Em novembro do ano passado, 68 anos após a famigerada Noite dos Cristais, quando centenas de sinagogas em toda a Alemanha foram queimadas, inaugurou-se a ‘ohel jakob’, em munique. sob uma chuva fina, 250 membros da comunidade judaica da cidade, acompanhados de renomados rabinos e personalidades, deixaram o local onde até 1938 havia uma sinagoga. carregando sefarim cobertos de veludo azul, sob grandes pálios.
Caminharam solenemente em meio a numeroso público, sob forte proteção policial, pelas ruas da cidade até a nova sinagoga, Ohel Jakob. À frente do cortejo, o ex-grão rabino asquenazita de Israel, atual rabino de Tel Aviv, Meir Lau, acompanhado de convidados notáveis, além de representantes da Igreja. Transeuntes surpresos tiravam fotos com seus celulares para registrar a inusitada cena.
A nova sinagoga de Munique foi inaugurada em uma data de tristes recordações: 9 de novembro, a trágica "Noite dos Cristais", quando centenas de judeus foram vítimas da violência nazista que começava a se alastrar pela Europa.
O evento, que contou com 1.000 convidados, teve a presença do presidente alemão, Horst Koehler, e de outros importantes políticos do país, além de líderes judeus alemães e de várias partes do mundo. As comemorações começaram com a transferência dos Rolos de Torá do centro da comunidade judaica, à Rua Reichenbach, local da nova sinagoga. Seu nome, Ohel Jakob, foi escolhido em homenagem à que foi queimada na "Noite dos Cristais". Além da sinagoga, foram construídos, um centro comunitário e um museu judaico, para atender os 9.300 judeus que vivem atualmente em Munique, segunda maior comunidade da Alemanha.
Uma chave de ouro foi entregue à Charlotte Knoblock, atual presidente do Conselho Central dos Judeus da Alemanha e sobrevivente do Holocausto, que, na ocasião, afirmou: "Hitler não conseguiu destruir-nos". Steven Langnas, rabino da nova sinagoga ortodoxa de Munique, colocou a mezuzá na porta de entrada, juntamente com o rabino Yisroel Diskin, principal emissário do Chabad, na Alemanha.
O rabino Lau, também sobrevivente do Holocausto, falou de sua emoção ao carregar os sefarim pelas ruas: "Por muitos anos tivemos que esconder a Torá. Este dia é a prova da sobrevivência e da imortalidade da identidade judaica. Não precisamos mais nos esconder, podemos orgulhar-nos e o povo alemão está assistindo o momento de renascimento judaico". O rabino Meir Lau descreveu sua fuga do campo de Buchenwald, com o irmão Naftali, há alguns anos, no livro "Não levantes a mão sobre este rapaz".
Referindo-se aos problemas que o país ainda tem com manifestações extremistas, o presidente Koehler lamentou o fato de que grupos da extrema direita tenham tentado fazer um ataque no dia do lançamento da pedra fundamental da sinagoga, há três anos. Disse, também, que era doloroso o fato de que neo-nazistas tivessem planejado fazer uma marcha no bairro, naquele mesmo dia. Por outro lado, celebrou o crescimento da comunidade judaica da Alemanha, que tinha 30.000 membros em 1990 e passou para cerca de 120.000 atualmente, graças ao afluxo de judeus da ex-União Soviética. Koehler finalizou sua mensagem, ressaltando: "O dia 9 de novembro sempre foi lembrado como o início do aumento da perseguição nazista, mas de hoje em diante poderá ser também associado a um novo começo".