Ensina o Pirkei Avot, a Ética dos Pais, sejam seguidores de Aharon Ha-Cohen, que amou a paz, perseguiu a paz e dedicou sua vida a aproximar as pessoas umas das outras e a aproximá-las a D-us e à Sua Torá.
Moshé Rabenu, o profeta mais poderoso de todos os tempos, foi o maior líder da história do Povo Judeu. Liderou a libertação de nossos ancestrais da escravidão egípcia; recebeu a Torá de D'us e a transmitiu aos Filhos de Israel; e conduziu milhões de judeus, atendendo a todas as suas necessidades, durante sua jornada de 40 anos em direção à Terra Prometida. Mas Moshé não estava só ao realizar tudo isso e muito mais, que aqui não se descreveu. A seu lado, sempre presente, estava seu irmão mais velho, Aharon. Quando Moshé entra no palácio do Faraó para pedir a soltura dos judeus, é Aharon o único que tem a coragem de o acompanhar. É seu irmão, também, quem desempenha importante papel na execução dos milagres que levaram ao êxodo judaico do Egito. E quando D'us transmite ordens e mandamentos ao Povo Judeu, Ele costuma se dirigir a Moshé e Aharon, em conjunto.
Moshe ve'Aharon - Moshé e Aharon. Raramente um é mencionado sem o outro. Seus nomes são ligados para sempre, na Torá e em nossas preces. Os dois irmãos eram companheiros tão íntimos que, às vezes, dão a impressão de serem duas metades de uma mesma pessoa. Não havia inveja nem rivalidade entre ambos. Quando D'us surge, pela primeira vez, diante de Moshé e o escolhe para liderar os judeus, ele a princípio declina da honraria sem igual pois o preocupa o respeito ao irmão mais velho. "Por que eu?", questiona. "Por que não escolheste Aharon?", pergunta a D'us. Moshé somente aquiesce quando o Criador lhe assegura que o irmão ficaria feliz por ele. E, de fato, Moshé não tinha razão para temer que o irmão se sentisse menosprezado, pois Aharon se alegrava com o sucesso do irmão menor. Por sua vez, Moshé também não poderia ser um irmão mais devotado. Apesar de todos os seus dons e seus méritos, somente uma única vez na Torá nós o vemos verdadeiramente jubiloso - no dia em que Aharon ascende ao cargo de Cohen Gadol, tornando-se Sumo Sacerdote.
Ao longo de sua vida Moshé e Aharon compartilharam suas alegrias e seus dissabores. Sempre que o Povo Judeu trazia problemas ou reclamações a Moshé, Aharon ficava ao seu lado; e quando seu primo, Korach, arma uma revolta a fim de usurpar a posição do Cohen Gadol, Moshé prontamente acorre em defesa do irmão mais velho.
Sabemos que Moshé é a figura dominante na narrativa da Torá. Homem algum, nem mesmo o Mashiach, o superará enquanto profeta. Mas o papel de Aharon não se limitou a ser simplesmente o braço-direito do irmão mais novo; os papéis de Moshé e Aharon eram interdependentes e complementares. O primeiro era o homem de D'us; o segundo, o homem do povo. O Midrash compara a Revelação Divina no Sinai com um casamento entre D'us e o Povo Judeu, dizendo que Moshé e Aharon serviram de Shushbinim - aqueles que acompanham o noivo e a noiva à chupá, o pálio nupcial. Moshé acompanhava o Noivo, D'us, ao passo que Aharon acompanhava a noiva, o Povo Judeu, ao pálio nupcial, que era o Monte Sinai. Moshé - o maior de todos os profetas e verdadeiro servo do Todo Poderoso - trouxe D'us até os judeus; mas foi Aharon - o homem que amava todos os seres, incondicionalmente - quem levou os judeus ao encontro de D'us.
