Ao mesmo tempo em que o renascido Estado Judeu alcançava sua soberania, em maio de 1948, o novo país enfrentava sua primeira guerra. O conflito se estendeu ao norte, contra a Síria e o Líbano. A oeste, contra a então Transjordânia e o Iraque. Ao sul, contra o egito. As vitórias finais, após quase um ano de combates, foram assim resumidas por Ben-Gurion: “em Israel, só é realista quem acredita em milagres”.

Desde o momento em que Israel alcançou sua soberania, o Estado Judeu raramente passou um ano sem guerra ou a constante ameaça do terrorismo. Desde o início, os países árabes têm-se recusado a aceitar uma resolução aprovada, em 1947, pelas Nações Unidas: a criação de um Estado Judeu em sua terra ancestral.

HORIZONTE SOMBRIO

No dia 12 de maio, antevéspera da independência, o ishuv (comunidade judaica na Palestina Britânica) estava em convulsão de norte a sul do território designado para ser o futuro Estado. Milícias palestinas atacavam kibutzim e moshavim (colônias agrícolas coletivas), além de impedir o acesso às principais cidades da região com maioria judaica. Em Tel Aviv, os 13 membros do Conselho Nacional, representando o ishuv, compareceram a uma reunião convocada por David Ben-Gurion que, de início, ficou atônito em face dos desentendimentos e posições radicais de alguns participantes da reunião. A ordem só foi observada quando a palavra coube a Yigael Yadin, respeitado especialista em assuntos militares. Seu relato foi terrível. A Legião Árabe já tinha começado a invasão do território demarcado pela Partilha com tanques e infantaria e consolidado o bloqueio da estrada Tel Aviv-Jerusalém.

Yadin enfatizou que a perspectiva do ishuv ser invadido por três ou mais exércitos árabes era uma realidade iminente. No entanto, ponderou que também era realidade as forças do ishuv serem bem-sucedidas no enfrentamento das tropas inimigas. Ben-Gurion expôs que a situação devia ser encarada tal como se apresentava, sem derrotismo ou falsas expectativas, porque a resistência e a vitória final seriam difíceis, mas não impossíveis. A despeito do encorajamento de Ben-Gurion, o Conselho estava praticamente em estado de choque diante da análise de Yadin e por causa da inquietante situação na cidade de Jerusalém, que já se encontrava praticamente isolada há alguns meses. Os 100 mil habitantes judeus de Jerusalém estavam sitiados pelos árabes. Não tinham contato com as aldeias e kibutzim no entorno, e estavam sem receber suprimentos, medicamentos, alimentos e combustível, a par de dramática escassez de água, consumida sob estrito racionamento.

A guerra antecipada por Yadin começou com ataques de bandos irregulares de árabes oriundos do território que a ONU lhes havia destinado, junto com voluntários de países árabes vizinhos. Esses grupos lançaram ataques contra cidades e assentamentos agrícolas. As forças do ishuv eram compostas pela Haganá, a tropa clandestina judaica formada desde os primórdios do Mandato Britânico, e dois pequenos grupos irregulares, Irgun e Lehi, ambos empenhados em atos de sabotagem contra instalações militares inglesas.

Assim que Israel declarou sua independência, no dia 14 de maio, a luta se intensificou, com outras forças árabes aliadas aos palestinos para atacar o território concedido ao movimento sionista. A invasão foi deflagrada por exércitos da Síria, Iraque e Egito, além do Líbano em menor escala. A Arábia Saudita enviou uma formação que lutou sob comando egípcio. A bem preparada Legião Árabe da Transjordânia, treinada por oficiais britânicos, também interveio no conflito.

O horizonte era sombrio para os judeus. A incerteza era angustiante. A voragem destruidora avultava com ímpeto. O Estado Judeu parecia destinado a morrer antes mesmo de ter nascido.

