No Judaísmo, o casamento é muito mais do que uma cerimônia ou ritual simbólico – é um mandamento Divino. É uma ocasião sagrada, a criação de um laço espiritual que une a alma dos noivos, e constitui um dos alicerces da vida judaica e da continuidade do nosso povo.
Nos primeiros capítulos de Gênesis, Bereshit, a criação do Universo está entrelaçada com a narrativa do primeiro relacionamento humano. Ao criar o homem, D’us percebeu ser necessário que ele tivesse uma companheira a seu lado, durante a vida adulta. Relata a Torá: “D’us criou Eva a partir da costela de Adão, assim ordenando: ‘... Portanto, o homem deve deixar seu pai e sua mãe e se unir à sua mulher, para assim serem como uma só carne’. D’us os abençoou e lhes disse: ‘Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra...’ ” (Gênesis 1:28).
Conta o Midrash que D’us celebrou o primeiro casamento entre um homem e uma mulher logo após criar o Universo e chamou os anjos para servirem de testemunhas. E conta ainda que, antes de apresentar Eva a Adão, D’us a vestiu e adornou como uma noiva. O Eterno então chamou os anjos: “Venham, vamos realizar um serviço para Adão e sua companheira”. Os anjos cercaram o dossel nupcial e D’us pronunciou a bênção sobre o casal (Pirkei d’Rabbi Eliezer, 12).
Segundo o Zohar, sob a chupá, o pálio nupcial sob o qual é realizado todo casamento judaico, reúnem-se dois judeus, duas almas que, ao virem para nosso mundo físico, foram colocadas em corpos separados. Como ensina o Talmud, a junção dessas duas almas é predestinada antes do nascimento do menino e da menina: “Quarenta dias antes do nascimento de uma criança, a Voz Celestial – Bat Kol – anuncia: a filha desta pessoa está destinada para tal e tal pessoa”.
O casamento não é uma instituição criada pelos homens, mas um Mandamento Divino que assegura a continuidade de nosso povo. A família é a força do Judaísmo, o pilar sobre o qual repousam a maioria dos atos e experiências próprios da vida judaica. E é tal a importância atribuída pelo Judaísmo à constituição de uma família, que o Talmudafirma ser permitido vender um Sefer Torá, se isto for necessário para ajudar uma noiva a se casar. E, em todo lugar onde os judeus se estabeleçam, deve-se construir uma micvê antes mesmo do que uma sinagoga, para que possam ser cumpridas as leis espirituais e físicas que regem o relacionamento conjugal entre o casal.
É tão profunda a santidade de um casamento que é utilizado como metáfora para descrever a relação entre o Eterno e o Povo Judeu – sendo D’us o Noivo e o Povo de Israel a noiva. Podemos encontrar essa metáfora no Shir Hashirim, o Cântico dos Cânticos, um dos mais belos livros do Tanach, de autoria do Rei Salomão. Numa leitura superficial o texto parece ser uma canção de amor entre um homem e uma mulher, mas nossos Sábios ensinam que a obra é uma alegoria do amor entre D’us e o Povo de Israel. O fato de o Rei Salomão ter utilizado o amor entre homem e mulher como alegoria mostra o quão poderoso e sagrado deve ser esse amor – pois sagrada e indissolúvel é a união entre D’us e Israel.
A contratação de um casamento
No Judaísmo, o casamento entre um homem judeu e uma mulher judia, assim como os outros ritos de passagem, está ligado a eventos da história de nosso povo. A cerimônia que une um casal é uma verdadeira tapeçaria tramada com Leis Divinas e passagens e histórias bíblicas, elementos espirituais e místicos, assim como rituais significativos. No decorrer do tempo, nas inúmeras comunidades judaicas espalhadas nos quatros cantos do mundo surgiram diferentes costumes e tradições que foram inclusos na cerimônia do matrimônio, nos dias que a precedem e nos dias que a seguem, mas não mudam nunca as Leis que regem e validam o casamento.
Na época bíblica, os termos de um contrato matrimonial eram determinados pelos pais do futuro casal. O noivado, erusin, envolvia o pagamento de uma soma em dinheiro (em hebraico mohar), pelo noivo ou por seu pai, ao pai da noiva. Às vezes, parte da soma era entregue à noiva junto com um presente, e, em certos casos, era a noiva que entregava ao noivo presentes trazidos da casa de seus pais como dote.
