Um dos componentes místicos do Seder de Pessach é o Copo de Eliahu - o quinto copo de vinho que servimos, mas do qual não bebemos - em homenagem a Eliahu HaNavi - o profeta que anunciará a vinda de Mashiach. A tradição judaica nos ensina que o Profeta Eliahu visita todos os Sedarim. com o Copo de Eliahu, essa cerimônia não apenas celebra a redenção histórica do Povo Judeu da escravidão egípcia, mas também chama a atenção para sua futura redenção.
Um mandamento essencial durante o Seder de Pessach é a ingestão de quatro copos de vinho1. De certa forma, o Seder, que significa “ordem”, gira em torno da ingestão desses copos. E se inicia com a recitação do Kidush, ao término do qual se toma o primeiro dos quatro copos de vinho. Encerra-se com a ingestão do quarto copo de vinho, logo após a recitação do Halel HaGadol (Salmo 136) e de alguns trechos adicionais de louvor a D’us.
Os Quatro Copos simbolizam vários conceitos de grande importância na História Judaica. Contudo, como ensina o Talmud de Jerusalém (Talmud Yerushalmi), a ideia mais conhecida é que representam os quatro estágios da redenção do Povo de Israel da escravidão no Egito. No segundo livro da Torá, o Livro Êxodo (Shemot), que narra os eventos que celebramos em Pessach, lemos a maneira como D’us assegura a Moshé que, apesar de sua intervenção junto ao Faraó ter, a princípio, piorado a opressão contra o Povo Judeu, a libertação estava prestes a ocorrer. D’us diz a Moshé para transmitir a seguinte mensagem aos Filhos de Israel: “Eu sou o Eterno! E vos tirarei de debaixo das cargas do Egito e vos salvarei de seu serviço e vos redimirei com braço estendido e com grandes juízos. E vos tomarei por Meu Povo, e serei para vós D’us, e sabereis que Eu sou o Eterno, vosso D’us” (Êxodo 6:6-7). Os quatro copos de vinho ao longo do Seder simbolizam as quatro expressões de redenção contidas neste versículo: “Eu vos tirarei” (v’hotzêti), “e vos salvarei” (v’hitzalti), “e vos redimirei” (v’ga’alti), “e vos tomarei (v’lakachti) por Meu povo”.
Com base em uma passagem do Talmud Babilônico (Talmud Bavli, Pesachim 118a), há uma disputa entre os Rishonim – os grandes Sábios que viveram do século 11 ao 15 e que foram os primeiros comentaristas do Talmud – sobre a dúvida de haver ou não a obrigatoriedade de se tomar um quinto copo de vinho durante o Seder. Afirma o Talmud: “Acerca do quarto copo (de vinho), diz-se todo o Halel [Hamitzri] (Salmos 113-118) e, em seguida, o Halel HaGadol (Salmo 136); estas são as palavras de Rabi Tarfon”. Contudo, algumas versões do Talmud inserem as palavras “no quinto copo (de vinho) termina-se o Halel [Hamitzri] e se diz o Halel HaGadol ”.
Rashi, que escreveu o comentário clássico sobre a Torá e o Talmud, discorda da versão deste último que menciona um quinto copo de vinho. E considera essa menção um erro do escriba. Conclui explicando que deveria ser “o quarto copo”, não o “quinto”.
Rambam (Maimônides), um dos principais legisladores na Lei Judaica, aceita o texto dissonante. Escreve que após beber os quatro copos e completar o Halel [Hamitzri], pode-se encher um quinto copo e o tomar após a recitação do Halel Hagadol. Contudo, ele observa que esse copo não é obrigatório, diferentemente dos outros quatro. Outros Sábios foram mais adiante, afirmando que era uma mitzvá – um mandamento – beber um quinto copo no Seder.
Seguindo o Rambam, muitos judeus iemenitas tomam cinco copos de vinho durante o Seder, sendo este também o costume em vários grupos chassídicos, como as dinastias Kotzk, Shochachov e Izbitz, da Europa Oriental.
