a executará com total determinação até chegar à vitória.
A quinta Sefirá emocional é Hod, traduzida como humildade, entrega, gratidão e aceitação. Hod representa o poder da alma que complementa Netzach. Enquanto Netzach nos impele para a frente, vencendo barreiras, Hod assegura que nosso sucesso se baseie em nosso reconhecimento da origem Divina de nosso poder e força. Assim sendo, Hod representa sinceridade, humildade e gratidão.
É a Sefirá de Netzach que energiza nossa ambição. Mas é a Sefirá de Hod que nos obriga a reconhecer que devemos nosso sucesso à Providência Divina. A qualidade de Hod instila dentro de nós a humildade de reconhecer que não somos senhores únicos de nossa vida e nosso destino. Se Netzach implica em dominação, Hod implica em submissão. Na vida, temos por vezes que exercitar Netzach e impor nossa vontade, ao passo que em outras vezes temos que agir com Hod, submetendo-nos à vontade dos outros.
A Sefirá de Hod caracterizou o Quinto Dia da Criação. Neste dia, D’us criou as aves e as criaturas marinhas – os primeiros a receber Sua benevolência.
Entre os sete pastores, Aharon, irmão de Moshé, que foi o primeiro Cohen Gadol, primeiro Sumo Sacerdote, é quem personifica a Sefirá de Hod. Sua capacidade de fazer a paz entre as pessoas era proveniente de seu desejo de se submeter aos outros em troca de promover a união entre eles.
Em nosso relacionamento com D’us, expressamos a Sefirá de Hod mediante a auto abnegação e o reconhecimento da transcendência Divina que desafia nosso entendimento enquanto meros mortais. Exercitamos Hod em nosso serviço a D’us mediante o reconhecimento de que, apesar de nosso grande empenho e determinação, a Vontade de D’us sempre prevalecerá. Por meio de Hod, nós, seres humanos, reconhecemos depender totalmente de D’us. E percebemos que nossa visão limitada se deve à nossa perspectiva material e finita. Expressamos nossa gratidão a D’us por todos os favores que Ele nos concede e a Ele oferecemos graças por todos os Seus louváveis feitos, atributos e trabalho na criação dos mundos superiores e inferiores. Neste contexto, Hod significa ser sincero em nossos atos de gratidão.
O sexto braço da Menorá representa a sexta Sefirá emocional – Yessod, que significa “a base, o fundamento”. Explicamos acima como a Sefirá de Tiferet harmoniza e equilibra Chessed e Guevurá. De modo análogo, é a Sefirá de Yessod que promove a harmonia e o equilíbrio entre Netzach e Hod.
Netzach e Hod têm a ver com dominação ou submissão, ao passo que Yessod constitui o equilíbrio entre a manutenção e a rendição da identidade da pessoa. E isto é válido tanto no relacionamento entre o ser humano e D’us como entre duas pessoas.
A Sefirá de Yessod caracterizou o Sexto Dia da Criação – quando D’us criou o primeiro ser humano. O homem e a mulher constituem a base da Criação. D’us dá a todas as Suas criaturas, mas os seres humanos retribuem cumprindo o Seu propósito na Criação. O homem e a mulher expressam Yessod quando mantêm sua identidade exercitando o livre arbítrio, mas também renunciam a ele para cumprir os desejos Divinos.
A Sefirá de Yessod une D’us e Sua Criação em um vínculo de empatia e amor. Um Tzadik, ser humano justo, personifica Yessod por constituir um elo entre Céu e Terra. Ele desperta na humanidade a busca por D’us. Ao mesmo tempo, atrai a compaixão e a bondade Divina para o mundo. Daí se origina o ensinamento de que “Um Tzadik é a base do mundo” (Provérbios 10:25).
