Há referências históricas da presença judaica na Escócia no final do século 17, mas a primeira comunidade foi criada em Edimburgo, em 1816, e a segunda, em Glasgow, sete anos mais tarde. A população judaica foi crescendo no século 19 com a chegada de judeus vindos da Europa do Leste. Em meados do século 20, viviam no país cerca de 20 mil de nossos irmãos, mas hoje são cerca de seis mil.
País de deslumbrantes paisagens, a Escócia cobre o terço norte da ilha da Grã-Bretanha e, desde o início do século 18, quando se uniu com a Inglaterra, é um dos países do Reino Unido1. A Escócia faz fronteira ao sul com a Inglaterra e o Oceano Atlântico, ao leste com o Mar do Norte e a sudeste com o Canal do Norte e o Mar da Irlanda.
Em termos numéricos, a presença judaica jamais foi significativa, sempre representando menos de 1% da população, mas seus membros contribuíram amplamente para o desenvolvimento econômico da nação. Em uma sociedade em que não havia barreiras legais, eles deram significativa contribuição em todos os campos, produzindo cientistas e doutores, juízes e membros do Parlamento, ministros do Governo, artistas, escritores e músicos famosos e campeões nos esportes e destiladores de whisky.
Os judeus se tornaram a maior minoria não cristã a viver na Escócia, “um clã judaico” entre os muitos clãs que compõem a sociedade tradicional escocesa. Em março de 2008 foi desenhado um tartan – um padrão de trama xadrez – especial para o “clã judaico”, encomendado pelo rabino do Chabad de Glasgow, e certificado pela Autoridade de Tartans da Escócia. Na Escócia, os membros dos diferentes clãs são reconhecidos pela padronagem de xadrez geralmente utilizada na confecção dos kilts. Cada clã tem seu próprio conjunto de cores e uma trama diferente. As cores do xadrez do “clã judaico” são azul, branco, prateado, vermelho e dourado. De acordo com o rabino: “Os azuis e brancos representam as cores das bandeiras da Escócia e de Israel; a linha central dourada representa o ouro do Tabernáculo, a Arca da Aliança; o prateado, a decoração que enfeita os Rolos da Lei e o vermelho representa o tradicional vinho do Kidush”.
O Reino da Escócia
A Escócia é uma nação cuja história é tão fascinante quanto violenta. Os primeiros registros remontam à ocupação do Sul e do Centro da ilha da Grã-Bretanha pelo Império Romano. O território que equivale atualmente à Inglaterra e ao País de Gales passou a ser a província romana da Britânia, no século 1, mas os romanos não conseguiram dominar o norte da ilha, habitado pelos pictos, e no século 5 deixaram a região.
Segundo a tradição, o Reino da Escócia foi fundado em 843 com a união das tribos dos pictos e dos escotos, e, nos séculos seguintes, os escoceses lutaram ferozmente contra quem quer que fosse – vikings, anglo-saxões e ingleses – para manter sua independência.
O que se sabe sobre a presença judaica na Escócia no período que vai da Antiguidade e até o final da Idade Media são suposições históricas, pois são escassas as evidências concretas. É provável que os judeus se aventurassem na Britânia na época em que Roma dominava a região, pois eles costumavam se deslocar para comercializar em praticamente toda a extensão do Império.
E, durante a Idade Média, sabe-se que mantinham interesses comerciais na região sem, porém, lá se estabelecer. Na época, o comércio entre a Escócia e a Europa Continental era intenso, e mercadores de Aberdeen e Dundee mantinham fortes vínculos com os portos bálticos na Polônia e Lituânia. É, portanto, provável que comerciantes judeus tenham ido à Escócia para fazer negócios.
Os judeus são mencionados, em 1180, numa regulamentação oficial do bispo de Glasgow que proibia os cristãos de “contabilizar os benefícios auferidos com dinheiro tomado emprestado aos judeus”. Há dúvidas se esta determinação oficial se refere a judeus que viviam na Inglaterra e emprestavam dinheiro aos escoceses, ou se foi promulgada após a chegada em Glasgow de judeus em fuga face aos distúrbios antissemitas que estavam ocorrendo na Inglaterra. No século 13, os judeus ingleses enfrentavam perseguições por parte da Coroa que culminaram com o Édito de Expulsão de 1290, outorgado pelo rei Eduardo I. É provável que alguns se tenham refugiado na Escócia, na época um reino independente e inimigo dos ingleses.
