O Rebbe, como passou a ser conhecido pelo mundo afora, assumiu a liderança do movimento Lubavitch, que quase havia sido destruído pelos nazistas, e, com seu carisma e perseverança, reconstruiu-o e transformou-o no maior e mais dinâmico movimento do judaísmo chassídico ortodoxo.
O Rebe de Lubavitch, Schneerson - ou simplesmente - Menachem Mendel
O "Rebe" motivou com a mesma intensidade desde os maiores pensadores de nosso tempo - como o escritor e Prêmio Nobel Elie Wiesel - e líderes mundiais, como o presidente Ronald Reagan, até o mais humilde dos cidadãos.
O simples pensamento de que um judeu, qualquer que fosse sua cultura, suas origens e suas opiniões, vivesse afastado dos valores de seus ancestrais, era insuportável para o Rebe. Acreditava que a mais bela realização da alma judia era transmitir os seus conhecimentos ao próximo. Para ele, os judeus são intrinsecamente ligados uns aos outros e, por isso, definiu como responsabilidade do movimento Lubavitch a adoção da visão do Baal Shem Tov e o ditado do Talmud segundo os quais os judeus são responsáveis um pelo outro - Kol Israel Arevim Ze ba-Ze.
Homem de extraordinária inteligência, exímio matemático, fluente em vários idiomas, era um profundo conhecedor da Torá, do Talmud e da Cabalá. Aproximadamente 200 volumes contendo seus escritos prolíficos, discursos, conferências e correspondências já foram publicados e vários outros estão em andamento.
Sua vida
Menachem Mendel Schneer-son nasceu em uma sexta-feira, 18 de abril de 1902 (11 de Nissan pelo calendário hebraico) em Nikolayev, Ucrânia. Era tataraneto do terceiro Lubavitcher Rebe. Seu pai, Rabi Levi Yitzchak Schneerson, rabino-chefe da cidade de Dnepropetrovsk, era um erudito do Talmud e um mestre da Cabalá. Sua mãe, a rebetzin Chana Schneerson, descendia de uma renomada família rabínica. O Rebe tinha dois irmãos menores, Dov Ber e Ysroel Leib.
Menachem Mendel passou os primeiros anos de sua vida imerso nos estudos da Torá. Os professores do cheder que freqüentava perceberam imediatamente tratar-se de uma criança prodígio. Queixavam-se que não havia nada que ensinassem ao jovem Menachem Mendel que ele já não soubesse. Por isso, deixou a escola e passou a estudar em casa com professores particulares. Em pouco tempo, já estava estudando sozinho, sob supervisão do pai. No dia de seu barmitzvá, já era considerado um prodígio por seus conhecimentos sobre o Talmud e suas opiniões eram muitas vezes levadas em consideração por rabinos muito mais velhos. Durante a adolescência, correspondia-se com as maiores autoridades judaicas da época.
Ao falar de sua infância, dizia que havia sido a fase em que se definiram suas opiniões e objetivos. O sofrimento e as perseguições de que eram vítimas os judeus russos, quer no governo czarista quer sob o governo soviético, não lhe saíam da mente. Presente também estava a certeza de que algo tinha que ser feito a esse respeito.
Com o advento da Primeira Guerra Mundial e o colapso do Império Russo, centenas de milhares de refugiados se deslocaram para o interior do país em busca de abrigo e, entre eles, milhares de judeus. Além da falta de comida, os judeus tinham que enfrentar o anti-semitismo e estavam sujeitos a ser presos por qualquer motivo.
Apesar de estar arriscando sua vida e liberdade, Rabi Levi Yitzchak Schneerson, ajudado pela esposa e pelo jovem Mendel, na época com 14 anos, empenhou-se em melhorar a vida dos refugiados. Abriu as portas de sua casa, dando-lhes comida e abrigo, providenciava resgates para os que estavam presos e intercedia junto ao governo soviético a favor dos que ha- viam sido falsamente acusados pelas autoridades dos mais variados "crimes políticos".
