No dia 7 de outubro de 2023, cerca de três mil terroristas fortemente armados do grupo Hamas romperam a cerca que separava a faixa de gaza e invadiram o sul de Israel. Poucos quilômetros adiante, invadiram o Festival de Música Supernova, do qual participavam milhares de jovens, e mataram centenas de participantes.
Também destruíram 21 kibutzim e pequenas cidades, nos quais incendiaram casas, destruíram propriedades, cometeram estupros e assassinaram famílias inteiras sem distinção de idade ou sexo. Entraram com carros, motocicletas e parapentes, seguidos de uma multidão de moradores civis de Gaza, incluindo adolescentes e crianças. Surpreenderam o país naquele Shabat de Simchat Torá.
Esse ataque terrorista, ocorrido em um Estado soberano e reconhecido pela comunidade internacional, foi o maior ato de violência contra o Povo Judeu desde o Holocausto e resultou em mais de 1.200 mortos e 13 mil feridos. Foram levados para Gaza 253 reféns, entre os quais 36 jovens do Festival Supernova, um bebê de nove meses, crianças entre três e 12 anos, bem como idosos acima de 80. A quase totalidade das mortes – de soldados, moradores do sul de Israel e jovens presentes ao evento – ocorreu nas primeiras 12 horas após o ataque. Os perpetradores da selvageria gravaram, com câmaras que eles mesmos traziam ou, em muitos casos, com o celular das próprias vítimas, os requintes das atrocidades e transmitiram-nos ao vivo, com orgulho, nas redes sociais.
Tais imagens provam, de maneira irrefutável, a extensão da tragédia do 7 de outubro contra civis israelenses e de outras nacionalidades. No entanto, um capítulo dessa história, cujas páginas ainda são escritas dia após dia com tintas de sangue e lágrimas, foi ignorado pela maior parte da comunidade internacional durante semanas, como se não tivesse ocorrido de fato apesar das imagens e dos depoimentos dos sobreviventes e das primeiras reféns libertadas. Trata-se da violência contra a mulher. Humilhações, estupros, profanação e mutilação de corpos fizeram parte de uma estratégia friamente planejada pelo Hamas, informações sobre a qual foram confirmadas pelos terroristas presos pelas Forças de Defesa de Israel (FDI) nos primeiros dias e semanas após o atentado.
Infelizmente, a rápida divulgação dos relatórios médicos foi impossibilitada pela precariedade das evidências, reflexo tanto da extrema violência e sadismo contra as vítimas quanto das dificuldades para realizar todas as averiguações necessárias. Também demoraram para chegar os resultados dos exames realizados nos reféns que voltaram de Gaza após mais de 50 dias em cativeiro.
Entretanto, o silêncio, sobretudo das organizações femininas internacionais, a começar pela UN Women, deflagrou ondas de protestos em Israel, assim como nas comunidades da Diáspora, e levou à criação do movimento “#metoounlessurjew” (“MeToo a menos que você seja judia”).
Evidências irrefutáveis
O jornal americano The New York Times publicou uma reportagem extensa e minuciosa sobre uma profunda investigação que durou dois meses e concluiu que, durante o ataque de 7 de outubro de 2023, a violência sexual foi utilizada como arma, sem limitar-se a casos isolados.
Ouviram-se mais de 150 pessoas, entre as quais testemunhas, soldados, médicos e especialistas nesse tipo de abuso. Também se analisaram fotos, vídeos e dados de GPS de celulares. Segundo o jornal, os terroristas brutalizaram e mataram não só mulheres, mas também meninas em ao menos sete locais. As evidências encontradas pelos jornalistas são inegáveis e comprovam o que as testemunhas e autoridades israelenses denunciaram desde o primeiro dia, mas o mundo preferiu nem ouvir, nem enxergar.
Segundo a reportagem do The New York Times, quatro entrevistados descreveram, em pormenores chocantes, estupros e assassinatos de mulheres em dois pontos diferentes da Rota 232, a mesma rodovia em que se encontrou, jogado em um terceiro local, o corpo seminu da jovem Gal Abdush. A vítima estava com as pernas abertas, as roupas rasgadas, sinais de abuso nas áreas genitais e uma das mãos sobre o rosto queimado. O jornal entrevistou ainda vários soldados e médicos voluntários que, juntos, afirmaram ter encontrado mais de 30 cadáveres de mulheres e meninas, em um estado semelhante ao de Abdush, no local da rave e em dois kibutzim.
Como parte da investigação, a equipe do jornal teve acesso a fotografias de um corpo feminino que, retirado pelos socorristas dos escombros de um kibutz, trazia dezenas de pregos cravados nas coxas e na virilha, além de um vídeo no qual se viam duas soldadas mortas em uma base perto de Gaza. As mulheres pareciam ter sido baleadas na vagina.
Infelizmente, o choque das forças israelenses diante do atentado inesperado, a dificuldade de acesso aos locais dos ataques e a destruição causada pela violência afetaram o trabalho dos especialistas na identificação das vítimas e das circunstâncias dos assassinatos. Os primeiros grupos de técnicos voluntários de emergência médica que chegaram ao local do Festival Supernova após as ocorrências descobriram corpos de mulheres mortas sem roupa e com as pernas abertas – algumas com as mãos atadas com cordas – na área do espetáculo, ao longo da estrada, no estacionamento e nos campos ao redor.
