Os israelenses Aaron Ciechanover e Avram Hershko, do Technion - Instituto Tecnológico de Haifa, e o norte-americano Irwin Rose, da Universidade da Califórnia, dividiram o Prêmio Nobel de Química de 2004. É a primeira vez que dois israelenses recebem o Nobel na área das ciências exatas.
Os cientistas foram laureados por terem desvendado o processo que identifica as proteínas indesejadas, enviando-as a uma espécie de triturador do lixo celular, chamado proteassoma. Trata-se de uma "faxina" essencial para a saúde da célula e, conseqüentemente, do ser humano.
Segundo a Academia Nobel, a importância desta descoberta está em permitir que se compreenda como a célula controla uma série de processos bioquímicos capitais, como divisão celular, reparos de DNA, replicação de genes e produção de novas proteínas. Em uma entrevista concedida logo após a divulgação dos laureados, Irwin Rose, da Universidade da Califórnia, afirmou: "É incrível o número de aplicações que essa pesquisa trouxe à tona. São tantas que fica difícil enumerá-las. Todos os aspectos do metabolismo celular são afetados pelos tipos de proteínas presentes neste processo".
Sobre a premiação, os dois israelenses declararam: "Estamos muito orgulhosos; afinal, Israel é um país pequeno e, portanto, não temos toda a infra-estrutura que os grandes laboratórios possuem, em outros países". Disseram também esperar que suas pesquisas possam levar a avanços no tratamento de câncer, acrescentando: "Isto não significa que, a qualquer momento, acontecerá um milagre que vencerá essa moléstia. Mas acreditamos que nosso trabalho permitirá certos avanços significativos". Ciechanover ressaltou que as pesquisas realizadas já levaram ao desenvolvimento de inúmeras drogas contra doenças degenerativas, que estão sendo amplamente utilizadas pela indústria farmacêutica.
Uma empresa israelense, Proteologics, está desenvolvendo uma droga contra a Aids baseada nos trabalhos do trio vencedor do Nobel de Química - 2004. A companhia pretende obter cerca de US$ 10 milhões junto ao investidor israelense Morris Kahn e ao fabricante de medicamentos genéricos Teva Pharmaceuticals, um dos gigantes israelenses do setor.
Rose, Ciechanover e Hershko dividiram o prêmio de US$ 1,3 milhão. A maior parte do trabalho de pesquisa foi realizado entre as décadas de 70 e 80 no laboratório de Rose, que, na época, trabalhava no Chase Cancer Center, na Filadélfia. Rose, entretanto, atribui as maiores honras a Hershko, pesquisador bastante reconhecido e condecorado nessa área.
As proteínas são as "moléculas operárias" que, seguindo as orientações dos genes, executam praticamente todas as funções do organismo. Uma vez cumprida sua missão, entretanto, precisam ser descartadas, assim como o lixo doméstico. Ciechanover, Hershko e Rose descobriram que as proteínas inativas ou indesejadas são marcadas dentro da célula com um peptídeo, chamado ubiquitina. Este funciona como um sinal de destruição - ou o "beijo da morte", como ficou conhecido.
Nascido na pequena cidade de Karcag, na Hungria, em 1937, Hershko chegou com os pais a Israel, em 1949. Estudou Medicina na Universidade Hebraica de Jerusalém (UHJ) onde, em 1969, obteve o seu doutorado. No mesmo ano, foi para a Universidade da Califórnia para um pós-doutorado. Foi nesse período que começou a pesquisar a ubiquitina. Em 1994, recebeu o Prêmio Israel e, em 1998, assumiu a direção do Instituto Rappaport de Pesquisas Médicas do Technion. Em 2000 foi indicado membro da Academia de Ciências de Israel e, em 2003, foi eleito membro da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. Em 2001, recebeu o Prêmio Wolf para Medicina. Ao se referir ao trabalho de Hershko, Ronald Goldman, professor de Biologia da Northwestern University, de Chicago, afirmou: "As descobertas de Avram Hershko, nos últimos dez anos, revolucionaram nosso conhecimento sobre a forma como as células quebram suas proteínas".
Ciechanover nasceu em Haifa, em 1947, filho de imigrantes poloneses que chegaram à então Palestina antes da Segunda Guerra Mundial. Tendo ficado órfão ainda criança, foi criado por uma tia, Miriam, e pelo seu irmão mais velho, Joseph, que se tornou assessor legal do Ministério da Defesa e diretor geral do Ministério das Relações Exteriores. Estudou Medicina na UHJ. Em 1970, começou o mestrado em Ciências Básicas na UHJ e, de 1981 a 1984, fez pós-doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em Boston. Entre 1994 e 2000, foi diretor do Instituto Rappaport de Pesquisas Médicas do Technion. Em 2003, recebeu o Prêmio Israel para Biologia.
Hershko e Ciechanover começaram a trabalhar juntos sobre o funcionamento da ubiquitina quando o primeiro foi orientador da tese de doutorado do segundo, na Faculdade de Medicina do Technion. Em 2000, os dois receberam o prestigioso Prêmio Albert Lasker para Pesquisa Médica Básica, em Nova York, juntamente com Alexander Varshavsky, do Instituto de Tecnologia da Califórnia.