Shavuot, dia em que recebemos os Dez Mandamentos, é celebrado por ser o dia em que D-us entregou Sua Torá ao Povo Judeu. Este dia continua a ser o mais importante na história de nosso povo, quiçá o mais importante na história da Humanidade.

O mundo era um, antes da outorga da Torá, e outro, bem diferente, após ser recebida e, posteriormente, adotada, ainda que de diferentes formas, por outros povos e outras religiões. Mas, se por um lado, a outorga Divina da Torá foi um evento único, o ato de recebê-la é um processo contínuo que se repete sempre que um judeu a estuda - e que deveria ocorrer todos os dias na vida de todos os judeus.

Antes de discutir as questões pertinentes ao estudo em si da Torá, é necessário primeiro esclarecer quais os significados englobados nesta palavra. Traduzi-la simplesmente como "a Lei", seria restringi-la a um só de seus propósitos, ainda que dos mais importantes. Não cabem dúvidas de que há um lado da Torá que consiste de uma longa enumeração de leis e mais leis, com ramificações quase infinitas, que impelem o homem e a sociedade a determinados comportamentos. Em grande medida, o propósito da Torá é fazer chegar ao homem a maneira pela qual D'us espera que ele pense e sonhe, fale e aja - o que deve e o que não deve fazer. A palavra Torá tem a mesma raiz que outra palavra hebraica, hora'á - que significa instrução, ensinamento. Isto porque é um manual de instruções para a vida e, em sendo Divina, não está sujeita a erros nem mudanças.

No entanto, entender-se a Torá simplesmente como um Manual de Leis Divinas seria por demais limitante. Defini-la meramente como "lei", seria relegá-la à mesma categoria que inúmeras outras, também criadas por D'us, como a Lei da Gravidade e da Matemática. A Torá não pode ser interpretada como "Lei" nem tampouco como outra instância qualquer. Quem porventura a limite, ainda que dentro da estrutura da religião - quer por obra daqueles que a rejeitem quer por quem viva de acordo com o espírito e letra de cada uma de suas leis passíveis de aplicação - está reduzindo-a; pois que a Torá, assim como o seu Outorgante, em muito ultrapassam uma definição ou descrição limitante.

A Torá per se tem valor supremo, por ser Obra de Quem é. Seu conteúdo encapsula uma Revelação Divina - um evento histórico único, que jamais voltará a ocorrer - e, para os judeus, serve de portão de entrada para o caminho que nos conduz ao Próprio Criador.

Um aspecto central do acontecimento no Monte Sinai - e que celebramos em Shavuot - pode ser resumido no seguinte versículo da Torá: "...E dissestes: Eis que nos mostrou o Eterno, nosso Deus, Sua glória e Sua grandeza; e a Sua Voz ouvimos, em meio ao fogo. Neste dia vimos que D'us fala com o homem e este continua a viver" (Deuteronômio, 5:21). A importância do encontro entre D'us e o Povo Judeu no Sinai, transcende tudo o que foi transmitido; o aspecto central, de importância capital, é o fato de D'us ter estabelecido contato com o ser humano, sendo a Torá este ponto de contato, a interface entre o Criador Infinito e Sua criatura.

Ao aceitar a Torá, os judeus se tornaram parceiros de D'us, pois que tiveram uma visão daquele mundo que o Criador deseja ver construído. Os Filhos de Israel receberam a missão de construir um mundo perfeito - a utopia com que sonham os homens, em todas as épocas - e, mais ainda, receberam um plano-diretor de como o fazer, que é apenas uma das facetas da Torá. Muitas de suas leis, sobretudo os Dez Mandamentos, podem parecer meras diretrizes básicas para a manutenção de uma sociedade decente, mas o que lhes imprime poder é, justamente, a sua Origem. Transgredi-las, a propósito e com rebeldia, equivale a desafiar a D'us e a lutar contra Seu projeto para este mundo. Em contrapartida, cumprir deliberadamente um mandamento da Torá equivale a estabelecer contato com D'us, por demonstrar empenho em construir um mundo que atenda os desejos de seu Grande Arquiteto.