Contudo, mesmo sendo irmãos tão companheiros, Moshé e Aharon não poderiam ser mais diferentes; o primeiro era um homem da Lei, que nunca titubeou em lutar contra quem quer que pusesse em risco a justiça. Em toda a Torá, nós o vemos constantemente envolvido em algum conflito. Ele mata um egípcio que espancava um judeu à morte; ele põe o Faraó e suas legiões de joelhos; e, no deserto, guerreia com bravura em defesa de D'us e do Povo Judeu. Paralelamente, está em constante debate - com os judeus, com os anjos e até mesmo com D'us. Aharon, por outro lado, sempre paciente e compreensivo, dedicou sua vida a fazer a paz entre as pessoas. Enquanto Moshé estava ocupado liderando, julgando e ensinando o povo, Aharon fazia a paz sempre que surgia um conflito, especialmente entre cônjuges. Moshé foi o mais humilde dos homens, enquanto seu irmão, Aharon, foi dentre todos o mais altruísta. Em nenhuma passagem o vimos pensando em si próprio. Viveu para os outros - para D'us, para sua família, para seu povo. Nunca nele detectamos qualquer traço de sentimentos negativos contra alguém - nem inveja, nem ressentimento, nem raiva. Ele jamais lutou contra alguém, nem contra aqueles que lhe causaram muito sofrimento. E nunca confrontou ou questionou D'us, nem mesmo quando Ele lhe toma dois de seus filhos; em silêncio e com dignidade Aharon pranteia e chora a morte dos filhos queridos.
Quanto mais estudamos acerca de Aharon, menos nos surpreende o fato de D'us o ter escolhido para ser o primeiro Cohen Gadol - o Sumo Sacerdote, o homem mais santo do povo de Israel - patriarca único dos Cohanim. Aharon foi o eleito, sendo preteridos todos os demais, inclusive Moshé, para ostentar a coroa da Quehuná, do estado de santidade do Sumo Sacerdócio. D'us atribuiu apenas a Aharon e a seus descendentes do sexo masculino a incumbência de administrar Suas sagradas moradas na Terra - o Tabernáculo construído no deserto e, anos mais tarde, o Templo Sagrado de Jerusalém. D'us também escolheu Aharon e sua descendência física, os Cohanim, para serem aqueles a conceder a bênção, Bircat Cohanim, através da qual a plenitude e a paz Divinas são outorgadas ao Povo Judeu.
É digno de nota - e serve para mostrar o grau de interdependência entre os irmãos - o fato de que foi a Moshé que D'us ordenou que construísse o Tabernáculo e iniciasse Aharon no serviço do Sumo Sacerdócio. O Tabernáculo era o domínio de Aharon e de seus filhos, os Cohanim, mas ele somente pôde desempenhar sua função de Cohen Gadol com o auxílio de Moshé.
Mas, assim como era interligada a vida dos dois, também o foi a sua morte. A mesma porção da Torá que relata o famoso incidente das Águas da Discórdia, na Parashat Chucat, em que Moshé bate em uma rocha ao invés de falar com a mesma - e D'us decreta que nem ele nem Aharon entrariam na Terra Prometida - também fala da morte de Aharon e de Miriam, sua irmã. Aharon é a única pessoa cuja data de falecimento é explicitamente mencionada na Torá. Ele faleceu com 123 anos, no primeiro dia do mês de Menachem Av do calendário judaico, no ano de 2488 (1273 a.E.C.).
"Aharon se reunirá a seu povo"
Assim conta o Midrash: O Santo, Bendito o Seu Nome, afirmou: "Estes dois Justos (Moshé e Aharon) nada fazem sem o Meu conhecimento, e agora que os estou removendo (da vida), não O farei antes de fazê-los cientes disto". O primeiro a partir deste mundo é o irmão mais velho, Aharon. Mas D'us, apesar de freqüentemente falar a Aharon, não deseja informar-lhe que é chegada sua hora de deixar este mundo. O Criador prefere delegar a tarefa à pessoa que Ele e Aharon amam e confiam acima de tudo e de todos. Portanto, D'us informa a Moshé que "Aharon se reunirá a seu povo. Pois ele não entrará na terra que Eu dei aos Filhos de Israel, pois vos rebelastes contra a Minha palavra diante das águas de Merivá". D'us ordena a Moshé: "Leva Aharon e Elazar, seu filho, e os conduz ao topo do Monte Hor; retira as vestes de Aharon e as coloca em Elazar. E Aharon se reunirá a seu povo e lá morrerá".
