"Se o jardim do Éden está localizado na Terra de Israel, seus portais estão em Beit She'an". Estas palavras, pronunciadas pelo rabino e sábio Simeon Ben-Lakish no século III da Era Comum, procuram resumir a beleza da cidade instalada em uma das regiões mais estratégicas e férteis de Israel antigo, entre o Lago Kineret e o Rio Jordão - o Vale de Jezreel.

Mencionada inúmeras vezes na Bíblia, Beit She'an é atualmente um dos sítios arqueológicos mais importantes do país, no qual pode ser vista uma das maiores e mais bem preservadas ruínas já escavadas de cidades do período de dominação romana e bizantina.

A história de Beit She'an é muito antiga. Situada no cruzamento de várias estradas, tem sua importância estratégica confirmada pelas escavações e descobertas arqueológicas feitas na região. Foi rota fundamental para as caravanas e também centro administrativo do governo egípcio, provavelmente no início do século XV antes da Era Comum. Segundo a Torá, o Vale de Beit She'an pertencia à tribo de Issachar, mas a de Menasseh ocupou parte do território. Controlada por diferentes povos ao longo de sua história, Beit She'an é citada no Livro de Samuel (31:9), em referência à batalha que o rei Saul e suas tropas venceram contra os filisteus, próximo ao Monte Gilboa. Preferindo morrer a se render, foram decapitados e tiveram seus corpos pendurados pelos inimigos nas muralhas da cidade. Depois da derrota de Saul para os filisteus, a cidade foi capturada pelo rei David, à exemplo do que fizera em Meguido e Ta'anach. Durante o reinado de Salomão a cidade foi incluída na administração distrital dos vales da região.

Atualmente, vindo do Lago Kineret (também chamado de Mar da Galiléia) e através do Rio de Jordão, chega-se ao Vale de Beit She'an, região na qual são encontrados inúmeros moshavim e kibutzim. O rio forma a fronteira entre Israel e a Jordânia. A cidade conta com aproximadamente 15 mil habitantes. A principal rua da moderna Beit She'an leva o nome de Rei Saul.

Uma história antiga

Em virtude do andamento das escavações, não há ainda muitas informações sobre os primórdios da cidade. No entanto, através do estudo das várias camadas existentes é inegável que o povoamento foi contínuo, na região. Os primeiros habitantes lá teriam vivido no Período Calcolítico, em cavernas encravadas nas rochas do ponto mais alto da montanha. Moradias simples de tijolos apareceram no início do terceiro milênio antes da Era Comum. Há também muitas evidências de uma cidade datada desse mesmo período, estendendo-se rumo à face leste da montanha.

Uma das construções encontradas possui uma estrutura fina de tijolos e telhados de juncos, recobertos de gesso, e um amplo saguão. Deve ter sido um depósito público ou um armazém. Os indícios mostram que o local foi incendiado. Foram encontrados, também, vasos decorados nas cores preto e vermelho. Estas evidências levaram os estudiosos a concluir que imigrantes vindos do nordeste das regiões da Anatólia e do Cáspio estabeleceram-se em Beit She'an. Durante a Idade Média do Bronze (primeira metade do segundo milênio antes desta Era), a cidade passou por um processo de decadência, perdendo a importância que tinha, até então. Durante a Idade Final do Bronze e no início da Idade do Ferro (séculos XV e XII antes da Era Comum), a cidade recuperou o seu status e, a exemplo de Meguido, foi um importante centro da administração imperial egípcia no norte de Canaã. De fato, é freqüentemente mencionada nos documentos reais egípcios e nos textos referentes ao governo dos faraós do Novo Reino.

O centro administrativo, dentro da cidade murada, incluía a residência do governador, edifícios públicos, um armazém real e um bairro residencial para a família dos oficiais. Relativas ao período foram encontradas várias estelas reais e restos de templos, confirmando a importância de Beit She'an para o poder central egípcio. O controle deste último sobre a região de Canaã terminou em meados do século XII, antes da presente era, quando a cidade foi destruída por um incêndio. A entrada dos filisteus e das tribos israelitas teve início após o enfraquecimento das forças do Egito.

A cidade foi totalmente destruída pelo rei assírio Tiglat Pileser III, quando conquistou o reino de Israel em 732 antes da Era Comum. Esta região foi novamente povoada durante o governo de Alexandre, o Grande, na segunda metade do século IV antes da era comum. Durante os Períodos Helenístico, Romano e Bizantino, Beit She'an se tornou conhecida como Scythopolis.

Fontes históricas mencionam várias vezes a cidade ao descrever o conflito entre os herdeiros do império construído por Alexandre, o Grande - ptolomaicos e selêucidas - pelo controle sobre a Terra de Israel. Há também referências às guerras com os hasmoneus para se libertarem do jugo selêucida. No início do Período Helenístico a cidade se situava apenas no alto da montanha. Durante o governo selêucida, quando a cidade já havia avançado sobre a área de Tel Itztaba, onde foram encontrados vestígios de um bairro residencial, foi-lhe concedido o status de "polis" - metrópole grega.

Quando o Império Romano conquistou a região, em 63 desta Era, Beit She'an era a cidade mais importante do norte de Eretz Israel. Durante a revolta contra o domínio romano, em 66 da Era Comum, a população judaica foi massacrada.

Romanos e bizantinos

A hegemonia romana sobre a região iniciou-se quando Pompeu, general e membro do triunvirato que governava o Império, estabeleceu o poder de Roma sobre a Judéia. Neste processo, Scythopolis desempenhou um papel central na administração regional. Tendo-lhe sido outorgados privilégios especiais, acabou ganhando o status de polis romana, ou seja, uma cidade importante na estrutura do império. Foi a maior cidade da Decápolis, uma aliança que incluía dez cidades helenizadas, nove das quais localizadas à leste do rio Jordão. A construção de um novo centro urbano no vale, à sudoeste da montanha, começou no século I da Era Comum, mas não há muitos dados sobre os edifícios deste período, pois foram destruídos e incorporados a um intenso projeto governamental de construção, em anos seguintes.

