A conquista da Argélia pela França, em 1830, uma ocupação que marcou o início do Segundo Império Colonial Francês1, ocorreu devido a múltiplos fatores, entre eles a supressão da pirataria e rivalidades comerciais. Mas o cerne da decisão de invadir o país foi um escândalo econômico, centrado em uma enorme dívida contraída pela França imperial contra uma casa comercial pertencente a duas das famílias judaicas mais poderosas nos países islâmicos, à época – Bakri e Busnach.

Séculos antes da ocupação militar, o Norte da África já começara a sentir a influência econômico-comercial da Europa. A invasão europeia da Argélia, nos séculos 17 e 18, foi acompanhada pela ascensão de uma nobreza financeira judaica no país, com conexões comerciais e familiares no exterior. Essa elite, de origem italiano-livornesa, beneficiou-se de suas estreitas relações com os governantes locais, relações essas que constituíram um dos importantes fatores responsáveis pela exclusividade que gozavam em vários negócios lucrativos. As franquias produtivas dos principais comerciantes judeus, assim como seu talento comercial e seus laços familiares e diplomáticos, que ramificavam o enorme crédito concedido a seus clientes, levaram a um aumento sem precedentes no comércio entre as duas regiões do Mediterrâneo – mas, também, ao acúmulo de enormes dívidas que minaram a estabilidade da Argélia e que acabaram por levar à sua conquista. No entanto, na decisão de enviar os exércitos franceses, foram levados em conta outros elementos cujas origens datam de 150 anos antes.

Pirataria e influência no Palácio do Dey

Em maio de 1830, para impedir a oposição à ação, o Ministro das Relações Exteriores da França assegurou aos poderes que a operação planejada se destinava apenas a reprimir a pirataria e a escravidão dos cristãos – que os aliados da França não conseguiram eliminar durante as Guerras Berberes2. O roubo marítimo era um fenômeno generalizado no Mediterrâneo desde o início do período otomano, quando os piratas turcos se tornaram corsários, funcionando como uma marinha regular, subordinada ao sultão. Entre os piratas da Berbéria3, foram os argelinos os que se destacaram por sua bravura. Espanhóis, ingleses e holandeses também eram alvo da pirataria, mas no início da luta contra o assalto ao mar da Argélia, os franceses os representavam como um método único de combater o fenômeno. Eles não perseguiram os corsários argelinos no mar, mas atacaram aqueles que os enviavam, bombardeando as costas de Argel e seus habitantes, como fizeram cinco vezes entre 1661-1688.

A acusação feita aos comerciantes judeus de Argel, de que eram parceiros dos corsários, surge pela primeira vez quando os bens desviados começaram a aparecer nos mercados das cidades portuárias europeias onde os comerciantes livorneses operavam. A primeira evidência disso pode ser vista nas palavras de D’Arvie, cônsul da França na Argélia (1675), que sugeriu a participação de alguns dos judeus da Argélia na compra do saque de corsários, ‘que eles repassam para Marselha e Livorno com lucro decente’. Os franceses suspeitavam que os comerciantes judeus, envolvidos como estavam na vida das feiras europeias, poderiam apreciar o valor de cada item, de cada tecido, e, assim, fixar um preço máximo – mas, ao mesmo tempo, significativamente mais baixo do que o preço original pago antes de serem roubados. De acordo com o ponto de vista da França, o possível envolvimento dos comerciantes judeus ajudou a incorporar os saques no sistema comercial tradicional, de maneira eficaz e lucrativa. A Câmara de Comércio de Marselha, perdendo a concorrência comercial para os judeus argelinos, passa a acusá-los, sistematicamente, na maioria das vezes sem provas, de que a origem da mercadoria barata que ofereciam era fruto da pilhagem praticada por corsários – da qual seriam receptadores.