A luta por Jerusalém

De acordo com a resolução da ONU, Jerusalém obedeceria a um regime internacional especial. Quando os combates irromperam, nos primeiros meses de 1948, surgiram dúvidas quanto à capacidade da ONU de impor a internacionalização de Jerusalém e a urgente necessidade dos judeus reforçarem as defesas da cidade. Para evitar provocações, os defensores do Bairro Judeu receberam ordens estritas de não abrir fogo, exceto em situações de risco de vida. No dia 3 de dezembro de 1947, um ônibus a caminho do Bairro Judeu, na Cidade Velha, foi atacado na Porta de Jaffa. Um judeu foi morto e oito ficaram feridos. A força de combate no Bairro Judeu era pequena e precisava de reforços. No dia 10, uma unidade do Irgun se deslocou para a Cidade Velha e, ao mesmo tempo, a Haganá despachou uma força de dois pelotões para o Bairro Judeu. No dia seguinte à chegada dos reforços à Cidade Velha, os combatentes viveram seu batismo de fogo. Nas primeiras horas da manhã, os árabes tentaram invadir o Bairro. Os defensores tomaram suas posições e repeliram o ataque que só terminou quando o comandante árabe foi morto.

Após aquela escaramuça, as autoridades britânicas enviaram uma força militar para a Cidade Velha. O exército mandatório avisou que usaria a força contra o lado que abrisse fogo. Mas, a neutralidade inglesa era apenas aparente. Buscas foram efetuadas no Bairro Judeu com o confisco de armas, enquanto os árabes foram autorizados a andar armados. Na verdade, os britânicos estavam empenhados em reduzir a força judaica na Cidade Velha. A calma durou pouco. Em janeiro de 1948, os árabes explodiram um posto militar judeu. Em seguida, um comboio judeu, vindo do Mar Morto, foi atacado a caminho de Jerusalém. Os defensores do Bairro Judeu, que estavam num posto conhecido como Matzot, abriram fogo contra os atacantes. A resposta britânica foi confiscar todas as armas que lá encontraram.

Nos primeiros meses de 1948, houve atrito entre o Irgun e a Haganá. Os dois grupos armados negociaram uma colaboração. As discussões foram longas e somente em abril o executivo da Agência Judaica ratificou o acordo. Antes, em janeiro, os árabes haviam explodido a casa de Yitzhak Orenstein, rabino do Muro Ocidental. Os combatentes da Haganá quiseram retaliar, mas não tinham explosivos. O Lehi, por outro lado, que se juntou ao Irgun, tinha um poderoso arsenal de munições. Em 16 de fevereiro, os combatentes da Haganá e do Irgun partiram juntos para explodir um posto árabe. O ataque acabou fracassando, porém sinalizou a primeira cooperação efetiva em Jerusalém entre as duas unidades militares.

O mês de abril de 1948 foi relativamente calmo em Jerusalém, no aguardo da retirada britânica. Apesar do bloqueio, alguns poucos comboios conseguiram entrar na Cidade Velha, levando suprimentos e pequenas quantidades de armas leves e explosivos. No final do mês, foi obtido um novo transmissor, permitindo que o Bairro Judeu mantivesse contato com a Cidade Nova que obedecia ao bem estruturado comando da Haganá. Moradores do Bairro compraram submetralhadoras e munição dos próprios árabes, por meio de armênios cristãos alheios ao conflito. Ao mesmo tempo, 44 combatentes do Irgun e do Lehi se juntaram a 70 combatentes da Haganá, compondo a reduzida força de defesa do Bairro Judeu na Cidade Velha. Este pequeno contingente aumentou de forma significativa com o engajamento de moradores jovens e adultos do Bairro, que muito contribuíram para a sua defesa. No dia 28 de abril, Moshe Sharett, membro proeminente da Agência Judaica, enviou de Washington um telegrama para Ben-Gurion, informando que as Nações Unidas haviam concluído um acordo de cessar-fogo para a Cidade Velha. Quatro dias depois, a Haganá estipulou que o dito cessar-fogo teria como prazo limite o momento em que o último soldado britânico se retirasse de Jerusalém.Em maio, a população do Bairro Judeu era de cerca de 1.700 judeus, compreendendo idosos, mulheres e crianças. Na avaliação dos defensores, havia uma média de 300 balas para cada rifle e 500 balas para cada metralhadora, a par de 374 granadas de mão, 126 granadas de assalto e 200 quilos de explosivos. Isto significava que pouco mais da metade dos judeus podia ser considerada uma força armada. Mais grave ainda era a escassez de armas pesadas, como metralhadoras e morteiros, e a ausência total de armas antitanque. Nesse quadro desesperador, obedecendo a uma instrução de Ben-Gurion, por mais terrível que fosse a situação, era importante marcar a presença de judeus na Cidade Velha, com vista a negociações que poderiam acontecer em seguida à independência do novo país, prestes a ser proclamada. Por causa dessa orientação, muitas vezes a Haganá teve que agir para impedir que houvesse uma migração para a Cidade Nova, a despeito do risco de elevadas baixas que, decerto, abater-se-iam sobre a população civil durante os próximos e inevitáveis combates.