Durante os reinados dos imperadores Adriano, Antoninus Pius e Marcus Aurelius, no século II da Era Comum, o império viveu uma fase de paz, segurança e prosperidade econômica, como comprovam os extensos e sofisticados projetos arquitetônicos das cidades romanas. Scythopolis foi um dos mais arrojados exemplos de planejamento urbano avançado e cuidadosamente detalhado, com portões que separavam a área urbana das demais. No vale, à sudoeste do topo do monte, foi construído um novo centro cívico.

Ao lado das avenidas principais, com longas fileiras de colunas, foi erguido um templo para deuses romanos, a basílica, as fontes e as casas de banho públicas. Ao sul desta área, localizava-se o complexo de lazer, com o teatro e o anfiteatro.

A arquitetura e estilo de vida vigentes na cidade, no entanto, começaram a se modificar depois que o cristianismo foi declarado religião oficial de Roma, no século IV desta Era, por determinação do imperador Teodósio. No ano de 409, Teodósio dividiu Eretz Israel em três distritos. Beit She'an tornou-se capital do distrito número dois - Palestina Secunda, que incluía também a Galiléia. Este foi um período de reconstrução da cidade e de restauração dos seus edifícios, atingidos pelo terremoto em 363 da Era Comum.

Durante o Período Bizantino, do século IV ao VII da Era Comum, o centro urbano de Scythopolis passou por grandes mudanças, com a destruição dos templos pagãos. A fonte e as casas de banho foram mantidas na região oriental, enquanto uma instalação maior foi construída ao sul. A basílica foi transformada em uma praça, o piso de algumas ruas foi decorado com mosaicos e novas lojas foram abertas. Muitas placas com inscrições foram descobertas nos locais restaurados, evidenciando o envolvimento da administração provincial. A maior parte da população era cristã, mas restos de uma sinagoga judaica e de uma samaritana também demonstram a existência dessas comunidades. No século VI, com 40 mil habitantes, a cidade atingiu a sua maior área territorial, com bairros residenciais e igrejas construídas também fora dos muros.

Scythopolis rendeu-se ao controle muçulmano em 635 da Era Comum e foi renomeada "Beisan". Em 18 de janeiro de 749 a cidade foi novamente destruída por um terremoto. Grandes quantidades de vasos, objetos de metal e vidro, além de jóias, moedas de ouro e prata foram encontradas no local, bem como ossadas.

No século XII, quando os cruzados chegaram à Terra Santa, construíram uma pequena cidade, com o objetivo de controlar as estradas e impedir a entrada dos muçulmanos. Mas Beit She'an nunca foi reconstruída, permanecendo apenas como um pequeno vilarejo árabe, nos últimos séculos. No início do século XX, os judeus voltaram a povoar e área e, em 1990, Beit She'an já contava com uma população que somava aproximadamente 14.800 habitantes, predominantemente sefaradita.

Tesouros do passado

Os monumentos mais impressionantes descobertos nas escavações em Beit She'an datam dos Períodos Romano e Bizantino, mas trazem também fortes marcas do Helenismo. Um altar dedicado a Zeus Akraios é uma indicação de que lá existiu um templo em sua homenagem, assim como um pouco mais adiante, há um outro destinado ao culto de Dionísio. Um pedestal em frente a este último tem uma inscrição em grego, com o nome do Imperador Marcus Aurelius (161-180), que começa com os dizeres. "Com boa sorte". Os residentes da cidade de Nysa-Scythopolis.... "O templo foi destruído pelos cristãos no século IV, mas sua bela fachada permaneceu intacta". É do mesmo período a casa de banhos escavada, com paredes e pisos revestidos de mármore. Em uma das paredes havia uma fonte e, nas outras, nichos para estátuas, das quais foram encontrados fragmentos um piso abaixo. O monumental teatro é a construção dos tempos romanos em melhor estado de conservação. Com 110 metros de diâmetro e capacidade para oito mil pessoas, foi projetado em três blocos e construído com pedra calcária. A descoberta foi em 1950, pelo arqueólogo S. Appelbaum.

A sinagoga localizada em Tel Itztaba, na parte norte da cidade bizantina de Scythopolis, foi encontrada nas escavações de 1960. Construída em direção ao noroeste, possui um piso de mosaico e formas geométricas, sem nenhuma imagem humana ou animal. Em suas paredes há símbolos como a menorá e o shofar. Uma das inscrições do mosaico do piso é em grego, mas com as letras do alfabeto aramaico.

Fora das muralhas de Beit She'an, nos arredores do Monte Gilboa, está o Kibutz Hefzibá, no qual pode ser visto o piso da Sinagoga de Beit Alpha, datada do século VI - um mosaico com os doze signos do zodíaco com seus nomes escritos em hebraico e aramaico. Foi desenterrado por fazendeiros quando preparavam o solo para a instalação de equipamentos de irrigação. Próximo a Beit Alpha está Tel Hammam, uma réplica exata das primeiras paliçadas e torre de observação do povoado, construída em 1936.

Graças às escavações arqueológicas, atualmente é possível caminhar pelo anfiteatro romano ou pelas amplas avenidas cercadas por colunas e, através delas, vislumbrar a grandiosidade um dia vivida por Beit She'an.

Bibliografia

· http://www.mfa.gov.il

· http://www.jewishmag.com

· www.myjewishlearning.com

· Israel, Editora Bonech Steimatzky