A comunidade judaica de Alepo, Halab ou Aram Tzobá, na Síria, é muito antiga e teve uma existência contínua desde a destruição do Segundo Templo (ano 70 da nossa era) até os tempos atuais.
Chegando a Israel, este manuscrito foi entregue fragmentado ao Instituto Ben-Zvi e colocado num compartimento especial climatizado. Em 1986 foi levado para restauração nos laboratórios do Museu de Israel. Finalmente o "Keter"está sendo exibido no Museu de Israel.
De toda forma, é longa a vida cultural, religiosa e comercial desta comunidade. Lá viveram e produziram obras de valor eruditos e sábios judeus, desenvolvendo Academias, yeshivot de grande renome. Assim, o sábio sefaradita Saadia Gaon relata sua visita a Alepo em 921 da nossa era e seus encontros com os sábios lá residentes. Sabe-se que havia uma estreita relação entre as yeshivot e seus respectivos Rabis de Eretz Israel, Alepo e Bagdá. E é conhecida também a correspondência entre Maimônides, que vivia no Egito, e os sábios de Alepo. Um destes correspondentes de Aram Tzobá foi o Rabi Yossef Ben Yehuda, discípulo de Maimônides, a quem este dedicou sua obra, o Guia dos Perplexos ("Moré Nevukhim"). Em 1217, Yehuda Al Harizi, outro sábio notável da época, visitou Alepo e relatou sobre 408 sábios, médicos e altos dignatários do governo da brilhante comunidade judaica que lá encontrou.
No século XVI para lá se dirigiram agrupamentos de sefaraditas expulsos da Espanha e Portugal no período da Inquisição, e esses colaboraram também para o engrandecimento intelectual judaico de Halab. Sabe-se que os sábios de Safed e seus homens da Cabalá mantiveram estreitas relações com a comunidade de Aram Tzobá e ainda o Rabi Natan de Gaza, discípulo de Shabetai Tzvi, instalou-se em Alepo e lá continuou sua obra.
No que se refere às orações, têm eles reputação de amantes da música e do canto, desenvolvendo durante longos anos uma liturgia melódica própria, o rito de Aram Tzobá, e seu livro de orações foi impresso em Veneza já em 1523-27. Conversei em Jerusalém com um sefaradita tradicional desta cidade, o senhor Ezra Levi, que freqüenta a Sinagoga "Ohel Avraham" onde são entoados os cantos segundo a liturgia de Alepo. Ele, com grande emoção, disse: "Eles cantam maravilhosamente e Deus gosta de seus cantos..."
Entretanto, embora todos conheçam esta história impressionante de sábios e sabedoria, de belos cantos litúrgicos, de uma vida comunitária organizada desde a antigüidade, não é de tudo isto que se vangloriava a comunidade de Alepo. O seu orgulho e fama lhes advêm de dois outros fatos: a sua velha sinagoga, que remonta à antigüidade, e o Keter, a Bíblia Hebraica que estava guardada no seu interior.
Segundo a tradição dos judeus de Alepo, essa sinagoga foi construída nos dias do Segundo Templo e o Keter, a Bíblia Hebraica, foi escrita por Ezra Hassofer, quando se dirigia da Babilônia para Jerusalém (536 antes de nossa era). Os modernos pesquisadores, após muitas investigações históricas, concluíram que a antiga sinagoga foi construída no período bizantino e tem 1.500 anos de existência, assim como, ainda segundo estes, o Keter, foi escrito há um milênio na Terra de Israel. Essas teorias, entretanto, não têm a menor importância para os judeus de Alepo. O que lhes importa é a lenda transmitida de geração a geração. E a prova para suas crenças, quanto à antigüidade de sua sinagoga e do seu Keter, é que o túmulo de Ezra se encontra no povoado de Tedef, próximo de Alepo e lá está a sinagoga denominada Ezra Hassofer. E a pedra sobre a qual se sentou Ezra para copiar a Torá, os Profetas e as hagiografias que formam o Keter sagrado, lá se encontra para quem quiser ver. Portanto, que provas mais são necessárias para comprovar sua antigüidade, perguntam os alepinos. Mordehai ben Ezra Faham, que o levou secretamente para a Turquia e de lá, finalmente, para Jerusalém, em 1958. Não está completo, faltando algumas partes do texto que foram queimadas no incêndio. E, este texto original do Keter de Alepo, após dez séculos, retornou finalmente a Jerusalém, e voltou a ser, como no tempo de Maimônides, a base autorizada para os grandes eruditos da pesquisa bíblica.