No dia 13 de maio, as forças britânicas deixaram a Cidade Velha. Imediatamente as forças judaicas tomaram a Porta de Sion e a Igreja Grega Ortodoxa, no Bairro Armênio. Quem controlasse a elevada torre da Igreja Grega controlaria o Bairro Judeu. Quando os árabes notaram a atividade dos judeus, abriram fogo de forma limitada porque o cessar-fogo ainda estava em vigor. O patriarca armênio logo exigiu a evacuação da força que ocupava a Igreja Grega. Alegou que era um lugar sagrado, garantido por seu status de neutralidade. O comandante da Haganá, chamado Moshe Rosnak, se opôs, já que aquele posto era vital para assinalar a presença judaica naquela parte da Cidade Velha. O patriarca então telefonou para David Shaltiel, chefe-maior de todas as unidades judaicas em Jerusalém, que ordenou a imediata evacuação. Dois dias depois, os receios de Rosnak foram confirmados quando a Igreja Grega Ortodoxa foi tomada por forças árabes. Aquela retirada selou o destino adverso do Bairro Judeu.

A luta mais feroz ocorreu no dia 17 de maio. Ao alvorecer, os árabes alertaram os moradores do Bairro Judeu que se eles não se rendessem até as dez horas da manhã, o Bairro seria destruído. Naquela hora precisa, começou um bombardeio pesado, seguido por tiros disparados por armas automáticas. Os árabes recapturaram a rua principal e continuaram a avançar, mas foram detidos. Eles renovaram seus ataques à tarde e à noite. Todas as posições no setor ocidental da cidade caíram em suas mãos. No dia 19, forças da Legião Árabe entraram na Cidade Velha e a conquistaram. David Shaltiel fez tudo ao seu alcance para impedir a ocupação da Cidade Velha. Todos os seus esforços foram direcionados para alcançar um cessar-fogo por meios diplomáticos, mas seus esforços estavam fadados ao fracasso. Os moradores do Bairro Judeu, junto com os combatentes gravemente feridos, foram levados para a Cidade Nova. Isso marcou o fim da luta heroica dos defensores do Bairro Judeu.

A Cidade Nova não sofreu ataques intensos, mas as forças árabes tinham assumido o controle das colinas ao redor da cidade, o que significava absoluto domínio sobre todos os caminhos que levavam a Jerusalém. Veículos que tentavam percorrer a estrada estendida desde a costa do Mediterrâneo eram alvejados por fogo cerrado. Comboios carregando alimentos, armas e suprimentos médicos enviados pelo ishuv sofriam pesadas perdas e ficavam pelo caminho.

No dia 15 de maio de 1948, as forças britânicas se retiraram do mosteiro de Latrun, onde um forte dominava a estratégica estrada. Latrun foi imediatamente ocupada por uma brigada da Palmach, braço da Haganá treinado para ações mais contundentes. No entanto, na noite de 18 de maio, a Legião Árabe da Transjordânia, que abrigava oficiais britânicos, se apossou de Latrun. As tentativas da Palmach para retomar o forte redundaram em sucessivos fracassos.

