Há anos o vírus do antissemitismo vem-se proliferando na Europa e nos últimos meses tem-se manifestado nos Estados Unidos. As lideranças judaicas americanas, que, até então, haviam-se concentrado em combater o antissemitismo na Europa e os movimentos contra Israel nas universidades e nas Nações Unidas, foram surpreendidas pela onda antissemita que tomou conta do país.

Na Europa, um em cada cinco judeus já  foi vítima de violência verbal e/ou física.  O Presidente do Congresso Judaico Europeu, Dr. Viacheslav Kantor, afirmou em entrevista que “as comunidades judaicas na Europa são alvo da extrema direita, da extrema esquerda, assim como de grupos radicais islâmicos”. O resultado de um persistente clima de ódio contra os judeus é o encolhimento da população judaica da Europa. Em 1991, dois milhões de judeus viviam na Europa; em 2010 eram um milhão e 400 mil judeus e hoje mal chegam a um milhão.

Em setembro do ano passado, representantes de comunidades judaicas reuniram-se no Parlamento Europeu para debater o antissemitismo e o futuro dos judeus na Europa. Francis Kalifat, presidente do Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França disse: “Os judeus são confrontados com insultos, discriminação e assédio, chegando às vezes à violência física ou ao assassinato, como em Paris, Bruxelas ou Amsterdã”. O discurso mais enfático sobre o antissemitismo na Europa foi do Rabino Lorde Jonathan Sacks, que reproduzimos nesta edição.

Desde o ano passado, uma onda de antissemitismo se alastra pelos Estados Unidos. O Centro Simon Wiesenthal publica anualmente a lista dos 10 incidentes antissemitas mais graves e, na do ano de 2016, o mais grave envolveu o governo americano do então presidente Barack Obama e a ONU. Uma resolução do Conselho de Segurança condenou Israel pela construção de assentamentos e identificou como “território palestino ocupado” os locais mais sagrados do judaísmo, incluindo o Monte do Templo e o Muro das Lamentações, em Jerusalém. O ataque contra Israel foi facilitado, ou como afirma Israel, engendrado pela Casa Branca. Pois, os Estados Unidos permitiram que a Resolução fosse aprovada mediante abstenção na votação, revertendo uma política de décadas de vetos a tentativas diplomáticas contra o Estado Judeu. O objetivo da Resolução é apagar o vínculo histórico entre o Povo Judeu e os lugares sagrados do judaísmo.

Como se não bastasse, desde o ano passado os judeus americanos viram aumentar os abusos verbais e os crimes de ódio. No início deste ano, a situação se tornou ainda mais grave. Até o fechamento desta edição, mais de 150 centros comunitários judaicos, colégios, escritórios da ADL nos Estados Unidos e seis centros judaicos canadenses tinham recebido ligações ou e-mails com ameaças de bomba. Até agora, felizmente, todas falsas. Os cemitérios judaicos na Filadélfia e em Saint Louis foram vandalizados, túmulos profanados. Uma arma de fogo foi disparada contra a Sinagoga de Evansville. Multiplicou-se o número de pichações antissemitas contendo símbolos nazistas, ou, como no metrô de Nova York, que diziam que “os judeus deveriam estar nos fornos”.

O novo antissemitismo

O que é antissemitismo? Segundo o Rabino Jonathan Sacks, é a negação aos judeus do direito de existir coletivamente como judeus com os mesmos direitos que os demais cidadãos. Não vamos nos deter nesta matéria nas manifestações históricas do antissemitismo, por todos conhecidas. Mais urgente é tratar do antissemitismo de hoje, o “novo antissemitismo” como é chamado, que se baseia principalmente na oposição à existência do Estado de Israel. Se antes os judeus eram os responsáveis por todos os males, hoje o culpado é Israel.

Diferentemente do feroz antissemitismo do período antes e durante a 2a Guerra Mundial, e do antissemitismo na ex-URSS e nos países do antigo bloco soviético, sua atual vertente se manifesta sobretudo na sociedade – não é uma política de estado. Apenas no mundo muçulmano os governantes têm feito pronunciamentos públicos antissemitas, mas neste artigo não vamos analisar o antissemitismo nos países muçulmanos, pois este tem vida própria e características diferentes.