No período pós-bíblico, houve uma mudança nos procedimentos legais relativos à contratação de um casamento. De acordo com a Mishná havia três formas consideradas válidas: uma soma em dinheiro (kessef), uma garantia escrita (Sh´tar) ou um Matrimônio por Coabitação (Kidushei Biá). Neste último caso, a cerimônia terminava com a mulher entrando na tenda do marido, ato que marcava o início de uma vida em comum. Na realidade, o Sh´tar, a garantia escrita, era raramente usada, e o Matrimônio por Coabitação acabou sendo proibido. A lei rabínica determinou que o noivado por meio de uma soma em dinheiro, kessef,era o método padrão de casamento.
As leis sobre o casamento judaico que se originaram de leis bíblicas foram elucidadas pela Mishná e Guemará (que, juntas, constituem o Talmud), no Tratado Ketubot. Quando o Talmud foi redigido, uma série de leis foram codificadas. De acordo com essas leis, quando um homem judeu e uma mulher judia decidem casar-se, ele precisa dizer-lhe que ela passa a ser sua esposa e ela deve aceitar essa união de livre e espontânea vontade. O compromisso deve ser realizado diante de duas testemunhas consideradas válidas pela Lei Judaica – dois homens cumpridores dos preceitos religiosos do Judaísmo. Apesar de hoje em dia o termo kidushin ser usado para se referir ao casamento como um todo, até o século 11 o casamento era realizado em duas etapas e duas datas distintas.
No Talmud, o termo kidushin refere-se especificamente à primeira etapa do casamento, quando a noiva, de fato, é “consagrada” ao noivo, por isso o nome erusin ou kidushin (consagração ou dedicação). A cerimônia era o momento em que se firmava o compromisso, que, apesar da possibilidade de revogação por uma das partes, possuía quase que idêntica validade ao ato do matrimônio, sem, no entanto, conceder uma série de direitos ao homem. Pois, mesmo estando consagrada ao futuro esposo através do kidushin, a jovem não podia viver com ele até a realização da cerimônia de casamento – as núpcias propriamente ditas, em hebraico, nissuin, realizadasmeses mais tarde.
Durante a cerimônia do kidushin, o noivo entregava à futura esposa um presente cujo valor deveria ser maior do que uma prutá (uma pequena moeda de bronze). A partir do século 7 o presente foi substituído por um anel sem pedras preciosas1. Este era colocado pelo noivo no dedo indicador direito da noiva, dizendo: “Você está consagrada a mim por meio deste objeto”. Ao colocar o anel no dedo da noiva, o noivo efetivava seu vínculo com ela. Essa cerimônia é conhecida como kinyan.
Hoje em dia recita-se: “Harei at mekudeshet li, betabaat zu kedat Moshé ve-Israel” (Eis que me és consagrada por esse anel, segundo a lei de Moshé e de Israel). Embora essa frase esteja registrado desde os tempos da Mishná (Tosefta Ketubot 7:6), só se tornou padrão na cerimônia do kidushin, no século 12.
A soma em dinheiro (mohar)que antigamente o noivo tinha que pagar ao pai da noiva por ocasião do noivado, passou a ser a quantia que o marido era obrigado pagar à esposa caso viesse a se divorciar dela; ou que seria destinada a ela caso ele morresse.
Algum tempo após a celebração do kidushin, o noivado, geralmente após um ano, era comum ocorrer a cerimônia de nissuin, o casamento entre os dois prometidos, propriamente dito. A cerimônia devia ser realizada na presença de duas testemunhas consideradas válidas. Durante a cerimônia eram recitadas as sete bênçãos – Sheva Berachot, que iremos descrever mais adiante.
Assim como ainda é em nossos dias, a cerimônia de casamento era realizada sob a chupá, o pálio nupcial. Significando, em hebraico, cobrir, acolher ou proteger, a chupá, é considerada o “domínio” do noivo e, ao entrar, a noiva mostra seu consentimento na união. Sendo uma estrutura aberta de todos os lados, representa o novo lar que será constituído e compartilhado pelo casal. Assim como a tenda de nosso patriarca Avraham e nossa matriarca Sarah era aberta nos quatro lados para acolher hóspedes de todas as direções, a chupá aberta simboliza o desejo do novo casal de formar um lar judaico aberto e acolhedor.
