A fortaleza de Massada foi o último foco de resistência contra os romanos e caiu em 73 E.C., três anos após Jerusalém. Desde o início do século XX, Massada é considerada um símbolo do heroísmo nacional judaico, exercendo um forte apelo à liberdade e à independência de Israel.
Sua guarnição, constituída por menos de mil pessoas, incluindo mulheres e crianças, e liderada por Eleazar Ben Yair, resistiu dois anos ao cerco romano, mas foi subjugada pelos 15 mil soldados da X Legião do exército mais poderoso da época. Os judeus que resistiram em Massada preferiram a morte a tornar-se escravos dos romanos e tiraram suas vidas com suas próprias mãos.
Desde o início do século XX, Massada é considerada um símbolo do heroísmo nacional judaico, exercendo um forte apelo à liberdade e à independência de Israel.
A lenda e a história
Nossa única fonte histórica é representada pela obra de Flavius Josephus , “A Guerra dos Judeus”. Este, como os demais historiadores da antigüidade, preocupava-se mais em embelezar e romancear seu relato de que em ser objetivo. Josephus era um judeu romanizado que escrevia para os romanos e queria, portanto, agradar a seu público. Os historiadores modernos concordam que realmente um grupo da seita dos Zelotes mata a si e as suas famílias e ateou fogo em algumas construções de Massada.
Sobre Massada, lenda e história se entrelaçam, e fica difícil distinguir os limites de cada uma.
Josephus moldou a história de Massada baseando-se em sua experiência pessoal, quando presenciou ao suicídio em massa dos rebeldes judeus em luta contra Roma, durante o cerco de Yodfat na Galiléia. Misturando história, tradição e uma fértil imaginação, acabou criando uma lenda que perdura, baseada em fatos reais, de que um grupo de Zelotes que vivia nas montanhas havia jurado nunca ser feito prisioneiro e escravo dos romanos. Seu idealismo tornou-se um símbolo da determinação dos judeus de viver livres em sua terra. Esse apelo tem sua força até os dias de hoje.
É lá que novos recrutas das Forças de Defesa de Israel fazem seu juramento de fidelidade: “Massada não caíra nunca mais”.
É um dos sítios turísticos mais visitados em Israel. Atrai pela sua beleza única de fortaleza no meio do deserto e pela história lendária do seu passado.
Massada, termo que em hebraico significa fortaleza, é situada ao topo de um penhasco rochoso isolado, na extremidade ocidental do deserto de Judéia, olhando para o Mar Morto. Do lado oriental a rocha desce, em queda absoluta, por 450 metros até o Mar Morto (o ponto mais baixo da Terra a 400 metros abaixo do nível do mar) e do lado ocidental, o terreno fica 100 metros acima de toda a área circundante. Portanto, o acesso natural ao penhasco é muito difícil e faz de Massada uma fortaleza virtualmente inexpugnável.
O relato de Flavius Josephus se mostrou bastante preciso. Este, nascido Yossef Ben Matatiahu, de uma família de sacerdotes, era um jovem quando eclodiu a grande revolta judaica contra Roma, em 66 E.C. Nomeado governador da Galiléia, sobreviveu ao pacto de suicídio dos últimos defensores de Yodfat e se rendeu a Vespasiano, que logo depois seria proclamado imperador. Sob o nome de Flavius Josephus tornou-se cidadão romano e historiador de sucesso.
De acordo com Josephus: “Neste topo da colina, Jonathan, o grande sacerdote, construiu uma fortaleza que denominou Massada: depois disso a reconstrução do local foi realizada em grande parte pelo rei Herodes”. (Guerra dos Judeus. Livro VII, capítulo VIII).
O local foi fortificado pela primeira vez por Yochanan, o Macabeu, da dinastia dos Hasmoneus (cerca 143 a.e.c.), mas foi reconstruído pelo rei Herodes entre 37 e 31 a.e.c.. Herodes, um idumeu, foi proclamado rei da Judéia pelos romanos e era odiado pelos judeus. Ele era um construtor primoroso e transformou Massada em cidadela fortificada e refúgio próprio. Construiu dois belos palácios, pesadas muralhas, torres defensivas e um aqueduto que alimentava cisternas com a capacidade de 750.000 litros.
Após a morte de Herodes (4 a.e.c.), Massada foi capturada pelos romanos, mas um grupo de Zelotas, uma seita judaica que se opunha de forma acirrada à dominação romana, a ocupou de surpresa em 66 e.c.. Após a queda de Jerusalém e a destruição do Templo (70 e.c.), juntou-se a este grupo mais um contingente de rebeldes e suas famílias, vindos de Jerusalém. Durante dois anos atacavam os romanos, até que, em 73 e.c., o governador romano Flavius Silva marchou sobre Massada com a X Legião e milhares de prisioneiros de guerra judeus.