As principais “ferramentas” do novo antissemitismo são as campanhas de deslegitimação e demonização do Estado Judeu. A negação do Holocausto e a associação de Israel aos símbolos nazistas são os temas favoritos dos atuais antissemitas.

O chamado negacionismo histórico, que se iniciou na Europa, acabou sendo incorporado como estratégia política, inclusive pelo radicalismo islâmico. Proliferam também analogias entre Israel e os nazistas, apesar de contradizer o discurso “negacionista”, baseadas na associação do Estado judeu com o nazismo, o “mal absoluto”. Essas analogias são expressas verbalmente ou através de caricaturas, grafites, faixas e cartazes apresentados em manifestações. Há vários motivos por trás da utilização dos símbolos nazistas para caracterizar Israel, entre eles, deslegitimar o país soberano associando-o ao “mal absoluto”; humilhar o Povo Judeu, igualando-o moralmente a seus algozes; demonizar Israel imputando-lhe “qualidades” do “mal absoluto” e, assim, legitimar qualquer tipo de incitamento violento contra Israel e os judeus, de modo geral.

Críticas e posicionamentos contra Israel têm crescido nos últimos anos. Toda crítica contra Israel é antissemita? Não, mas de modo geral as críticas a Israel apresentam características antissemitas. Entre outros, utilizam-se, em muitos casos, de imagens ou acusações típicas do antissemitismo clássico, como, por exemplo, acusações de conspiração ou de controle da mídia e do sistema financeiro. E, é inegável que a maioria dos antissemitas autodeclarados usam uma retórica anti-Israel, escondendo-se atrás dela. Hoje, criticar ou acusar Israel é socialmente aceitável, mas odiar judeus, ainda não o é.

Um exemplo típico de uso da narrativa antissemita apresentada como crítica ao Estado de Israel pode ser visto nas palavras de Mahmoud Abbas, que, durante um discurso perante o Parlamento Europeu, em Bruxelas, em junho do ano passado, declarou que  “Os rabinos em Israel exigiram que o Governo israelense envenenasse as fontes de água para matar os palestinos e forçá-los a emigrar”. Este argumento é uma reconstrução da principal armação antissemita contra as comunidades judaicas na Europa, em 1349, durante o surto da Peste Negra. A infame acusaçao de Abbas está na 6ª posição na lista do Centro Simon Wiesenthal dos incidentes antissemitas mais graves de 2016.

Ademais, mesmo quando o ativismo anti-israelense não é, supostamente, motivado por antissemitismo, cria um ambiente que faz com que o ódio ao judeu seja mais aceitável.  Em 2002, Lawrence H. Summers, então presidente da Universidade de Harvard, disse em relação a uma campanha contra Israel que ia ser realizada na universidade, que tal atitude era “antissemita em seu efeito, mesmo se não fosse em sua intenção”. 

O crescimento da oposição a Israel é, em grande parte, fruto do trabalho do BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções, em inglês “Calls for Boycott, Divestment and Sanctions against Israel”). Uma verdadeira guerra política está sendo travada.  As pretensões do BDS são boicotar Israel na arena acadêmica, cultural e econômica e atuar na arena internacional para que, entre outros, Israel sofra sanções por parte de organismos internacionais, se torne um pária internacional e tenha sua economia arruinada. Os mais radicais almejam o desmantelamento de Israel.

BDS não é uma organização estruturada. É formado por dezenas de organizações não-governamentais (ONGs) e ativistas radicais e suas campanhas são organizadas e coordenadas pelo Comitê Nacional Palestino do BDS. Em termos práticos, as campanhas do BDS têm pouco sucesso. As iniciativas  de boicote acadêmico empreendidas em todo o mundo ganharam o  apoio de várias associações acadêmicas, mas praticamente nenhum sucesso institucional, e o dano econômico causado a Israel tem sido insignificante, até agora. A eficácia do BDS está em sua capacidade de se infiltrar no discurso político e público internacional e de borrar as linhas entre críticas legítimas em relação a Israel e as que implicam em sua deslegitimação.  A atuação do BDS está em 4º lugar na lista do Centro Simon Wiesenthal.