Poderíamos perguntar: se os Quatro Copos estão associados com as quatro expressões de redenção que constam no versículo 6: 6-7 do livro Êxodo, não seria evidente o erro na variante do texto do Talmud que menciona um quinto copo de vinho? Qual a razão para se tomar esse copo adicional durante o Seder? A resposta é que há um quinto termo de redenção no versículo da Torá que se segue imediatamente ao que contém as quatro expressões de redenção. E essa quinta expressão é a seguinte: “E vos levarei (v’hevêti) à Terra, pela qual levantei Minha mão para dá-la a Avraham, Yitzhak e Yaacov; e a darei a vós por herança – Eu, o Eterno” (Êxodo 6:8). De fato, a Torá deixa claro que o propósito do Êxodo não foi apenas libertar o Povo de Israel da escravidão no Egito, mas levá-lo à Eretz Israel, a Terra de Israel – eterna pátria ancestral dos descendentes de Avraham, Yitzhak e Yaacov. Algumas autoridades rabínicas sustentam haver uma conexão entre esse quinto termo de redenção e a obrigação de se tomar um quinto copo durante o Seder. Contudo, diferentemente das quatro expressões de redenção – todas integralmente ocorridas à época do Êxodo – a quinta expressão, que fala do Povo Judeu viver na Terra de Israel – não se verificou durante grande parte da História Judaica. Com a queda do Templo Sagrado de Jerusalém, o Povo de Israel foi exilado de sua terra e viveu na Diáspora durante quase dois mil anos. Mesmo com a criação do Estado de Israel, não ocorreu ainda uma redenção completa em nossa Terra: o Templo Sagrado permanece em ruínas, milhões de judeus ainda vivem fora de Eretz Israel e o Estado Judeu ainda continua engajado em conflitos e disputas territoriais e luta para garantir sua própria sobrevivência.
O Copo de Eliahu
Apesar da grande maioria de comunidades judaicas tomarem quatro – e não cinco – copos de vinho ao longo do Seder de Pessach, há, sim, um quinto copo que, apesar de não bebermos dele, tem um lugar de destaque durante a cerimônia. Um costume tradicional é encher com vinho um copo grande, bem bonito, e o deixar sobre a mesa, em lugar de destaque, durante parte, ou segundo alguns, durante todo o Seder (V. Kitzur Shulchan Aruch 119:1). Esse copo é conhecido como o Kós shel Eliahu, o Copo de Eliahu HaNavi – o Profeta Eliahu.
É possível que, como um meio-termo para a disputa não resolvida entre nossos Sábios acerca da obrigação de se tomar um quinto copo, tenha sido instituído o costume de se ter à mesa do Seder esse quinto copo que fica intocado, sem dele se beber – o Kós shel Eliahu. O Chatam Sofer comenta que o copo ao qual chamamos de Kós shel Eliahu na verdade ocupa o lugar de um quinto copo de vinho, e representa a quinta expressão de redenção – v’hevêti.
Segundo o Gaon de Vilna, o quinto copo leva o nome de Kós shel Eliahu porque, como ensina o Talmud, quando Eliahu HaNavi voltar ao mundo para anunciar a chegada do Mashiach, ele resolverá todas as disputas da Halachá, a Lei Judaica – inclusive esta sobre a obrigação de se tomar um quinto copo de vinho durante o Seder.
Encontramos uma antiga fonte que discute o costume de se colocar na mesa do Seder o copo de Eliahu HaNavi nos trabalhos do Rabi Zelikman Binga (Séc. 15), aluno e genro do Maharil 2. Em seu comentário sobre o Tratado Talmúdico que discute as leis de Pessach (Tratado Pessachim), ele relata ter testemunhado indivíduos que têm um quinto copo de vinho, no Seder, e o chamam de Copo de Eliahu. Ele deduz que a prática provavelmente seja relacionada com a nossa esperança de que Eliahu HaNavi venha na noite do Seder – a noite da redenção do Egito – para anunciar a redenção final: a chegada do Mashiach.
