Ilan Ramon, coronel das Forças de Defesa de Israel, será brevemente o primeiro israelense a viajar ao espaço. Ele fará parte da próxima missão da nave espacial norte-americana Columbia, composta por sete astronautas seis americanos e ele.
Durante os dezesseis dias que Ramon passará em órbita, irá operar uma sofisticada e altamente precisa máquina fotográfica, montada do lado de fora da espaçonave, e será responsável por uma série de experiências científicas, em particular as ligadas a um projeto israelense sobre partículas de poeira o MEIDEX (Mediterranean Israeli Dust Experiment Experimento Mediterrâneo-israelense com partículas). O projeto visa estudar a presença de partículas de poeira e de outros elementos na atmosfera, encontrados nas tempestades de areia, e seus efeitos sobre as mudanças de temperatura que podem causar impactos no aquecimento e no resfriamento global.
A jornada que levará o primeiro sabra em uma missão espacial se iniciou em 1983, com a criação da Agência Espacial de Israel (em inglês, Israel Space Agency ISA). Um pequeno departamento do Ministério de Ciências, a ISA começou a trabalhar em um escritório de apenas uma sala na Universidade de Tel Aviv. O novo órgão começou a desenvolver a política espacial israelense, coordenando seus programas e estabelecendo convênios de cooperação internacional, além de promover pesquisas teóricas e aplicadas. Isto levou a indústria do país a se engajar em atividades relacionadas ao mundo aeroespacial, entre as quais a produção de novos materiais, tecnologias para telecomunicações, satélites e foguetes.
Após dois anos de atividades, a ISA começou a fechar acordos com a Agência Espacial Norte-Americana (NASA) e obteve o primeiro contrato com o Instituto de Pesquisa em Geofísica, em Israel. De acordo com os termos do contrato, a ISA operaria um laser móvel da NASA em uma estação nas montanhas da Judéia. Em 1992, a NASA e o Instituto para Pesquisas do Deserto, da Universidade Ben-Gurion, no Neguev, começaram a atuar em parceria no Programa Aeronet, um estudo internacional de longo prazo sobre os efeitos da desertificação no clima da Terra. Os países participantes do projeto mantêm uma base de dados mundial que mede os efeitos dos aerossóis e partículas poluentes na atmosfera – elementos que parecem contribuir para o aquecimento global. Foi justamente a participação de Israel no Aeronet que criou as condições para a participação de Ramon no experimento a ser desenvolvido pela nave Columbia.
Nascido em 1954, em Ramat Gan, Ramon cresceu em Beersheva. Entrou para Força Aérea de Israel em 1972 e, dois anos mais tarde, recebeu suas insígnias de piloto de caça. Ramon serviu por 11 anos, voando caças F-16 bem como outros. Coronel, passou por todas as patentes hierárquicas das Forças de Defesa de Israel, fazendo uma pausa, em 1983, para cursar Eletrônica e Informática na Universidade de Tel Aviv.
Comandou uma esquadrilha entre 1990 e 1992. Mais tarde, fez parte do Estado-Maior e dirigiu o departamento responsável pela análise das necessidades de equipamentos da Força Aérea. Em 1997 foi convidado a representar o Estado de Israel em uma missão espacial. Em 1998 começou a treinar no centro espacial da NASA, em Houston. Apesar de não ser o primeiro judeu astronauta, Ramon é o primeiro israelense. Ele sabe que no espaço será o embaixador de todos os cidadãos israelenses e de todos os judeus. Por isso, apesar de não ser muito praticante, ele quer praticar a sua religião em órbita: Sinto que estarei representando todos os israe-lenses e todos os judeus. Seu primeiro pedido para a NASA foi sobre alimentação casher durante a viagem espacial no que foi prontamente atendido. Ramon também levará ao espaço várias mezuzot.
Em seguida perguntou ao rabino Zvi Konikov, da sinagoga Lubavitcher da Flórida, como poderia observar o Shabat durante a missão, pois uma nave espacial contorna a Terra a cada 90 minutos. Como cumprir suas obrigações religiosas em uma viagem dessas se, no espaço, não existem dias de 24 horas nem semanas de sete dias.
Se cada órbita pode ser considerada um dia, então ele teria que observar o Shabat a cada sete órbitas? Antes de responder, o rabino Konikov consultou várias autoridades religiosas.
As várias autoridades emitiram opiniões diferenciadas. Alguns rabinos achavam que o coronel Ramon deveria ser liberado de suas obrigações religiosas por estar fora da Terra. Mas outros discordaram. Segundo eles, já que para viver no espaço o homem tem que recriar as condições de vida da Terra por exemplo, o uso do oxigênio ele deveria seguir a mesma rotina que seguiria na Terra.
A opinião mais comum foi que, para a Halachá, o tempo não deve ser baseado em quando a pessoa vê o sol se pôr, mas sim na rotação de 24 horas da Terra. Portanto, o Shabat deverá ser respeitado a cada sete dias, de acordo com o horário do Cabo Canaveral, local do qual a nave espacial será lançada. Depois de muitas consultas, concluiu-se que uma missão espacial é algo intenso, perigoso e precisa de constante atenção e dedicação, portanto não seria seguro para a tripulação nem para Ramon se ele deixasse de cumprir suas obrigações dentro da espaçonave. Neste caso, afirmou o rabino Konikov, deve ser aplicado o princípio judaico que prioriza a vida acima de qualquer regra religiosa. O Shabat pode ser suspenso se houver risco de vida.
Ramon se considera também o embaixador dos sobreviventes do Holocausto. Sua mãe e sua avó sobreviveram às barbáries nazistas, mas grande parte da família pereceu. Sua mãe passou dezoito meses de inferno em Auschwitz. O coronel tem consciência sobre o valor simbólico de sua viagem ao espaço. Sobre isso diz que servir seu país como primeiro astronauta israelense é parte de um milagre que começou há 50 anos, quando homens e mulheres lutaram pelo nascimento do Estado de Israel. Juntamente com a bandeira israelense, Ramon levará à nave Columbia um pequeno desenho feito a lápis por Peter Ginz, um jovem de 14 anos morto em Auschwitz. Título do desenho: Paisagem lunar.