Israel – a única verdadeira democracia no Oriente Médio – com uma imprensa livre e um judiciário independente, tem sido sistematicamente acusado de cometer atos contra os direitos humanos: racismo, crimes contra a humanidade, limpeza étnica. E, enquanto o país é acusado, ignora-se o comportamento flagrante de países onde nãohá liberdade e respeito pelos direitos humanos, e onde são verdadeiramente cometidos crimes contra a humanidade.

As ações do Estado Judeu são distorcidas por meio de insidiosas comparações com os nazistas e com o regime apartheid da África do Sul. A deslegitimação de Israel é o principal objetivo. E quando é negado a Israel o direito de existir – caso único entre todas as nações do mundo - então isso claramente é antissemitismo.

União Europeia

As comunidades judaicas da Europa estão sendo alvo tanto da extrema direita como da extrema esquerda e, principalmente, do islamismo radical. Em muitos países da UE, os judeus sofrem abusos verbais e físicos, ataques nos quais muitos deles foram feridos e mortos, com suas sinagogas, escolas e propriedades atacadas, tanto particulares quanto comunitárias, seus cemitérios vandalizados, muros pichados. E, mais uma vez é socialmente aceitável fazer publicamente comentários antissemitas, xenófobos e intolerantes, tudo isso sob o manto do patriotismo nacional.

Os incidentes antissemitas se multiplicaram em praticamente todos os países da Europa: na Rússia e em países da antiga União Soviética, na Holanda, na Grã-Bretanha, na Dinamarca e na Bélgica. Na França, além de sofrer abusos verbais e físicos, a comunidade judaica foi alvo de vários atentados que resultaram na morte de muitos judeus.

Ao falar da situação dos judeus alemães, Dieter Graumann, presidente do Conselho Central Judaico da Alemanha, disse ao jornal The Guardian. “Estes são os piores tempos desde a era nazista. Nas ruas, você ouve coisas do tipo ‘Os judeus devem ser envenenados com gás’, ‘os judeus devem ser queimados’– não tínhamos nada assim na Alemanha há muitas décadas... E não se trata apenas de um fenômeno alemão. É um irromper muito intenso de ódio contra os judeus em toda a Europa”.

É verdadeiramente perturbador que após a era nazista e o Holocausto os partidos de extrema direita, alguns abertamente racistas, estejam ganhando popularidade nos países do continente. Na França, por exemplo, pesquisas eleitorais dão como certa a presença de Marine Le Pen, candidata da Frente Nacional, partido xenofóbico e antissemita, no 2o turno das eleições presidenciais de maio de 2017. É ainda mais perturbador o fato do nazismo e Hitler terem voltado a ser uma referência. Hoje os partidos neonazistas não são mais marginalizados. Na Grécia e na Ucrânia, por exemplo, têm representação parlamentar e na Ucrânia estão no comando de ministérios...

Enquanto a extrema direita assume posições abertamente racistas, a extrema esquerda europeia assumiu uma posição antissionista, anti-Israel, e entoa o lema “não temos nada contra os judeus, somente contra Israel”. 

O BDS tem conseguido vitórias na Europa, enquanto governos de várias nações europeias têm enviado dezenas de milhões de euros para ONGs que apoiam várias formas de BDS. Na Grã-Bretanha, acadêmicos e organizações acadêmicas fizeram várias campanhas em prol de um boicote de Israel. Apesar das universidades, como instituições, não terem aderido ao boicote, mais de 300 acadêmicos britânicos anunciaram que irão “boicotar Israel e as suas instituições educacionais” até o Estado Judeu estar em conformidade com “o Direito Internacional”. Nas universidades britânicas, a oposição a Israel e o antissemitismo são tão flagrantes – 40% dos alunos britânicos apoiam o BDS, ao ponto de os alunos judeus sentirem-se ameaçados e inseguros. Ainda na Inglaterra, sob a liderança de Jeremy Corbyn, o Partido Trabalhista tem tomado sérias posições anti-Israel. A atuação anti-israelense e antissemita de Corby e de outros membros do partido trabalhista estão no 2º lugar na lista do  na lista do Centro Simon Wiesenthal dos incidentes antissemitas mais graves de 2016.