O Midrash (Yalcut Shimoni) revela por que D'us pediu a Moshé que transmitisse aquela notícia a Aharon: "O Santo, Bendito o Seu Nome, disse a Moshé: Seja-me gentil e conta a Aharon sobre a morte que tanto me constrange a ele contar". Este Midrash descreve como Moshé conseguiu realizar uma tarefa que mais não poderia ter partido seu coração. Ele se levanta muito cedo, dirige-se à tenda de Aharon e começa a chamar: "Aharon, meu irmão!". Aharon aparece e pergunta a Moshé: "O que viste que te fez levantar tão cedo e hoje aqui estar, a esta hora?'. Moshé replicou: "Refletia, eu, sobre um assunto da Torá, ontem à noite, que me parecia muito difícil. Por isso, levantei-me muito cedo, para vir ter contigo". Aharon pergunta ao irmão: "E qual é essa passagem da Torá?" Ao que Moshé responde: "Não sei qual o texto, mas sei que era do Sêfer Bereshit, o Livro de Gênese. Venha, leiamos juntos". Os dois irmãos, então, abrem o primeiro livro da Torá e começam a estudá-lo. Enquanto estudam sobre a Criação, Aharon comenta: "Como foi bonita e surpreendente a forma como D'us criou!" Mas quando eles chegam à passagem sobre a criação de Adão, Moshé diz a Aharon: "E que direi sobre Adão, que trouxe a morte ao mundo?" Aharon retruca: "Moshé, meu irmão, não fale assim sobre este assunto. Pois, não nos cabe aceitar o decreto de D'us… a forma como foram criados Adão e Eva, a forma como mereceram conhecer a união conjugal e o júbilo no Jardim do Éden, de que forma comeram da árvore e como foi dito a ele: 'Do pó vieste e ao pó retornarás'? Após todo o louvor, foi assim que lhes ocorreu". Disse Moshé a seu irmão: "E eu, que tive poderes sobre os anjos que servem a D'us, e tu, que detiveste a morte (a praga descrita em Números 17: 13), não será o nosso fim como o deles? Quantos anos mais nos restam de vida? Vinte?" Aharon responde, "Pouco representam". E então, nos conta o Midrash, Moshé começa a subtrair e subtrair, até mencionar uma data específica. É então que Aharon percebe por que Moshé tinha vindo vê-lo naquela manhã, e por que seu irmão escolhera para estudar com ele uma passagem que explicava como a morte havia entrado no mundo. Aharon vira-se para Moshé e pergunta: "Quiçá esta palavra se destina a mim?" E o irmão, que não tinha outra escolha a não ser dizer a verdade, responde afirmativamente. Moshé, então, pergunta ao irmão querido: "Aceitas morrer?" Era uma pergunta retórica, óbvio, especialmente em se tratando de alguém como Aharon, que sempre se submetera à vontade de D'us. "Sim", responde. "Aceito".
Seguindo instruções Divinas, os dois irmãos, acompanhados pelo filho de um deles, Elazar, ascendem ao Monte Hor. Podemos imaginar o que os dois irmãos pensaram durante aqueles momentos derradeiros da vida de um deles. Será que subiram em silêncio ou teriam trocado palavras de consolo? Se falaram, quem consolava e quem era consolado? Teria Moshé consolado Aharon, que deixaria o mundo onde ele era o Sumo Sacerdote e onde todo o povo o amava? Ou teria Aharon consolado Moshé, que estava prestes a perder seu irmão mais velho, companheiro de toda uma vida, seu amigo mais fiel?