Yossef HaTzadik,José, filho de nosso patriarca Jacob, personifica a Sefirá de Yessod. Pilar de integridade e retidão, Yossefresistiu à tentação e teve sucesso em todos os seus esforços, trazendo bênçãos, salvação e prosperidade para o mundo, pelo fato de estar constantemente conectado com D’us. Utilizamos o poder de Yessod em nossa alma ao sermos fiéis a D’us com intensa vontade e prazer.
Conta um antigo Midrash que os seis primeiros dias da Criação constituem dois conjuntos de três dias cada, sendo que o segundo conjunto aperfeiçoa e complementa o primeiro. A primeira composição espiritual das Sefirot – Chessed, Guevurá e Tiferet – se compara à segunda – Netzach, Hod e Yessod. No primeiro dia (Chessed), D’us criou a luz; no quarto dia (Netzach), Ele criou os corpos luminosos. No segundo dia (Guevurá), D’us criou os oceanos ao dividir as águas; no quinto dia (Hod), Ele criou os peixes. No terceiro dia (Tiferet), D’us criou a terra seca; até que, no sexto dia (Yessod), Ele criou o homem.
Malchut – a sétima Sefirá
O sétimo braço da Menorá representa a sétima Sefirá emocional – Malchut. Definida como “realeza”, essa Sefirá é única entre as sete Sefirot emocionais: as seis primeiras são ativas ao passo que Malchut é passiva, transmitindo a ideia de receber. Yessod, a sexta Sefirá, combina todas as demais Sefirot e as conecta a Malchut. Tendo recebido a luz de todas as demais Sefirot, Malchut canaliza e direciona uma luz unificada ao mundo, harmonizando todos os diversos atributos das demais Sefirot e os projetando para baixo, para a Criação.
Diferentemente das demais Sefirot, Malchut não tem nenhuma característica nem mesmo uma qualidade própria, e isto lhe permite unificar todas as Sefirot dentro de si e as projetar para nosso mundo. Malchut é o instrumento por meio do qual todo o plano da Criação passa a existir. A Cabalá nos ensina que “nada ocorre com os seres inferiores a não ser que seja através de Malchut” (Tikunei Zohar 19:40b, Zohar Chadash, 11a). Esta Sefirá é conhecida como “o arquiteto mediante o qual se fez toda a Criação” (Pardes Rimonim 11:2).
A receptividade inata em Malchut, que chega mesmo à sensação de vazio, é personificada pelo rei judeu ideal, que deve ser excessivamente humilde. Ele precisa estar constantemente ciente de sua nulidade perante o verdadeiro Rei dos Reis. A humildade é como um copo vazio – pronto para receber. A humildade de um rei é o portão que se abre para que ele possa receber o influxo Divino, o qual ele, por sua vez, pode compartilhar com os demais. David HaMelech, o Rei David, é o sétimo pastor e personifica a Sefirá de Malchut. Em seus Salmos, ele se autodescreve como “pobre e carente”, apesar de descender de uma das famílias judias mais ricas e distintas. No entanto, ele se considerava pobre, pois assim como alguém que nada possui depende da generosidade dos demais, o Rei David reconhecia que todas as suas posses – seu reino, suas riquezas, seu poder – provinham exclusivamente de D’us. Malchut é o poder que D’us nos dá para que possamos receber d’Ele. Essa Sefirá expressa um relacionamento no qual o que recebe pode retribuir, tornando-se um doador.
A Sefirá de Malchut caracteriza o Sétimo Dia da Criação – o Shabat. Como vimos acima, as seis primeiras Sefirot emocionais são ativas, ao passo que a sétima, Malchut, é passiva. Essa ideia se aplica ao ciclo semanal. A Torá nos ordena trabalhar seis dias da semana e descansar no sétimo – o Shabat. O sétimo dia, o Shabatsagrado, recebe bênçãos dos outros seis dias que o precedem – assim como Malchut recebe das demais seis Sefirot, mas então as retribui, tornando-se, pelo fato de abençoar os dias da semana que o seguem, um doador. O Zohar justamente nos ensina que “Através dos dias de Shabat, todos os outros dias se tornam abençoados”.