A partir do século 11, apesar de continuarem sendo dois atos distintos, as duas etapas do matrimônio – erusin/kidushin e o nissuin – passaram a ser realizadas sucessivamente. A ketubá, o contrato de casamento, é mencionado ou lido, conforme os costumes de cada comunidade, entre as duas etapas da cerimônia.
Redigida em aramaico, a ketubá – que literalmente significa “o que está escrito” – contém todas as responsabilidades e obrigações do marido com sua esposa, conforme nossa lei e tradição.
Há mais de dois milênios nossos Sábios instituíram que um casamento judaico devia ser regido não apenas por leis religiosas ou tradições, mas que era necessário um contrato matrimonial, chamado de ketubá, que confirmasse legalmente o casamento e especificasse as responsabilidades do marido em relação a sua esposa. O intuito de nossos Sábios era proteger a mulher e seus direitos em uma época em que a mulher era considerada, entre outros povos, “propriedade do pai ou do marido”, ou “um ser sem direitos”.
A ketubá contém dez prescrições da Halachá. Três estão na Torá: o marido deve alimentar sua mulher, vesti-la e a ela se unir conjugalmente. As outras sete determinam que o marido tem o dever de cuidar de sua mulher quando ela estiver doente, resgatá-la se estiver em cativeiro, dar-lhe uma moradia adequada, assegurar sua subsistência bem como a de suas filhas, enterrá-la se ela vier a falecer e ter previsto uma reserva para o futuro dela, caso ele morra antes do que ela. São citadas ainda algumas obrigações específicas entre o casal e seus pais, assim como a soma que ele deve dar à mulher em caso de divórcio. E cabe a ela guardar este documento por toda a vida.
Antigamente existia uma verdadeira arte em torno da confecção de uma ketubá e as famílias mais abastadas usavam documentos belíssimos, com lindas ilustrações e bênçãos. Foram assim conservadas ketubot magníficas, de grande valor artístico, que hoje são peças de museus.
Alguns costumes nos dias que antecedem o casamento
A aceitação do pedido de casamento pela noiva dá início a uma série de eventos. No Shabat que precede o casamento, o noivo é chamado para ler a Torá, em comemoração pelo matrimônio. Ele recebe uma aliá, palavra em hebraico que significa subida ou ascensão. Nas comunidades que falam iídiche ou alemão, o termo é oifrifin ou aufrufn e em muitas comunidades ashquenazitas esse é o termo usado para esse “Shabat do noivo”. Esse é um costume antigo mencionado em fontes rabínicas, como o Pirkê de’Rabi Eliezer. Em muitas comunidades, na hora em que o noivo recebe a aliá costuma-se jogar confetes de amêndoas, arroz ou balas sobre ele.
Após o serviço religioso matinal do “Shabat do noivo”, os presentes participam de um kidush festivo oferecido pela família dele. Antigamente a noiva não costumava estar presente nessa comemoração, pois, após ter feito a micvê ela não via o noivo até o casamento. Mas toda a sua família comparecia. Atualmente, como a noiva costuma ir para a micvê no dia anterior ao casamento ela pode estar presente nesse Shabat dedicado a seu noivo. Porém, existem muitos costumes onde os noivos não se veem por uma semana antes do casamento.
Nos dias que precedem a celebração do matrimônio, a noiva entra nas águas da micvê para se purificar espiritualmente antes do grande dia. Considerado no Judaísmo o portal para a consagração das relações físicas entre o casal, o banho ritual na micvê é o primeiro passo em direção à vida conjugal. No Oriente Médio, antes da ida da noiva à tebilá, como é chamada a micvê pelos sefaraditas, era costume o noivo enviar à noiva vários presentes dispostos em lindas bandejas, em árabe, swenie. Esta milenar celebração entre os judeus do Oriente Médio já era mencionada em documentos do século 10, encontrados na Guenizá do Cairo.
Nas comunidades ashkenazim,o noivo e a noiva costumam jejuar do nascer do sol do dia do casamento até o momento em que bebem o primeiro copo de vinho. A tradição originou-se na Alemanha na época medieval. Como o casamento é o fim de uma fase da vida e o início de outra, é um momento de reflexão e orações, que é facilitado pelo jejum.
O dia do casamento
O casamento é visto como o início de uma nova vida para os noivos. Segundo a Cabalá, no dia do casamento D’us perdoa todos os erros e transgressões que os noivos porventura tenham cometido contra Ele. Isto para que possam começar a vida em comum como se tivessem acabado de nascer.
