Aos 38 anos, Eli Yishai vê sua atuação crescer cada vez mais no partido e conta com um aliado especial em sua trajetória: o líder espiritual Ovadia Yossef. À frente da pasta do Trabalho e Bem-Estar Social do governo de Ehud Barak, é o segundo mais novo ministro da história de Israel.
As últimas eleições gerais realizadas em Israel em maio de 1999, além de tornarem Ehud Barak, da coligação partidária Israel Achat, o primeiro-ministro do país, transformaram o partido Shas em um dos grandes vencedores do pleito, elevando o seu número de cadeiras no Knesset (Parlamento) de 10 para 17. Como conseqüência deste resultado, o Shas passou a desempenhar um papel estratégico no governo de Barak, transformando-se em um dos seus principais aliados.
À frente do Shas está o rabino Ovadia Yossef, que, há décadas, exerce uma liderança partidária incontestável. Um de seus membros, no entanto, vem ganhando destaque no seio do partido desde o final da década de 80 e, consequentemente, no cenário político israelense, tornando-se um dos seus principais nomes: Eliyahu (Eli) Yishai.
Eleito para o Knesset pela primeira vez há quatro anos, foi reeleito em 1999, assumindo o cargo de ministro do Trabalho e Bem-Estar Social e tornando-se o segundo ministro mais jovem da história de Israel, precedido apenas por Arye Deri, do mesmo partido. Em agosto de mesmo ano, foi indicado pelo próprio rabino Ovadia Yossef para a presidência do Shas, até então ocupada por Deri, afastado do cargo após ter sido julgado pela Suprema Corte de Israel, por corrupção.
Desde que assumiu o cargo, o novo presidente do partido vem ocupando espaço na mídia israelense, não apenas por suas atitudes como líder de um partido fundamental para o governo de Barak, mas também pelo seu empenho em criar uma nova imagem para o Shas. Enfatiza a necessidade de uma maior transparência sobre temas delicados, como as questões financeiras, e também preocupa-se em manter um melhor relacionamento com os setores seculares da sociedade israelense.
Afinal de contas, quem é o novo presidente do Shas? Nascido em Jerusalém em 1962, cresceu em Malhah, um bairro árabe abandonado que, a partir dos anos 50, tornou-se o lar dos imigrantes recém-chegados do norte da África. Filho de Tzion Yishai, judeu religioso vindo da Tunísia, Eli é o terceiro de uma família com oito filhos e foi criado dentro dos valores tradicionais do judaísmo, em um ambiente intensamente marcado pelo vandalismo e pela violência das ruas.
Em uma reportagem publica-da na revista The Jerusalem Report, em dezembro de 1999, disse acreditar que, para seu pai, transmitir judaísmo aos filhos foi a maneira encontrada para diminuir a influência da vizinhança na qual viviam, ou seja, "uma maneira de salvá-los do mal". Sua formação judaica teve continuação em uma escola religiosa da rede estatal de ensino e, posteriormente, em uma Yeshivá sefardita, na cidade de Netivot, na região do deserto do Neguev.
Seu envolvimento com a causa dos judeus de origem oriental, base original do partido Shas, foi despertado por um fato que presenciou durante umas férias escolares, quando acompanhava o pai no trabalho, em uma construtora. Diante de seus olhos, o então jovem estudante viu o pai ser humilhado injustamente por uma pequena transgressão. Foi naquele momento que fez, a si mesmo, a promessa que influenciou o resto de sua vida: trabalhar pelos direitos dos judeus sefarditas.
Rápida ascensão
Acontecimentos como esses influenciaram Yishai na escolha da sua carreira e levaram-no a tomar a decisão de participar da vida pública de Israel. Ainda na Yeshivá, filiou-se ao Shas. Quando prestou o serviço militar, do qual poderia ter sido dispensado por ser religioso, serviu como motorista e assistente do oficiante do culto. Quando questionado sobre as razões que o levaram a integrar o exército - decisão não aceita pelos judeus ultra-ortodoxos - afirmou: "Era algo que queria fazer". Com esta resposta clara e objetiva evitou debates sobre um dos temas mais polêmicos do país.
Ao deixar o exército, trabalhou como motorista durante o dia, enquanto freqüentava a Yeshivá "Shaare Torá", à noite. Foi neste período que teve oportunidade de conhecer o rabino Nissim Zeev, que o introduziu na vida política nacional. Responsável pela primeira vitória do Shas em uma eleição em Jerusalém, em 1983, Zeev, então professor na Yeshivá, tornou-se membro da Câmara Municipal e escolheu o discípulo para ser seu assistente no gabinete.