Praticamente quatro séculos vão-se passar sem que haja evidências da presença judaica na Escócia.
A Escócia nos século 17 e 18
A história da Escócia deu uma guinada no século 17. Em 1603, o rei da Escócia, James VI, torna-se também rei da Inglaterra, com o nome de James I, e passa a governar as duas Coroas embora as nações permaneçam independentes.
Ainda no século 17 acontecimentos econômicos e políticos mudam o curso da história mundial e pavimentam o surgimento do mundo moderno. Na Europa, Estados Nacionais entram numa acirrada competição econômica, política e colonial. As nações ibéricas perdem sua hegemonia e a França surge como nação dominante, mas, no final do século, a Holanda e a Inglaterra passam a rivalizar seu poder. Ademais, na Inglaterra estavam ocorrendo profundas mudanças agrícolas e comerciais que abriram o caminho para a Revolução Industrial da qual o país foi pioneiro.
No início do século 18, a Escócia era um dos países mais atrasados e pobres da Europa Ocidental. Suas classes dirigentes estavam cientes de que não haveria o desenvolvimento econômico sem a participação da Escócia no comércio internacional. Além de não ter domínios coloniais, o país tampouco possuía uma Marinha capaz de dar assistência a seus navios mercantes. Essas considerações os levaram a aceitar, apesar de a medida ser altamente impopular, uma união política com a Inglaterra. A união trazia vantagens para os dois lados. Dava aos ingleses o tão almejado controle político da Escócia e abria aos escoceses o comércio em todas as regiões sob influência inglesa.
A União foi oficializada em 1707. Os reinos da Inglaterra e Escócia deixaram de ser independentes, sendo criado um novo Estado: o “Reino da Grã-Bretanha”. A Escócia manteve a religião presbiteriana, não adotando a anglicana, e um sistema jurídico independente.
Para os judeus, isso significava que quem fosse se estabelecer na Escócia estaria sujeito às leis que regiam a vida judaica na Inglaterra. Em 1656, os judeus haviam recebido a permissão de voltar a viver na Inglaterra, porém seu status civil e jurídico se manteve informal e ambíguo até 1664, quando novas leis foram criadas para limitar o acesso à vida pública a qualquer cidadão, judeu ou cristão, que não fosse protestante.
Durante todo o século 18 a Escócia floresce, tornando-se uma das potências econômicas e intelectuais da Europa. A industrialização, principalmente do setor têxtil, o comércio de tabaco, açúcar e algodão, a mineração e a construção naval levaram o país a um rápido crescimento econômico e à urbanização. Glasgow tornou-se um dos polos industriais mais importantes do mundo. Em 1740 viviam na cidade cerca de 20 mil habitantes; 60 anos depois, eram mais de 84 mil.
Os primeiros judeus
Apenas no final do século 17 um pequeno número de judeus se estabeleceu em Edimburgo. Em 1691, as minutas do Conselho Municipal da cidade registraram o pedido do judeu David Brown para lá se estabelecer e comerciar.
Havia também um pequeno número de estudantes e professores que gravitavam em torno da Universidade de Edimburgo, atraídos por sua reputação nas áreas científicas e médicas. E, diferentemente do que acontecia nas universidades na Inglaterra e em outros países da Europa, na Escócia os estudantes não eram obrigados a fazer um juramento religioso (cristão). Durante todo o século 18,19 e 20 a Escócia abrigou estudantes judeus de medicina.
Mas, é no século 19 que realmente aumenta o número de judeus que se estabelecem na Escócia. As primeiras levas vieram da Alemanha e da Holanda e, a partir de 1860, da Rússia, Lituânia e Polônia, crescendo ainda mais na década de 1890, à medida que as perseguições na Europa Oriental tornavam a vida judaica cada vez mais sofrida e precária. O fluxo migratório continuou ao longo do século 20, principalmente após 1914.
