Quem se interessa pela história da criação do Estado de Israel não pode deixar de visitar este museu, localizado em Ramat Aviv, subúrbio de Tel Aviv, que celebra a contribuição da organização para o surgimento do estado judeu.
É comum dizer-se que em Israel há mais museus per capita do que em qualquer outro país do mundo. São mais de 200 espalhados de Norte a Sul. Inaugurado em 2000, o Museu do Palmach impressiona os visitantes tanto por sua arquitetura quanto pela forma inovadora de contar a história do grupo de combate da Haganá, responsável por algumas das mais importantes operações nos anos de luta pelo estabelecimento do Estado de Israel
“Palmach” é um acrônimo para Plugot Hamahatz, que significa força de ataque. Criado em 1941, foi a força de combate da organização de defesa underground, Haganá, anterior à criação do Estado. Era formado por jovens determinados e destemidos, prontos a dar a vida pela realização de um sonho acalentado pelos judeus durante 2000 anos, o estabelecimento de uma nação judaica em Eretz Israel, terra de nossos antepassados. A lista de seus membros inclui Yitzhak Sadeh, seu primeiro comandante, Yigal Allon, Moshe Dayan, Yitzhak Rabin (ele foi um dos primeiros a se integrar ao movimento), Haim Bar-Lev, Uzi Narkiss e Ezer Weizman – personalidades que, posteriormente, ocupariam os mais altos cargos no Estado-Maior e na política nacional.
No início da década de 1990, os arquitetos Zvi Hecker e Rafi Segal foram convidados pela Palmach Generation Association a criar e executar o projeto do Museu. Um dos importantes objetivos das atividades dessa Associação sempre foi celebrar e perpetuar a memória e as histórias de vida dos 1.187 combatentes do Palmach, mortos em ação durante a campanha pela criação do Estado de Israel e a imediatamente subsequente Guerra da Independência.
A Palmach Generation Association considera sua obrigação homenagear seus valentes combatentes que perderam a vida pela criação do Estado e transmitir seu legado às gerações futuras.
O projeto levou 10 anos para ser concluído. Ao término da construção, o Museu passou para a jurisdição do Ministério da Defesa, sendo atualmente administrado pelo Departamento de Museus desta Pasta.
A força de ataque
O Palmach foi criado em maio de 1941, com o objetivo de defender a Terra de Israel de qualquer ataque vindo das Forças do Eixo. Temia-se uma invasão da então Palestina pela Alemanha nazista. O grupo era composto por membros das forças regulares de combate da Haganá, o exército não-oficial da Yishuv durante o Mandato Britânico da Palestina. Consistia inicialmente de nove unidades – uma em Jerusalém e oito na Galileia (três no Norte, duas no Centro e uma no Sul). Em pouco tempo passaria para 12 unidades. Defendia os mesmos valores do movimento kibutziano: responsabilidade mútua, ajuda ao próximo, sacrifício e contribuição em prol do bem maior. As bases do Palmach situavam-se em kibutzim, sendo os seus integrantes responsáveis por tarefas agrícolas bem como exercícios de treinamento militar. Essa estrutura social era considerada como o âmago do sabra, o nativo de Israel. Sobre o movimento, disse certa vez Itzhak Rabin: “O modo de vida do Palmach refletiu o espírito de uma geração de voluntários sabras. Uma geração que desejava trabalhar para se manter e representava um novo israelense, um indivíduo preocupado em ser um modelo para os mais jovens”...
Suas unidades lançavam ataques preventivos em território sírio e libanês, frequentemente enviando seus integrantes que eram fluentes em árabe a esses territórios, vestidos como árabes, para sabotar e explorar seus alvos.
Em novembro de 1947, o Palmach já tinha 5 mil membros e foi de importância fundamental na luta para o estabelecimento do futuro Estado de Israel, desempenhando um papel primordial na Guerra da Independência. Em 15 de maio de 1948, logo após a saída dos britânicos e um dia depois da criação do Estado de Israel, os exércitos regulares do Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque, conjuntamente, atacaram o país. Israel se viu forçado a lutar, defendendo a soberania que acabara de reconquistar em sua pátria ancestral. A superioridade dos exércitos árabes era inegável, tanto em armamentos quanto em forças de combate. Um dos primeiros atos do recém-criado Estado foi a unificação de todas as forças de combate judaicas, dando origem às Forças de Defesa de Israel (FDI), Tzvá Haganá le-Israel.