Atendendo telefonemas e anotando recados, Yishai começava a mostrar seu talento para resolver problemas. "Ele tinha este dom. Era ótimo para acertar as coisas de uma maneira muito prática", relembra Zeev, acrescentando que, desde então, ele já demonstrava sinais de que faria uma carreira brilhante. Uma afirmação feita recentemente por uma pessoa próxima ao rabino Ovadia Yossef confirma o brilho da estrela do presidente do Shas: "Quando alguém procura o rabino pedindo alguma coisa, sua resposta é sempre a mesma: fale com Eli Yishai".
A trajetória política de Yishai contou também com a participação de Deri, então ministro do Interior, que, em 1988, tornou-se a liderança mais forte dentro do Shas. Deri fez dele seu braço direito, tornando-o responsável por todo o setor municipal do partido. Naquele momento, ele passou a ser chefe de Zeev. Em 1990, foi nomeado secretário-geral do Shas, mantendo-se na função até 1996. De 1994 até 1996, foi diretor do projeto El Hamayan, um sistema educacional de atividades extracurriculares, de fundamental importância para o partido.
Ao longo dos anos, foi-se aproximando, cada vez mais, de Ovadia Yossef, que contava com sua habilidade e aptidão para enfrentar situações delicadas. Chegavam a conversar quatro a cinco vezes por dia.
Simultaneamente à ascensão do novo líder, o Shas começou a enfrentar problemas com Deri, acusado de corrupção. A crise interna do partido, acossada pela disputa entre partidários e opositores de Deri, acabou refletindo-se também nas relações com o primeiro-ministro Barak, que gostaria de ter o Shas no governo - sem Deri. Assim, apesar de alguns setores da legenda - inclusive o filho de Ovadia Yossef - acreditarem que o conceituado líder espiritual jamais afastaria um de seus seguidores da presidência partidária, ele próprio disse a Deri que deixasse o cargo. Com isto, aproximou-se de Barak, deixando descontentes inúmeros membros do Shas. Naquele momento, porém, não indicou um sucessor para Deri.
O sucessor foi nomeado posteriormente, após mais uma crise no partido. Eli Suissa, ministro da Infra-estrutura e fiel seguidor de Deri, provocou um incidente com o governo de Barak, novamente visando afastar o partido da coalizão. E, uma vez mais, o rabino Ovadia Yossef mostrou o poder de sua autoridade, encontrando uma solução para a crise e mantendo o Shas no governo. Foi então que resolveu nomear Yishai para a presidência do partido, apesar de este não ser um nome de consenso. Quando lhe perguntaram se acreditava ser a pessoa ideal para o cargo, respondeu: "Sou o representante do rabino Ovadia Yossef. Aqueles que se opõem a seu representante, opõem-se a ele. Portanto, estão no partido errado".
Seu estilo
Como líder, Yishai impôs rapidamente seu estilo pessoal de trabalhar, realizando várias reuniões semanais em separado com os quatro ministros do Shas que integram o governo; com os vice-ministros e com os parlamentares da legenda, no intuito de ouvir a opinião de todos os setores. Com certeza, um estilo bem diferente de seu antecessor, que tomava sozinho todas as decisões-chave.
Impôs-se, também, um desafio como presidente do Shas: eliminar as suspeitas de irregularidades financeiras, afirmando que os membros do partido não são desonestos, mas podem cometer falhas por inexperiência. "Nosso compromisso é com a transparência". Para isso, determinou a contra-tação de novos advogados, contadores e auditores para todos os departamentos.
O novo líder quer obter do governo de Barak recursos para os programas educativos e assistenciais do partido. Pretende, ainda, efetuar uma mudança nas relações com o Estado, baseando-se na lei judaica e acabando com as diferenças entre judeus seculares e religiosos, sefaraditas e ashquenazitas. Rejeita as persistentes críticas de que o Shas só oferece educação religiosa, afirmando que os alunos estão aptos a enfrentar o mundo moderno e encontram bons empregos, não perpetuando, assim, a pobreza.
À frente da presidência do Shas, Eli Yishai enfrenta atualmente um duplo desafio: mostrar que o partido está crescendo, apesar da ausência de Deri - e as próximas eleições deverão ser a sua prova de fogo, quando espera-se que o partido tenha mais cadeiras na Knesset - e manter a coalizão com Barak ainda neste governo. Até o momento, vem mostrando a Ovadia Yossef que a escolha de seu nome foi certa.