As empresas escocesas de navegação atuavam cada vez mais no lucrativo transporte de imigrantes judeus e não judeus da Europa, através da Escócia, rumo à América. Para os milhares de judeus que chegavam aos portos de Leith, perto de Edimburgo, e Dundee, na costa leste, a Escócia era apenas uma escala. As condições de viagem não eram fáceis e muitos chegavam fracos e doentes. Muitos tiveram que ficar no país, pois não tinham condições de seguir viagem, ou de atender os requisitos de saúde exigidos na entrada aos Estados Unidos pelas autoridades norte-americanas. Havia os que, sem recursos suficientes para pagar uma viagem até o Novo Mundo, compravam uma passagem até a Escócia para, em seguida, trabalhar e economizar o suficiente para continuar a viagem. Outros desembarcaram enganados por capitães que os faziam acreditar que já tinham chegado a seu destino final na América. Qualquer que fosse o motivo, milhares ficaram na Escócia. Edimburgo e Glasgow eram as cidades escolhidas pela maioria dos judeus. Até meados do século 19, essas duas comunidades eram numericamente semelhantes, mas o desenvolvimento comercial e econômico de Glasgow começou a atrair um número cada vez maior de judeus.
Edimburgo
Após a permissão dada ao judeu David Brown, em 1691, para viver e comerciar livremente, outros judeus tiveram permissão de fazer transações comerciais na cidade. Entre outros, Moses Mosias, em 1698, e Isaac Queen, em 1717.
Em 1795, Herman Lyon adquiriu um lugar para sepultamento, em Edimburgo. Oriundo da Alemanha, ele se mudara para a Escócia e prosperara. Ainda que o local da sepultura original, em Calton Hill, já não se possa encontrar, pois apenas restam alguns escombros e pedras, está marcado no mapa de 1852 da Agência Nacional de Mapas da Grã-Bretanha, como “Sepultura do Judeu”.
Duas décadas vão se passar antes de ser criada, em 1816, a primeira comunidade judaica organizada da Escócia: a Edinburgh Hebrew Congregation, composta por 20 famílias. Em 1817 foi estabelecida a primeira sinagoga na Escócia, em um quarto alugado em Richmond Street. E, três anos mais tarde, a comunidade comprou o terreno para o cemitério.
A maioria dos judeus que viviam na época em Edimburgo eram abastados comerciantes de origem alemã ou holandesa, mas o perfil da comunidade iria mudar com a chegada, nas décadas finais do século 19, de judeus vindos da Europa Oriental.
Em 1825, a Edinburgh Hebrew Congregation mudou-se para novas instalações, em Richmond Court, onde permaneceu durante 43 anos, até a inauguração da sinagoga em Park Place, próxima à Universidade de Edimburgo.
Os judeus, principalmente imigrantes, cuja condição social não era privilegiada e não tinham condições financeiras de viver nas ruas em torno da Universidade de Edimburgo, estabeleceram-se no porto de Leith e Dalry, na parte oeste da cidade. Como ocorre em toda parte, a sinagoga era o eixo central de cada comunidade.
O número de sinagogas e as mudanças na sua capacidade efetivamente marcam o crescimento e o declínio da população judaica em Edimburgo.
A sinagoga conhecida como Blecheneh Shul foi inaugurada em Dalry por artífices e operários, muitos vindos de Manchester.
Em 1898, a Edinburgh Hebrew Congregation abriu mais uma sinagoga na Rua Graham e, em 1913, foi ampliada. Em 1914 viviam na cidade 1.500 judeus. Essa sinagoga permaneceu sendo a principal até a inauguração da atualmente localizada na Rua Salisbury e aberta em 1932. Esta é a primeira e única sinagoga especialmente construída para esse propósito em Edimburgo. Acomoda 1.500 pessoas e representou a união das duas principais congregações judaicas locais. A nova construção era a prova da prosperidade e ascensão social dos membros da comunidade, cuja maioria à época já vivia nos subúrbios ao sul de Edimburgo.
Glasgow
Embora durante o século 18 vivessem em Glasgow alguns judeus – comerciantes e alunos da Universidade de medicina, não há nenhum registro de judeus que se tenham estabelecido permanentemente na cidade até 1812.