Em 1682, deterioram as relações entre os franceses e os judeus, acabando por levar à deportação destes últimos de Marselha (muitos dos quais tinham laços familiares com os judeus de Argel e Tunes). Paralelamente foi realizada uma campanha militar punitiva, liderada pelo almirante Marquês de Bouchet, que é enviado para bombardear o porto de Argel. Mas, dessa vez, os argelinos respondem com o uso da força. Prendem o renomado cônsul francês Jean LeVacher, amarram-no a uma bala de canhão e o lançam contra a frota do almirante. Outro cônsul recebe tratamento semelhante, em 1688, o que provavelmente ajuda a pôr fim às campanhas punitivas francesas contra a Argélia. Mas o trauma da execução brutal dos dois cônsules acompanharia os monarquistas na França por cerca de 150 anos, de modo que, ao conquistar Argel, sua primeira ação foi transportar para a França o famoso canhão berbero ‘La Concilier’, maior símbolo do sacrifício francês na guerra dos piratas. Até hoje esse canhão é exibido, sobre um palco de granito, no complexo militar da cidade de Brest.

A animosidade entre a França e os livorneses

Nesse sentido, embora o tema da atividade dos corsários envolvesse indiretamente os “livorneses” em Argel, sua influência na política externa da Argélia era direta e visível. Fontes francesas indicam que forte animosidade entre os dois grupos ao longo da maior parte dos séculos 17 e 18, sendo uma das razões para isso a proximidade dos judeus com os governantes argelinos. Durante o século 18, a elite financeira livornesa manteve seu prestígio não apenas aos olhos da população judaica local, mas com o próprio governante, o Dey4 de Argel. Entre os principais dignitários judeus livorneses, ele mesmo escolheu seus enviados diplomáticos, seus tesoureiros e o próprio líder da comunidade judaica. O grande impacto que o alto nível da influência judaica teve no Palácio do Dey, em Argel, deixou muito descontentes os membros da Câmara de Comércio de Marselha.

Essa tendência muda em meados do século 18, quando a França, através da Royal Monopoly Company, fundada em 1741, começa a consolidar sua influência na economia argelina. Isso se deu, entre outros motivos, devido à criação de lojas em Argel e até de fábricas de roupas de lã, couros e beneficiamento de açúcar. A instalação da Royal Monopoly Company quase resultou no empobrecimento total dos comerciantes judeus argelinos durante a década de 1780. Mas houve um evento político que não apenas mudaria as relações francesas e argelinas, com ênfase na economia, mas a própria história do Ocidente.

Crédito, dívidas e revoluções: 1827-1789

Como mencionado acima, os principais comerciantes judeus ficaram frustrados com a hostilidade dos cônsules e a feroz competição imposta a eles pela Câmara de Comércio de Marselha, que levaram o rei da França a fechar os mercados de seu país. Com a eclosão da Revolução Francesa, parecia que os ventos da guerra, soprando através do mar, poderiam realmente beneficiar os livorneses. Os Deys que, através dos tempos, sofreram com a dureza dos Bourbon, também compartilhavam esperanças de melhorar as relações com o novo regime.

Quem primeiro reconheceu a oportunidade criada pelo novo clima político foi a família Bakri. Michel Cohen Bakri, que emigrou de Livorno para Argel em 1770, da mesma forma como fizera Meir Anschel Rothschild, espalhou seus cinco filhos em importantes portos comerciais – Gênova, Livorno, Nápoles, Alexandria e Tunes – estabelecendo uma grande casa comercial da família Bakri. Às vésperas da Revolução Francesa, os Bakri conseguiram obter exclusividade na exportação de grãos para a França. De fato, alguns meses após a decapitação de Luís XV, um dos membros da família, Jacob Cohen-Bakri, foi enviado a Marselha, como principal comerciante de Dey. Depois disso começaram a fornecer trigo para a Provença durante a seca que atingiu o sul da França. Mas um desenvolvimento mais significativo ocorreria em 1794, com a aplicação de uma lei promulgada na França que obrigava, de forma geral, ao recrutamento militar. Isso fez do Exército Revolucionário o maior da história, com um contingente de um milhão de soldados. Ao mesmo tempo, Jacob Bakri muda-se para Paris, onde abre um escritório próximo ao Museu do Louvre. Pouco depois, a família Bakri se tornaria o maior fornecedor de grãos do exército napoleônico.

Em 1797, a família Bakri adquire significativo poder quando Naftali Busnach, confidente e consultor muito próximo do novo ministro das Finanças da Argélia, Mustafa Ben-Ibrahim, estabelece, juntamente com os Bakri, a casa comercial Bakri-Busnach, que logo se tornaria um verdadeiro império comercial no Mediterrâneo. Com a expansão das guerras napoleônicas, seus contratos com os exércitos franceses levaram a um aumento sem precedente no volume de comércio entre os dois países. Na época, o cônsul O'Brien, dos Estados Unidos, informou a seu governo que 170 navios carregados de trigo, cevada, peles e azeite, no valor de milhões de dólares, navegavam todos os anos das margens da Argélia até os portos europeus.