Apesar de Aharon - diferentemente de Moshé - nunca ter pedido a D'us que estendesse sua vida e lhe permitisse adentrar a Terra Prometida, não podemos deixar de nos inquietar com seu passamento. Sua morte, especialmente à luz do relato do Midrash, dá origem a inúmeras perguntas. Uma delas é: por que D'us teria ficado "embaraçado" de contar a Aharon que ele estava prestes a morrer? Por que isso seria uma tarefa difícil para o Senhor do Universo - que dá e tira a vida? Afinal, D'us não se abstém de contar a vários outros homens importantes, como Moshé, que seus dias na Terra estão por chegar ao fim. Por que Aharon se destacou como aquele a quem D'us evita dar tal notícia?
Pode-se encontrar uma possível resposta nos ensinamentos de Rav Kook, o primeiro Rabino Chefe de Israel. Este ensinava que a morte é uma cherpá - uma desgraça para o homem - e que, apesar do pecado de Adão, o homem não deveria morrer. A morte é uma aberração. Se o homem foi criado para viver para sempre, o que dizer de alguém como Aharon, que foi o primeiro Cohen Gadol, o Sumo Sacerdote de D'us - homem tão santo, tão ligado à Origem da Vida que lhe é proibido entrar em contacto com os mortos. Ademais, o Talmud escreve que D'us, Ele próprio, é um Cohen Gadol e o Midrash compara os Cohanim aos anjos. Como, então, poderia Aharon, o primeiro Sumo Sacerdote, pai dos Cohanim, deixar este mundo como um simples mortal? Não poderia ter falecido como o profeta Eliahu, que, gerações mais tarde, ascendeu aos Céus em uma carruagem de fogo? De fato, como poderia Aharon morrer se tivesse sido ele - e não seu poderoso irmão - quem se tivesse posto "entre os mortos e os vivos", detendo uma praga que ameaçava consumir o Povo Judeu (Números 17: 13)? Iria ele, que protegera outros da espada do Anjo da Morte, agora sucumbir à mesma?
Podemos, sim, entender por que D'us sentiu-se constrangido de ter que informar ao primeiro Cohen Gadol sobre sua morte. D'us recorre a Seu servo mais fiel e lhe pede esse favor. Moshé, personificação da sabedoria, muito adequadamente se volta à Torá, que acode todas as pessoas em todas as situações, e ajuda a aliviar nossas dores e nossos medos.
Rashi, comentarista clássico da Torá, analisa a ordem Divina a Moshé: "Leva Aharon (e Elazar, seu filho, e os conduz ao topo do Monte Hor)". Citando um Midrash, Rashi escreve: "D'us diz a Moshé para "levar Aharon com palavras de conforto, dizendo: 'Quão afortunado és, pois verás tua coroa ser dada a teu filho, diferentemente de mim, que não tive tal mérito'". Pois Moshé, ao contrário de Aharon, não teve como sucessor seu filho, mas seu maior discípulo, Josué, Yehoshua Bin Nun.
Pouco antes de falecer, Aharon despe as vestes especiais do Sumo Sacerdócio e observa enquanto Moshé as veste em Elazar. Ao fazê-lo, Moshé introduz Elazar ao cargo de Sumo Sacerdote. Isso foi feito na presença de Aharon, para mostrar a ele que seu filho era digno de sucedê-lo como Cohen Gadol. Após vestir Elazar, Moshé orienta Aharon a entrar na caverna onde exalará seu último suspiro. Ele diz ao irmão que se deite, estenda os braços e mantenha a boca e os olhos fechados. Quando Moshé percebe que Aharon já partiu - ou seja, que sua alma ascendeu ao Altíssimo - ele exclama: "Afortunado é aquele que tem esta morte!", e roga a D'us para que ele tenha o mérito de morrer da mesma maneira.