As carências da população judaica de Jerusalém eram crescentes e se multiplicavam. Pequenas quantidades de suprimentos, sobretudo munições, foram transportadas por via aérea, mas a escassez de itens básicos para a sobrevivência era apavorante. Em Tel Aviv, a liderança do ishuv chegou a temer que a cidade viesse a se render à Legião Árabe. Encontrar a maneira de romper o bloqueio de Jerusalém era o centro de todas as preocupações, inclusive porque novas tentativas para reocupar Latrun tinham sido inúteis. A única iniciativa bem-sucedida tinha sido a eliminação de franco-atiradores jordanianos que atuavam nas escarpas ao redor do forte.

Nessas incursões, os combatentes observaram que seria possível ocupar um terreno ao pé de uma colina, adjacente a Latrun, capaz de não ser avistado pela artilharia árabe. Uma tropa partiu a pé do Kibutz Hulda para um quartel da Palmach, em Abu Ghosh, nas cercanias de Latrun. Ali os comandantes da tropa constataram que seria possível, sem serem vistos, abrir um caminho ao norte do forte. O maior problema era um trecho muito íngreme no início da subida da colina. Depois de duas semanas de trabalho, alguns suprimentos carregados por mulas chegaram a Jerusalém.

Isto animou os combatentes a alargar a trilha, na medida exata para dar passagem a veículos. Na madrugada do dia 2 de junho um comboio de suprimentos partiu para Jerusalém. No entanto, aquele arremedo de estrada estava praticamente intransitável. Alguns veículos tiveram que ser empurrados manualmente, enquanto escavadeiras e trabalhadores tentavam aplainar os trechos mais críticos da estrada, sempre com a preocupação de estar para fora da linha de visão da artilharia jordaniana. No entanto, a Legião Árabe avistou a estrada e a bombardeou, mas não atingiu o alvo, enquanto atiradores de elite árabes mataram, no dia 9 de junho, oito israelenses.

Três semanas depois, o trecho mais íngreme foi aberto para veículos que precisaram da ajuda de tratores para subir. A estrada recebeu o nome de Burma Road, referência a uma estrada aberta a duras penas pelos britânicos, na Birmânia, para combater a invasão japonesa. A estrada foi finalmente concluída em 14 de junho, tendo sido colocados canos de água e de combustível ao longo do percurso. A estratégia para a construção da Burma Road foi devida a um herói da Guerra da Independência de Israel, o coronel do exército americano David “Mickey” Marcus, condecorado veterano da 2ª. Guerra Mundial. Na condição de voluntário, ele chegou à Palestina Britânica pouco antes do fim do Mandato Britânico e se tornou um dos principais assessores militares de Ben-Gurion. Mickey, como sempre era chamado, recebeu o posto de aluf (general) e interveio, muitas vezes pessoalmente, no desdobramento de combates de norte a sul do país.

Dias depois de liberado o acesso para a Cidade Santa, Marcus foi mortalmente baleado por um novo imigrante na função de sentinela, que teve dificuldade para reconhecer a senha que permitia a entrada no posto de comando. A tragédia aconteceu poucas horas antes de um iminente cessar-fogo negociado para entrar em vigor em 11 de junho, às cinco e meia da manhã. Temendo um ataque árabe naquela noite, Marcus havia emitido instruções para aumentar o estado de alerta e abrir fogo se alguma senha não fosse reconhecida. Ironicamente, foi vítima de sua própria ordem.

Ao fim da Guerra da Independência, o desempenho de David Shaltiel se tornou alvo de críticas e controvérsias que nunca chegaram a um consenso. Ele foi incorporado ao exército regular com o posto de general e, em 1951, foi indicado para ser o primeiro embaixador de Israel no Brasil.

A batalha de Negba

Em 12 de maio de 1948, antes mesmo da invasão do exército egípcio no território que pertenceria ao Estado Judeu, unidades bem armadas sob o comando da Irmandade Muçulmana, organização fundamentalista sediada no Cairo, assumiram o controle do forte policial Suwaydan, controlado pelo Iraque. Após a retirada britânica, o incipiente exército de Israel fez duas tentativas para capturar o forte, mas ambas falharam. Em 21 de maio, uma unidade motorizada egípcia realizou um ataque contra o Kibutz Negba, localizado ao sul do país, na faixa do deserto do Neguev. A este ataque se seguiram bombardeios efetuados por aeronaves egípcias, que mataram o comandante regional israelense, Yoav Dubno, que atirava contra os aviões com uma potente metralhadora.