Em 1923, Menachem Mendel encontrou-se pela primeira vez com o Rabi Yossef Yitzchak Schneerson, na época chefe do movimento chassídico Chabad Lubavitch. Rabi Yossef Yitzhak liderava a luta para manter vivo o judaísmo na União Soviética, país que havia declarado uma verdadeira guerra contra o judaísmo. Escolas, sinagogas e todas as instituições religiosas haviam sido fechadas. Líderes judaicos eram aprisionados, exilados ou executados. Menachem Mendel juntou-se ao então Lubavitcher Rebe - Rabi Yossef Yitzchak - em sua perigosa e altamente secreta missão. Em verdadeiro trabalho underground, fundavam escolas e micvês; providenciavam comida casher e abriam linhas de crédito para suprir os necessitados. Os emissários do então Lubavitcher Rebe eram enviados para todas as partes da União Soviética.
Mas a pressão para acabar com o judaísmo aumentava em toda a região, e, no verão de 1927, Rabi Yossef Yitzchak Schneerson foi preso pelas autoridades soviéticas e condenado à morte por seu trabalho para manter o judaísmo vivo - algo inadmissível para o governo soviético. Coube então a Menachem Mendel, "o Rebe" de nossa geração, a organização de um movimento mundial para pressionar as autoridades soviéticas. O movimento pretendia que fosse comutada a pena de morte e que autorizassem Rabi Yossef Yitzchak a deixar o país e emigrar para os Estados Unidos.
Em dezembro de 1929, Menachem Mendel casou-se com a segunda filha de Rabi Yossef Yitzhak, Chaya Mishka, em Varsóvia, Polônia. O casal mudou-se, em seguida, para Berlim, Alemanha, onde o Rebe ingressou na Universidade para estudar Matemática e Filosofia. Mas, em 1933, com a ascensão do nazismo, o casal mudou-se para Paris, França, e o futuro Rebe continuou seus estudos na Faculdade de Engenharia da Sorbonne, até 1938.
Em 14 de junho de 1941 o exército nazista ocupou Paris e Menachem Mendel e sua esposa fugiram para Vichy, de lá para Nice e depois, Lisboa. Nesse ínterim, o Rebe de então, Rabi Yossef Yitzchak Schneerson, foi finalmente liberado e partiu para Nova York, Estados Unidos, em março de 1940. Logo, conseguiu permissão para que seu genro e filha entrassem nos EUA e, assim, em 23 de junho de 1941 o casal chegou a Nova York.
Como milhões de outros judeus, o futuro Rebe perdeu parte de sua família no Holocausto, entre os quais seu irmão mais novo, Dov Ber, sua avó e muitos outros familiares. A Rebetzin Chana Mishka também perdeu a irmã com o marido e filho adotivo, exterminados no campo de concentração de Treblinka.
Durante toda a sua vida, o Rebe rejeitou qualquer tipo de explicação teológica para o Holocausto. Repetia sempre que não havia justificativa para a tortura e morte de milhões de inocentes. Dizia, repetindo as palavras de seu sogro, que não lhe cabia tentar explicar aquela barbárie; só D'us poderia responder por que motivos deixara que isto acontecesse. Para ele, o mais importante em relação à tamanha tragédia, não era explicá-la ou entendê-la, mas sim a contra-atacar. Estava determinado a erguer o povo judeu das cinzas do Holocausto.
Logo após chegarem aos Estados Unidos, seu sogro o designou chefe da Subdivisão Educacional e So-cial do movimento Luba-vitch e também da editora.
Em uma manhã de Shabat, 28 de janeiro de1950, faleceu o sexto Lubavitcher Rebe, Yossef Yitzchak Schneerson. Apesar de Rabi Menachem Mendel ser avesso a honrarias, todos reconheciam nele um sábio erudito e um grande líder. Um ano mais tarde, em janeiro de 1951, após insistentes pedidos dos seguidores do movimento, acabou aceitando a sua liderança, tornando-se o sétimo Rebe de Lubavitch e o primeiro a usar roupas modernas.
