A “Shechiná”, a Presença Divina, repousa sobre HaKotel HaMa’aravi, o Muro Ocidental, nos ensina o Zohar, obra fundamental da Cabalá. Por essa razão, nunca foi e nunca será destruído. Para pessoas de todas as religiões, etnias e nacionalidades, o Kotel é um local de oração, esperança e inspiração, a partir de onde se dirigem a D’us, abrindo seus corações para pedir ajuda e orientação. Para nós, judeus, no entanto, o Kotel HaMa’aravi é algo mais: é o símbolo de nossa eternidade como povo.
O Muro Ocidental, na Cidade Velha de Jerusalém, é uma das quatro paredes de sustentação do Monte do Templo que permaneceram intactas após a destruição do segundo Templo Sagrado de Jerusalém. É chamado de Muro Ocidental por estar voltado para Oeste e é o mais próximo do local onde ficava o Santo dos Santos – o ponto mais sagrado do Templo Sagrado. Devido às restrições de entrada no Monte do Templo, o Kotel é o lugar mais sagrado onde os judeus podem rezar e, especialmente durante as festas judaicas, é aí que milhões de pessoas fazem suas orações.
O segundo Templo Sagrado foi construído após a volta de judeus da Babilônia, sob a liderança de Ezra e Nehemias. Inaugurado em 516 AEC, era uma construção simples e foi totalmente reformado, em 20 AEC, pelo rei Herodes. Para expiar seu terrível pecado de ter assassinado a maioria dos Sábios judeus, Herodes transformou o Templo em uma das construções mais majestosas da época. O Kotel Ha’Maaravi não era, como muitos acreditam, um dos muros do segundo Templo, propriamente dito. Era a muralha ocidental dentre as quatro que serviam de arrimo à plataforma construída por Herodes, ao redor do Monte do Templo, o chamado Monte Moriá, em cujo topo se erguia, majestoso, o Grande Templo de Jerusalém. O Muro Ocidental é tudo o que resta do segundo Templo de Jerusalém, destruído pelos romanos no ano 70 EC.
Como se explica o fato de que o HaKotel HaMa’aravi tenha sobrevivido à destruição romana? O Midrash relata o seguinte episódio:
As forças de Roma, sob o comando do General Vespasiano, já haviam sitiado Jerusalém. Ele, que estava prestes a se tornar o próximo imperador romano e voltar a Roma, incumbiu seu filho Tito de continuar sua campanha e consignou a destruição dos quatro baluartes do Templo a quatro de seus generais. O Muro Ocidental, o Kotel, ficou a cargo de Pangar. Quando Tito, liderando os exércitos romanos, finalmente conseguiu entrar em Jerusalém, os generais seguiram as ordens recebidas por Vespasiano e demoliram a parte que lhes tocara. Apenas um, Pangar, não o fez. Ao voltar a Roma, o já imperador Vespasiano o chamou à sua presença e lhe perguntou: “Por que não destruíste aquilo de que te encarreguei?” Ao que ele respondeu “Por tua vida, agi em honra de teu império, pois se tivesse demolido aquele muro, ninguém, nos anos vindouros, teria ideia da grandiosidade do que destruíste. Mas quando as pessoas virem o Muro Ocidental, hão de exclamar: ´Contemplai o poder de Vespasiano, basta ver pelo que ele não destruiu!’ ” (Midrash Raba, Lamentações 1:31).
A verdadeira razão pela qual o Muro Ocidental não foi destruído não foi essa que conta o Midrash – a realidade é que o general designado para o demolir foi incapaz de o fazer. O Midrash revela que o Muro Ocidental permaneceu de pé graças a um juramento de D’us prometendo sua sobrevivência eterna. E, de fato, ensina que a Presença Divina nunca se retirou do Muro Ocidental.
É curioso o fato de que o imperador Vespasiano e seu filho Tito, responsáveis pela destruição de Jerusalém e pela queda do Templo Sagrado, tenham sido os responsáveis pela construção do Coliseu – o maior anfiteatro antigo já erguido, que foi usado para disputas de gladiadores e espetáculos públicos, incluindo execuções de centenas de milhares de cristãos. Esse símbolo icônico do Império Romano constituía a antítese do Templo Sagrado de Jerusalém.
O Coliseu é uma das principais atrações turísticas de Roma, assim como o Kotel é um dos locais mais visitados em Israel. Mas as diferenças entre essas duas edificações não poderiam ser maiores. O Coliseu é uma construção enorme – uma lembrança do poder e da brutalidade do Império Romano.
O Kotel, por outro lado, é apenas uma parede de calcário – tudo o que resta do Templo Sagrado. Mas, ao contrário do Coliseu, onde se celebravam a crueldade, a violência e a morte, o Muro das Lamentações é um local de oração e esperança e inspiração não apenas para os judeus, mas para as pessoas de todas as religiões, etnias e nacionalidades que se dirigem ao Kotel para rezar. Muitos líderes políticos e religiosos visitaram e rezaram no Muro Ocidental, incluindo o atual presidente do Brasil, os presidentes americanos Clinton, Bush, Obama e Trump – assim como vários papas, incluindo o Papa Francisco. Inúmeros visitantes, independentemente de sua origem e de seu poder e influência, deixam seus bilhetinhos entre suas pedras, pois aprendemos que D’us é particularmente atento aos pedidos feitos nesse local sagrado.
Além de ser o ponto onde a Presença Divina é mais palpável, o Kotel é um símbolo da eternidade do Povo Judeu, pois assim como o Muro Ocidental não pôde ser destruído, também o Povo de Israel nunca deixará de existir. A singularidade do Kotel – a razão pela qual permaneceu de pé apesar daqueles que tentaram destruí-lo – reside em sua força espiritual.
Assim também, nosso povo, o Povo Judeu, permaneceu em existência por milhares de anos, apesar de todos aqueles que tanto tentaram aniquilá-lo, por causa de sua força espiritual. Como ensina o Zohar, a Presença Divina habita entre a Nação de Israel. Podemos ser um povo pequeno, assim como o Kotel é uma construção pequena, mas somos uma nação eterna que já fez e continua fazendo contribuições grandiosas à humanidade, desproporcionais a seu tamanho.
O Kotel é o que resta do Templo Sagrado de Jerusalém, que ainda se encontra destruído, enquanto o Coliseu, obra de quem derrubou o Templo, permanece de pé. No entanto, quase dois mil anos após a destruição do Templo Sagrado, o Povo Judeu permanece vivo, enquanto os antigos romanos não mais andam na terra: o poderoso Império Romano caiu e nunca mais se levantou. Roma não é habitada pelos antigos romanos, enquanto o Povo de Israel retornou à sua pátria eterna, a Terra de Israel, de onde fomos expulsos pelas legiões do imperador Vespasiano e seu filho Tito.
De fato, o retorno do Povo de Israel à Terra de Israel – especialmente a Jerusalém – é um prelúdio para o dia – muito esperado não apenas pelo Povo Judeu, mas por toda a humanidade – em que o Templo Sagrado de Jerusalém será reconstruído. Quando este dia acontecer, a Presença Divina encherá o mundo inteiro e a paz finalmente será concedida a toda a humanidade.