Nós expressamos Malchut mediante a aceitação da soberania Divina e do cumprimento de Sua Vontade. A alma que serve a D’us com humildade está manifestando o poder de Malchut.
O oitavo braço da Chanuquiá
Os sete dias da semana, que são caracterizados, respectivamente, pelas sete Sefirot emocionais, constituem um ciclo natural. O número oito representa aquilo que está acima da Natureza, ou seja, o sobrenatural. No Judaísmo, o número oito representa o milagroso. Na história de Chanucá, o azeite ardeu por oito dias para indicar que a vitória militar dos Macabeus sobre os greco-sírios tinha sido um milagre.
A Menorá do Templo tinha sete braços, sendo o sétimo representado pela Sefirá de Malchut, personificada pelo Rei David. Já a Chanuquiá tem oito braços. O oitavo braço simboliza um descendente do Rei David, o Rei Mashiach, cuja vinda trará o Shabat eterno. Essa época será uma era de paz, alegria e prosperidade para a humanidade, caracterizada por fenômenos sobrenaturais.
A Menorá e a União do Povo Judeu
A Menorá tem sete braços porque basicamente há sete caminhos diferentes para se chegar a D’us. Todo ser humano contém todas as sete Sefirot emocionais, mas uma delas exerce um papel central na vida da pessoa. Alguns judeus sentem-se mais inclinados à alma de Avraham – eles são guiados por Chessed – ao passo que outros preferem a linha de Yitzhak – são mais rigorosos e disciplinados. Cada pessoa recebe uma determinada Sefirá que determina a estrutura de sua personalidade. Quanto maior a receptividade da pessoa, mais ela pode receber dos braços da Menorá. Alguns amam D’us (Chessed) mais do que O temem; outros O temem (Guevurá) mais do que O amam. Há judeus que servem a D’us basicamente por meio do estudo da Torá (Tiferet), que traz paz para o mundo harmonizando Chessed e Guevurá. Há judeus que servem a D’us por meio de pura determinação (Netzach), enquanto há outros que conseguem anular totalmente sua vontade diante da Vontade Divina (Hod). Algumas almas são naturalmente atraídas a D’us (Yessod) e conseguem unir Céus e Terra, num só conjunto. Mas há, também, pessoas cuja humildade lhes permite receber a generosidade da plenitude Divina – o conjunto completo das demais seis Sefirot – e a compartilhar com o restante do mundo.
Cada um de nós tem o seu caminho, sua maneira de chegar a D’us, e nenhum deles é melhor que o outro. Mas, apesar desses diferentes caminhos, temos que ter em mente que a Menorá original que Moshé construiu no deserto era feita de um único pedaço de ouro, representando a ideia de que nosso povo, o Povo de Israel, constitui um todo, uma plenitude, apesar de a Menorá ter sete diferentes braços. O fato de a Menorá original ter sido feita inteiramente de ouro simboliza a beleza do Povo Judeu. Como está decantado no Cântico dos Cânticos: “Amor meu, és bela por completo” (Shir HaShirim 4:7).
Não há um ser humano idêntico a outro, ensina o Talmud. Cada alma é diferente e singular. Mas o Povo Judeu constitui um único organismo – e cada um de nós é responsável pelos outros na singularidade de sua essência.
BIBLIOGRAFIA
Kaplan, Rabbi Aryeh, Inner Space - Introduction to Kabbalah, Meditation and Prophecy, editado por Abraham Sutton, Moznaim Publishing Corporation
Steinsaltz, Rabbi Adin Even-Israel, The Candle of G-d - Discourses on Chassidic Thought, editado e traduzido Yehuda Hanegbi, Maggid Books
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https://www.chabad.org/kabbalah/article_cdo/aid/380796/jewish/Chesed-Gevura-Tiferet.htm