De forma similar, a Mishná Berurá (480:10) – uma obra fundamental contemporânea sobre a Halachá (Lei Judaica) de autoria do Chafetz Chaim – afirma que o copo é chamado de Kós shel Eliahu em alusão ao fato “de acreditarmos que assim como D’us nos redimiu do Egito, Ele nos redimirá, novamente, e enviará Eliahu para anunciar a redenção”. Outros dizem que o propósito do copo é permitir que o Profeta, após anunciar a chegada do Mashiach, possa cumprir sua obrigação de beber os Quatro Copos (V. Heinrich Guggenheimer, The Scholar’s Haggadah, 365-6).
O Rabi Yair Chaim Bacharach (Chavot Yair [1639-1702]) fornece uma razão original para se referir ao copo como Kós shel Eliahu. Iniciamos o Seder recitando o Kol Dichfin, uma oração que expressa nosso desejo de convidar pessoas. A seguir, preparamos um copo para nossos convidados e nos referimos a este como sendo o Kós shel Eliahu, já que Eliahu HaNavi é nosso convidado mais importante e aguardado.
Por que razão Eliahu HaNavi visita todo Seder de Pessach?
Para entendermos por que razão o Profeta Eliahu visita todo Seder de Pessach, precisamos primeiro nos familiarizar com a história desse lendário profeta.
Eliahu HaNavi, que aparece pela primeira vez no Livro dos Reis (Melachim), continuou sendo muito proeminente ao longo de toda a História Judaica. Como se sabe, ele ascendeu vivo aos Céus. A tradição judaica nos ensina que o Profeta Eliahu reza a D’us por misericórdia para o Povo de Israel e que ele é, frequentemente, o mensageiro Divino oculto na Terra com o intuito de ajudar o Povo Judeu. E, por fim, como consta no Livro de Malachi – o último livro dos Profetas – Eliahu HaNavi retornará ao mundo para proclamar a vinda do Mashiach.
A história da vida toda do Profeta Eliahu – as guerras espirituais que ele lutou em prol de D’us e os vários milagres e a ressurreição que ele realizou – estão além do escopo desta matéria. Aqui nos concentraremos em um episódio específico da vida de Eliahu HaNavi, que explicaa razão pela qual ele visita as mesas do Seder.
Nascido em torno do ano 900 antes da Era Comum, o profeta Eliahu viveu durante um período turbulento na História Judaica. Após a morte do Rei Salomão, Shlomó HaMelech, o Reino judaico foi dividido em dois: Israel e Judá. Entre todos os reis das Dez Tribos do Reino de Israel, o mais notório foi Ahab. Ele escolheu para si uma esposa não-judia, Jezebel – filha do Rei dos Sidônios. A Rainha Jezebel era uma fervorosa adoradora de ídolos e assassina cruel e sanguinária que exterminou praticamente todos os profetas judeus e promoveu os falsos profetas de sua religião idólatra. O principal adversário do Rei Ahab e da Rainha Jezebel foi Eliahu HaNavi, um fervoroso profeta de D’us.
Após a famosa confrontação no Monte Carmel, na qual o Profeta Eliahu triunfa sobre os falsos profetas idólatras de Jezebel, essa malvada rainha jura matá-lo. Temendo por sua vida, Eliahu foge. Quando chega no Monte Sinai – o local onde D’us Se havia revelado a todo o Povo de Israel e dera a Torá por meio de Moshé Rabenu – Eliahu vivencia uma visão profética: “A Palavra do Eterno veio a ele, dizendo, ‘Por que estás aqui, Eliahu?’”. O profeta responde, “Agi com grande zelo pelo Eterno, D’us das Legiões, pois os Filhos de Israel abandonaram o Teu pacto; eles destruíram Teus altares e mataram Teus profetas com a espada, de tal modo (que) apenas eu continuo vivo, e eles agora buscam tirar minha vida” (I Reis, 19:10).