Em vários países o crescimento da oposição a Israel fez com que seus governos decidissem tomar atitudes para coibí-la. Na Inglaterra, por exemplo, o Ministro da Gabinete, Matthew Hancock, anunciou uma medida para bloquear os conselhos municipais militantes anti-Israel de lançar atividades do tipo BDS. Mas, a reação alemã foi a mais contundente. O partido da Chanceler Angela Merkel, União Democrática Cristã, aprovou uma resolução em oposição ao BDS em virtude de suas ações anti-Israel. Este partido comparou o BDS aos nazistas que boicotaram os judeus na década de 1930. “Quem, hoje, sob a bandeira do movimento BDS, clama pelo boicote aos produtos e serviços israelenses, fala a mesma língua daqueles que pediam que as pessoas não comprassem dos judeus. Isto nada mais é do que puro antissemitismo. O BDS reveste o antissemitismo “com as novas roupagens do século 21” – o antissionismo. E não surpreende que o movimento BDS seja apresentado em websites neonazistas, de negação do Holocausto e outros abertamente antissemitas e seja promovido por alguns dos mais notórios racistas do mundo, como David Duke, da KKK”.

Como vimos acima, no dia 27 de setembro representantes das comunidades judaicas da Europa reuniram-se no Parlamento Europeu para debater sobre o futuro dos judeus na Europa. Em seus discursos os participantes judeus frisaram que o antissionismo era a nova face do antissemitismo. 

Em suas observações finais, o Presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, disse: “Quando vemos que um judeu em cada cinco, na Europa, já vivenciou violência verbal ou física, quando essas agressões estão cada vez mais numerosas, e quando vemos que a população judaica na Europa diminuiu de quase quatro milhões, em 1945, para pouco mais de um milhão, hoje, nós então sabemos  que está mais do que na hora não só de fazer uma declaração política clara, mas de tomar medidas efetivas o mais rápido possível”, disse Antonio Tajani.

Os Estados Unidos

Estima-se que mais de 4 milhões de judeus vivam, hoje, nos Estados Unidos. É a maior comunidade  judaica da Diáspora. Jonathan Sarna, professor da Universidade  Brandeis e historiador especializado na história do judaísmo americano melhor explicou o clima de preocupação e ansiedade que  tomou conta dos judeus americanos: “Eles deduziram que nos Estados Unidos o antissemitismo, em grande parte, havia sido superado e,  de repente, inesperadamente,  um tipo virulento de antissemitismo volta, tonitruante”. Durante  uma convenção nacional da ADL, Liga Antidifamação, os presentes manifestaram-se extremamente chocados não apenas com o ódio expresso contra os judeus como também com o alto nível de aceitação pelo restante da população.

Na realidade, como aponta o Prof. Sarna, o antissemitismo nunca desapareceu nos Estados Unidos. De acordo com uma pesquisa de 2015 da mesma ADL, 24 milhões de americanos adultos são antissemitas, e se incluirmos os  antissionistas e anti-israelenses, esse número aumenta. Nos anos 2014 e 2015, o FBI registrou mais de 1.270 crimes de ódio dirigidos a judeus, sendo que os dados de 2016 ainda não foram divulgados. A tendência pode ser observada nas seguintes estatísticas: em Nova York, entre 1 de janeiro a 12 de fevereiro de 2017, os crimes antissemitas reportados pela polícia (NYPD Hate Crime Task Force), constituem mais do que o dobro do número reportado no mesmo período do ano passado.

O antissemitismo atual provém tanto da extrema direita, principalmente do “Alt-Right” (abreviatura de “Alternative Right”, direita alternativa), como da esquerda anti-Israel e pró-palestina que atua principalmente nas universidades americanas. Fontes do Centro Simon Wiesenthal declararam que “O judaísmo americano está sendo alvo de extremistas em nossas universidades, onde campanhas incessantes anti-Israel criaram um clima de intimidação, e em Nova York, berço da maior comunidade judaica do mundo, que reporta um súbito aumento nos incidentes antissemitas, e na mídia social, onde estão sendo postadas, sem parar, palavras de ódio visando demonizar os judeus”.

