Após a emancipação lhes ter aberto as portas da sociedade húngara, os judeus ergueram uma série de imponentes sinagogas, através das quais é possível vislumbrar um mundo que desapareceu na 1ª Guerra Mundial. Uma destas, a Grande Sinagoga de Szeged, é considerada das mais bonitas do mundo.

Para os judeus da Hungria, o séc. XIX foi uma época de prosperidade e realizações. Muitas das sinagogas erguidas no período, majestosas em suas proporções, transmitem o otimismo e a tranqüilidade que os judeus desfrutavam àépoca. Como "magiares de fé mosaica", criaram um estilo arquitetônico próprio para suas casas de oração. De extraordinária beleza, a Grande Sinagoga de Szeged, inaugurada em 1903, é um exemplo dessa tendência.

Apesar de terem recebido permissão de se estabelecer na cidade de Szeged apenas no final do século XVIII, em pouco mais de um século os judeus se tornaram uma das mais prósperas comunidades da Hungria. Em seu apogeu, em 1920, a comunidade chegou a somar cerca de 7 mil pessoas. A nova sinagoga foi planejada para atender suas crescentes necessidades, transmitindo a seus membros o seu novo status civil, social e econômico perante a sociedade maior, na qualidade de cidadãos húngaros de fé judaica.

Projetada por Lipot Baumhorn em estilo arquitetônico eclético, rico em ornamentos decorativos, a Grande Sinagoga de Szeged é, sem dúvida, a mais exuberante entre as 24 que o arquiteto construiu no país. Em seu interior, onde as cores dominantes são branco, azul e ouro, misturam-se elementos romanescos, góticos e mouros. No imenso arco acima do Aron Hacodesh aparece a inscrição "... E amarás o teu próximo como a ti mesmo..." (Levítico 19:18), na qual as palavras se alternam entre hebraico e húngaro, em clara alusão à integração judaica no seio daquela sociedade.

A suntuosidade da decoração atingia proporções incríveis. Hoje, após a recente restauração, novamente podem ser admiradas a profusão e a beleza dos rebuscados detalhes das pinturas nas paredes assim como do trabalho em estuque. Mármores esculpidos e pedras semipreciosas incrustadas em imensas menorás de bronze, sobre a bimá (ou tebá), conferem à sinagoga um esplendor inigualável.

Miksa Roth, famoso por seus vitrais, projetou um domo em estuque e vidro a uma altura de cerca de 40 metros do chão. Os vitrais, com inúmeros símbolos judaicos, filtram um belo jogo de luzes e cores. Para realizar essa obra, Roth se inspirou nos primeiros versículos do Gênese: "E D'us disse, faça-se Luz". Os tons azulados dos painéis de vidro do domo, que escurecem gradativamente até atingir o ponto zênite da esfera celeste com sua minúscula Estrela de David, dão aos visitantes uma sensação de espaço infinito. As 24 colunas ao redor do domo representam as horas do dia e, os desenhos florais, a vegetação da Terra.

Quando a 2ª Guerra Mundial eclodiu, contavam-se mais de 120 sinagogas distribuídas por toda a Hungria. Dentre estas, 100 escaparam da fúria nazista. A "falta de tempo" das tropas de Hitler, que só entraram no país em março de 1944, salvou-as da destruição embora não tenham escapado à depredação e profanação. Entre esta centena, está a Grande Sinagoga de Szeged. Entretanto, os judeus da cidade não tiveram a mesma sorte. Mais de 3.000 - entre os 4.200 que, em 1941, lá viviam - foram deportados e exterminados pelos nazistas.

Terminada a guerra, alguns retornaram à cidade e tentaram restabelecer a comunidade com a ajuda da organização judaica norte-americana, Joint Distribution Committee. E, fato raro, conseguiram reaver a sinagoga, que estava sendo usada como depósito e que passou a funcionar como instituição comunitária judaica.

No entanto, só após ser restaurada, em 1989, voltou à função original de casa de orações. Durante o comunismo, não era permitida a prática da religião, qualquer que fosse.

Na Hungria, o final da guerra não significara uma revogação do confisco das propriedades judias e, quando em 1949, o Partido Comunista assume o poder, é determinado o fechamento de inúmeras instituições judaicas. Somente com o enfraquecimento do regime comunista a situação começou a mudar. Primeiro país da Europa Central a se libertar do domínio soviético, a Hungria foi também o primeiro - por razões culturais - a iniciar o processo de recuperação de várias sinagogas. Algumas restauradas pelo Estado no início da década de 1980 tornaram-se salas de concertos, bibliotecas ou escolas.

Somente com o colapso do regime comunista, em 1989, e a criação da República Húngara foram abolidas todas as restrições impostas aos judeus e, recentemente, graças a doações de judeus húngaros radicados em outros países da Europa ou nos Estados Unidos, foram restauradas várias sinagogas que já foram o orgulho do judaísmo local. Entre estas, a das cidades de Szeged, Pécs, Apostag, além da famosa Dohány, em Budapeste. Algumas voltaram à sua verdadeira finalidade e hoje funcionam como casa de oração, após uma cerimônia de re-dedicação.

Em setembro de 1989, após sua restauração, graças a recursos doados por um ex-morador da cidade, a Grande Sinagoga de Szeged foi reinaugurada, na presença de membros da comunidade atual e centenas de convidados. Hoje funciona como museu e os serviços religiosos são feitos no Beit Midrash, à exceção das Grandes Festas, quando as orações são na Sinagoga principal.

A linda Sinagoga de Szeged foi tombada e declarada Monumento Arquitetônico Nacional.

Bibliografia:

Rivka e Ben Zion Dorfman, Synagogues without Jews, The Jewish publication, Philadelphia

Edward Serotta, Out of the Shadows, Birch Lane Press