A festa de Sucot, chamada pela Torá de 'época de nossa alegria', celebra os milagres que D-us realizou em prol dos filhos de Israel durante os 40 anos em que vagaram pelo deserto do Sinai.
Sucot tem início cinco dias após Yom Kipur, neste ano no dia 26 de setembro, após o pôr-do-sol, e dura sete dias. O sétimo dia de Sucot é chamado Hoshaná Rabá (a Grande Súplica).
Sucot é principalmente caracterizado pelo mandamento bíblico de habitar durante sete dias em uma cabana, uma moradia temporária, em hebraico, sucá. As cabanas, sucot, lembram-nos as Nuvens de Glória que rodearam nosso povo durante os anos em que vagaram no deserto, e as tendas que lhe serviram de habitação. São inúmeras as leis referentes à forma de se construir uma sucá, mas, basicamente, esta deve ser erguida a céu aberto, ter no mínimo três paredes, e o teto, chamado de schach, precisa ser feito de materiais que cresçam na terra, folhas ou galhos de plantas já cortadas.
O schach não pode ser totalmente fechado, mas deve ter brechas suficientes para permitir que se vejam as estrelas e para que, no interior da sucá, haja mais sombra do que luz do sol.
Durante a festa, nós, judeus, comemos, bebemos, estudamos e nos alegramos na sucá, sendo que muitos chegam a dormir em seu interior. Segundo o Zohar, a sucá gera uma concentração de energia espiritual tão intensa, que, durante os sete dias da festa, as almas dos "Sete pastores de Israel" - Abraham, Yitzhak, Yaacov, Moshê, Aaron, Yoseph e o rei David - deixam o Gan Éden para visitar as sucot.
Estes "convidados de honra" são conhecidos como Ushpitzin, em aramaico, "convidados". Outro mandamento da festa é o referente às Arbaat ha-Minim, as Quatro Espécies - o etrog (fruta cítrica), o lulav (palmas de tamareira), hadassim (ramos de mirta) e aravot (ramos de salgueiro). Durante toda a festa de Sucot, com exceção do Shabat, até e inclusive em Hoshaná Rabá, diariamente devemos cumprir, durante o dia, a mitzvá das Quatro Espécies. Nossos sábios afirmam que são reservadas bênçãos especiais para todos aqueles que unem os quatro tipos de espécies e fazem as orações sobre as mesmas. Com exceção do etrog, as três outras espécies - todas ramos de plantas- são atadas juntas por anéis feitos de fibra de palma trançada.
Segurando os ramos na mão direita e o etrog na mão esquerda, recita-se a berachá das Quatro Espécies e estas são, então, agitadas para as seis direções espaciais, a dizer, nas quatro direções do quadrante, para cima e para baixo. Com isto estamos reconhecendo que D'us se encontra em toda parte e que Seu reinado é eterno.
O sétimo e último dia de Sucot, Hoshaná Rabá, é considerado o último dia do Julgamento Divino, quando o que foi decretado em Yom Kipur é selado e o destino do novo ano, determinado. Os galhos do salgueiro são também chamados de Hoshaná e, no Talmud, a palavra é usada para descrever a junção das três espécies de ramos de planta. São, também, chamados Hoshanot os poemas litúrgicos, os piyutim, recitados diariamente durante a semana de Sucot. A cada dia, uma oração de Hoshaná é feita e os presentes dão uma volta, circundando a Tebá ou Bimá, mesa onde é lida a Torá, tendo nas mãos as Quatro Espécies.
Em Hoshaná Rabá, ou seja, no sétimo dia, além das Quatro Espécies usadas durante os dias de Sucot, juntam-se cinco ramos adicionais de salgueiro, as aravot ou Hoshanot. Esta é a razão pela qual, no Talmud, o sétimo dia de Sucot é chamado de "Dia do Salgueiro" ou "Dia de Hoshaná". Neste dia, tendo nas mãos as Quatro Espécies, recitam-se as sete Hoshanot, dando sete voltas ao redor da Bimá.
Terminadas as Hoshanot, é costume instituído pelos Profetas baterem-se estes ramos de salgueiro no chão, cinco vezes, para assim "amenizar as cinco medidas de severidade no Julgamento Divino".
Em várias comunidades da diáspora o dia é considerado uma espécie de Yom Kipur. Costuma-se permanecer acordado durante toda a noite, estudando a Torá e lendo os Salmos, Tehilim. Há também o costume de fazer novamente as caparot, acender velas como em Yom Kipur e os homens fazerem a imersão no mikvê. Há os que estudam Torá dentro da sucá, pois há uma tradição segundo a qual os Ushpitzin - que a visitaram durante Sucot - poderiam atuar como advogados de defesa perante a Corte Celestial.