A imigração judaica para Glasgow faz parte de uma tendência mais ampla em que eles eram um dos inúmeros grupos que fizeram da cidade seu novo lar no século 19. Apesar de hoje ser a maior cidade da Escócia, e ter a maior comunidade judaica do país, a Glasgow do século 18 era uma cidade provinciana, com uma população de cerca de 20 mil habitantes, chegando a 80 mil no início do século 19. A população cresceu à medida que florescia o comércio com a América do Norte. A localização da cidade, com acesso à costa oeste da Escócia, é fator de atração para os comerciantes e empresários.
O primeiro judeu admitido como residente da cidade foi Isaac Cohen, um chapeleiro vindo de Londres. De acordo com uma lenda local, foi Cohen quem introduziu o chapéu de seda na Escócia. Nos anos seguintes, outros judeus foram-se estabelecendo em Glasgow, a maioria de origem alemã, holandesa ou londrina. Em 1850 havia apenas 200 judeus em Glasgow, mas à medida que a cidade crescia, o mesmo acontecia com o número de judeus. Em 1879, eram cerca de mil; em 1891, por volta de 2 mil; e, em 1914, já perfaziam 12 mil.
A florescente indústria da Glasgow vitoriana gerava oportunidades para os judeus recém-chegados, que ajudaram no rápido desenvolvimento industrial e comercial, em especial na fabricação de roupas, móveis e cigarros. Parte significativa dos membros da comunidade de Glasgow, assim como ocorria em outros locais, trabalhavam como mascates vendendo vários produtos para as comunidades da área de mineração.
Em 1823 foi aberta a primeira sinagoga, em um pequeno apartamento de dois quartos, na High Street. À medida que a comunidade crescia, ia realizando seus serviços religiosos em diferentes locais. Em 1832 foi comprado o terreno para o primeiro cemitério.
Em 1859 foi aberta uma sinagoga para abrigar 200 fiéis, na George Street. Vinte anos mais tarde, em 1879, foi inaugurada uma suntuosa sinagoga em Garnethill. Era a primeira na Escócia construída especialmente com esse fim – um empreendimento de grandes proporções para uma comunidade de apenas mil membros. O interior da Sinagoga Garnethill era típico do estilo de “sinagogas catedrais”, construídos no período vitoriano. Predominantemente romanesco, seu estilo é um exemplo do ecletismo do período. A sinagoga tem uma entrada espaçosa e sensacionais janelas em vitral, com painéis florais em cores vívidas. A área central de orações é praticamente uma basílica; o púlpito imponente colocado no centro da plataforma em arco. O armário sagrado para os Sifrei Torá, o Aron HaCodesh, é em madeira folheada a ouro, com uma cúpula e torres.
A maioria dos judeus vivia no Distrito de Gorbals, ao longo do Rio Clyde. Era a parte mais pobre da cidade, uma área habitada principalmente por imigrantes italianos e irlandeses. Foi em Gorbals que surgiu uma comunidade mais tradicional, cujo idioma principal era o iídiche. Em 1901, no coração dos Gorbals, foi aberta a Glascow Central Synagogue, a maior em toda a Escócia.
Os judeus se integraram à vida local e participavam das atividades da política. Michael Simons, um membro proeminente da comunidade de Garnethill e diretor de uma das principais empresas de importação de frutas, foi eleito para o Conselho de Glasgow, em 1880. Acredita-se que sua posição de destaque tenha influenciado na aceitação da comunidade judaica na sociedade maior.
Ao longo do século 20, Glasgow foi uma das principais comunidades judaicas da Grã-Bretanha, sendo superada apenas por Londres, Manchester e Leeds.
Dundee, Greenock, Ayr e Aberdeen
Apesar de sempre a vida judaica escocesa ter-se concentrado em Edimburgo e Glasgow, comunidades menores surgiram em Dundee, Greenock, Ayr e Aberdeen. O cemitério judaico em Dundee indica ter havido uma congregação na cidade desde o século 19. Aliás, várias indústrias têxteis instaladas em Hamburgo, na Alemanha, abriram seus escritórios em Dundee, no início do século 19. Em Aberdeen, a então recém-criada comunidade judaica foi o centro da atenção nacional poucas semanas após sua fundação, em 1893, quando defendeu com sucesso uma ação contra a aplicação da shechitá2 movida pelo departamento local da Sociedade de Prevenção a Crueldade contra Animais.