Em seu primeiro discurso como líder do movimento afirmou: "Os três amores de nosso povo - o amor a D'us, o amor pela Torá e o amor pelo nosso semelhante - são na realidade um único e mesmo amor". Com esta afirmação visava disseminar o judaísmo e abraçar em seu seio todo e qualquer judeu, não importando de onde viesse ou que tipo de idéias tivesse. Ensinava que vivemos em um mundo onde as ações são de extrema importância; por isso rejeitava o isolacionismo religioso.
Nos 40 anos seguintes, o Rebe enviou emissários do movimento Chabad para todos os continentes. Declarou verdadeira guerra contra a assimilação e incumbiu seus emissários de levar o judaísmo a qualquer canto da terra onde houvesse judeus. Seus enviados deveriam trabalhar para ajudar as comunidades tanto em seus problemas espirituais quanto materiais.
Em 1953 fundou a organização feminina Lubavitch. Acreditava que as mulheres não podiam ser mais impedidas de estudar Torá em seus níveis mais elevados. A seu ver, podiam estudar mesmo seus aspectos mais místicos, insistindo em que o papel das mulheres era igual - e em muitos casos mais importante - do que o dos homens.
Em 1983 o Rebe expandiu o alcance de seu trabalho de modo a envolver toda a humanidade. Com seu grande conhecimento em assuntos religiosos e não religiosos e com sua profunda perspicácia e amor ao próximo, o Rebe tornou-se um líder de tal abrangência que a ele acorriam grandes personalidades, líderes políticos e religiosos de todas as fés em busca de aconselhamento. Assim, em 1986, iniciou em sua sinagoga, conhecida como o famoso "770" da Eastern Parkway, o hábito de, aos domingos, atender as pessoas que formavam uma extensa fila, semana após semana, em busca de um conselho, uma palavra, um olhar.
Ficava de pé durante todo o dia recebendo homens, mulheres, crianças que iam vê-lo e ouvi-lo dizer algumas palavras e receber sua bênção. A cada um desses visitantes, distribuía notas de um dólar, com o objetivo de estimulá-los a fazerem donativos para caridade. Muitas pessoas guardavam as notas como lembrança da visita. Certa vez, uma mulher lhe perguntou se não ficava cansado. Ele respondeu que cada pessoa era um diamante e ninguém se cansava de contar diamantes...
Em 1992, aos 92 anos, o Rebe sofreu um derrame, vindo a falecer dois anos mais tarde, em 12 de junho de 1994. Logo a seguir, os deputados norte-americanos John Lewis, Jerry Lewis e Newt Gingrich apresentaram um projeto de lei às câmaras estaduais e federal de deputados, para outorgar ao Rebe a Medalha de Ouro do Congresso dos Estados Unidos. O projeto foi aprovado por unanimidade como homenagem ao Rebe por sua destacada e permanente contribuição ao desenvolvimento da educação, moralidade e caridade.
É verdadeiramente impossível medir o âmbito das realizações desse grande líder, mas aqueles que o conheceram de perto não conseguem esquecer seu olhar profundo, de extrema bondade. Ele deixou marcas que extrapolaram o universo judaico. Através de seus mais de 2.000 centros por todo o mundo, de suas realizações e das milhares de pessoas que motivou, orientou e iluminou com sua bondade e dedicação, o Lubavitcher Rebe Menachem Mendel Schneerson continuará a inspirar um número cada vez maior de judeus e permanecerá uma lembrança viva e ativa neste mundo.
Programas inovadores
O Rebe lançou diversos programas inovadores: o primeiro, em 1950, foi o de alcance externo, ou Outreach; depois a Campanha da Mitzvá; em 1967, a campanha do tefilin e, mais tarde, a Campanha Mitzvot (mezuzot, velas de Shabat, etc....)
Sua visão preparou terreno para o fenômeno que viria a ser conhecido como Baal Teshuvá, ou o retorno à prática da religião segundo a Halachá. Suas idéias passaram a ser adotadas por diversas ieshivot e organizações judaicas que emularam suas atividades.