Os romanos acamparam na base da fortaleza, sitiaram-na, construíram uma rampa, contra o lado ocidental da fortaleza, com milhares de toneladas de pedras e terra batida e conseguiram fazer uma brecha em sua muralha.
Josephus refere-se dramaticamente à história que lhe foi contada por duas mulheres que sobreviveram. Os defensores, cerca de mil contando mulheres e crianças, liderados por Eleazar Ben Yair, decidiram atear fogo na fortaleza e acabar com suas vidas: “... E assim encontraram (os romanos) um grande número de mortos, mas não puderam ter prazer com isso, mesmo tratando-se de seus inimigos. Nem puderam deixar de se admirar pela coragem, resolução e total desprezo pela morte, demonstrado quando empreenderam uma ação de tal grandeza.”
Os Zelotas sortearam dez homens para matar os outros. Depois escolheram aquele que deveria matar os sobreviventes e, por último, matar-se. Desta forma, somente um cometeu suicídio – não permitido pelo judaísmo.
Depois que caiu em mãos dos romanos, Massada foi sede de uma igreja bizantina nos séculos V e VI. Desde então ficou praticamente abandonada até o século XX.
O local foi sede de intensas escavações arqueológicas, entre 1963 e 1965, realizadas por Ygal Yadin, com a colaboração de centenas de voluntários provenientes de Israel e do mundo todo.
A fortaleza de Herodes e os achados arqueológicos
Situada sobre uma plataforma que mede 600 x 300 metros, é circundada por uma dupla muralha na orla do penhasco, com várias torres. Uma rede de cisternas talhadas na rocha garantia o fornecimento hídrico. O lado norte de Massada era o mais densamente construído, com o centro administrativo, o depósito, uma ampla casa de banhos e moradias para oficiais e suas famílias.
• O palácio residencial do rei Herodes: situada ao norte, a casa privada do rei era elegante e aconchegante. Separada do resto da fortaleza, oferecia segurança e privacidade. Tinha três andares, um de dormitórios e os outros dois para entretenimento e lazer.
• O depósito: duas fileiras de salas abrindo-se para um hall central. Aí se encontrava um grande número de jarros que servia para armazenar óleo, grãos e vinho.
• A grande casa de banhos: servia aos convidados e aos altos oficiais; possuía um caldarium, sala que podia ser aquecida na temperatura desejada graças a um sofisticado sistema de insuflação de ar quente sob o piso e nas paredes.
• O Palácio Ocidental: maior construção de Massada, representava o principal centro administrativo da fortaleza, com o local das cerimônias reais e a sala do trono de Herodes.
• A sinagoga: parte da construção de Herodes serviu também para os judeus que viveram em Massada na época da revolta. É considerada o melhor exemplo de sinagogas antigas, anteriores à destruição do Templo de Jerusalém, em 70 e.c.
• Pequenos objetos: estes em sua maioria são da época dos Zelotes. São utensílios de cerâmica ou pedra, armas, restos de tecidos e muitas moedas de bronze e de prata. Os shekalim da época da revolta, cobrindo todos os anos desde o ano 1 (66 e.c.) até o raro ano 5 (70 e.c.), estavam em perfeito estado de conservação. Foram encontrados também 11 fragmentos, cada um com um nome, um deles Ben-Yair. Talvez fosse o nome dos que foram escolhidos para matar os outros e depois se matar. De acordo com o relato de Josephus Flavius, os zelotes queimaram tudo antes de morrer, menos os recipientes com os alimentos, para mostrar aos romanos que não fora o desespero da fome o que os levara ao gesto suicida.
Muitos líderes israelenses, entre eles até Ben Gurion, chegaram a questionar o valor político de um episódio que acabava em suicídio, símbolo de uma resistência sem esperança.
Escreveu-se mais sobre o assunto nos últimos 100 anos do que nos 2000 anteriores. Talvez porque Massada tenha acabado em morte, devido a uma situação sem saída, enquanto que o judaísmo é uma religião de constante afirmação de vida.
A alternativa mais propriamente judaica para “Massada” foi encontrada pelo sábio Yochanan Ben-Zakai, que saiu de Jerusalém sitiada para fundar a academia de Yavne, construindo uma casa de estudos e de rezas que daria continuidade ao judaísmo.
Mesmo assim, o que deve nos ensinar em Massada é o princípio da independência nacional e da liberdade, não o do desespero e da morte.