O dia do casamento é o mais sagrado na vida da pessoa, sendo considerado como um “Yom Kipur pessoal”. Por esta razão, apesar de a Lei não determinar datas específicas para a realização da cerimônia, há quem prefira casar-se no mês de Elul.
Uma razão para a preferência por Elul é que a cerimônia do enlace matrimonial é a “reencenação” do casamento entre D’us e o Povo Judeu, ocorrido aos pés do Monte Sinai. Além disso, onome desse mês faz referência à eterna e indissolúvel aliança entre o Criador e os Filhos de Israel, pois suas letras formam um acróstico de um famoso verso do Cântico dos Cânticos: “Ani le-dodi ve dodi li”, “Eu pertenço a meu amado e meu amado pertence a mim” (Shir HaShirim, 6:3).
Um casamento judaico pode ser realizado de dia ou de noite, e não há um dia da semana específico para sua realização, há porém, uma tradição que aconselha casar-se às terças-feiras, o terceiro dia da Criação, quando é repetido em Gênesis 1:18, por duas vezes, a expressão “e D’us viu que era bom”. Porém, há certos dias no ano em que o casamento não pode ser realizado: no Shabat, nos dias das festas judaicas, com exceção de Purim e Chanucá.
Há também períodos do ano em que não se pode realizar nem casamentos nem festas. Um deles é durante Chol Hamoed, que é o período intermediário entre as festas de Sucot e de Pessach. O motivo do impedimento é que a alegria do casamento não pode fazer sombra à alegria dos nossos Chaguim, as festas judaicas. Também não se realizam casamentos durante o período que se inicia no segundo dia de Pessach e que vai até o 33o dia do Omer – Lag Ba’Omer – por ser um período de luto para o Povo Judeu. Após essa data, de acordo com a tradição sefaradita, podem ser realizados casamentos. A proibição volta em outra época pesarosa para nosso povo: as três semanas de luto que vão de 17 de Tamuz até 9 de Av, Tishá B’Av, data de destruição tanto do Primeiro quanto do Segundo Templo de Jerusalém.
A cerimônia religiosa
Antes do início da celebração do casamento o noivo e duas testemunhas (dois homens sem vínculo de parentesco entre si ou com os noivos) assinam a ketubá, o contrato formal de casamento. Ao fazê-lo, o noivo demonstra sua intenção de não considerar o casamento apenas como uma união física e emocional, mas também como compromisso moral e legal que, mediante essa assinatura, ele se compromete a cumprir. A cerimônia de casamento começa com um cortejo de escolta aos noivos. Antigamente, o cortejo que levava os noivos até a chupá percorria as ruas do bairro, e a alegria era compartilhada por toda a comunidade.
O noivo, o chatan, é o primeiro à entrar sob a chupá, o pálio nupcial, à espera da “eleita de seu coração”, bechirat libó. Como vimos acima, é sob a proteção da chupá que os noivos vão se encontrar para formalizar seu casamento conforme as Leis de Moshé e Israel. A noiva, calá, vai ao encontro de seu pretendido, conduzida pelo pai, ou conforme o costume de algumas comunidades pelo pai e pela mãe.
Pouco antes da calá chegar à chupá, o noivo sai do seu lugar e vai ao seu encontro. Olha-a no rosto, cumprindo a determinação rabínica: “Verifique a identidade de sua noiva para ter certeza de que se trata da mulher que quer desposar”. A seguir, cobre o rosto dela com um véu e a conduz à chupá.
A primeira parte do casamento judaico – kidushin – se inicia com uma bênção sobre um copo de vinho. Antes, porém, costuma-se entoar a bênção específica do fruto da videira, pois, como ensina o Talmud, este “alegra o coração do homem”. Todas as bênçãos durante o casamento são feitas sobre o vinho, pois este também simboliza a vida.
Sendo o casamento um Mandamento Divino, a Lei judaica requer a recitação de uma bênção de agradecimento e louvor ao Criador, que termina afirmando “Bendito és Tu, ó Senhor que santificas o Teu povo, Israel, através de chupá e kidushin”.