Instituições de ajuda comunitária
A comunidade judaica escocesa sempre foi unida, com seus membros apoiando-se uns os outros. Além de fundarem sinagogas e escolas, criaram uma ampla rede de bem-estar social. As instituições de assistência social comunitária assumiram a responsabilidade pela parcela mais carente da comunidade, principalmente os imigrantes recém-chegados. Embora com a Lei para Estrangeiros de 19053 a Grã-Bretanha tenha limitado o número de imigrantes pobres autorizados no país, um número cada vez maior de judeus continuavam a chegar à Escócia nos anos que antecederam a 1ª Guerra Mundial.
O número crescente de recém-chegados levou ao estabelecimento de todo tipo de atividades assistenciais, muitas das quais coordenadas pelos próprios imigrantes. As instituições davam ajuda financeira, além de assistência médica e social.
A primeira instituição assistencial judaica foi fundada em Edimburgo, em 1838. Em Glasgow, em 1858, criou-se a Sociedade Hebraica Filantrópica, que possuía sua própria equipe médica e, em 1899, o Fundo Hospitalar Judaico. A partir do final do século 19, tanto em Edimburgo quando em Glasgow, foram abertos abrigos gratuitos judaicos e acomodações temporárias para os recém-chegados e para os viajantes em trânsito, e criadas sociedades de autoajuda ao custo de um penny semanal.
Um dos problemas enfrentados pela comunidade judaica escocesa foi o advento das missões cristãs escocesas para os judeus. A Igreja da Escócia4 desencadeara uma campanha acirrada para conseguir a conversão dos judeus, e investia somas consideráveis nesse “projeto”. Até a década de 1880 as missões focavam seu trabalho na evangelização dos judeus fora da Escócia, mas a partir desse período, passaram a atuar também dentro do próprio país. A conversão dos judeus tornou-se um dos mais importantes objetivos dos missionários, que ofereciam aos judeus, principalmente aos recém-chegados, ajuda financeira e assistência médica em instalações bem-equipadas, com médicos que falavam iídiche. Embora não obtivessem êxito em suas tentativas de conversão, estavam determinados a perseguir a evangelização dos judeus, provocando protestos e a ira da comunidade judaica.
Séculos 20 e 21
A comunidade judaica escocesa sempre foi ativa politicamente, tanto internamente quanto em relação aos acontecimentos mundiais, acima de tudo em relação ao destino de nosso povo.
Na década de 1890, o sionismo era a ideologia política dominante entre os judeus. Os grupos sionistas organizavam atividades sociais e esportivas. Foram criadas, também, sociedades de autoajuda, cujos encontros em Glasgow atraíam grandes públicos – até mil pessoas por evento, além de grupos sionistas para mulheres e jovens. As salas de leitura organizadas pelos movimentos sionistas forneciam um espaço para a comunidade se encontrar, aprender sobre Eretz Israel e os primeiros pioneiros, além de oferecer aulas de hebraico. Os pogroms perpetrados na Rússia, principalmente o ocorrido em Kishinev em 1905, deram um forte impulso aos esforços sionistas.
A Declaração Balfour, de novembro de 1917, indicando o apoio do governo britânico à criação de um Lar Nacional judaico na então Palestina, foi recebida com muito entusiasmo, fortalecendo ainda mais as atividades sionistas e aumentando a arrecadação de recursos para assentamentos judaicos em Eretz Israel.
Após a ascensão nazista na Alemanha, em 1933, os esforços comunitários foram direcionados a ajudar refugiados judeus. E estima-se que em 1939, com a chegada dos refugiados da Europa, havia cerca de 15 mil judeus vivendo em Glasgow e pouco mais de 2 mil em Edimburgo.
A Escócia tornou-se lar para algumas das crianças do chamado Kindertransport, organizado para retirar crianças judias da Alemanha, Áustria e Checoslováquia. A evacuação temporária acabou por se transformar, tragicamente, em permanente. Ao término da 2ª Guerra chegaram ao país os sobreviventes da Shoá, um horror cuja realidade chocaria a comunidade, dando-lhe novos incentivos para seu apoio à causa de Israel.