Segundo a ADL, a onda antissemita começou no ano passado durante a campanha eleitoral do atual Presidente Donald Trump cuja retórica incendiária e xenofóbica promoveu a extrema direita e suas ideias. Durante a campanha, proliferaram na Internet e na mídia social linguajar e imagens antissemitas, voltando a circular as “clássicas” teorias de uma suposta conspiração judaica e do domínio judaico sobre a mídia. Mais de 800 jornalistas judeus sofreram algum tipo de assédio. Jane Eisner, editora-chefe do Foward, influente jornal judaico, relatou que recebeu um e-mail com uma imagem de um nazista apontando uma arma para sua cabeça. Na imagem, ela trajava o uniforme do campo de concentração. Ainda de acordo com a ADL, entre agosto de 2015 e julho de 2016, foram identificados 2,6 milhões de tweets “contendo linguagem encontrada no discurso antissemita”. Além de intimidações on-line, a polícia recebeu denúncias de vandalismo antissemita.

Parte do discurso antissemita originou-se da força que o grupo Alt-Right conquistou neste último ano nos Estados Unidos. Membros do grupo atuaram na campanha eleitoral de Trump, e Steve Bannon, estrategista eleitoral da campanha e hoje assistente do presidente e estrategista-chefe da Casa Branca, é considerado um dos porta-vozes do movimento. Até o Presidente Trump o convidar para seu estrategista-chefe, Bannon não era uma figura conhecida, e muitos não sabiam de suas estreitas ligações com o “nacionalismo branco”. Tampouco sabiam que ele era o CEO do site Breitbart – que ele próprio definiu como a “plataforma do Alt-Right”. De acordo com uma declaração publicada no Breitbart, o objetivo do grupo é “tornar a América um país para os brancos”. O site ganhou importância na campanha presidencial ao apoiar ferozmente o então candidato Donald Trump.

O Alt-Right é um fenômeno relativamente recente. É altamente descentralizado em termos de opiniões e, por ser um fenômeno da Internet, é difícil saber quantas pessoas estão envolvidas. E, diferentemente de antigos grupos de extrema-direita, como a Ku Klux Klan (KKK) e os neonazistas, compostos principalmente por pessoas de classe baixa, os membros da “direita alternativa” são, em sua maioria, homens brancos de classe média, com ensino superior. O discurso do Alt-Right é antissemita, sendo muitos deles negacionistas do Holocausto.

Simpatizantes dos grupos de extrema direita exultaram quando Trump nomeou Bannon para influentes cargos na Casa Branca e também como membro permanente do Conselho de Segurança Nacional. David Duke, ex-líder da Ku Klux Klan elogiou a escolha e disse que o assessor cuidará do aspecto mais importante do governo: a ideologia. Já os críticos de diferentes espectros ideológicos, inclusive da direita, dizem que a nomeação deixará o governo americano sob a influência de um movimento racista, antissemita e que acredita na superioridade dos brancos.

Para Carole Nuriel, diretora  da ADL, “os antissemitas na  direita americana nunca desapareceram, só eram marginalizados. Os supremacistas brancos, simpatizantes da KKK (Ku Klux Klan) e neonazistas sempre existiram, o que mudou foi o impacto do nível do discurso que surgiu durante a campanha presidencial... Esse é um caso clássico de abrir as comportas do antissemitismo, não apontando para os judeus, mas legitimando e não lutando contra o discurso de ódio de todo tipo. Isto cria um clima no qual aqueles que odeiam ganham coragem e se sentem poderosos”.

O Presidente Donald Trump e a comunidade judaica americana

Enquanto as relações do governo Trump com Israel estão indo de vento em popa e o governo de Netanyahusai em sua defesa, as relações com a comunidade americana azedam a olhos vistos.

Zalman Shoval, ex-Embaixador de Israel nos EUA, declarou recentemente que Israel deve distinguir entre as relações com os EUA e a firmeza na defesa dos judeus; 40% de seu total no mundo vivem nesse país. Ele afirmou que “Diante de incidentes diários, a Casa Branca não deve limitar-se a fazer declarações e bons gestos, mas deve mobilizar toda a força da lei e da polícia contra grupos que realizam atos antissemitas ou racistas em geral”.

Um dos incidentes que chocou os judeus americanos, assim como do mundo todo, foi o fato de que no costumeiro comunicado que o presidente dos Estados Unidos faz no dia 27 de janeiro, Dia Internacional do Holocausto, Trump não ter feito nenhuma referência aos judeus nem ao antissemitismo. Ficaram ainda mais chocados quando autoridades do Governo disseram que o Presidente intencionalmente não mencionara os judeus. A Casa Branca apoiou a declaração, defendendo que havia sido uma mensagem “inclusiva” que não pretendia marginalizar vítimas judias do Holocausto.