Mas, dissemos acima ser um erro tentar impor limites à Torá, ou seja, até mesmo quando a qualificamos de "plano-diretor da Criação". A Revelação Divina no Sinai foi mais do que uma dádiva que incorpora uma diretriz de uma vida decente para o indivíduo e um projeto existencial para o mundo. No Sinai, por intermédio da Torá, D'us Se deu ao homem. Segundo a Cabalá, a Torá reflete a Vontade e a Sabedoria Divinas. E, como D'us é totalmente indivisível, Ele é, como ensina Maimônides, Um, com a Sua Vontade e a Sua Sabedoria. Portanto, como o enfatiza o Zohar, "a Torá e o Santo, Bendito é Ele, são, de fato, Um - uma Única Entidade".

Assim como D'us é Infinito, assim o é a sua Torá. Assim como D'us é imensurável, assim o é a Sua Sabedoria. E, contudo, D'us, Aquele que é capaz de fazer o que bem Lhe aprouver, optou por comprimir uma parcela de Seu Saber para que pudesse ser entendida pelo ser humano, revestindo-a na forma das passagens, estatutos e mandamentos contidos na Torá. Assim como a Presença Divina está em todas as partes e em todas as coisas, assim está o Seu Saber, sendo esta a razão para não haver tema que não seja mencionado na Torá, por mais trivial que seja. D'us, que se relaciona com todos e está aberto às orações de quem quer que seja, também tornou o Seu Saber acessível a todos, mesmo às crianças. E o fez através de leis mundanas e histórias cativantes, em sua simplicidade, com as quais qualquer um pode-se relacionar.

Isto explica a razão para que, vez por outra, vejamos a Torá ser chamada de "a Parábola do Ancião". Pois, o que é uma parábola? Uma história simples, com um conteúdo de profunda sabedoria, transmitido em formato de fácil compreensão. A obra-prima de George Orwell, Animal Farm ("Revolução dos Bichos"), exemplifica-o à perfeição: é um livro pequeno, em linguagem simples, de fácil compreensão até para uma criança. Mas a obra traz em seu âmago grandes lições sobre a natureza humana e os perigos da política - de fato, lições que, para o bem da humanidade, deveriam ser estudadas e absorvidas pelos grandes estadistas. Foi vontade do autor revestir tão grandes lições de sabedoria - de fato, uma aula magna sobre política, ganância e corrupção - com o manto de uma história pueril, sobre um bando de porcos que derrubam seu patrão e assumem o controle da fazenda. Fazendo-se um paralelo, as histórias da Torá e as leis do Talmud são as Parábolas Divinas. A diferença essencial está, obviamente, no fato de serem Obra de D'us e, portanto, embebidas em ilimitada sabedoria.

Quando uma pessoa compreende uma determinada porção da Torá, sua mente capta algo da Vontade e Sabedoria Divinas. Ao estudá-la, o intelecto do homem funde-se ao intelecto de D'us, a despeito de sua infinita disparidade. Maior união não há entre criatura e Criador. O Talmud transmite este conceito ao apontar para a primeira palavra dos Dez Mandamentos, que é "Anochi", ou seja, "Eu" (sou o Eterno, teu D'us). As letras hebraicas desta palavra são um acrônimo da frase "Ana Nafshi Ketavit Yehavit", isto é, "Eu me apresento por escrito". Com isto, o Talmud ensina que D'us, por assim dizer, "Se Auto-condensa" nas palavras da Torá. E, portanto, ao estudá-la, o judeu se coloca em sintonia direta com o Infinito Criador. Dizem nossos Sábios que ao estudar a Sua Vontade - ainda que sozinhos - D'us estuda a nosso lado. Ao pronunciarmos as palavras contidas na Torá, o Todo Poderoso repete nossas palavras, como um eco. Daí o valor supremo que o judaísmo atribui a seu estudo e o enorme mérito de quem o faz: pois que é o vínculo mais estreito e profundo que se pode ter com D'us. E nosso motivo supremo ao estudá-la não deve ser outro senão a vinculação ao Divino Criador.

À luz do que já analisamos, deve-se entender que o propósito do estudo da Torá é a comunhão com D'us - e não a conquista intelectual - e isto é corroborado no Talmud, onde está escrito que D'us recompensa o homem por seu empenho e não pelo nível que alcança no estudo da Torá. Uma das condições sine qua non para quem pretende ser rabino, legislador ou juiz de um Beit-Din é o domínio da Lei Judaica. Mas, em se tratando da união de nossa alma com a Vontade e a Sabedoria Divinas, não importa quão profundo o assunto estudado, seja a imersão em textos esotéricos, seja a memorização do Talmud completo ou ainda a simples leitura das porções semanais da Torá. O que realmente pesa é a pureza do relacionamento do indivíduo com o texto - sua plena consciência de estar envolvido com o Divino.