O profeta faz essa declaração não apenas uma vez, mas duas: ele diz a D’us que o Povo Judeu havia abandonado seu pacto com Ele e que apenas ele, Eliahu, permanecera sendo um fiel servo de D’us. O Midrash (Shir HaShirim Rabbah 1:6) nos revela que essas palavras de Eliahu não agradam a D’us: O Todo Poderoso não permite que ninguém – nem mesmo um dos maiores profetas de todos os tempos – difamasse Seus filhos, o Povo de Israel. Apesar da indiscutível grandeza de Eliahu HaNavi – um profeta tão poderoso que realizara muitos milagres, fizera ressuscitar uma criança e escapara da morte, subindo vivo aos Céus – ainda assim D’us o repreendeu por difamar o Seu povo, o Povo Judeu, indicando o profeta Elishá para o suceder. O Zohar, a obra fundamental da Cabalá, ensina que, como resultado da repreensão do Eterno, Eliahu jurou sempre buscar as boas ações do Povo Judeu e as relatar ao Trono Celestial.
A obra Pirkei d’Rebbi Eliezer (Capít. 29), com base na passagem do Livro dos Reis acima descrita, registra um incidente no qual D’us diz a Eliahu HaNavi que ele iria testemunhar cada uma das circuncisões de meninos judeus (o Brit Milá) e, assim, ser testemunha de que o Povo Judeu cumpre esse mandamento. Por que razão, entre todos os demais rituais judaicos, é especificamente este que o Profeta Eliahu precisa testemunhar? A razão é que Eliahu HaNavi havia acusado o Povo Judeu de ter abandonado seu Pacto com D’us: “...pois os Filhos de Israel abandonaram o Teu pacto” (Vritechá). O mandamento da circuncisão é chamado de Brit Milá, “o pacto da circuncisão”, pois constitui um pacto, um sinal entre cada homem judeu e D’us. Assim sendo, D’us envia o Profeta Eliahu a cada Brit Milá – em todos os tempos e em todos os lugares, geração após geração – a fim de que ele veja que, contrariamente ao que alegara, o Povo Judeu não abandonou seu pacto com D’us. Com base no ensinamento de que Eliahu HaNavi está presente em todas as cerimônias de circuncisão de meninos judeus, nossos Sábios instituíram a Kissê shel Eliahu, a Cadeira de Eliahu, que serve para reconhecer a presença do Profeta nessa cerimônia religiosa.
O fato de Eliahu HaNavi estar presente em todo Brit Milá ajuda a explicar a razão para que, no Seder, se inclua um quinto copo – o Copo de Eliahu. Há várias ligações diretas entre o Brit Milá e o Seder de Pessach. Por exemplo, somente um homem circuncidado poderia comer do Corbán Pessach (o Sacrifício Pascal comido durante o Seder). Apesar da Torá não se referir ao Seder como um pacto entre D’us e o Povo Judeu, essa cerimônia é o rito judaico que recorda e celebra a gênese dos Filhos de Israel como o povo que D’us escolheu para Si. Interessante mencionar que o Seder de Pessach é o ritual judaico mais amplamente cumprido em Israel. Cerca de 94% de todos os judeus israelenses participam de um Seder – número bem mais alto do que aqueles que jejuam em Yom Kipur ou vão a uma sinagoga em Rosh Hashaná.
Como o Brit Milá e o Seder de Pessach são interligados e de importância central para a identidade judaica, não causa surpresa o fato de que Eliahu HaNavi presencie ambas as cerimônias. O Rabi Moshé Chagiz (Shtei HaLechem 46) escreve que o Profeta Eliahu vai a cada Seder de Pessach para “relatar o louvor dos judeus e mencionar perante D’us que eles cumpriram a mitzvá de Pessach, que é dependente (do cumprimento da mitzvá) de Milá, a circuncisão”. Rabi Chagiz diz, também, que “não há dúvida de que o Profeta Eliahu irá a cada casa judaica para testemunhar o cumprimento de um mandamento que, na realidade, engloba mais um, formando dois: “Pessach e Milá ”. E depois sobe aos Céus para interceder em prol da Nação Judaica para a vinda da Redenção Final.
