Profundamente conhecido e respeitado nos círculos médicos de todo o Brasil, mantém uma profunda ligação com o Hospital, que considera o seu segundo lar.
A trajetória do dr. José Pinus começou na década de 1920, quando seus pais e um irmão, então com oito anos, emigraram da cidade de Hotin, na Bessarábia, (hoje Moldávia) para o Brasil, aportando no Rio de Janeiro (subúrbio de Cascadura), onde nasceu em 3 de maio de 1927. Eles partiram da Europa em virtude das dificuldades e principalmente devido às perseguições raciais, os pogroms. Seus pais emigraram sem conhecer o idioma, sem amigos e sem recursos. Buscavam um lugar onde pudessem viver tranqüilamente e com dignidade e, quem sabe, realizar o sonho de um dia ter um filho doutor. O seu sonho e a imagem que idealizaram concretizou-se, superando enormes percalços para atingir as cobiçadas metas. Mas, a quantos sacrifícios...
A exemplo de centenas de outros imigrantes, seus pais tinham uma rica e profunda cultura talmúdica, o que garantiu a continuidade dos valores e a criação de um ambiente judaico na rotina do dia-a-dia, marcada por longas horas de trabalho. Após uma breve permanência no Rio de Janeiro, a família trocou o subúrbio carioca por São Paulo (Bairro do Bexiga) e o pai, fotógrafo por profissão, passou a ser mascate e depois alfaiate. "Meus pais tinham uma maneira simples, porém sábia de viver a vida em um clima impregnado de bondade e de amor. Sua conduta foi sempre pautada pelos princípios judaicos", diz o dr. Pinus.
As lembranças de sua infância estão cheias de ensinamentos judaicos e, ainda que tendo uma formação universitária predominantemente morfológica, em que as pesquisas cientificas do desenvolvimento do ser humano evidenciam que em sua ontogênese há uma reprodução da filogênese, acredita em D'us com a convicção de que os caminhos e os avanços da medicina têm uma determinação Divina. Uma das memórias nítidas de sua infância está relacionada com o período em que se preparava para o Bar mitzvá: sentado na sala, estudando com o professor e entoando as preces. "De repente, quando eu errava, antes mesmo que ele me corrigisse, minha mãe, da cozinha, rezava de maneira correta, chamando a minha atenção".
Como outros filhos de imigrantes, também o jovem Pinus estudou em escola pública, no bairro do Bexiga. Apesar de ter ganho uma bolsa do Colégio Dante Alighieri, foi cursar o ginásio Oswaldo Cruz e o científico, no Colégio Pan Americano. Em 1944, entrou para a Escola Paulista de Medicina, formando-se em 1949. Desde 1945 passou a ser monitor de Anatomia e durante o curso médico escreveu 9 trabalhos, um dos quais mereceu o 1º Prêmio do Congresso dos Estudantes.
A partir de 1950 foi Assistente da Cadeira de Anatomia Descritiva e desde 1953 passou a colaborar como Cirurgião Pediatra e ministrar aulas na cadeira de Pediatria, iniciando assim suas atividades em Cirurgia Pediátrica no Hospital São Paulo.
Desde então, vem construindo uma carreira de sucesso. Procurando aperfeiçoar-se na especia-lidade, freqüentou 32 cursos no país e no exterior, realizando mais de 300 palestras, em 26 países, e tendo publicado mais de 200 trabalhos e um livro sobre "Temas de Cirurgia Pediátrica". Na carreira universitária, fez tese de Doutoramento, Livre Docência e Professor Titular (título que mais o orgulha), sempre com louvor. Paraninfo, patrono, quatro prêmios nacionais dos mais importantes na especialidade e homenagens de várias turmas da Escola Paulista de Medicina integram seu extenso currículo universitário.
Atividades no HIAE
Sua ligação com o Hospital iniciou-se em julho de 1955, quando o dr. Manoel T. Hidal reuniu um grupo de 40 médicos judeus, em sua maioria jovens, para falar de um sonho - a construção de um hospital da comunidade.
Desde então, tem participado de cada passo para a concretização desse projeto, incluindo a cerimônia da pedra fundamental até sua inauguração, e a participação em suas primeiras Diretorias e Conselho Deliberativo.
É com alegria que comenta ter realizado a primeira Cirurgia do Hospital (uma circuncisão), em 25 de maio de 1971, bem como o Cartão de Prata que recebeu, em fevereiro de 1973, das mãos do dr. Fehér, então Presidente da entidade, juntamente com outros médicos, pelo seu Doutorado e como reconhecimento e estímulo ao trabalho desenvolvido junto ao HIAE. Desde 1971, é cirurgião voluntário, responsável com sua equipe pela Cirurgia de Pediatria Assistencial - Paraisópolis.
Centro de Estudos
Participou, desde o início das atividades, do Centro de Estudos que depois evoluiu para Instituto de Ensino e Pesquisa. Desde 1996 integra o Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto, do qual foi presidente desde seu início até 2003.
O Comitê de Ética em Pesquisa constitui-se de um colegiado interdisciplinar e transdisciplinar independente, de caráter consultivo, deliberativo e educativo. Foi criado para defender os interesses do sujeito da pesquisa, em sua integridade e dignidade, e para contribuir no desenvolvimento da Pesquisa dentro de padrões éticos, sempre em benefício do ser humano. Uma das preocupações do Comitê é que a forma de obtenção dos conhecimentos não se transforme em constrangimentos, seqüelas ou abusos na argumentação usada.