A esses aspectos econômicos somaram-se importantes aspectos políticos. Negócios de grande escala foram fechados com o apoio do Dey. Seu governo provou ser um aliado estável da Nova República Francesa, reconhecendo-a e prestando-lhe assistência essencial à sua sobrevivência. Na época, a França revolucionária precisava desse apoio, pois era isolada em todo o continente europeu. Esse foi o pano de fundo que deu origem aos enormes embarques de mercadorias, bem como à razão para que a França não honrasse a contrapartida financeira criando no futuro uma importante dívida que seria um dos fortes motivos para a futura invasão militar.

O fator financeiro - Crédito ilimitado

A ascensão da Casa Bakri-Busnach é um ponto de inflexão na história econômica da Argélia e de sua comunidade judaica. Os métodos de operação deles incluíam os elementos tradicionais nas transações comerciais, tais como: cooperação com os berberes, passando por grande influência na corte do Dey e uso dessa influência para obter concessões, até mesmo recorrendo ao uso de intrigas políticas. A principal inovação que caracterizou suas atividades foi a concessão de crédito. A casa de comércio fornecia mercadorias de forma ilimitada, sem se incomodar com a data de seu pagamento – em parte porque o Dey era o fiador das transações. Até a ascensão dos Bakri-Busnach, não há evidências de tal atividade. A atividade comercial da Argélia, até o início da Revolução Francesa, era tradicional, baseada principalmente em uma troca de dinheiro por mercadorias. O crédito, a grande inovação trazida por Bakri e Busnach da Europa, que permitia a compra de grande volume de mercadorias mediante cartas de crédito, encantou os republicanos franceses e eles disso se aproveitaram ao máximo.

Mas não foi o generoso crédito livornês o que deu origem à dívida. De fato, durante toda a Revolução Francesa, os franceses pagaram pelas mercadorias, ainda que tardia e parcialmente. Mas a partir de 1799, quando o montante em aberto chegava a 8 milhões de francos, foi adotada uma política diferente, ditada precisamente por Napoleão, que, um ano antes, quando invadiu o Egito, havia desfrutado dos maiores embarques jamais fornecidos pela casa Bakri-Busnach.

Revolução de 18 de Brumário5 - O esfriamento das relações bilaterais

Como mencionado acima, a Revolução de 1789 estreitou as relações entre Argel e Paris, mas a revolução que ocorreria na França na década seguinte esfriou essas relações. Imediatamente após tomar o poder, Napoleão embarca em uma série de ações destinadas a enfrentar as consequências da derrota, pela Segunda Coligação6, dos exércitos franceses naquele ano. Uma das primeiras foi uma diretriz sobre a interrupção da transferência de dinheiro para Argel. A partir desse momento, uma dívida que nunca seria paga começa a se acumular.

A causa oficial para a cessação do pagamento foi a acusação de que a Casa Bakri-Busnach mantinha comércio paralelo com os seus inimigos, os ingleses. Mas fontes contemporâneas indicam que sua lealdade à França era impecável. De fato, mesmo depois de 1799, e apesar dos pagamentos terem cessado, os bens continuavam sendo fornecidos aos exércitos e aliados franceses.

Os comentários do então ministro francês das Relações Exteriores, Charles-François Delacroix, indicam o motivo real da conveniente decisão da França de não honrar a dívida: “A falta de pagamento aos judeus impedirá que eles se desvinculem de nossos interesses”. Em outras palavras, o medo da possibilidade de cooperação judaico-inglesa preocupava os franceses, e eles decidiram usar a dívida como uma maneira de manter a lealdade judaica.