Nos kibutzim Be’eri e Kfar Aza, dois dos mais devastados pelos terroristas, médicos voluntários e dois soldados israelenses confirmaram, em entrevista ao jornal, terem encontrado, em seis casas diferentes, pelo menos 24 corpos de mulheres e meninas nuas ou seminuas, algumas mutiladas e outras amarradas. Ainda assim, nem todo o mundo acredita que tais atrocidades tenham ocorrido.
Medo e horror constantes
Depois de 54 dias de cativeiro, a jovem franco-israelense Mia Schem, baleada durante a festa, levada a Gaza e operada por um veterinário, perguntou em sua primeira entrevista após a libertação:
“Como é possível que as pessoas ainda duvidem de tudo que aconteceu conosco? Por que se recusam a acreditar? Para mim, é importante revelar a situação real das pessoas que vivem em Gaza, quem realmente são e o que passei lá. Vivenciei o inferno. Todos lá são terroristas. Não há civis inocentes, nem um. Civis inocentes não existem. São famílias controladas pelo Hamas. Ensinam às crianças, desde o nascimento, que Israel é a Palestina e que devem odiar os judeus.”. Falou ainda sobre o sofrimento, a tortura mental que sofreu durante o cativeiro, na casa de uma família com crianças, e a falta de refeições diárias. Acredita que a única razão pela qual seu sequestrador não a estuprou foi a presença da mulher e dos filhos no quarto ao lado. “Sua esposa odiava o fato de ele estar sozinho comigo. Trazia comida para o marido, mas não para mim... Um dia, dois dias, três dias, eu não comia… Ela era tão horrível, tinha olhos maldosos. Era uma mulher muito má.”.
Os pais de Schem relatam que a jovem, desde sua volta, desenvolveu epilepsia em consequência do trauma e da falta de sono durante as oito semanas de cativeiro. Além disso, a moça passou por uma cirurgia para recuperação do braço ferido.
Demais relatos de sobreviventes e reféns libertados confirmam os fatos revelados pelas evidências encontradas nos locais do massacre e pelas imagens divulgadas. Em depoimento ao Knesset ao ser solta, Aviva Adrienne Siegel afirmou: “Gostaria de relatar vários momentos muito difíceis para mim. Poderia falar por uma semana. Minha vida mudou totalmente. Aonde quer que eu vá, sou vista como refém. Passei dias de medo, humilhação e meu marido, Keith, ainda está lá. Sinto-me sufocar e não durmo à noite. As condições dos reféns são muito piores do que podemos imaginar. Estão no escuro, sem os medicamentos que deveriam tomar diariamente. Presenciei o abuso de uma jovem, e o sequestrador nem me deixou abraçá-la depois do que aconteceu. Outra mulher me contou que, em outro lugar, foi agredida sexualmente pelo terrorista que os vigiava. Vi ainda quando trouxeram uma refém e, por pensarem que ela fosse oficial do exército, simplesmente a torturam ao meu lado. Fui testemunha disso.”.
A ex-refém Maya Regev, 21, ferida na perna e sequestrada junto com seu irmão Itay enquanto se divertia no Festival Supernova, também deu várias entrevistas. Em uma reunião com representantes da ONU, falou sobre a crueldade inimaginável do Hamas e as ameaças diárias do terrorista que a vigiava de que, não disposto a morrer sozinho, atiraria nela imediatamente se as FDI tentassem resgatá-la. “Roubaram minhas roupas e tiraram-me a identidade. Todo dia era um inferno. O tempo parecia uma eternidade. Havia a fome, a saudade da família e a condições muito difíceis. Um medo anormal, noites em claro (…) e é simplesmente assustador não saber o que está acontecendo”, disse a jovem. Seu irmão foi solto em outro acordo negociado com os terroristas.
Em entrevistas à mídia e em depoimento às autoridades, Agam Goldstein Almog descreveu o encontro, em um túnel, com outras seis mulheres, algumas das quais estavam feridas e foram assistidas por ela e pela mãe: “De repente, tinham alguém em quem confiar.”. Contou ainda que foi proibida de chorar pelo pai e pela irmã, assassinados pelos terroristas. Foi levada de Kfar Aza a Gaza com a mãe, Chen, 48, e os irmãos mais novos Gal, 11, e Tal, 9. Libertada após 51 dias, teme pelas mulheres ainda presas em Gaza, que, com certeza, sofrem muito, além da possibilidade de algumas estarem grávidas devido aos vários estupros dos quais ainda devem ser vítimas.