E, quanto à comunidade de Aram Tzobá: sobreviverá ela após a saída do seu Keter? Os historiadores e cronistas ainda voltarão a esta questão.
O escritor israelense Amnon Shamosh, nascido em Alepo, inclui no seu belo livro "Minha irmã, a noiva" o conto "O Keter", onde descreve a antiga sinagoga com o entusiasmo e orgulho dos alepinos. Escreve ele: "A antiga sinagoga tem sete recintos... A sala mais venerada é a do Profeta Elias, onde se guardava o Keter. Esta sala estava trancada com cadeados de ferro, cujas chaves ficavam com os mais notáveis da comunidade. E, para abri-la, os guardiões das chaves convocavam o Conselho da Comunidade para depois cerrá-la, à vista de todos.
A tradição foi transmitida de pais a filhos e dizia: mais do que a comunidade cuida da Coroa, é a Coroa que vela e protege a comunidade.
E no dia em que o Keter for dela retirado, a sagrada comunidade de Aram Tzobá será arrasada. Esta é uma tradição oral, mas há outra, escrita no primeiro pergaminho deste rolo sagrado, cujo texto diz: "Bendito quem o cuide e maldito quem o roube ou quem o retire de sua morada..."
Portanto, a comunidade de Alepo cuidava e se orgulhava de sua Coroa de pelo menos mil anos, mais do que de qualquer outra coroa da sua bela cidade. O Keter de Aram Tzobá é o manuscrito mais antigo que se conhece do texto completo da Bíblia. Segundo os pesquisadores modernos é também a fonte mais autorizada, precisa e sagrada, tanto do texto bíblico como do sistema massorético de vocalização e acentuação, o que o torna o manuscrito, dentre outros antigos como o de Leningrado, de maior valor religioso e científico. Se-gundo os pesquisadores, trata-se de um texto copiado pelo escriba Schlomo ben Buyá e vocalizado pelo massoreta Aaron ben Ascher da Escola de Tiberíades, Israel. Uma antiga tradição lhe confere um valor especial por ter sido o manuscrito no qual Maimônides se baseou ao escrever o livro sobre os preceitos da Torá.
O Keter de Halab é também chamado de "Keter de ben Ascher" e, nas lendas populares, é mencionado como o Keter do escriba Ezra. No âmbito científico é conhecido como "Aleppo Codex", o códice de Alepo. Este códice é composto por folhas de pergaminho de 33 x 26,5 cm, cujo número exato desconhecemos, mas supõe-se que contava com 480 folhas. O pesquisador Mordehai Broier fez um estudo detalhado do Keter de Aram Tzobá, assim como dos demais textos antigos como os de Leningrado, do Museu Britânico, do Cairo e de Sasson, concluindo que o de Aram Tzobá é o mais autêntico e importante. Os rabinos e dirigentes de Alepo o preservaram durante alguns séculos.
Em dezembro de 1947, após a declaração da ONU que proclamava a criação de um Estado Judeu em Eretz Israel, houve sangrentos distúrbios nos bairros judaicos de Alepo que culminaram com o incêndio da velha sinagoga, quando o precioso Keter foi danificado. Os membros da comunidade, corajosamente, salvaram do incêndio grande parte do texto sagrado e o ocultaram em diversos lugares. Em 1957, os rabinos Moshé Tawil e Shlomo Zaafrani o entregaram a Mordehai ben Ezra Faham, que o levou secretamente para a Turquia e de lá, finalmente, para Jerusalém, em 1958. Não está completo, faltando algumas partes do texto que foram queimadas no incêndio. E, este texto original do Keter de Alepo, após dez séculos, retornou finalmente a Jerusalém, e voltou a ser, como no tempo de Maimônides, a base autorizada para os grandes eruditos da pesquisa bíblica.
E, quanto à comunidade de Aram Tzobá: sobreviverá ela após a saída do seu Keter? Os historiadores e cronistas ainda voltarão a esta questão.