Através dos milênios, onde quer que estejam, os judeus vêm celebrando Sucot e Hoshaná Rabá conforme determina a Torá. Nosso objetivo, neste artigo, não é discutir os pormenores de suas leis, nem seus desdobramentos. Pois enquanto as leis são Mandamentos Divinos, portanto, imutáveis, ao longo dos séculos, muitas vezes por influência do meio em que os judeus estavam inseridos nos diferentes países de seu exílio, novos costumes foram sendo incorporados. Assim, com o tempo, incontáveis foram os diferentes costumes adicionados à comemoração.
Polônia
Na Polônia era comum erguer sucot de madeira, de um tamanho tal que acomodasse todos os membros da família. Antes do início da festa, as crianças iam para os bosques com seus pais para cortar ramos de salgueiro para o schach. As paredes, em madeira, eram enfeitadas pelos membros da família com imagens da Terra de Israel, costumando-se colocar nas paredes representações ou descrições dos sete Ushpitzin. As sucot eram iluminadas por velas colocadas dentro do miolo das frutas e, no teto, eram pendurados pássaros feitos de casca de ovos pintadas e asas de papel, feitos pelas crianças.
À procura de um etrog perfeito, os chassidim costumavam examinar cada fruto com muito cuidado, às vezes usando uma lente especial, antes de adquiri-lo, pois qualquer mancha ou furo na casca torna o fruto impróprio para o uso ritual.
Ucrânia
Era comum, entre os judeus ucranianos, envolver-se em um lençol branco na noite de Hoshaná Rabá e, após a meia-noite, sair de casa para observar sua própria sombra à luz do luar. Havia a crença de que a sombra revelaria o julgamento e o destino do indivíduo e dos seus familiares no ano seguinte. O costume é mencionado no tratado talmúdico Yevamot (121a) e discutido ao longo do Zohar.
Apesar de muitos dizerem que tal crença não passava de uma superstição assustadora, era comum aqueles que percebessem algo em sua sombra fazerem doações aos necessitados, como forma conseguir o perdão Divino.
Europa Central
Nos pequenos vilarejos, era costume construir as paredes das cabanas em madeira, decorando-as com lindas pinturas em cores alegres. As famílias mais abastadas contratavam artistas para decorar as paredes de suas sucot. Estes costumavam reproduzir paisagens de Jerusalém, bem como cenas bíblicas, ou cenas de festas judaicas. Eram trabalhos elaborados, pois a arte de pintar a madeira florescera entre os judeus da Europa Central e Oriental. Muitas destas sucot, infelizmente, desapareceram no período das duas guerras mundiais e as poucas salvas fazem parte dos acervos de museus. Um lindo exemplo é a sucá do século19, em exibição no Museu de Israel, pertencente à família Deller, que vivia no vilarejo de Fischa, no sul da Alemanha.
Marrocos
A tradição judaico-marroquina recorria ao junco ou a ramos de palmeiras para a construção da sucá - tanto para as paredes como para o schach. Assim sendo, as sucot no Marrocos eram totalmente verdes por fora. Em cada um dos quatro cantos da cabana, colocado em destaque, sobressaía um junco mais alto, imponente.
Estes quatro mastros eram chamados de amudei sucá, "colunas da sucá", ou edei sucá, "testemunha da sucá", pois eram a prova do cumprimento das mitzvot pela família que a construíra.
Enfeitavam as sucot com as decorações mais variadas: ricos tecidos, tapetes e frutas que pendiam do teto. Havia famílias que traziam para a sucá a Parochet, a cortina que cobre as portas do Hechal, o Aron Hakodesh da sinagoga. Num dos cantos, às vezes presa numa das paredes, ficava a Cadeira do Profeta Eliahu, Kisse Shel Eliahu. Era como se fosse um "convite" para que o profeta se juntasse aos "Convidados Bíblicos" e, com eles, abençoasse com "paz e vida longa" a todos os que entravam na sucá. A cada dia, um judeu necessitado era convidado a se juntar à família para as refeições na sucá. Considerado um convidado especial e um substituto para o Ushpitz daquele dia, essa pessoa era colocada em lugar de honra, à cabeceira da mesa.
Os judeus marroquinos costumavam adicionar muitos ramos de mirta e de salgueiro a seus lulavim, além de enfeitá-los com fios ou fitas de seda dourada ou em cores, para embelezá-los.
