Antigamente, as jóias eram parte do dote que as mulheres judias recebiam ao se casar.
O uso das jóias não era um simples sinal de riqueza, os ricos adereços eram também um símbolo do estado civil da mulher. Serviam, ainda, como amuletos e para identificar as cidades ou aldeias de onde provinha quem as usava. Apesar de constituírem parte do dote oferecido pelas famílias do noivo e da noiva, para serem usadas pela noiva na hora do casamento, as jóias não eram devolvidas em caso de divórcio.
Placas de ouro incrustadas de turmalina, esmeraldas, rubis e turquesas; brincos de pérolas e enfeites com plumas de pavão e rosas perfumadas davam um toque suntuoso e exótico aos adornos. Os temas mais usados pelos ourives, profissão muito comum entre os judeus do Uzbequistão até o início do século XX – eram o sol, a cabeça de dragão, pássaros e peixes. Foi apenas nos últimos cem anos que os judeus tornaram-se comerciantes.
Uma pequena seleção das jóias e enfeites usadas nas comunidades judaicas pode ser vista na exposição “Em seus mais belos adornos”, no Museu de Israel, em Jerusalém, organizada em memória de Natalia Polyatchek, especialista em jóias etnográficas, falecida em 1999. O museu possui um acervo fixo, organizado pelo alemão estudioso de etnias, Carl Rathjens, que viajou ao Iêmen durante os anos 30, trazendo vários objetos. O comerciante Zeyde Schulman, nascido em Safed, também trouxe inúmeros objetos do Marrocos, durante as décadas 50 e 60, doando-os ao museu. Posteriormente, a baronesa Alix de Rothschild também fez sua contribuição, doando objetos vindos do norte da África.
Vários pesquisadores que estudaram a vida das comunidades judaicas nos países muçulmanos afirmam que usar jóias era costume, independentemente da classe social. As noivas que não tinham muitas posses usavam adornos emprestados. Mulheres casadas tinham o hábito de enfeitar os seus cabelos com objetos suntuosos como tiaras.
Estas informações são confirmadas pelos quadros da época, permitindo inclusive algumas comparações com as mulheres muçulmanas, constatando-se inclusive semelhanças nos objetos. Por exemplo, mulheres judias de Djerba cobriam-se do pescoço à cintura com várias fileiras de colares. Alguns desses adornos vinham do vale de Dra, no Marrocos; outros de Bukhara.
Dentre as jóias mais famosas estão as usadas pelas comunidades iemenitas, que foram as primeiras a compor o acervo do Museu de Israel. Vivendo em regiões distantes, os iemenitas acabaram criando um estilo próprio e singular. O rosto das noivas iemenitas era emoldurado por um círculo de prata. O busto era coberto por colares e amuletos e elas costumavam usar também várias pulseiras e anéis nos dedos das mãos e dos pés.
Após o casamento, as iemenitas faziam duas tranças e as amarravam com uma corrente de prata. Para não despertar sentimentos de inveja, cobriam a cabeça ao sair de casa. Nos países árabes, eram as jóias que distinguiam as judias das vizinhas muçulmanas. Estas geralmente usavam prata, enquanto as judias usavam ouro incrustado de pedras preciosas.