Teria sido um deslize? O site Politicorevelou que enquanto a Casa Branca alegava que não vira o rascunho da declaração preparada pelo Departamento de Estado até depois da Casa Branca ter emitido sua própria declaração, que deixara de fora qualquer menção às vítimas judias, o Departamento de Estado afirma ter entregue à Casa Branca um release que continha, como em anos anteriores no mandato de outros presidentes, menção aos seis milhões de judeus exterminados pelos nazistas.

Trump tem enviado mensagens confusas ao país sobre o tópico dos ataques antissemitas. Em mais de uma ocasião, Trump se esquivou de uma pergunta sobre os recentes acontecimentos antissemitas. Durante semanas, nem uma palavra foi dita pelo Presidente americano sobre os alertas de bombas nos centros comunitários judaicos e sobre a profanação dos cemitérios judaicos, nem sobre as crianças judias que vão à escola temendo por sua vida. Nem a mais ínfima declaração de como o governo vai lidar com os bilhões de tweets e retweets que, segundo a ADL, desde a eleição espalharam piadas amargas sobre câmaras de gás, conclamando pela reabertura “dos fornos” para os judeus de Nova York e de Los Angeles, e lançaram as mais doentias teorias da conspiração.

E, apesar de que em seu primeiro discurso presidencial ao Congresso Trump ter condenado o antissemitismo e o racismo como uma forma de ódio e maldade, horas antes ele havia sugerido que os ataques poderiam ser obra de seus oponentes ou, quem sabe, dos próprios judeus...

Universidades americanas

O crescimento do antissemitismo e sentimento anti-Israel nas universidades do país tem sido uma fonte de extrema preocupação para os judeus americanos. Apesar do ativismo anti-judaico nas universidades se concentrar mais em denegrir Israel do que o Povo Judeu como tal, realizam-se flagrantemente atividades antissemitas regulares.

Em 2015, um estudo detectou que uma porção substancial de universitários judeus relataram haver sido expostos a antissemitismo e hostilidade contra Israel em seus campi. Na maioria dos casos, os administradores das universidades ignoram as ocorrências. Fecham os olhos às conferências organizadas por alunos, às demonstrações e aos protestos que utilizam temas antissemitas, mesmo quando  alguns desses eventos chegaram à violência.

Em alguns campi, universitários judeus estão preocupados com sua segurança física. Ao minimizar tais ofensas, os administradores estão silenciosamente perdoando a violência dirigida aos judeus. A direção e a administração das universidades parecem avessas a por um fim até mesmo aos mais ofensivos e virulentos desses eventos, oferecendo desculpas esfarrapadas.

Até recentemente, ações de supremacistas brancos haviam sido relativamente raras nas universidades. Mas, este ano, eles estão engajados em um empenho sem precedentes para atrair e recrutar alunos nos campi das faculdades americanas. Valem-se de uma variedade de táticas que incluem volantes antissemitas, anti-muçulmanos e racistas, bem como visitas e palestras nas universidades de ativistas racistas.

Paul Goldenberg, diretor da Rede Comunitária Segura1 revelou pela primeira vez que sua organização havia indicado um funcionário em tempo integral para visitar todas as universidades americanas de modo a garantir a segurança dos alunos judeus. “Estamos trabalhando com três organizações – Hillel, Chabad e AEPI, a maior fraternidade judaica do mundo. Estamos trabalhando bem de perto com as três instituições visando a segurança nos campi, porque os alunos judeus têm que se sentir seguros na universidade”.

BIBLIOGRAFIA
http://www.antisemitism.org.il - The Coordination Forum for Countering Antisemitism
https://www.adl.org- Anti-Defamation League
http://www.wiesenthal.com -The Simon Wiesenthal Center
Rusi Jaspal , Antisemitism and Anti-Zionism: Representation, Cognition and Everyday Talk (Studies in Migration and Diaspora)
Pollack , Eunice G. , Anti-Semitism on the Campus: Past and Present (Antisemitism in America) (English Edition) eBook Kindle

1 Secure Community Network (Rede Comunitária Segura) – fundada em 2004, é a primeira ONG exclusivamente dedicada a iniciativas de segurança nacional em prol da comunidade judaica dos EUA.