Os combatentes do kibutz elaboraram uma ação estratégica a que deram o nome de Operação Yoav, em homenagem ao companheiro morto, que resultou na tomada do forte policial do Iraque. Os egípcios continuaram a assediar Negba nos dias seguintes, fazendo com que a Brigada israelense Givati para lá enviasse​ dois pelotões como reforços, equipados com morteiros. As forças dessa Brigada também ocuparam a localidade de Julis, nos dias 27 a 28 de maio. Assim poderia controlar uma importante posição e fornecer reforços adicionais para Negba. 

Quando um ataque egípcio foi deslanchado, no dia 2 de junho, os defensores de Negba contavam com cerca de 70 soldados da Brigada Givati ​​e 70 residentes do kibutz, incluindo 10 mulheres. Tinham um total de 80 fuzis, 200 granadas de mão, 500 coquetéis molotov, 20 submetralhadoras, 8 metralhadoras e 53 morteiros. A força egípcia consistia no 1º Batalhão de Infantaria, complementado por uma companhia de tanques, uma companhia de carros blindados e três baterias de artilharia. Planejavam cercar o kibutz e avançar a partir de diferentes direções.

O ataque começou com uma barragem de artilharia na madrugada de 2 de junho. Sua coluna se moveu para o leste da principal estrada da região e atacou Negba pelo lado sul, com três unidades blindadas. Com as posições das metralhadoras egípcias dando cobertura, sete tanques e 12 carros blindados chegaram a 100 metros do perímetro sudoeste do kibutz, por volta das sete da manhã. Um dos tanques alcançou uma posição defensiva judaica, que foi completamente destruída, mas teve que recuar sob fogo pesado disparado pelos defensores. Dois outros tanques explodiram sob o impacto de minas terrestres. A infantaria egípcia atacou pelo lado nordeste, mas foi repelida. 

A Brigada Givati foi acrescida pela Brigada Neguev, designada para ajudar Negba. Uma unidade de jipes ​​​​deste batalhão foi enviada para o oeste do kibutz com a missão de bloquear qualquer novo avanço do inimigo. Por volta das 11 horas da manhã, as forças egípcias decidiram se retirar sob uma cortina de fumaça. Negba sofreu 8 mortos e 11 feridos, enquanto as perdas egípcias foram estimadas em 100 mortos e igual número de feridos.

O segundo ataque a Negba constituiu o auge do seu esforço para eliminar o kibutz. Os egípcios alocaram uma brigada reforçada e empreenderam uma tentativa de avanço semelhante à anterior: um batalhão de infantaria, auxiliado por uma companhia de tanques e uma companhia de veículos blindados, tudo complementado por artilharia e apoio aéreo. Para evitar um fracasso como o que havia ocorrido na batalha anterior, os egípcios urdiram seu avanço com um bom plano para cercar o kibutz, destinado a evitar a chegada de reforços. Às seis horas da manhã, o cerco se concretizou. As forças blindadas e a infantaria investiram em três direções. No entanto, os ataques simultâneos foram mal coordenados e a infantaria e os blindados se desentenderam a ponto de se tornarem alvos facilmente destruídos. Os defensores de Negba resistiram, enquanto os egípcios se reagruparam e tentaram um ataque final a partir do lado norte. Sem sucesso, recuaram às seis horas da tarde. As perdas egípcias foram estimadas em 300 mortos.

O comandante das forças egípcias na Palestina sob mandato britânico demitiu Muhamad Naguib, comandante da 4ª Brigada, por causa da derrota. (Anos mais tarde, Naguib lideraria o golpe militar contra o governo real do Cairo). 

A batalha de Negba é considerada o ponto de virada na frente sul, durante o período compreendido entre a primeira e a segunda tréguas da primeira guerra de Israel. O poeta Abba Kovner, que serviu na Brigada Givati, comparou a defesa doKibutz Negba à Batalha de Stalingrado, coroando-a como Negbagrad. 