Outro projeto adotado pioneiramente pelo Rebe foi a criação da necessidade imperiosa de matrícular crianças em escolas judaicas. Atualmente já é consenso a idéia que o futuro de uma comunidade está na qualidade do ensino judaico que seus jovens recebem.
Entre alguns de seus feitos destaca-se o trabalho extremamente discreto para salvar as vidas dos judeus soviéticos oprimidos. Trabalhou silenciosa, mas efetivamente, para salvar as vidas de seus irmãos oprimidos. Sob sua liderança foram estabelecidas redes clandestinas de chassidim que proviam dinheiro, comida, ves-timentas, estudos e apoio espiri-tual para milhares de judeus sob o jugo comunista.
Em qualquer canto do planeta onde houvesse necessidade de apoio material ou espiritual, ou onde houvesse judeus oprimidos, lá estavam os shlichim do Rebe totalmente dedicados a ajudá-los.
O Rebe e as crianças
O Rebe não via a criança somente como um adulto em fabricação, mas como um ser repleto de fé, confiança, integridade, energia, entusiasmo, sede de aprender, consciência e sensação de missão e importância. Cultivadas na infância, essas qualidades são o molde do futuro adulto. O objetivo da educação não é só preparar a criança para a maioridade, mas também nutrir e preservar os dons da infância e enfocá-los em suas expressões formais e mais positivas.
Tudo isso não era só teoria, o Rebe, várias vezes por ano Rebe dirigia-se às crianças. Em 1980 estabeleceu o projeto Tzivot Hashem, "o exército " das crianças, para trazer redenção ao mundo. Desde o começo de sua liderança, alistara as crianças para ajudarem-no a cumprir seu trabalho; e elas, em troca, eram suas "mais entusiásticas e dedicadas tropas".
Muitos são os casos em que o Rebe intercedeu com suas orações para que mulheres com dificuldades de engravidar pudessem realizar seu desejo de maternidade, no entanto, ele e a esposa, Chaya, não chegaram a ter filhos.
Suas obras
Os primeiros manuscritos do Rebe conhecidos datam de 1924. Trata-se de uma coleção de cartas a grandes eruditos da Torá, contendo responsas em tópicos haláchicos e esótericos. Recentemente foram descobertos escritos que refletem sua criativa interpretação de textos bíblicos, talmúdicos e midráshicos através do prisma do chassidismo da linha Chabad.
O chassidismo Chabad sempre foi conhecido como o braço intelectual do movimento chassídico, em contraposição às visões mais emotivas dos outros grupos. O primeiro Rebe de Lubavitch, Schneur Zalman de Liadi, é amplamente conhecido como autor do Tânia, o primeiro estudo sistemático da filosofia chassídica, e também por ser o compilador do código de leis do chamado Shulchan Aruch Harav. O Rebe foi além dos seus predecessores na demonstração e na definição da conexão entre os dois.
Na sua visão, o conceito principal é a idéia da unidade intelectual de todas as facetas da Torá. Exposições legais, homiléticas (tipo sermão), místicas e chassídicas de uma passagem específica, apesar de parecerem independentes umas das outras, são, de fato, a mesma verdade expressa em patamares mais profundos de percepção. É difícil dizer quem no judaísmo foi um pensador revolucionário, pois essencialmente cada revolução nada mais é do que a reafirmação de verdades antigas com outro enunciado. Por tais parâmetros, o Rebe certamente foi um revolucionário. Ele trabalhava continuamente, combinando o abstrato com a ação, enfatizando sempre a continuidade dos estudos judaicos.
As duas facetas de seu trabalho eram, na realidade, uma só: a unidade da Torá e a união do povo judeu. Segundo o Baal Shem Tov, assim como a imperfeição de uma só letra invalida todo o rolo da Torá, um único judeu fora do contexto, sem cumprir sua missão, invalida toda a comunidade judaica.
Fonte:
Site: www.chabad.org
"Rumo a uma vida significativa - A Sabedoria do Rebe", adaptado por Simon Jacobson "Conhecer e cuidar", N.T. Gottleib