Mas havia outras razões para isso, além de forçar a lealdade. Embora o sucesso de Bakri e Busnach tenha sido sem precedentes, nem todos à sua volta aplaudiam seus negócios e muitos pagaram alto preço por conta deles - tanto os locais quanto os estrangeiros. A francesa “Royal African Company”, que floresceu na Argélia até 1790, começou a perder seu poder ao longo da década e, em 1798, entrou em colapso, fechando logo depois suas portas. A culpa foi atribuída a Bakri-Busnach. Vários cônsules e comerciantes ficaram contrariados com sua exclusividade sobre o comércio de grãos. Alguns os acusaram de incitar o Dey a apreender navios franceses no mar, para comprá-los posteriormente em leilões. A Câmara de Comércio de Marselha também afirmou que, enquanto os judeus controlassem a Argélia, “nenhum francês seria capaz de lá se estabelecer”.

Massacre de 1805 - Ondas de explosão chegam a Argel

Ao lado dos franceses, havia outros círculos que foram perturbados pelo poder dos dignitários judeus da Argélia e que, portanto, queriam enfraquecê-los. Como mencionado, os ingleses tentaram sabotar a aliança entre a Argélia e a França desde o início. Seus aliados otomanos também começaram a ficar preocupados, pois a Argélia, oficialmente subordinada a eles, estava ajudando um exército cristão a desmantelar o Império Otomano7. E, além disso, aumentou também a indignação das massas muçulmanas, tanto contra a casa comercial cujas enormes remessas para a França drenaram o país de seus recursos e levaram a uma terrível escassez, como contra o Dey, que se deixara controlar pelos ‘judeus infiéis’.

Essas forças entraram em erupção em 1805, levando ao pogrom mais violento da história dos judeus argelinos. Seu estopim foi o assassinato de Naftali Busnach em seu escritório, no palácio, continuando com o massacre de dezenas de judeus, alguns durante suas orações nas sinagogas. Pouco tempo depois, o aliado de Busnach, Dey Mustafa, também foi liquidado. Em 1805, o golpe contra os chefes da comunidade judaica foi tão mortal que prejudicou seus status, o que fez com que o Palais de l’Elysée se esquivasse mais facilmente de suas dívidas.

A queda de Napoleão e a vingança da Restauração

Um marco ainda mais significativo em relação a essa dívida reside no estabelecimento da Restauração Francesa ou Restauração Bourbon, que tomou o poder com a derrota e o exílio de Napoleão, em 1814. De fato, a ascensão da monarquia constitucional, encabeçada por Louis XVIII, que não desfrutou dos enormes embarques e herdou apenas sua dívida, despertou esperanças de mudança, no coração de Jacob Bakri, que, após alguns anos de perseguição por seus inimigos, retornou a uma posição de influência, sob um novo Dey.

Apesar do reconhecimento da dívida pelo Ministro das Relações Exteriores Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord e da assinatura de vários acordos de dívida, o rei Luís XVIII decidiu punir a Argélia por suas relações amistosas com o regime revolucionário e por seu apoio abrangente aos elementos que decapitaram seu irmão Luís XVI - uma decisão que seu herdeiro, Carlos X (1824-1830), manteve com mais empenho ainda.

As dívidas eram enormes (em 1820 excediam a cifra de 20 milhões), mas não foram o motivo que levaria a França a invadir a Argélia. Na verdade, o não pagamento prejudicou o tesouro de Hussein Dey (1818-1830), que se tornou o principal credor da casa Bakri, demostrando sua frustração, de forma exacerbada, na impertinência com que conduzia suas tratativas com a França. Não apenas a evasão do pagamento minou seu status, mas também as manipulações que os reis franceses haviam feito contra ele. Isso tudo o fez pensar que, a qualquer momento, eles abririam seus cofres para compensá-lo.

Crise diplomático-político-militar, 1827-1830

A causa imediata da invasão da Argélia pela França foi uma crise diplomática que levou ao uso da força militar. Como mencionado, a França não pretendia pagar suas dívidas e não deu muita importância a isso, mas usou o assunto como chantagem política e uma alavanca para pressionar o Dey a fortalecer os interesses franceses em seu país. A razão para isso foi que, durante o período de Restauração, a França começa a reabilitar suas fábricas em solo argelino. Mas, como uma lição aprendida do passado e no que acontecera com as fábricas de Busnach, destruídas no pogrom, os franceses adotam um método diferente – decidem fortificar suas fábricas. E o responsável por isso não foi outro senão Alexander Deval, o cônsul francês em Anaba, em 1825 (sobrinho de Pierre Deval), que, contrariamente ao acordo, blindou as fábricas francesas em Anaba e La Cal.