Historicamente, as Comissões de Ética em Pesquisa nasceram como resposta às implicações morais das tecnociências biomédicas, depois da Segunda Guerra Mundial, quando se tornou público que, em nome do progresso do conhecimento, haviam-se cometido crimes hediondos e atrocidades contra a humanidade nos mais elementares direitos dos cidadãos. Segundo dr. Pinus, em 1947 foi estabelecido o Código de Nuremberg, resultado do julgamento dos crimes cometidos pelos médicos nazistas com os presos nos campos de concentração. Este código foi confirmado como o dos Direitos do Homem, em 1960.
O desempenho do Comitê é de grande responsabilidade e disto depende o desenvolvimento e a credibilidade das pesquisas realizadas no Instituto de Ensino e Pesquisa. Somente em 2002, foram avaliados 67 projetos de pesquisa, alguns com o apoio de órgãos nacionais de fomento, como a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
O Dr. Pinus participa também de uma comissão de médicos identificados com o hospital, apoiados por uma historiadora, com o objetivo de reunir, organizar e conservar o enorme acervo formado ao longo de quase cinco décadas e assim resgatar e preservar o Memorial do HIAE.
Conselho Consultivo do HIAE
É o atual Presidente do Conselho Consultivo, desde abril de 2000, sucedendo o dr. Jose Fehér e Max Ebehardt, Z'L. O Conselho é um órgão de assessoramento e consulta por tempo indeterminado, constituído por membros de notória representação e idoneidade, com efetiva participação institucional.
Quando perguntado sobre os fatos que determinaram os rumos de sua vida profissional, costuma repetir uma frase de Ortega Y Gasset: "Eu sou eu e minhas circunstâncias, e se a cada pedra que as circunstâncias antepuseram à minha caminhada pude aproveitar para construir o edifício de minha existência, superando anseios, lutas, vitórias e também alguns revéses, devo-o à confiança inabalável e ao amor de meus pais e de minha família - a esposa Raquel, pelo seu companheirismo, paciência e compreensão, há mais de 50 anos, pelas minhas forçosas ausências. Isto só foi possível de ser tolerado graças ao seu mundo interior muito rico de interesses pela cultura geral e artes, com dedicação maior à pintura. E os filhos: Jaques, rara felicidade em ter-se um filho que segue a mesma profissão, mesma especialidade e a carreira universitária, com o especial mérito de ser autêntico e independente. E Sílvia, tendo o bom-senso de não seguir Medicina, desenvolveu seus dons naturais. Eles foram os meus alicerces - sem minha família, teriam ocorrido vacilações".
"Mas é preciso dizer também que, se alguma coisa de bom e melhor fazemos, é porque nos apoiamos nos ombros daqueles que nos precederam, especialmente nossos mestres, e se fosse preciso sintetizar e concentrar todas as alegrias pela conquista, ao longo de muitos anos, em uma frase, diria que a minha vida tem sido uma incrível mistura de trabalho árduo e relacionamentos especiais com pessoas que me influenciaram, e muito boa sorte. Eu sempre senti a presença de D'us em todas as circunstâncias".
Em 2001, recebeu o título de Médico do Ano outorgado pelo Capítulo Brasileiro da Associação Médica de Israel, mais um que se soma a tantos outros obtidos como reconhecimento pela sua atuação profissional. A cerimônia de premiação aconteceu no HIAE que, nas próprias palavras do dr. Pinus, "constitui-se no meu segundo lar", refletindo, assim, a sua profunda ligação com a entidade.
Morashá: Por que optou pela Cirurgia Pediátrica como especialidade?
José Pinus: A Cirurgia Pediátrica ocorreu em minha vida circunstancialmente. Primeiro no Hospital Matarazzo, em 1947, e depois no Hospital São Paulo da Escola Paulista de Medicina, em 1953, por ter vislumbrado um novo campo pioneiro de atuação dentre as perspectivas da época. É uma especialidade relativamente nova, se comparada com outras especialidades cirúrgicas, mas é bem definida, reconhecida e consagrada em todo o meio médico-científico, principalmente em função dos resultados que vêm sendo obtidos.
Nos últimos 50 anos, de que sou partí-cipe, a cirurgia pediátrica passou por um enorme processo de desenvolvimento. Muitas mal-formações até então incompatíveis com a vida apresentam atualmente sobrevida em torno de 90% e mesmo próximo de 100%, quando não estão associadas a outros problemas graves. A cirurgia pediátrica é projetada para o futuro, para toda uma vida, a mais normal possível e integrada ao convívio humano, porque nós não estamos atuando para obter uma cura de cinco anos, mas para uma sobrevida de mais de 70 anos. E a qualidade de vida é tão importante quanto a sobrevida... E a recompensa maior para quem atua nesta área é a satisfação íntima e o reconhecimento expresso pelo sorriso de gratidão das crianças e seus familiares.
Morashá: O que teria a acrescentar sobre o HIAE?
José Pinus: Quanto ao Hospital Albert Einstein, sonho concretizado (e ainda vivenciado por muitos de seus idealizadores e pioneiros) que supera todas as expectativas mais otimistas. O Hospital ocupa com destaque a posição incon-teste de sua liderança na área médica, como centro de referência nacional e internacional de alta tecnologia, ensino e pesquisa e primorosa assistência com humanização, ao lado de importantes promoções sociais. Ressalta ainda o papel do Hospital em sua luta constante enquanto Instituição Médica, para enfrentar desafios e superar obstáculos, sempre em busca do aprimoramento; sua luta por ideais e sua atenção às mudanças sempre que necessário, pois mudança significa oportunidade de renovação e criatividade.
Neste ano, com a inauguração do Espaço de Saúde e das novas instalações do Instituto de Ensino e Pesquisa, estabeleceu-se uma nova era para a instituição, para o seu real desenvolvimento sempre na vanguarda nacional como centro gerador e difusor de conhecimentos. A atual Diretoria é relativamente jovem, mas madura e competente e, a nosso ver, plenamente capacitada para enfrentar e vencer todos os desafios.