O rabino ou oficiante oferece então o vinho ao noivo para que este tome um gole, e em seguida, passa o cálice à mãe da noiva. Esta, por sua vez, o dá à filha para que o prove. O noivo então declara: “Com este anel te consagro a mim, conforme a lei de Moshé e Israel”, e coloca no dedo indicador direito da noiva uma aliança de ouro simples. Este ato é uma prece silenciosa para que, assim como o anel de ouro simples é sem defeitos nem obstruções, o casamento também seja uma união de beleza simples, livre de discórdia ou conflito.
A colocação da aliança de casamento, pelo noivo, e sua aceitação, pela noiva, constituem o ato central do kidushin. Por isso, devem ser obrigatoriamente realizados diante de duas testemunhas posicionadas de tal forma a ouvir as palavras do noivo e vê-lo colocar a aliança no dedo da noiva.
Em seguida é feita a leitura ou menção da ketubá, conforme os hábitos de cada comunidade, e é iniciada a segunda parte da cerimônia matrimonial.
Nissuin, as núpcias
Esta segunda etapa, chamada em hebraico de nissuin, representa as núpcias propriamente ditas. É nessa hora que os noivosrecebem as Sete Bênçãos Nupciais, Sheva Berachot, sobre um cálice de vinho, para que o amor entre o casal seja tão permanente e indestrutível quanto o amor de D’us por Israel, Seu povo.
A primeira bênção é a do vinho; as duas seguintes são de louvor a D’us por Suas obras magistrais: o Universo e o ser humano. A quarta bênção louva D’us por nos ter criado à Sua imagem e nos ter concedido um potencial divino, além de enaltecer o matrimônio. A quinta expressa a esperança de que o Povo de Israel regresse à Tsion (Jerusalém), terra de nossos ancestrais e herança eterna de cada um de nós judeus. A sexta é um louvor a D’us pela alegria do dia do matrimônio, recriando a união entre Adão e Eva: “Conceda júbilo a estes amados, assim como outorgaste júbilo à obra de Tuas Mãos, no Jardim do Éden de outrora. Bendito és Tu, nosso D’us, que alegras o noivo e a noiva”. A sétima e última bênção oferece uma visão messiânica de um mundo onde os noivos se regozijarão, constantemente, em segurança e felicidade: “Bendito és Tu, nosso D’us, Rei do Universo, que criaste alegria e júbilo, noivo e noiva, contentamento e canto, regozijo e deleite, amor, harmonia, paz e companheirismo. Nosso D’us, que em breve se escute nas cidades de Yehudá e nas ruas de Jerusalém o som da alegria, o som do júbilo dos noivos em sua chupá e dos jovens em seus jubilosos banquetes. Bendito és Tu, nosso D’us, que alegras o noivo e a noiva”.
Todas essas berachot santificam os noivos para que o amor entre eles seja tão permanente e indestrutível quanto o amor de D’us por Israel. Após as bênçãos, o noivo bebe do segundo cálice de vinho e, logo a seguir, oferece-o àquela que já é sua esposa. A Cabalá revela que é este o momento em que ambos se unem para se tornar uma única alma. Para concluir a cerimônia, baseando-se no versículo que diz: “Elevarei Jerusalém acima de minha maior alegria” (Kol Bo, Remá Ev. HaEz, 65), o noivo deverá quebrar, com o pé direito, um copo envolto em um pano. Antes disso, ele declara: “Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, que se resseque a minha mão direita. Que minha língua se apegue ao meu pálato, se não me lembrar de ti, se não preferir Jerusalém à minha maior alegria” (Salmos 137:5-6). Em seguida, ele quebra o copo, em recordação à destruição do Templo Sagrado de Jerusalém.
Em algumas comunidades, o gesto é também interpretado como sinal de bom augúrio. É o momento em que a solenidade e santidade do ato se tornam mais leves; os presentes se manifestam, alegremente, fazendo votos de mazal tov (boa sorte) em voz alta. Isto descontrai a natural tensão dos noivos, nesse momento tão ansiado de consolidação de seu amor, em que eles se “consagram um ao outro” diante de D’us e de sua kehilá, a sua comunidade.
BIBLIOGRAFIA
Forman, Bruce e Brombacher, Shoshannah (autor e ilustradora), Under The Chuppah: A Jewish Couple’s Guide to Wedding and Meaningful Marriage. Ebook Kindle
Shire, Michael, Mazal Tov!: The Ritual and Customs of a Jewish Wedding, novembro de 2002
The Jewish Wedding, https://www.chabad.org