A fundação do Estado de Israel e a vitória na Guerra dos Seis Dias, em 1967, influenciaram de forma positiva a comunidade e a arrecadação de fundos para instituições israelenses tornou-se uma prioridade.
Situação atual
Na metade do século 20, viviam no país por volta de 20 mil judeus, a maioria de origem asquenazita. Mas a comunidade foi encolhendo e, no início do século 21, eram apenas 6.500. A maioria, por volta de 4.200, vivem em Glasgow, 950 em Edimburgo, a capital, e uma minoria em Dundee e em outras cidades do país.
A Escócia está assistindo o crescimento do antissemitismo, tendo dobrado em 2015 o número de incidentes contra judeus, de acordo com a Community Security Trust. Isso é muito perturbador num país que, como escreveu David Daiches, renomado historiador judeu escocês, em sua autobiografia, Two Worlds: An Edinburgh Jewish Childhood, é o único, em toda a Europa, que não tem uma história de perseguição oficial aos judeus. Não há atos de expulsão, como os ocorridos na Inglaterra e outras nações europeias, nem legislações discriminatórias.
A atuação do Parlamento nacional escocês está no centro das preocupações das lideranças comunitárias, pois o Partido Nacional Escocês (SNO), o principal do país, com 63 das 120 cadeiras do Parlamento, apoia os palestinos e conseguiu aprovar um grande número de moções anti-Israel. Entre maio de 2011 até o final do ano passado, das 355 resoluções sobre assuntos internacionais, 65 envolviam Israel, e, por exemplo, apenas 13 se referiam à Síria. Em 2015, a primeira-ministra Nicola Sturgeon reuniu-se com a liderança comunitária, tentando tranquilizar seus membros e garantindo que não serão tolerados no país incidentes antissemitas.
O Conselho Escocês de Comunidades Judaicas (Scottish Council of Jewish Communities-Scojec), após ter realizado inquéritos, em 2012 e 2014, concluiu que a forma como alguns pesquisadores e acadêmicos expressam seus pontos de vista sobre o Oriente Médio em sala de aula, em palestras e na mídia contribui para que estudantes judeus se sintam discriminados. Ademais, o movimento BDS e a Campanha Escocesa de Solidariedade à Palestina têm conseguido infiltrar-se em muitos setores da sociedade civil e nos campi universitários. Muitos estudantes judeus dizem esconder a sua religião em virtude das constantes demonstrações e atividades contra o Estado Judeu. Há relatos de estudantes intimados a prestar exames no Shabat ou então serem reprovados. Outros revelam que não têm mais estudado nas bibliotecas por medo de serem atacados, seja verbal seja fisicamente.
Em 2015 dez professores escoceses integraram uma lista de 300 professores universitários que anunciaram um boicote às instituições israelenses. O pastor Arthur O’Malley, grande defensor de Israel, chegou a afirmar que “BDS e outros grupos palestinos aproveitam todas as vantagens e invadem ativamente as universidades, conselhos municipais e espaços públicos, e têm obtido grande apoio no seio dos movimentos sindicalistas”. E continua: “Quando nossas principais cidades escolhem hastear a bandeira palestina em demonstração de solidariedade...isso demonstra o impacto que está sendo conseguido por esses grupos”, explica o pastor cristão, referindo-se a um incidente ocorrido em agosto de 2016 quando um setor inteiro de fãs no estádio do Celtic, em Glasgow, levantou bandeiras palestinas para protestar contra a “ocupação israelense”.
BIBLIOGRAFIA
Shields, Jacqueline, Scotland Virtual Jewish History Tour, www.jewishvirtuallibrary.org
Collins, Kenneth, Jews in Glasgow.
www.theglasgowstory.com Jerusalem Post Diaspora
Imber, Elizabeth E., Saving Jews:The History of Jewish-Christian Relations in Scotland, 1880-1948, A Master‘s Thesis
Department of Near Eastern and Judaic Studies Brandeis University, 2010
Jaffe-Hoffman, Maayan, Seeing Scotland Through Its Jewish Community, artigo publicado no Jerusalem Post em18 de fevereiro de 2017