A Grécia foi uma das primeiras vítimas dos exércitos do Eixo. Em 28 de outubro de 1940, após ocupar a Albânia, tropas italianas atacaram aquele país, mas não conseguiram subjugar os gregos, encontrando forte resistência. Como durante a maior parte de sua história moderna, após se refugiar nas montanhas do Peloponeso e no norte do país, os gregos passaram a lutar de forma feroz contra os invasores. Hitler se viu, então, obrigado a enviar auxílio às tropas de Mussolini e, em 6 abril de 1941, os nazistas entraram na Grécia. Até 2 de junho desse ano, todo o país havia sido ocupado pelas forças do Eixo e dividido em três zonas: alemã, italiana e búlgara.
A população judaica da Grécia já atingia aproximadamente 80 mil pessoas, a maioria das quais em Salonica e apenas 3 mil membros em Atenas. Os dados sobre o número de judeus na Grécia, em geral, e nas várias comunidades, varia muito dependendo da fonte utilizada.
Os alemães ocuparam a Macedônia Central, uma faixa da Trácia e Creta e, conseqüentemente, 55 mil judeus gregos ficaram sob o jugo direto dos nazistas. A maior parte era de origem sefaradita e vivia em Salonica. Os búlgaros ocuparam a Macedônia Oriental e a Trácia, onde havia cerca de 6 mil judeus. Os italianos, por sua vez, tomaram o restante do território, sendo que 13 mil judeus ficaram sob sua jurisdição, inclusive os de Atenas. Os alemães imediatamente iniciaram a perseguir e discriminar os judeus sob sua jurisdição, até que os deportaram entre março e agosto de 1943. O destino dos judeus de Salonica fora selado desde a entrada dos nazistas na cidade, em abril de 1941. Estima-se que 95% dos 46.091 judeus da cidade tenham morrido nas câmaras de gás.
A sorte dos judeus de Atenas foi um pouco diferente. Apesar de mais de 1.500 também morrerem em mãos nazistas, alguns tiveram mais chances de sobreviver. Em toda a região ocupada pelos italianos, viveram relativamente bem até a chegada dos alemães, praticamente sem medidas anti-semitas. Apesar de Mussolini ter instituído leis discriminatórias, na Itália, os italianos não levavam a sério as idéias de Hitler. Os oficiais italianos alertavam os líderes judeus, dizendo: "Enquanto estivermos no comando, vocês não têm o que temer. Mas na hora em que os nazistas vierem e os gregos começarem a colaborar, vocês devem começar a se preocupar". Em várias ocasiões, as autoridades italianas - mesmo em Salonica - fizeram o possível para salvar os judeus, concedendo-lhes documentos e ajuda para escaparem da zona italiana.
Outro fato importante, na época, foi a liderança judaica ateniense. O rabino-chefe Elias Barzilai, homem de grande coragem e visão, ao ser informado sobre os acontecimentos em Salonica, despachara mensagens urgentes para todos os líderes comunitários das cidades ocupadas por italianos.
Além de um relatório apurado sobre os acontecimentos de Salonica, implorava-lhes para que fugissem antes que os nazistas ocupassem as áreas onde viviam. Aproximadamente 91% dos 1.950 judeus de Ioanina morreram nas mãos dos nazistas, em grande parte porque seus líderes não quiseram seguir os conselhos do rabino Barzilai.
Não só a liderança da comunidade judaica de Atenas era diferente da de outras comunidades da Grécia, como o eram os próprios judeus. A maioria, de origem romaniota, estava bem integrada e assimilada na vida local. Diferentemente dos judeus de outros lugares, especialmente Salonica, sua língua materna era o grego e se pareciam fisicamente a seus vizinhos, que os viam como gregos e os consideravam, portanto, confiáveis. Também não viviam em bairros isolados, sendo difícil confiná-los. Além do mais, como a população judaica crescera rapidamente na capital grega, não havia dados exatos sobre o número de judeus da capital. Os nazistas estimaram seis mil em Atenas, mas dados mais conservadores avaliavam essa população em três mil. Os judeus locais foram levados a acreditar que não seriam perseguidos como os de Salonica, mas isso não passou de uma doce ilusão. Assim que a Itália se rendeu aos aliados, em 8 de setembro de 1943, os nazistas passaram a controlar Atenas e teve início a perseguição aos judeus.
No dia 20 de setembro, o Comando Rosenberg, encarregado dos assuntos judaicos, chegou à capital ateniense. Vinte e quatro horas depois convoca o rabino Barzilai. Informado do que ocorrera em Salonica, o rabino alertara o arcebispo Damaskinos, patriarca da Igreja ortodoxa, e os líderes comunitários sobre a ordem que recebera. As exigências nazistas eram as mesmas: informações sobre os judeus da cidade, lista de nomes e endereços e criação de um Judenrat - órgão responsável por executar as ordens nazistas e servir de ligação entre judeus e alemães. Em toda a Europa Oriental e, até então, na Grécia, o Judenrat, por razões que aqui não cabe analisar ou avaliar, mostrara ser uma poderosa arma usada pelos nazistas para dobrar o espírito judaico. Mas desta vez encontraram uma forte resistência: nenhuma das exigências foi atendida. Ao sair da reunião com os nazistas, o rabino Barzilai e os líderes comunitários decidiram agir rapidamente. Foram queimadas todas as informações sobre a comunidade. O rabino raspou a barba, juntando-se aos partisans comunistas nas montanhas e incentivando todos os judeus a fugir.