Independentemente do quanto a pessoa julga conhecer a Torá, sempre há muito ainda a aprender - pois a Sabedoria Divina, diferentemente da humana, é Infinita. Inclusive dizem os nossos estudiosos que se alguém alega compreender perfeitamente determinada passagem talmúdica - se tudo se encaixa, se faz perfeito sentido - isto é prova de que a pessoa não a entendeu; pois como poderia a Sabedoria do Infinito Criador encaixar-se perfeitamente na mente de um ser finito? Assim sendo, o correto é empenhar-se no estudo da Torá com a reverência que o texto merece e com a enorme dedicação que requer. Se assim proceder, quem estuda a Torá, se destituindo de seu próprio ego e de qualquer intenção de proveito próprio, tem pleno êxito na união à Vontade Divina e consegue envolver D'us neste sublime diálogo, de plena comunhão e troca. Como declarou um grande mestre do Talmud, o Rabi Yossef Rosen de Rogatchov: "Quando oro, estou falando com D'us; quando estudo a Torá, D'us fala comigo!"

Elixir da Vida

Um dos 613 mandamentos básicos do judaísmo é estudar a Torá. Apesar de sermos alertados por nossos Sábios para não fazer distinção entre os sagrados mandamentos, já que provêm todos de uma Única Fonte, o estudo da Torá indiscutivelmente ocupa lugar central. Vimos acima que permite que o ser humano vincule seu intelecto a D'us; no entanto, não basta estudá-la se não cumprimos seus mandamentos e suas diretrizes. Pois, já que uma das facetas da Torá é ser o plano-diretor da Criação, este projeto deve inevitavelmente conduzir à ação - que se traduz no empenho em buscar a auto-perfeição e, conseqüentemente, a perfeição da humanidade.

Em conhecida passagem talmúdica, em uma época de acirrada perseguição aos judeus, alguns de nossos maiores Sábios, argumentam sobre o que seria mais importante - o estudo da Torá ou o cumprimento de seus mandamentos. Rabi Tarfon afirmava que a prática tinha importância maior; seu colega, Rabi Akiva, defendia que o peso maior recaía sobre o estudo. Os demais Sábios, por fim, concluíram que a verdade não estava em nenhuma das duas alegações; e uniram ambos os pareceres para firmar que "o estudo tem peso e importância maiores, pelo fato de conduzir à ação" (Tratado Kidushin, 40b). Com isto nos indicaram que o estudo da Torá, em si, tem valor incomensurável, mas o mundo só pode ser aprimorado se a Vontade e a Sabedoria de D'us forem postas em prática. Por outro lado, não se pode saber o que D'us pretende de cada um de nós, suas criaturas, a menos que se estude a Torá. O judeu que opta por ignorar os textos da Lei de Moisés, e apenas seguir seu próprio instinto e consciência, pode estar racionalizando seus próprios desejos e motivações de forma a "criar" uma religião pessoal sua. Por esta razão, Maimônides sentencia que não há mandamento algum que se iguale ao estudo da Torá, por ser o único que conduz a atos adequados e cabíveis (Hilchot Talmud Torá, 3:3). Ele, o grande Rambam, ainda vai além, afirmando que todo judeu tem como obrigação máxima este estudo, seja ele rico ou pobre, saudável ou doente, jovem ou idoso. Por mais ocupados que sejamos, temos a obrigação de reservar de nosso tempo, diurno e noturno, breves minutos que sejam, para o cumprimento deste mandamento.

Ao estudar a Torá, o judeu fortalece sua alma e, também, a alma dos demais judeus, inclusive daqueles que já deixaram este nosso mundo terreno. Está escrito que há três pilares que sustentam a existência de nosso mundo físico: a oração, o estudo da Torá e a prática de caridade e atos de bondade. Portanto, o judeu que estuda a Torá está ajudando a sustentar o mundo, a canalizar a plenitude Divina no domínio físico em que vivemos, a trazer bênçãos sobre toda a humanidade. Como está escrito no Zohar, texto fundamental da Cabalá, "D'us buscou na Torá e criou o mundo. O homem busca na Torá e sustenta o mundo". E ainda que devamos estudar a Torá pelo fato em si de estudá-la - para comungar com D'us e conhecer Seus desejos e, só então, poder cumpri-los - a Torá ainda promete grandes recompensas àqueles que lhe dedicam de seu tempo. Tais recompensas - espirituais e materiais - são as conseqüências inevitáveis decorrentes da fusão entre homem e D'us. Diz-se que aquele que estuda intensamente a Torá tem a capacidade de, até mesmo, deter o Anjo da Morte; pois como aquele que estuda está em contato direto com a Fonte da Vida, consegue afastar de si o poder da morte.