Os armistícios

Em 1949, Israel e Egito, Líbano, Jordânia e Síria assinam acordos de armistício, encerrando formalmente as hostilidades iniciadas no ano anterior e também demarcando as linhas provisórias que separavam os territórios controlados pelos árabes. Esses territórios compreendiam a Cisjordânia, anexada pela Jordânia, e a Faixa de Gaza, ocupada pelo Egito.

As hostilidades entre o recém-criado Estado de Israel e os países vizinhos assumiram proporções de tal maneira devastadoras que o Conselho de Segurança das Nações Unidas nomeou o competente diplomata afroamericano Ralph Bunche (1904-1971) para atuar como mediador do conflito. Bunche havia servido na delegação dos Estados Unidos à Conferência das Nações Unidas sobre a Organização Internacional em São Francisco, em 1945, que redigiu a Carta da ONU. Depois serviu na delegação americana à primeira sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1946. Chefiou, em seguida, o Departamento de Tutela, dando início a uma longa carreira pública que se estendeu até o movimento de liberdade civil liderado por Martin Luther King Jr.

Na missão que lhe foi confiada no Oriente Médio, depois de numerosas e intensas intervenções de persuasão, Bunche conseguiu levar israelenses e egípcios à mesa de negociações.  As conversações começaram no mês de janeiro. Agindo com discrição, paciência e humor, Ralph Bunche conquistou a confiança das partes com propostas imparciais e viáveis. De início, fez com que os negociadores concordassem em observar sigilo total com relação à imprensa, cabendo ao Conselho de Segurança apenas receber relatórios oficiais isentos de opiniões ou comentários. Embora as negociações fossem muito difíceis, levaram à assinatura de uma trégua que deveria vigorar até o final de fevereiro, posteriormente assumida como o “armistício”. Em um dos momentos mais sensíveis das negociações, Israel concordou em levantar o cerco que havia imposto a uma grande tropa egípcia em Faluja, permitindo que o contingente se deslocasse sem entregar armamentos. Dentre os militares em retirada se encontrava um jovem oficial chamado Gamal Abdel Nasser. Como o Egito era a mais poderosa e principal nação árabe, competiu-lhe abrir caminhos para os acordos com os demais países árabes que haviam invadido Israel. Para monitorar as fronteiras acordadas, a ONU estabeleceu agências de supervisão, cuja implementação contou com assinaturas dos Estados Unidos, França e Inglaterra.

O acordo com o Líbano foi assinado no dia 23 de março de 1949. Seu ponto principal foi seguir a fronteira traçada quando da demarcação do território que estivera sob mandato britânico desde 1922. Israel retirou suas forças de 13 aldeias libanesas ocupadas durante a guerra.

As negociações com a Transjordânia foram bem mais complicadas, porque, no decorrer de seu curso, Israel ocupou extensas áreas de território tanto no centro como no sul do deserto do Neguev. As forças jordanianas permaneceram na maioria das posições que haviam ocupado, particularmente em Jerusalém, o que determinou a divisão da cidade, cabendo-lhe a Cidade Velha. 

As negociações de armistício com a Síria começaram em Gesher B’not Yaacov, junto ao rio Jordão, em abril de 1949, depois que os outros acordos de armistício já haviam sido concluídos; e somente se consumaria no 20 de julho. A Síria retirou as suas forças da maior parte dos territórios que controlava a oeste da fronteira internacional.

O Iraque, cujo exército participou ativamente na guerra, embora não tivesse fronteira com Israel, retirou suas forças da região em março. Essa retirada não correspondeu a um armistício e, do ponto de vista formal, o Iraque permanece em estado de guerra com Israel.

Os Acordos de Rhodes mereceram um expressivo reconhecimento internacional. Em 1950, Ralph Bunche foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz.

Bibliografia

Lorch, Netaniel. The Edge of the Sword, Massada Press, Israel, 1968.

Zevi Ghivelder é escritor e jornalista.