Durante toda a noite de Hoshaná Rabá ficavam acordados, estudando e recitando selichot, as preces por perdão. Ou, também como em Yom Kipur, tocavam o shofar e faziam novamente as caparot, para expiação. Após a oração de Shacharit, o shamash, isto é, o bedel da sinagoga, distribuía a todos os presentes cinco galhos de salgueiro, com os quais batiam, no chão da sinagoga, cinco vezes.
Em seguida, eles retornavam à casa e o chefe da família sacudia as folhas de salgueiro sobre a cabeça de sua mulher e de seus filhos, como sinal de um ano abençoado e bem-sucedido.
Algumas famílias guardavam a mirta de Sucot em casa, pois acreditavam em suas especiais propriedades. Outros cozinhavam os ramos, dando a água para as mulheres que não conseguiam engravidar. Acreditavam ser uma segulá para ter filhos. O lulav e a mirta seca também eram guardados até Pessach, sendo usados tanto para acender o forno que assava as matzot quanto para a queima do chamêts.
Iraque
Os judeus iraquianos chamavam a festa de Sucot de "Id-al-Sikha". Nesse país, as cabanas eram geralmente muito amplas, com espaço suficiente para abrigar todos os membros da família, incluindo tios e primos distantes. Durante toda a festa de Sucot, era costume visitarem-se famílias e amigos na sucá, compartilhando as refeições e a alegria. O schach - cobertura - e as paredes da sucá eram feitos de folhas e galhos de tamareiras, chamadas de tzaaf. Bancos especiais, denominados traar, eram trazidos do pátio da casa e colocados nas cabanas, não faltando, em um dos cantos, a Cadeira de Eliahu. Para iluminar a sucá, acendia-se, diariamente, ao entardecer, o pavio de uma lamparina de óleo, e, em honra ao Shabat e Yom Tov, acendia-se uma lâmpada de azeite com sete velas, conhecida como kirai, que ficava suspensa, no teto.
Iêmen
Duas semanas antes de Rosh Hashaná, realizava-se uma grande venda de etroguim. O etrog iemenita é um fruto muito grande e não tem pitom, o cabinho. Para cumprir o mandamento referente às bênçãos sobre as Quatro Espécies, colhiam folhas de palmeira, ramos de mirta e salgueiro. Para atar todos os ramos juntos, usavam vários ramos de mirta, bem mais do que o necessário. No Iêmen, em algumas casas, um dos quartos tinha uma grande abertura no teto, que durante o ano era coberta com uma lâmina de metal. Antes de Sucot, esta placa de metal era retirada e substituída por folhagens. As mulheres costumavam decorar a sucá com tâmaras, marmelos e vários tipos de folhagens.
Durante toda a semana da festa, os homens sentavam-se na sucá e, as mulheres, em um grande quarto chamado diwan.
Bukhara
Em Bukhara, no Uzbequistão, as sucot costumavam ser grandes - com cerca de 50 m2 por 4 m - e eram decoradas com lindos tecidos em tramas coloridas, ao gosto local, tanto no estilo ikat quanto no suzani, que as mulheres ainda rebordavam com fio de seda. O piso era recoberto por tapetes sobre os quais colocavam-se colchões com ricas mantas, onde se acomodavam todos os que entravam na sucá. Do teto, pendiam diferentes frutas, tais como melões, uvas, maçãs e romãs, assim como o nasboi, uma mistura de hortelã, manjericão e outras ervas aromáticas. A entrada da sucá era enfeitada por um arco feito de folhas de salgueiros, folhagem esta que era também usada para o teto.
Não faltava, em um dos cantos, a Cadeira do Profeta Eliahu. Os judeus de Bukhara costumavam acender uma vela a cada dia, em homenagem ao Ushpitz do dia. Era comum se estimular as moças solteiras a varrer a sucá todas as noites, pois os jovens solteiros tinham o costume de ir à cabana, após o jantar, em busca de futuras noivas.
Após o término da festa, as mulheres de Bukhara usavam as frutas penduradas em suas sucot para um propósito especial, uma segulá. Oferecia-se, por exemplo, suco da romã ou uma geléia feita do etrog àquela que não conseguia engravidar, para que fosse abençoada com uma linda prole.
Bibliografia:
Rabi Dobrinsky, Herbet C., A Treasury of Sephardic Laws and Customs, Yeshiva University Press
Shkalim, Esther, A Mosaic of Israel Traditions, Devora Publishing Company