Rabi Menachem Mendel Schneerson, o Lubavitcher Rebe, afirmou que quando o Rabi Shneur Zalman de Liadi – fundador da dinastia Chabad-Lubavitch – escreveu que há um costume de “encher-se um copo a mais do que o número de pessoas presentes ...”, ele estava aludindo à visita de Eliahu HaNavi ao Seder. Escreveu o Rebe: “Eliahu passa a ser um dos participantes à mesa do Seder, pois a fé do Povo Judeu nessa noite, a noite em que o Rei dos reis, D’us em toda a Sua glória, revela-Se em toda a Sua plenitude, isto, por si só, traz... Eliahu a cada mesa de Seder” (Haggadah shel Pesach im Likutei Ta’amim, Minhagim, u’Biurim 2 [Brooklyn, NY, 5755], 440).
Talvez o mais fervoroso proponente da ideia de que Eliahu HaNavi vem a cada uma das mesas do Seder de Pessach e toma do copo de vinho preparado em sua honra foi o Rabi Shalom Dov Ber Schneerson (o quinto Lubavitcher Rebe). Antes de colocar o vinho do copo de Eliahu de volta à garrafa, o Rabi Shalom Dov Ber colocava ainda um pouco mais de vinho. O motivo disso é que ele se preocupava que o vinho que havia no copo fosse pagum, ou seja, incompleto, pois dele Eliyahu HaNavi teria bebido, tornando-o não utilizável para outras mitzvot a menos que se adicionasse um pouco mais de vinho.
O que representa o Quinto Copo
Iniciamos este ensaio discutindo opiniões divergentes entre os Rishonim – alguns dos maiores Sábios na História Judaica – sobre a necessidade – ou não – de tomarmos um quinto copo de vinho durante o Seder. Essa dúvida surgiu de uma variante no texto do Talmud. Mas como as coincidências não existem no Judaísmo, e como tudo o que é relacionado à Torá é Divino e proposital, o fato de haver duas versões no Talmud a respeito do mandamento dos Quatro Copos não é produto de erro humano, mas, sim, provém da Providência Divina. A variante no texto do Talmud que menciona o quinto copo de vinho traz à tona uma importante pergunta: o que, particularmente, celebra a Festa de Pessach e, em especial, o Seder? O passado ou o futuro?
O Rabino Lord Jonathan Sacks, ZT’L, fornece uma bela explicação do simbolismo desse quinto copo de vinho. Ele explica que Pessach representa o início da extraordinária jornada da História Judaica – da escravidão à liberdade, do Egito à Terra Prometida. E pergunta: como poderia o Povo Judeu celebrar, adequadamente, o Seder, cujos temas são liberdade e soberania na Terra de Israel – após a destruição do segundo Templo Sagrado de Jerusalém e o subsequente exílio de milênios?
O Rabino Sacks explica que enquanto a quase totalidade do Povo Judeu vivia na Diáspora, por quase dois mil anos, o Seder não apenas falava do passado – a libertação do Egito – mas sobre uma futura redenção. Como lemos na Hagadá de Pessach: “Este ano escravos; no próximo ano, homens livres. Este ano estamos aqui; no próximo ano, na Terra de Israel”. E como ele escreveu: “O passado se tornou o futuro. A memória foi transfigurada em esperança. Não é exagero chamar o Povo Judeu de ‘povo da esperança’. O que ocorreu uma vez, pode voltar a ocorrer. Como disseram os profetas do exílio – Jeremias e Ezequiel: haveria um segundo Êxodo. A perda foi apenas temporária. A promessa Divina era eterna”.
Durante o Seder, os judeus sempre puderam falar sobre as quatro expressões de redenção – e beber os quatro copos de vinho correspondentes às mesmas – porque esses quatro estágios de redenção ocorreram durante a libertação do Egito. Mas fazia sentido o Povo Judeu, na Diáspora, tomar um quinto copo de vinho celebrando a quinta expressão – “Eu os levarei à Terra (de Israel)”? Essa pergunta, como explica o Rabino Jonathan Sacks, constituiu o debate entre nossos Sábios acerca de se tomar ou não o quinto copo. Diziam alguns deles que não se deveria tomar um quinto copo; já outros afirmavam o contrário. E uma terceira opinião dizia que essa questão é opcional.