A Torá é, realmente, o Elixir da Vida, como a chama o Talmud. Contudo, alerta que se abordada de maneira errônea, pode tornar-se exatamente o oposto. Como vimos acima, a Torá compõe um elemento único com D'us. Portanto, nada neste mundo tem mais poder do que tal unidade. Mas, quanto mais poderoso é algo, mais perigoso pode ser. A energia nuclear, por exemplo, tem poder e benefícios extremos. Mas pode, também, destruir o mundo. O argumento é muito mais válido em se tratando da Torá - que pode trazer salvação para o mundo inteiro, mas, se corrompida pelo homem, traz danos inimagináveis.

Como poderia ser corrompida? - perguntarão. Quando sua característica divina é ignorada ou extirpada. A definição da palavra profanação é tornar mundano o sagrado. Isto é justamente o que ocorre quando alguém considera o Tanach, a Bíblia judaica, como uma grande obra literária; o Talmud, um formidável enigma intelectual e, a Cabalá, uma interessante compilação de mágica e mito. Conta-nos o Talmud que o Primeiro Templo Sagrado de Jerusalém foi destruído porque incontáveis eram os que não diziam a bênção necessária antes de estudar a Torá. Ignorar propositalmente a berachá diária sobre o estudo da Torá, que é recitada antes da reza matutina, significa não apreciar a Torá pelo que é e representa. Acreditar que seja pura e simplesmente um manual para uma vida saudável, um bom exemplar literário, uma compilação de leis escritas pelo homem ou um documento da história e tradição judaica é uma grande demonstração de ignorância ou, pior, constitui um desafio Àquele que com a mesma nos brindou. Considerar que qualquer de suas facetas seja menos do que pura Divindade, é faltar com o devido respeito a seu Autor.

O Talmud, que, via de regra, não é apologético em suas afirmações, diz que a Torá é remédio para o justo, porém veneno para o malvado. O estudo da Torá é veneno quando empregado para encobrir a maldade e justificar o ódio - quando é usurpado por aqueles que o utilizam como um manto de respeitabilidade para encobrir atos impróprios ou imorais. O conhecimento intelectual da Torá em si não santifica quem quer que seja - prova disto é o próprio Yetzer ha-Rá, o Anjo do Mal, ser profundo conhecedor da Torá. Para ser um verdadeiro estudioso de seu conteúdo, não basta estudá-la em profundidade; é preciso ser humilde e generoso e amante da paz. De fato, o Talmud recorre a palavras duras ao falar daqueles que estudam a Torá sem, no entanto, agir de forma adequada. Diz que o mundo seria bem melhor sem tais pessoas, referindo-se a elas como meros "receptáculos" de textos sagrados. E, se por um lado, é melhor abrigar textos sagrados do que simples rabiscos, a moral disto é que - independentemente de seu conteúdo - um receptáculo nada mais é do que um receptáculo. Falar em nome da Torá e não proceder de forma justa e correta, quer aos olhos do homem quer aos olhos de D'us, equivale a enodoar o seu teor e desonrar Seu Autor e o povo a quem Ele a confiou.

