A nova residência da família Arad ficou pronta em Givat Elah em 1994, mas continua vazia. A mãe Tami e a filha Yuval condicionam a mudança à volta para casa do marido e pai Ron, que iniciou a construção antes que uma tragédia desabasse sobre a família.
Em 16 de outubro de 1986, o navegador Ron Arad teve de saltar de pára-quedas depois que seu jato Phantom F-4 foi atingido quando sobrevoava a cidade de Sidon, no Líbano. O militar israelense caiu prisioneiro da milícia islâmica libanesa Amal. Dezessete anos depois, seu paradeiro continua um mistério. Acredita-se que ainda esteja vivo, provavelmente encarcerado no Irã, embora exista a hipótese de ele estar preso em solo libanês, por grupos financiados por Teerã.
Recentemente, a Comissão Vinograd, criada pela cúpula militar israelense para estudar o caso, concluiu que Ron Arad ainda deve estar vivo. A imprensa israelense, em outubro, jogou algumas luzes sobre a escuridão que cerca a tragédia. Segundo o diário "Yediot Aharonot" , três dissidentes iranianos que vivem na Europa afirmaram que Ron Arad está vivo, numa prisão nas cercanias de Teerã. O Irã nunca admitiu ter vinculação com o destino do militar israelense.
O relato do "Yediot Aharonot" ofereceu diversos detalhes. Uma das fontes afirmou ter trabalhado na prisão onde estaria Ron Arad e declarou que teria chegado a conversar com ele. O militar israelense, ainda de acordo com os dissidentes iranianos, chegou a ser hospitalizado duas vezes, no final dos anos 90, devido a problemas cardíacos.
"Nós sempre dissemos ter certeza de que Ron está vivo, embora recentemente tenhamos recebido informações não confirmadas de que ele poderia estar muito doente", declarou ao site "Israelin-sider", Yoske Hara-ri, um dos principais ativistas das campanhas pela libertação de Arad. A conclusão da Comissão Vinograd também foi elogiada por Dudu, irmão do militar desaparecido. "Estamos satisfeitos em ouvir que não somos loucos, que há uma comissão, criada por uma pessoa que foi chefe do Estado Maior do Exército israelense e que é atualmente ministro da Defesa, e que está comissão determinou que Ron ainda está vivo". Dudu Arad referia-se a Shaul Mofaz.
Os esforços para obter a libertação de Ron Arad não cessam. Governo, família e amigos já promoveram diversas iniciativas, nos campos militar, social e diplomático. Israel chegou a capturar dois líderes fundamentalistas libaneses, Abd Al Karim Obeid e Mustafa Dirani, em busca, por exemplo, de informações sobre o destino de Ron Arad. A atividade continua, e, embora haja controvérsias sobre as estratégias mais adequadas a serem seguidas, não existem dúvidas sobre a necessidade de manter a chama acesa e de preservar a célebre doutrina israelense de não deixar para trás os soldados que caem nos campos de batalha.
No último dia 16 de outubro, milhares de pessoas se reuniram em frente ao Museu de Tel Aviv para marcar a passagem de 17 anos desde o desaparecimento do navegador da Força Aérea. Os discursos foram pontuados por falas dirigidas diretamente a Ron, num claro sinal da crença de que ele ainda está vivo.
Depois de sua captura na região de Sidon, em 1986, Ron Arad foi levado a Beirute. O então chefe de segurança da milícia fundamentalista Amal, Mustafa Dirani, exigiu a "posse" do prisioneiro. Em 1988, Dirani, por questões ideológicas, abandonou a Amal, fundou a organização "Resistência dos Fiéis" e levou Arad consigo. No ano seguinte, o líder xiita "vendeu" o prisioneiro israelense, provavelmente aos "Guardas Revolucionários" , fundamentalistas iranianos que agem no Líbano e que mantêm laços estreitos com o Hezbolá. Em meados de 1994, Ron Arad teria sido levado ao Irã, passando pela Síria.
Cerca de um ano depois da captura, Israel recebeu cartas e fotos de Ron Arad. Sua mulher Tami se tornou um símbolo da campanha pela libertação do militar israelense, aparecendo por vezes acompanhada de outros parentes. A família, segundo o jornal "Jerusalem Post", oferece US$ 10 milhões como recompensa por informações que levem ao paradeiro de um navegador obrigado a atravessar um martírio que já se estende por quase duas décadas.
Nascido em 5 de maio de 1958, filho de Batya e Dov Arad, Ron cursava o segundo ano de engenharia química no prestigioso Instituto Technion, de Haifa, quando foi chamado para seu serviço de reservista, em 1986. A construção de sua casa, em Givat Elah, estava ainda no início. A filha Yuval era pequena. Em 2003, a casa nova já está pronta há quase uma década, à espera de Ron. E Yuval, ao completar dezoito anos, prepara-se para ingressar numa unidade especial do Exército de Defesa de Israel.
O jornalista Jaime Spitzcovsky é diretor do site www.primepagina.com.br e articulista da Folha de S. Paulo. Foi editor internacional e correspondente do jornal em Moscou e em Pequim.