Reconhecimento tardio
Foi só depois da reportagem do jornal The New York Times sobre a estratégia do Hamas contra as mulheres que as organizações femininas se manifestaram e condenaram o grupo terrorista. Não era mais possível negar a realidade denunciada desde as primeiras horas após o ataque. No final de janeiro de 2023, foi a vez de Pramila Patten, enviada especial das Nações Unidas para a Violência Sexual em Conflitos, visitar Israel a convite do Ministério das Relações Exteriores do país. O objetivo era que ela observasse in loco a verdade e compreendesse a magnitude das atrocidades contra mulheres e crianças não só em 7 de outubro, mas também durante o cativeiro, que, para muitas, perdura. Pouco antes de partir e deixar sua equipe em Israel para concluir as investigações e colher evidências, Patten afirmou: “Ocorreram aqui coisas que nunca vi antes. Só depois de assistir ao vídeo de 47 minutos compilado pelas FDI sobre as atrocidades é que compreendi a amplitude da tragédia. Não durmo desde então. O mundo não conhece a extensão desse acontecimento. Eu mesma só consegui entendê-la ao vê-la com os próprios olhos”.
Acompanhada pelo embaixador israelense nas Nações Unidas, Gilad Erdan, Patten visitou os locais do massacre, conversou com testemunhas e reféns libertadas após quase dois meses em cativeiro. Em Be’eri, foi acompanhada por Or Yalin, sobrevivente do ataque, e Yossi Landau, membro da Zaka (sigla hebraica para Identificação de Vítimas de Desastres).
Essa visita foi um passo muito importante. Mais vergonhosos que o silêncio ensurdecedor das organizações femininas de todo o mundo, foram os argumentos que colocaram em dúvida os fatos, tais como falta de provas, e as tentativas de justificar o injustificável. Algumas entidades que se intitulam feministas chegaram a abonar o uso de violência sexual como arma de guerra na “luta” dos palestinos contra a “opressão”.
Em todos os encontros, Patten constatou o sentimento de traição e abandono do povo israelense diante da resposta da ONU ao massacre e à guerra que se seguiu. Reconheceu ainda a profunda dor, raiva e frustração em face da evidente falta de compreensão e atenção da comunidade internacional com relação às atrocidades. Quanto à posição de parte dos grupos feministas, afirmou: “Estupro não é resistência.”.
A enviada das Nações Unidas veio acompanhada por uma delegação de dez especialistas das áreas de medicina e direito. Ao longo de sua estada, recolheu provas da selvageria. Também conversou com médicos, psiquiatras do Ministério da Saúde e especialistas no apoio a vítimas de violência sexual ligados ao Ministério de Assuntos Sociais, além de reunir-se com representantes de organizações da sociedade civil.
No dia 4 de março, após o retorno de Patten aos EUA, a ONU confirmou as agressões sexuais executadas contra mulheres de Israel por parte de terroristas do Hamas. A equipe de técnicos que a acompanhou concluiu que abusos sexuais foram executados ainda no local do festival Supernova. Foram analisadas 5.000 fotos e 50 horas de vídeos, muitos dos quais realizados pelos próprios terroristas. O relatório de Patten será enviado a Israel para revisão e publicado, somente, em abril.
Cinco meses após o fatídico 7 de outubro, 136 reféns – entre os quais 19 mulheres – permanecem em Gaza. No entanto, até o início de fevereiro, as FDI já confirmavam a morte de 29, além de dois soldados sequestrados em 2014, e suspeitavam que outros 20 já podiam ter morrido.
Planejamento e sadismo
Ainda durante sua visita a Israel, Patten recebeu da Associação dos Centros de Crise de Estupros de Israel, o primeiro relatório oficial sobre os crimes sexuais cometidos pelo Hamas no dia 7 de outubro. O documento é baseado em vídeos que os próprios terroristas fizeram para registrar suas “vitórias” e em informações sigilosas, bem como em testemunhos de sobreviventes, socorristas, forças de Segurança, médicos e legistas que examinaram os corpos encontrados.
De acordo com o relatório, o Hamas fez do estupro uma arma de guerra. O objetivo era usar a violência sexual, de maneira brutal e sádica, para intensificar ao máximo a humilhação e o terror das vítimas. Apurou-se que os atos dessa natureza ocorreram em todos os locais invadidos: no festival de música Supernova, em Re’im, nos kibutzim, nas comunidades do sul e em bases militares. Vários dos reféns libertados descreveram a violência sexual sofrida durante o cativeiro em Gaza. Em todos os lugares que atacaram, os terroristas seguiram sistematicamente os mesmos padrões de brutalidade, prova contundente de que estupro, mutilação e todo tipo de barbárie foram estratégias adotadas pelos idealizadores do 7 de outubro.
Os terroristas que invadiram Israel foram instruídos a praticarem a violência de forma sádica. Vários sobreviventes do massacre testemunharam estupros coletivos, em que mulheres foram “passadas” entre vários homens que as estupraram, espancaram, feriram e, por fim, mataram. O estupro, a mutilação e o assassinato ocorreram, em muitos casos, na frente da família e de amigos para potencializar a dor e a humilhação.
Outras formas de violência foram a castração e a decepação de órgãos genitais. Foram encontrados corpos com armas como pregos, facas e granadas inseridas nas partes íntimas. Esses artefatos explosivos foram colocados dentro de cadáveres para que detonassem quando estes fossem encontrados.