Unidades de comando do Palmach integraram a Haganá, a organização paramilitar judaico-sionista durante o Mandato Britânico da Palestina, entre 1920 e 1948, e acabaram por se tornar o núcleo das Forças Armadas de Israel.
A Guerra da Independência foi o ápice da atividade do Palmach. Das 12 brigadas da Haganá, três eram brigadas do Palmach, consideradas a “ponta de lança” durante a Guerra e da criação das FDI.
O MUSEU
Desde sua inauguração, o Museu tem sido elogiado por renomados arquitetos pela integração de seu design à paisagem e à topografia da área, além de destacar a forma criativa e inovadora de relatar esse capítulo da história de Israel. A maior parte de sua construção é subterrânea, o que faz da visita ao local uma experiência singular. Os muros externos circundam um pátio central e do ponto mais alto da área externa o mar se abre diante dos olhos dos visitantes. No interior, além das salas de exposição propriamente ditas, possui um auditório para 400 pessoas, um centro de juventude, uma lanchonete e escritórios administrativos.
O Museu do Palmach faz os visitantes conhecerem a vida e história dos 1.187 membros mortos em operações desde a sua criação. Não há painéis ou documentos expostos em totens protegidos. Apenas imagens tridimensionais, filmes e muitos efeitos especiais. Diferentemente de outros museus que através de seu acervo contam a história de forma cronológica, o Museu do Palmach narra a trajetória do movimento através das histórias de seus membros e de suas unidades, desde a sua criação até o final da Guerra da Independência.
A Palmach House, como é mais conhecida, possui vários setores – o Museu propriamente dito, a Galeria de Fotografias, o Arquivo e a Biblioteca, que estão localizados no 2º andar. O Memorial em homenagem aos membros mortos em combate está ao lado da biblioteca e ali se inicia o tour guiado que tem a duração de 90 minutos.
A Sala Memorial possui 1.187 gavetas, cada uma dedicada a um dos combatentes mortos entre 1941 e 1949. Em cada gaveta, a vida de um deles, detalhes, fotografias, cartas e outros materiais. No andar acima, a sede da Palmach Generation Association. No lado externo, um teatro ao ar livre e, no pátio, uma escultura do símbolo do Palmach criada por Gideon Gretz, um de seus integrantes.
Ao longo dos anos muitos filmes foram produzidos contando a história dessa unidade de combate. Mais de 20 foram produzidos pela Ohalei Palmach Association e podem ser vistos ou comprados no Museu. A Galeria de Fotografias conta com mais de 30 mil fotos dos diferentes períodos – fotos que contam a história de seus batalhões, líderes, unidades especiais, combates, operações de imigração ilegal, entre outros. O arquivo contém uma ampla coleção de depoimentos e testemunhos dos integrantes, além de coleções particulares doadas por familiares de combatentes.
A principal exposição está localizada na parte subterrânea do edifício e ocupa várias salas. Ao lado do memorial está uma sala que reconstrói a Rua Herzl, em Tel Aviv, em 1941. Era a sala onde se reuniam as lideranças judaicas para analisar o impacto do avanço das tropas alemãs em direção ao Egito e os ataques árabes às comunidades judaicas na região. Nessa sala eram traçadas estratégias e políticas para as operações.
Passando para a próxima sala, há a projeção contínua de um filme em toda a parede, levando o visitante ao universo fictício de sete recrutas de uma unidade do Palmach, durante um encontro com seus comandantes antes de iniciar seu treinamento. A história desses personagens leva os visitantes pelas demais salas, acompanhando a evolução no treinamento, as missões que executaram, sua expressão enquanto acompanhavam a votação da Partilha da Palestina, nas Nações Unidas, e enquanto lutavam pela independência de Israel. O uso de efeitos especiais no ambiente, com jogo de luzes, imagens e sons cria um clima especial para esta experiência, transformando-a em uma vivência inesquecível.
Certa vez, um grupo de alunos alemães do arquiteto Zvi Hecker insistiu em visitar o Museu. Ele lhes explicou que não entenderiam nada, por causa do hebraico nos audiovisuais, mas eles não desistiram. Ao término da visita, os jovens revelaram suas impressões: “Não entendemos uma palavra, mas sentimos tudo”.