Construída em 1868, a Sinagoga Espanhola de Praga é uma das mais bonitas da Europa. Seu nome se refere, provavelmente, ao estilo arquitetônico neomourisco, inspirado na arte do período islâmico, na história espanhola.
Ao visitar as sinagogas de Praga, é possível vivenciar a longa história dos judeus da cidade. Suas estruturas físicas são testemunhas silenciosas da vida judaica no período em que foram erguidas, reformadas ou, por vezes, reconstruídas. O tamanho, localização e estilo arquitetônico nos revelam fatos importantes sobre o grau de religiosidade, o momento histórico, as restrições legais impostas pelos governantes assim como as preferências estéticas e o status econômico de seus membros.
No século 19, com a emancipação dos judeus de Praga e do restante da Europa, a vida judaica se abriu à modernidade. Os judeus passam a participar da vida econômica, política, cultural e social do país onde viviam. As sinagogas se tornam um símbolo de sua nova posição social e de seu desejo de se inserir e serem aceitos na vida da sociedade maior.
Com a emancipação, haviam caído por terra as restrições legais que limitavam a construção de novas sinagogas. Tampouco seus membros precisavam temer que o tamanho, beleza ou imponência de suas sinagogas provocassem a ira de não-judeus ou dos governantes. Se antes da emancipação as sinagogas eram construções modestas, com fachadas simples, muitas vezes adornadas apenas em seu interior, as novas sinagogas são edifícios monumentais com requintados interiores.
Os rabinos do século 19 aprovam a construção dessas magníficas sinagogas, pois o Judaísmo considera apropriado adornar e embelezar suas casas de orações, assim como seus objetos de culto, como mais uma forma de honrar a D’us. O uso da arte nas sinagogas é um mandamento, Hidu mitzvá, segundo o qual deve ser adicionada uma dimensão estética a todos os objetos religiosos. E, seguindo esse princípio, a Sinagoga Espanhola é, certamente, uma das casas de oração mais lindas da Europa.
Essa sinagoga não foi a primeira a ser erguida no local. Até 1868 em seu lugar erguia-se aquela que era provavelmente a mais antiga da Cidade Judaica de Praga, a Altschul (Antiga Escola ou Antiga Sinagoga), construída no séc. 11 ou 12. De acordo com vários historiadores, a sinagoga foi erguida por judeus bizantinos vindos do Oriente que aí se estabeleceram no início do século 11. Outros acreditam que judeus expulsos da Espanha teriam se fixado na área em torno da Altschul, no final do séc. 15, e teriam reformado ou reerguido a sinagoga que havia sido destruída ou extremamente danificada. O que sabemos é que, em algum momento da história dos judeus de Praga, as orações na Altschul seguiam o rito sefardita. Em 1605, por exemplo, foi impresso em Praga um livro de orações usado na Altschul que seguia o rito dos judeus oriundos de Sefarad.
Várias vezes essa sinagoga passou por extensas reformas. Na segunda metade do séc. 19, havia se tornado pequena para a comunidade que a frequentava, razão pela qual foi remodelada, em 1837. Mas, em1867, quando da emancipação dos judeus, seus membros decidem erguer uma nova sinagoga mais imponente, um impactante símbolo da emancipação e da prosperidade da comunidade judaica. A Altschul foi totalmente demolida. O novo projeto ficou a cargo de dois profissionais de renome, à época, o arquiteto Vojtěch Ignác Ullmann e o designer de interiores Josef Niklas. Terminado em 1868, o exterior da construção, com uma fachada em três partes, é em estilo neorromântico, com influências mouras em alguns detalhes.
Olhando-se de fora, é impossível imaginar a espetacular abóbada que há em seu interior. O detalhe mais lindo da decoração é o arabesco multicolorido, em verdadeira colagem de mosaicos simétricos e rebuscados, adornados com belo trabalho em filigrana de ouro. Uma das paredes contém uma enorme janela com vitral colorido que tem no centro um Maguen David, o Escudo de David de seis pontas, e foi instalado em 1882-1883. Abaixo do mesmo fica o deslumbrante Aron Hakodesh, a arca que guarda os Rolos da Torá.
A comunidade da Sinagoga Espanhola não seguia o rito do Judaísmo ashquenazi ortodoxo como as outras sinagogas de Praga, à época, mas o reformista, ainda que não o radicalismo do movimento reformista do Judaísmo alemão. Optaram por uma linha mais moderada. Praticamente toda a liturgia era conduzida em hebraico, sendo apenas os sermões em alemão. A nova sinagoganão foi erguida para professar um movimento religioso, mas sim como representação da nova prosperidade judaica. Com o tempo, porém, a sinagoga torna-se um símbolo da grande assimilação por parte dos judeus de Praga.
Em 15 de março de 1939, as tropas alemãs invadiram a Boêmia e a Morávia. A então jovem Checoslováquia não foi capaz de resistir aos invasores e foi ocupada pelo Terceiro Reich por um período de seis anos. A região foi praticamente anexada pela Alemanha, que criou o Protetorado da Boêmia e Morávia.
Durante a 2ª Guerra os nazistas usaram a Sinagoga Espanhola como um de seus depósitos de objetos judaicos roubados aos judeus que assassinavam. Eles pretendiam montar uma riquíssima coleção que seria exposta, após sua suposta vitória, no que chamariam de Museu Nazista de uma Raça Extinta.
Após o final da Guerra e a derrota alemã, a Sinagoga Espanhola se tornou parte do Museu Estatal Judaico. As autoridades comunistas checas por fim devolveram a sinagoga a quem de direito – a comunidade judaica. Mas, na década de 1970, a Sinagoga Espanhola estava em avançado estado de deterioração e, em 1982, fechou suas portas.
Após a Revolução de Veludo na antiga Checoslováquia, a revolução pacífica ocorrida em dezembro de 1989 que testemunhou a deposição do governo comunista, a comunidade judaica começou a pôr em prática um projeto para a renovação da sinagoga. Foi o projeto mais custoso do Museu Judaico de Praga. Após dez anos de intensos trabalhos, a Sinagoga Espanhola foi reinaugurada em 1998, no ano em que celebrava o 130º aniversário de sua construção.
Com o nome de Museu Judaico-Sinagoga Espanhola, e sob a direção da comunidade, lá também funciona uma exposição permanente sobre a moderna história dos judeus na República Checa, começando pelas reformas instituídas pelo Imperador dos Habsburgos, José II, e cobrindo até o Holocausto.