Mas agora que a Terra de Israel está em mãos do Povo Judeu, a pergunta volta à pauta: deveríamos tomar um quinto copo de vinho durante o Seder? Bem verdade, milhões de judeus ainda vivem fora da Terra de Israel e o Estado Judeu enfrenta muitos desafios. Mas hoje, contrariamente ao passado, a expressão de redenção, “Eu os levarei à Terra (de Israel)”, deixou de ser um sonho, e é uma realidade. Hoje temos o luxo de pensar e debater sobre tais questões. Mas nos séculos 11 e 12 – a era dos Rishonim – que viveram durante uma das noites mais escuras do exílio judeu, a pergunta era: “Quão distante, no presente, celebramos a esperança de um futuro”? Em outras palavras, devemos beber apenas quatro copos porque não vivemos na Terra de Israel, ou devemos beber um quinto copo como uma afirmação de que, um dia, a quinta expressão de redenção será cumprida?
A resposta da Halachá – se era proibido tomarmos o quinto copo, opcional ou uma mitzvá – era de importância secundária. Bem mais importante era o fato de que isso simbolizava a esperança de um futuro – a certeza de que um dia voltaríamos a Jerusalém. O quinto copo, o Copo de Eliahu HaNavi, representava a esperança judaica. Como escreveu o Rabino Jonathan Sacks, “Pessach manteve viva a esperança. E a esperança manteve vivo o Povo Judeu”.
Através dos séculos, o quinto copo de vinho durante o Seder, o Copo de Eliahu, recordava a nosso povo que não podíamos perder a esperança mesmo nos capítulos mais difíceis de nossa história. O Copo de Eliahu instilou em nosso povo o entendimento de que a redenção haveria de vir, um dia. E como Eliahu HaNavi é o profeta que irá anunciar a chegada do Mashiach – que irá liderar todo o Povo Judeu de volta a Eretz Israel – é mais do que apropriado que o quinto copo, que simboliza a quinta expressão de redenção – “E eu os levarei (v’hevêti) à Terra” – leve seu nome.
Já transcorreram três mil anos desde que o Profeta Eliahu reclamou perante D’us que o Povo Judeu havia abandonado seu pacto com Ele. A verdade é que nosso povo jamais o fez – nem nos tempos do Rei Ahab e da Rainha Jezebel nem em tempo algum. Apesar da queda de ambos os Templos Sagrados, o exílio da Terra de Israel, o sofrimento, as expulsões, os pogroms, a Inquisição e o Holocausto, o Povo Judeu permaneceu fiel a D’us. Através dos milênios, Eliahu HaNavi esteve presente em cada Brit Milá e em cada Seder de Pessach para testemunhar que nosso povo nunca abandonou seu pacto com D’us.
Eliahu HaNavi nunca morreu – apenas desapareceu ao subir aos Céus. Desde então, ele continuou a viver, disfarçadamente, entre nós. Ele participa de todas as cerimônias de Brit Milá, senta-se à mesa de cada Seder e, anonimamente, ajuda várias pessoas em momentos de necessidade. Somente alguns poucos Sábios mereceram ver e se comunicar com ele através de todas as gerações. Mas chegará o dia em que o Profeta Eliahu se revelará abertamente e anunciará que a paz finalmente chegou ao mundo.
Que seja a Vontade de D’us que esse dia chegue breve em nossos dias. Amen, ken yehi ratson.
1O vinho tem que ser casher. Muito importante: a pessoa que não pode ingerir bebidas alcoólicas pode substituir o vinho por suco de uvas também casher.
2Abreviatura do nome do Rabi Yaakov ben Moshe Levi Moelin, talmudista e decisor muito conhecido por sua codificação dos costumes dos judeus alemães. Maharil éa sigla em hebraico para“Nosso Professor, o Rabino Yaakov Levi”.
BIBLIOGRAFIA
The Cup of Hope, artigo do rabino Lord Jonathan Sacks publicado no site https://www.rabbisacks.org
What’s the Truth about Eliyahu Hanavi at the Seder?, artigo do rabino Dr. Ari Z. Zivotofsky publicado no site https://jewishaction.com