O Midrash revela as últimas palavras de Moshé a Aharon. Ele diz ao irmão mais velho e companheiro de uma vida: "Aharon, o que estás vendo? Miriam está morta, e nós dois juntos a cuidamos com carinho. Agora estás morrendo, e vês Elazar e eu a te cuidar. E eu - quando chegar a minha vez, quem cuidará de mim?" Mas quem lhe responde não é Aharon; é D'us, em Sua plenitude. "Eu zelarei por ti", promete o Criador a Seu servo mais fiel.
A transição de Aharon ao Mundo da Verdade foi um reflexo de sua vida - suave, graciosa, pacífica. Ele falece intermediado pelo Divino beijo da morte. Isto significa que sua alma deixou seu corpo ao se unir com a santidade da Presença Divina. O Talmud descreve isto como a forma mais sublime de morte. A alma deixa o corpo sem esforço algum, em total leveza. Para alguém como Aharon, que sempre esteve próximo a D'us - e que dedicou sua vida a atos de santidade e bondade - não há tristeza, nem medo, nem sofrimento quando a alma retorna à sua Origem Divina.
"E lá morreu Aharon, no topo da montanha", relata a Torá. Quando Moshé e Elazar descem do Monte Hor, o povo, sentindo a falta de Aharon, reúne-se ao redor deles e pergunta: "Onde está Aharon?" Ficam incrédulos ao saber que falecera. "Como pôde o Anjo da Morte levá-lo?", perguntam a Moshé. "Ele era quem enfrentava o Anjo da Morte e o detinha". As pessoas ameaçam apedrejar Moshé se ele não trouxesse Aharon de volta. Naquele momento, o profeta - que certamente não o amava menos do que eles - clama a D'us: "Mestre do Universo, livra-me da suspeita!" O Santo, Bendito o Seu Santo Nome, faz surgir uma imagem: abre-se a caverna onde Aharon falecera e ele aparece, inerte. Quando o povo vê aquela imagem, entende que Moshé dissera a verdade. "Se soubéssemos que Aharon se encaminhava para sua morte, nunca o teríamos deixado subir o Monte Hor", disseram a Moshé. Mas a ira do povo contra seu líder se dissipa, pois a cena que viram a seguir os toca profundamente. Moshé, em prantos, pública e abertamente chora a morte do irmão querido. É então que todo o povo, milhões de judeus, põem-se a chorar com ele.
Durante 30 dias, o Povo Judeu chora por Aharon. Ele foi pranteado por todos, homens e mulheres, pois por todos era amado. Aharon - o mais benévolo dos homens - dedicara sua vida a servir e abençoar os outros, a promover atos de bondade, a promover a paz. Nem mesmo Moshé, o maior dos profetas, líder de nosso povo, teve o mérito de ser pranteado pelo povo inteiro.
"Sejam seguidores de Aharon HaCohen"
Há outro ponto acerca da morte de Aharon que talvez seja o mais perturbador de todos: por que teria morrido no deserto? Por que não tinha sido ele o sucessor de seu irmão à frente do Povo Judeu e por que não pudera adentrar na Terra Prometida? A Torá ensina que tanto ele quanto Moshé foram proscritos de entrar na Terra por causa do incidente nas Águas da Discórdia; mas foi Moshé - e não Aharon - quem bateu na rocha. Aharon nada fez de errado.
Uma resposta possível seria esta: D'us, em Sua Sabedoria Infinita, sabia que Aharon não desejava entrar na Terra Prometida se seu irmão estava predestinado a morrer no deserto. Ele poderia ter questionado o decreto Divino, dizendo: "Por que não devo entrar na Terra de Israel? Nada fiz de errado. Foi meu irmão, não eu, quem bateu na rocha". Mas Aharon jamais diria isso, e não apenas porque ele sempre aceitava a Vontade de D'us. Aharon sabia que sua vida e a de Moshé estavam interligadas, assim como o estavam seus destinos. Sempre estiveram lado a lado, defendendo-se e se protegendo, mutuamente. Não seria agora, após tantos anos, que ele deixaria seu irmão mais jovem para trás. Esta talvez seja outra razão para que D'us tivesse ficado "constrangido" de dizer a Aharon que ele estava para morrer. Este último nada fizera para merecer aquela sorte. Ele merecia entrar na Terra de Israel e administrar não só o Tabernáculo, mas também o Templo Sagrado que seria construído em Jerusalém. Mas, em vez disso, Aharon morreu no deserto e ninguém sabe onde está enterrado.