O estudo da Torá também pode ser pernicioso quando é considerado um passatempo, um hobby ou uma superstição. Diz-se que o pouco conhecimento é um perigo - argumento muito válido para a Torá. Quando, por vezes, alguém decide aprofundar-se nas questões esotéricas e estudar a Cabalá sem estar preparado para tanto - intelectual, emocional ou espiritualmente - a decisão é extremamente perigosa. E o perigo não se encontra no misticismo judaico, mas no fato de tal pessoa estar brincando com fogo. A palavra de D'us, como conta o Livro de Jeremias (23: 29), é como o fogo que consome; deve ser levada muito a sério. Se alguém trata com banalidade alguma das facetas da Torá - seja o Talmud, a Halachá (Lei Judaica) ou a Cabalá - tal pessoa pode machucar sua alma. Pode-se fazer um paralelo com a criança que brinca em um laboratório de Ciências. Suas intenções podem ser as melhores, sua curiosidade pode ter um fundo de aumento do saber; mas esta criança não deve imiscuir-se em coisas que mal conhece. Pois pode ter a sorte de apenas fazer experiências sem maiores conseqüências, como pode, também, manusear o cianureto de potássio ou outros produtos químicos capazes de explodir em suas mãos. Assim a Torá, que não deve ser tratada é estudada sem a necessária seriedade - pois é a expressão da Vontade e da Sabedoria de D'us. E aqueles que a estudam ou ensinam visando ganho financeiro ou de prestígio, ou tentam modificar, reformar ou vilipendiar seu conteúdo, leis e mandamentos, causam dano a si próprios e àqueles a quem ensinam.

Em contrapartida, estudar e ensinar a Torá na medida certa de sua grandeza é aumentar a santidade no mundo e contribuir para assegurar a posteridade do povo judeu. Todo judeu está obrigado a estudar a Torá e, ademais, a passar adiante o que estudou, por menos que seja. Não é sem motivo que os inimigos históricos de nosso povo, em suas tentativas de nos erradicar da face da Terra, proibiram o estudo da Torá, baniram ou queimaram o Talmud e insistiram para que abríssemos mão da certeza de que a Torá é Divina.

Nossos inimigos perceberam que a conseqüência inevitável da falta de estudo adequado da Torá seria a assimilação judaica - a dizer, a morte, paulatina mas inevitável, de nosso povo. Contudo, o contrário também se aplica: o estudo, ensino e disseminação da Palavra de D'us permitem reverter a assimilação que vemos, hoje, dizimar nosso povo. Acima de tudo, é o estudo do Elixir da Vida o que preserva a existência espiritual e física do povo judeu. Em vários de seus tratados, o Talmud enumera as muitas recompensas desse estudo. Ensina - no que foi corroborado por Maimônides - que a recompensa Divina para o judeu se baseia, sobretudo, em seu esforço em estudar a Torá. O Talmud assevera que o estudo da Torá protege os soldados judeus; garante aos que a estudam um lugar no Mundo Vindouro; eleva o homem à categoria de Mérito quando do Juízo Divino; serve de paliativo e proteção para o sofrimento e o perigo; conduz ao perdão pelo pecado, à vida longa, à fartura e à honra; protege o lar de quem a estuda; previne pesadelos e torna o sono revigorante; e, sobretudo, assevera que D'us lhe atribui mais valor do que se aquela pessoa tivesse pisado nos locais mais sagrados e recônditos do Templo Sagrado - como fazia o Cohen Gadol, o Sumo Sacerdote, em Yom Kipur.

Há incontáveis outras razões que justificam a necessidade de todos os judeus de estudar a Torá - e suas recompensas são incomensuráveis e eternas. Mas a mais importante de todas se encontra em um versículo do Livro de Isaías e no Midrash que o segue. Diz o versículo bíblico: "Vós sois as Minhas testemunhas, diz o Senhor; Eu sou D'us" (43:12). Ao comentá-lo, o Midrash faz uma afirmação surpreendente: "Enquanto lá estiverdes como Minhas testemunhas, Eu sou o Senhor; se lá não mais estiverdes como Minhas testemunhas, não mais serei o Senhor, D'us" (Sifri -Deuteronômio 346).

Quando todo o acima descrito tiver sido dito e feito, estaremos diante da razão para permanecer judeus e estudar a Torá: pois, assim agindo, estaremos mantendo D'us em nosso mundo terreno. É este o propósito maior da existência de nosso povo e a essência do judaísmo. Todo o resto é comentário.

Tradução: Lilia Wachsmann

Bibliografia

· Rabbi Adin Steinsaltz,Torah Eternal

· Rabbi Adin Steinsaltz, The Thirteenth Petalled Rose

· Kurzweil, Arthur, On the Road with Rabbi Steisaltz

· Dubov, Nissan Dovid, artigo Torah Study, www.chabad.org

· Rabbi Benjamin Blech, Understanding Judaism

· Rabbi Tzvi Freeman, artigo G-d in the Talmud www.chabad.org

· Rabi Shneur Zalman de Liadi, o Alter Rebe, Likutei Amarim (Tanya)