No entanto, não deram resultado os apelos de salvação feitos pela comunidade judaica às autoridades gregas. O primeiro-ministro, para acalmar os judeus de Atenas, afirmara que Salonica era caso à parte, "pois os judeus daquela cidade eram "diferentes, um elemento estranho à Grécia". Era uma clara alusão de que o fim da comunidade judaica de Salonica não representava grande perda para o país. Quem protestou contra as atitudes nazistas foi o arcebispo Damaskinos. Homem de grande coragem, após enviar uma carta às autoridades nazistas, aconselhou os judeus a dissolver a comunidade e fugir.
Mas os nazistas não se deram por vencidos. O comandante militar da cidade, general Jurgen Stroop - responsável por ter liquidado o Gueto de Varsóvia - decide organizar a comunidade judaica sob a direta supervisão nazista. Em outubro emite ordem para que todos os judeus se registrem, mas até o final do mês somente 200 a haviam cumprido. A maioria se escondera. Muitos fugiram em pequenos barcos para a Ásia Menor. Outros se juntaram aos partisans e alguns se converteram. Muitos sobreviveram graças ao arcebispo Damaskinos, que orientara todos os monastérios e conventos de Atenas e dos arredores acolher os fugitivos. Mais de 250 crianças foram escondidas por membros do clero. O então chefe da polícia, Angelos Evert, apesar dos riscos que corria, ajudou vários judeus, fornecendo-lhes documentos de identidade com nome cristão.
Entre os que se juntaram aos partisans gregos e participaram de grandes operações de sabotagem, destacam-se 40 indivíduos integrantes do grupo que explodiu a ponte da principal ferrovia, ligando o norte ao sul da Grécia. Em Salonica e Tessália, assim como em Atenas, as unidades de resistência integradas parcial ou integralmente por judeus, sob ordens de oficiais gregos ou britânicos, também trabalhavam para fornecer informações aos comandos dos aliados no Cairo (Egito).
Até março de 1944, 1.500 pessoas se haviam registrado. Em 24 e 25 março, 800 judeus de Atenas foram enviados para Auschwitz. Durante o verão, outros 3.500 de outras cidades gregas das zonas italianas foram também mandados para o mesmo campo, totalizando 54.533 judeus gregos em Auschwitz. Foi lá que, em setembro de 1944, uma revolta organizada por judeus atenienses fez explodir dois fornos crematórios. Participaram da ação 135 gregos, além de outros sefaraditas. Três gregas tinham roubado e contrabandeado os explosivos.
Em setembro de 1944, quando a Grécia foi libertada, 10 mil judeus ainda permaneciam no país. Entre 1941 e 1944, tinham sido aniquilados mais de 87% do judaísmo grego, o que representa o maior percentual de mortes, após as cifras da Polônia.
Pós-guerra
Em 1944, o governo de George Papandreous devolveu aos judeus as propriedades que haviam sido confiscadas durante a 2ª Guerra Mundial. Foi o primeiro governo europeu a tomar esta iniciativa. Os bens pertencentes aos mortos foram colocados em um fundo comum, para ajudar aos que haviam perdido seu patrimônio e emprego. Mas o pós-guerra acarretou inúmeros conflitos civis e a pobreza era tanta, que muitos tentavam partir. As autoridades criavam dificuldades para a emigração, principalmente porque os homens estavam sujeitos ao alistamento. Gradativamente, no entanto, puderam partir para Israel e outros países.
Apesar do relacionamento cordial entre gregos e judeus, as relações oficiais com Israel eram frias, tendo sido a Grécia o único país europeu a votar contra o plano das Nações Unidas de 1947, que aprovou a Partilha da Palestina. Na década de 1980, quando estava no poder o socialista Andréas Papandreous, os terroristas praticaram vários atos de cunho anti-semita, embora de certa forma estivessem sob controle do governo. Nos últimos anos, porém, esforços evidentes têm sido tomados para melhorar as relações com Israel, especialmente no campo turístico.
Hoje
Depois da 2ª Guerra Mundial, os judeus representavam cerca de 3 mil habitantes dentro de um universo de 4 milhões, em Atenas. A grande maioria passou por período de privações, mas acabou conseguindo manter um padrão de vida confortável. Atualmente, a comunidade é mantida com renda advinda de seus membros e possui uma escola de enfermagem, um centro judaico para jovens à Rua Vissarionis e duas sinagogas: a chamada Romaniota, localizada acima do Centro Comunitário, à rua Melidoni, 8, e que abre apenas nos dias de festas; e outra, a Beit Shalom, na rua Melidoni, 5, outrora coração da comunidade e da capital grega. Esta última foi restaurada em 1968 e acomoda, atualmente, 500 pessoas - as mulheres ficam na parte superior, durante os serviços religiosos. Seu interior ostenta dois impressionantes vitrais coloridos, um representando a ascensão de Isaías em uma carruagem e, a outra, a outorga dos Dez Mandamentos no Monte Sinai.
Um dos primeiros objetivos dos visitantes que chegam a Atenas é o Museu Judaico da Grécia, criação de Nicholas Stavroulakis. É uma maravilha que contém não apenas a história judaica da região - que vai de Anatólia a Veneza, como também de toda a área. Há dois grandes destaques no museu: a sinagoga de Patras, que foi reconstruída e está em funcionamento, uma bimá original e vários assentos da época; e uma sala representando o interior de uma residência judaica do leste da Grécia, quando a região ainda estava sob o controle da Turquia. As paredes são decoradas com diversos painéis estilizados com motivos florais em vermelho, ouro e verde.
Bibliografia
Del Fuego: Sepharadim and the Holocaust, Editado por Haham Dr. Salomon Gaon e Dr Mitchell Serels, Jacob E. Safra Institute of Sephardic Studies - Yeshiva University.
Elias V. Messinas, Archives.
Stavroulakis, Nicholas P., DeVinney Timothy J., Jewish Sites and Synagogues of Greece, Talos Press, Athens.