O clima se intensificou ao longo dos anos, até que o Dey finalmente perdeu o controle e agrediu fisicamente o cônsul francês, Pierre Deval, em um incidente conhecido como “the Fan Affair”. De acordo com relatos, o diplomata Pierre Deval foi ter com o Dey, atendendo a uma convocação. Pressionado, o cônsul desconversara altivamente sobre as exigências de pagamento e Hussein Dey, não contendo sua fúria, atinge-o, no rosto, com um leque ou pá mata-moscas que tinha em mãos.

No encontro havia sido tratada outra questão além da dívida – a proibição da colocação de armas francesas pesadas em solo argelino e a ameaça de abolir o status especial dos comerciantes franceses.

Após a reunião, Deval alegou ter sido agredido e o governo francês viu isso como uma violação da honra da França. Além de cortar as relações com a Argélia, declarou um bloqueio naval total.

Mesmo a abordagem intransigente do Hussein Dey não ajudou a resolver a crise. A recusa em pedir desculpas à França, pode ser explicada como um desejo de proteger o respeito a seu regime. Mas, quando no ano anterior à invasão (1829), o Dey respondeu a uma proposta de compromisso da França, recorrendo a bombardeios aos navios franceses, é difícil não ver isso como uma provocação. De qualquer maneira, aparentemente Hussein Dey não previu adequadamente as consequências das mudanças políticas que ocorreram em Paris. Aos olhos do rei de França, Hussein Dey podia ser humilhado e derrotado por ser alguém que prejudicava o prestígio da França. Era uma maneira de infligir derrota à frente liberal que se intensificara contra ele.

Este não é o lugar para elaborar as circunstâncias políticas únicas que ocorreram nas vésperas da Revolução de julho de 1830 – a derrota do partido conservador nas eleições de março, a dissolução do parlamento como resposta do rei, a ascensão da imprensa liberal crítica, a ação subversiva de organizações clandestinas, como os Carbonari, e uma forte alta dos preços dos alimentos devido à mais grave seca, ainda mais do que a que ocorrera às vésperas da Revolução Francesa. Tudo isso levou o Rei de França a radicalizar a política interna e reformular a política externa, de forma não feita desde a derrota de Napoleão, com expansão territorial e renovação colonial. Isso, na esperança de que a fama na arena internacional compensasse a crescente frustração em casa.

Em maio, o rei Carlos X permanece em Toulon, declarando que uma vitória rápida na Argélia garantiria a vitória do partido real nas eleições. Algumas semanas depois, suas tropas partem para invadir a Argélia, em uma operação formidável que excedia o tamanho exigido para a ocupação britânica da Índia. Iniciava-se uma ocupação que duraria longos anos, até 1962.

1O império colonial francês era constituído pelas colônias ultramarinas, protetorados e territórios mandatários que ficaram sob domínio da França a partir do século XVI.

2Série de conflitos que culminaram em duas guerras principais (1805 e 1815) travadas entre os Estados Unidos, Suécia e Berbéria.

3 Berbéria, Berberia, Barbária, Costa Berberisca, Costa Berbere ou Costa Barbaresca é o termo que os europeus utilizaram desde o século XVI até ao século XIX para se referir às regiões costeiras de Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia, ou seja, o atual Magrebe, à exceção do Egito.

4Título dado aos governantes da Regência de Argel e, depois, da Argélia, antes da colonização francesa.

5O golpe de Estado de 18 de Brumário do ano VIII (Brumário, palavra derivada de “bruma” ou “névoa”, em francês - pelo calendário da Revolução Francesa, correspondente a 9 de novembro de 1799 pelo calendário gregoriano) iniciou a era do governo napoleônico na França.A

6A Segunda Coligação ou Segunda Coalizão foi um conjunto de alianças e compromissos estabelecidos entre várias potências europeias (incluindo o Império Otomano) que se confrontaram com a França na fase final da Revolução Francesa.

7A invasão por Napoleão ao Egito e à Palestina, nos anos de 1799-1798, que foi frustrada pela ajuda inglesa, também constituiu uma tentativa de desmantelar o Império Otomano.

 

Nimrod Etsion Koren é aluno de pós-graduação no Departamento de História, Filosofia e Estudos Judaicos na Universidade Aberta de Israel.