O Tratado Sotá do Talmud pergunta por que não se conhece o local onde foi enterrado Moshé. E responde que se fosse conhecido, nossos antepassados o teriam visitado para pedir que intercedesse junto a D'us para que o Templo Sagrado não fosse destruído. Moshé teria intercedido e D'us teria sido forçado a aquiescer a esse pedido em nome de nosso povo. Como D'us sabia que viria o dia em que Ele teria que destruir o Templo e exilar Seu povo, Ele teve que ocultar o túmulo de Moshé Rabenu, nosso Mestre Moshé.
Isto explica a razão para que o túmulo de Aharon também seja desconhecido. Esse homem santo jamais recusaria um pedido de seu povo, a quem ele tanto amou, e D'us não recusaria um pedido de seu primeiro Cohen Gadol, especialmente pelo fato de que o Templo, Morada de D'us na Terra, era administrado pelos filhos de Aharon, os Cohanim. Assim sendo, Moshé e Aharon tiveram que falecer no deserto, em lugar desconhecido, para que a história judaica seguisse os planos concebidos por D'us.
O Zohar, obra fundamental da Cabalá, apresenta a razão mística para que ninguém conheça o local onde Moshé foi enterrado: o profeta maior do judaísmo não está em nenhum lugar específico porque desde sua morte uma faísca de sua alma se encarnou na alma de cada um dos judeus. O mesmo é válido para Aharon: a Torá determina que todo o Povo Judeu seja um reino de sacerdotes. E apesar de que apenas os Cohanim sejam descendentes físicos de Aharon, somos orientados pelo Pirkei Avot, a Ética dos Pais, o tratado talmúdico da sabedoria judaica, a ser os seguidores de Aharon. Somos orientados a emular não a Moshé, mas a Aharon - o homem que amou a paz, perseguiu a paz e dedicou sua vida a aproximar as pessoas - umas das outras e aproximá-las a D'us e à Sua Torá.
A morte de Aharon HaCohen ocorreu no primeiro dia de Menachem Av - o mês em que o primeiro e o segundo Templos Sagrados foram destruídos. Há uma tradição segundo a qual a Redenção Messiânica ocorrerá no dia 9 de Av, Tishá be'Av, o dia exato em que ambos os templos foram dizimados. Assim como Moshé liderou a construção do Tabernáculo no deserto, o Mashiach, que personificará o maior de nossos profetas e líderes, será aquele que liderará a construção do Terceiro Templo, que será eterno. O Mashiach também será aquele que nos conduzirá para uma era na qual não mais haverá sofrimento nem morte. Esta cherpá, como muito adequadamente a chamou o Rav Kook, deixará de existir, e aqueles que já faleceram, ressuscitarão. Quando isso acontecer - e que possa ser em breve - o primeiro Cohen Gadol, Aharon HaCohen, voltará a nosso meio. E ele, juntamente com todos os seus filhos, os Cohanim, administrarão o Templo Sagrado - local mais santificado da Terra - o local onde o homem finito e D'us Infinito se encontram.
(Tradução: Lilia Wachsmann)
Bibliografia:
Midrash Tanchuma - Bamidbar
Talmud Bavli - Sotá, Sanhedrin
Chumash (Rashi)
Chumash - The Stone Edition - Artscroll Mesorah
Reflections on Leave-Taking - Susan Handelman - www.chabad.org
Wiesel, Elie, Messengers of G-d , Ed. Simon & Schust