O Jewish Braille Institute foi criado em 1931, em Nova York. Desde então, vem atuando na publicação de material ligado à temática judaica em Braille, além de oferecer uma série de outros serviços gratuitos.
Quando Barry Wiener fez 13 anos, queria fazer bar-mitzvá. Porém, cego de nascença, não poderia estudar nem ler a Torá. Felizmente para Wiener, há uma instituição nos Estados Unidos voltada justamente a atender as necessidades das pessoas com deficiências visuais e dificuldades de leitura. É o Jewish Braille Institute, que visa, acima de tudo, a integração dos indivíduos na sociedade.
Graças à entidade, que forneceu todos os materiais necessários para a preparação de Wiener para o barmitzá, incluindo uma Torá em Braille, o garoto realizou o seu sonho. Atualmente, já adulto, ele trabalha como psicólogo clínico em Brooklyn, Nova York. “Esta organização é maravilhosa, única no mundo”.
Wiener é um dos 300 mil judeus americanos cegos, que se beneficiam do trabalho desenvolvido pelo Jewish Braille Institute. Além dos vários serviços, todos gratuitos, o Instituto mantém uma biblioteca com vasto acervo – livros, revistas, publicações especializadas e material em fitas cassetes – que permite aos indivíduos participarem da vida educacional, cultural, religiosa e comunitária judaica.
Apesar da importância do trabalho desenvolvido, o Instituto não faz muita divulgação de suas atividades. Mesmo assim, é conhecido internacionalmente por seus resultados e eficiência. Localizado em Manhattan, Nova York, o Jewish Braille Institute foi criado em 1931 por Leonard Dubov, filho de um rabino cego, com a ajuda do rabino Michael Aaronsohn, que perdeu a visão durante a Segunda Guerra Mundial. Para marcar os 70 anos de sua fundação, este ano, estão sendo programados vários eventos em conjunto com a Biblioteca Pública de Nova York.
Desde sua criação, novas perspectivas abriram-se para os deficientes visuais judeus, que até então não tinham acesso a qualquer material ligado à temática judaica. Em 1950 foi publicada a primeira Torá em Braille. Atualmente, o Instituto é responsável pela publicação de textos que abrangem todas as diferentes tendências do judaísmo, além de sidurim (livros de reza) gravados em fitas. Mais de oito mil títulos compõem o acervo da biblioteca de áudio. São também realizados concertos, conferências, leituras de textos teatrais em inglês, russo, ídiche, húngaro e romeno, entre outras atividades.
Segundo Israel Taub, sub-diretor do Jewish Braille Institute, a entidade não visa apenas atender os cegos, mas também os que são vítimas de problemas visuais ao longo de sua vida, como por exemplo, pessoas idosas que, com o passar dos anos, vêem desaparecer sua acuidade visual e, repentinamente, sentem-se isoladas do mundo. “Com o aumento da longevidade nos Estados Unidos, são cada vez mais comuns problemas de visão que afetam as pessoas não apenas fisicamente, mas também do ponto de vista psicológico. Nossas publicações, principalmente o material em áudio, são muito importantes para essas pessoas”, enfatiza Taub.
Suas palavras são confirmadas pelo depoimento de Evelyn Liefer, 80, que perdeu gradativamente sua visão: “O Instituto abriu um novo mundo para mim. Diferentemente de outras bibliotecas, nas quais o número de cópias é limitado, o Jewish Braille Institute atende os pedidos rapidamente. Se o título solicitado não estiver disponível, fazem uma nova cópia em uma semana”.
Clarita Gollender, argentina aposentada, também elogia a instituição. Cega desde os seis anos, formou-se no Maryland Goucher College utilizando material didático em Braille e gravações. Durante anos participou de um Clube do Livro com o auxílio de uma amiga, até que esta desistiu da atividade. Com a ajuda do Instituto, viu novamente a possibilidade de apreciar a literatura e redescobriu o seu amor pelos livros.
Atualmente, mais de 20 mil pessoas – homens, mulheres e crianças – de 50 países são beneficiados pelos diferentes serviços prestados pelo Jewish Braille Institute.
Trabalho intenso
O Jewish Braille Institute não se limita a publicar material para os que necessitam. Atua também junto às famílias de crianças cegas, com deficiências visuais e dificuldade de leitura. Possui também projetos para preparação de bar e batmitzvá em hebraico e em inglês. Além de preparar textos especializados de judaísmo para o segundo grau e para o nível universitário, fornece bolsas de estudos para os interessados em trabalhar profissionalmente na comunidade, além de fornecer todo o apoio para quem desejar fazer aliá.
Desde 1992, a entidade estendeu suas atividades ao Leste Europeu e à ex-União Soviética. Como parte de seu cronograma de trabalho estão incluídas visitas regulares aos sobreviventes do holocausto que não possuem família; fornecimento de material e equipamento de áudio sobre temas judaicos em russo, romeno, ídiche, fitas com canções, além da implantação de programas sociais para os carentes.
Muitas outras atividades fazem parte da rotina do Jewish Braille Institute e, para realizá-las, a instituição conta com o trabalho de voluntários, que participam de programas para gravação de livros e textos em fitas cassete, e digitação em tamanhos grandes de fontes no computador, entre outras. O Comitê de Arrecadação de Fundos também conta com voluntários.
Como disse Taub, “não importa se a pessoa cega for uma criança de Nova York, um veterano de guerra em Tel Aviv ou um sobrevivente do Holocausto em Budapeste, nós continuaremos com a tradição judaica de acender uma vela de saber que não deve jamais ser apagada”.
O método Braille
O francês Louis Braille perdeu a visão aos três anos. Quatro anos depois, ingressou no Instituto de Cegos de Paris e, aos 18, em 1827, começou a lecionar na entidade. Ao ouvir falar de um sistema de pontos e buracos, inventado por um oficial para ler mensagens durante à noite em lugares onde seria perigoso acender a luz, Braille decidiu fazer algumas adaptações em relevo no sistema de pontos.
Em 1829 publicou o método por ele criado e que se tornou conhecido como Sistema Braille, um alfabeto convencional cujos caracteres são indicados por pontos em relevo distinguidos pelos cego através do tato. A partir de seis pontos salientes é possível fazerem-se 63 combinações, que podem representar letras simples e acentuadas, pontuações, algarismos, sinais de álgebra e notas musicais. Braille morreu em 1852 vítima de tuberculose, ano no qual o seu método foi oficialmente adotado na Europa e na América.