A todos que praticam a fé monoteísta, sejam judeus, católicos ou muçulmanos, a cidade de Jerusalém, lembrada e cantada como sagrada, eterna, de ouro e da paz, é um dos maiores e mais antigos tesouros da religiosidade, tendo sido palco dos mais importantes eventos para estas religiões.
Para os judeus, a capital do reino de David, que conquistou Jerusalém há mais de 3000 anos, abriga as ruínas do templo do Rei Salomão, considerado o local mais sagrado do judaísmo. Segundo a tradição judaica, foi deste local que o Criador coletou o pó da terra para fazer surgir o primeiro ser humano a Sua semelhança: Adão. Foi, também, onde Caim matou por inveja seu irmão Abel . O local também foi palco de uma das mais importantes passagens bíblicas que relata a lealdade do patriarca Abraão a D'us, quando levou seu filho Isaac para sacrificá-lo, em louvor ao Senhor.
Para os muçulmanos, a Mesquita de Omar, construída sob o espaço outrora ocupado pelo Grande Templo, representa o terceiro mais sagrado local depois de Meca e Medina . Conta a tradição muçulmana que o profeta Maomé teria subido deste local para os céus. Para a fé cristã, a Igreja do Santo Sepulcro marca o local onde Jesus foi crucificado e ressuscitou.
Na população atual da cidade encontramos uma acentuada predominância de judeus, que totalizam 450 mil pessoas, seguidos dos muçulmanos com 185 mil e apenas 14 mil cristãos. Ao longo de três milênios, os judeus foram o único povo a considerar esta cidade como sua capital política e espiritual. Mesmo durante os 2000 anos de exílio judaico, sempre existiram grupos de seguidores das leis mosaicas morando em Jerusalém.
Para comprovar textualmente a importância de Jerusalém para os judeus, comparada com as co-irmãs monoteístas, basta contar as 657 vezes em que é citada no Velho Testamento, 154 vezes no Novo Testamento e sem menção no Corão.
Independentemente à notória prevalência judaica nas raízes desta sagrada cidade, cabe às três religiões o mesmo direito de livre acesso e de auto-administração de seus locais sagrados, seguindo rigorosamente os ditames de suas crenças.
É para garantir este estado de liberdade de acesso e segurança total que o governo de Israel insiste em manter a soberania política sobre a totalidade da região. Vale lembrar que até julho de 1967, quando a Cidade Velha foi liberada do domínio jordaniano, durante a Guerra dos Seis Dias, os locais sagrados para os judeus como o Muro das Lamentações, eram mantidos em péssimas condições e proibido o acesso de israelenses a estes locais. Até sanitários existiam defronte às ruínas do Grande Templo de Salomão.
Um episódio histórico serve para ilustrar, com clareza, a filosofia dos governantes de Israel com relação às outras religiões da região.
Durante os ferozes combates na Velha Jerusalém, em 1967, o comandante-chefe das tropas israelenses, General Moshe Dayan, considerado o maior herói militar do Estado de Israel, ao chegar ao Muro das Lamentações com suas tropas, avistou uma bandeira com a estrela de David tremulando no topo da Mesquita de Omar. Imediatamente chamou seu ajudante de ordens e ordenou a retirada sumária da bandeira de Israel, alegando tratar-se de um desrespeito aos muçulmanos. Esta vem sendo a postura da unanimidade dos governantes israelenses que lhe sucederam nestes 33 anos que se passaram. Uma predominância do respeito a todas as religiões.
As recentes conversações em Camp David foram suspensas em função de um intransponível desacordo com referência ao status de Jerusalém. Segundo às últimas declarações do presidente Clinton, a intransigência do líder palestino Yasser Arafat teria levado as negociações para o impasse. O presidente americano até formulou ameaças caso não sejam revertidas as inaceitáveis exigências palestinas.
Clinton e Arafat estão há mais de 7 anos, desde os acordos de Oslo, negociando a paz entre israelenses e palestinos. A questão de Jerusalém, devido a sua alta carga de emotividade, foi sendo "empurrada para baixo do tapete" durante todos estes anos . Agora, o tempo decorreu e Arafat ameaça declarar, unilateralmente, o Estado Palestino em 13 de setembro, atitude que poderá se converter num verdadeiro barril de pólvora numa região tão explosiva como o Oriente Médio. Se existem culpados por esta situação, certamente devemos excluir o nome do premier israelense Ehud Barak que, eleito há apenas um ano, já cumpriu com coragem todos os compromissos que assumiu em sua plataforma de governo com referência aos árabes, inclusive retirando as tropas israelenses do sul do Líbano, além de ter entregue à administração palestina expressiva parcela dos territórios ocupados por Israel na margem ocidental do Rio Jordão.
Todos os locais sagrados estão situados na Cidade Velha de Jerusalém que, atualmente, representa menos de 1% da área total da cidade. A proposta de dividir ou internacionalizar a cidade é, portanto, absolutamente desnecessária e inaceitável para Israel que ali mantém sua capital há 52 anos, e que vem garantindo o livre acesso e a ordem interna.
A importância desta cidade para o povo judeu já era cantada nos Salmos que dizem: "Se eu te esquecer, Jerusalém, que minha mão direita esqueça sua perícia".
Indiscutivelmente a Cidade Velha de Jerusalém, pela sua história de fé e devoção - conta hoje com mais de 2 bilhões de seguidores em todo mundo - pertence a todos os povos amantes da paz e deve permanecer eternamente sob a custódia dos que sabem respeitá-la : os descendentes da religião do Rei David.
Osias Wurman é colaborador de Opinião dos jornais O Globo e Jornal do Brasil. Colaborador dos jornais Tribuna Judaica e Jornal Alef. Comentarista de Opinião no programa Comunidade na TV da FIERJ.