O Êxodo do Egito é o tema principal de Pessach, mas esse evento, ainda que decisivo na história do Povo Judeu e da humanidade, não se limita a essa festa.
Durante o processo que levou à saída de nosso povo do Egito, milhões de pessoas testemunharam milagres e revelações Divinas: as Dez Pragas que levaram à libertação dos Filhos de Israel e as visões proféticas que eles tiveram durante a abertura e travessia do
Mar de Juncos.
A libertação do Egito envolveu um enorme número de seres humanos – judeus e egípcios. Os eventos públicos, testemunhados por milhões de pessoas, constituem a História. Quando um indivíduo relata um acontecimento particular extraordinário, especialmente quando afirma ter presenciado um milagre ou recebido alguma revelação Divina, torna-se uma questão de fé acreditar ou não em tal relato. Mas, quando os milagres envolvem e são testemunhados por milhões de pessoas, é muito difícil negar sua veracidade.
Quando um evento altamente significativo ocorre na história de uma nação, seja ele feliz, triste, glorioso ou trágico, cabe aos seus membros relatá-lo às futuras gerações. Isso vale para qualquer evento de grande importância histórica. Por exemplo, é nossa obrigação transmitir o Holocausto a nossos filhos, e eles, por sua vez, devem narrá-lo a seus filhos, para que nunca seja esquecido. O mesmo se aplica ao Êxodo do Egito e à subsequente Revelação Divina no Monte Sinai: temos a obrigação de relatar esses acontecimentos para que o Povo Judeu nunca se esqueça de que o Judaísmo não se baseia, apenas, em fé, conjecturas teológicas ou alegações de algum indivíduo, mas sim, em eventos históricos vivenciados por milhões de pessoas.
Mas por que a necessidade de mencionar o Êxodo do Egito todos os dias de nossa vida? Não seria suficiente mencioná-lo em Pessach ou em determinadas ocasiões, ao longo do ano? De fato, não falamos sobre os outros grandes eventos da história judaica todos os dias. Por que, então, há um mandamento da Torá que nos obriga a lembrar do Êxodo do Egito todos os dias?
São vários os motivos. Por exemplo, sabemos que a Torá tem muitas camadas de significados. Quando nos fala do Êxodo do Egito, não se refere apenas a eventos que ocorreram há mais de três mil anos com nossos ancestrais. A Torá também está falando diretamente a cada um de nós, hoje. Nossos Sábios ensinam que a palavra hebraica Mitzraim, Egito, é derivada da palavra Metzarim, que significa “limites”, “apertos” ou “restrições”. Mitzraim refere-se não só a um país do continente africano, mas a um estado de espírito.
A Torá nos ordena lembrar e mencionar o Êxodo todos os dias – mandamento que é cumprido ao se recitar o versículo, “Eu sou o Eterno, vosso D’us, que vos tirei da Terra do Egito para ser vosso D’us” – para nos ensinar que quando depositamos nossa confiança em D’us, quando escolhemos a fé sobre a desesperança, o otimismo sobre o pessimismo, a tranquilidade sobre a ansiedade, a alegria sobre a angústia e a coragem sobre o medo, libertamo-nos de nosso Egito pessoal, interior. Portanto, não é de surpreender que devamos mencionar o Êxodo todos os dias, pois a maioria dos seres humanos luta, diariamente, contra pensamentos e sentimentos negativos. De fato, para algumas pessoas, seria aconselhável lembrar o Êxodo do Egito a cada hora do dia.
A vida é repleta de bênçãos, oportunidades e momentos de alegria, mas todos enfrentamos desafios e dificuldades. O mandamento de lembrar o Êxodo do Egito nos ensina que, com a ajuda de D’us, podemos libertar-nos de sentimentos negativos, que nos causam dor e ansiedade, para podermos viver uma vida mais livre e feliz, com otimismo e tranquilidade e repleta de luz e energia positiva.
Pessach Casher ve-Sameach!
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