Respeitado por reis e governantes, ele era amado pelos pobres e indefesos de todas as religiões e nacionalidades. No mundo judaico era quase uma lenda, sendo seu nome ligado a incontáveis serviços que prestou a seu povo e à humanidade, em geral.
Corretor de ouro, banqueiro, empreendedor e grande filantropo britânico, Montefiore retirou-se do mundo dos negócios ainda jovem para trabalhar em prol de seu povo, principalmente daqueles que viviam em Eretz Israel. Sua extraordinária generosidade na dedicação de seu tempo e recursos, e sua amizade pessoal com a rainha Vitória fizeram dele o último dos shtadlanim, palavra em hebraico para classificar homens cuja proeminente posição sócio-econômica lhes permitia interceder junto a governos e reis.
Homem do mundo, perspicaz e liberal, Sir Moses era conhecido por seu idealismo e patriotismo, mas, acima de tudo, por sua profunda religiosidade. Nascida e nutrida na tradição judaica, essa religiosidade era sustentada por um escrupuloso cumprimento das leis, em sua vida pública e privada, e manifesta na prática de seus preceitos e ações humanitárias.
Montefiore foi, como escreveu a revista Times, “um exemplo vivo de como é possível ser um judeu fervoroso e, ao mesmo tempo, um patriota britânico”.
Infância e juventude
Primeiro dos oito filhos de Joseph Elias e Rachel Montefiore, Moses Haim veio ao mundo em outubro de 1784, em Livorno. O casal residia em Kennington, uma área nobre de Londres, mas sua mãe insistira em acompanhar o marido à Itália, apesar de sua adiantada gravidez. Rachel era filha de Abraham Mocatta, próspero corretor londrino.
Assim como seus irmãos, Moses freqüentou uma escola perto de casa até completar 13 anos. A educação judaica, no entanto, ficara sob a supervisão de Moses Mocatta, tio materno, profundo conhecedor e apaixonado pelo idioma hebraico e pelos Textos Sagrados. Após deixar a escola para se enfronhar em “negócios mais sérios, ou seja, enfrentar a própria vida”, Moses se torna aprendiz na empresa de um atacadista de chá, onde trabalhou até 1804. Na época, o jovem demonstra interesse em se tornar corretor da Bolsa e seus tios maternos, donos de uma poderosa firma de corretagem da City londrina, compram-lhe a autorização para atuar na Bolsa de Valores. Assim, ele se torna um dos 12 judeus corretores com permissão para negociar na Bolsa de Londres. Superadas as primeiras dificuldades, a firma criada por Moses e seu irmão, Abraham, Montefiore Bros., torna-se respeitada, e ele, famoso por sua perspicácia e ilibada honestidade. Alto, elegante, com uma voz profunda, Montefiore era muito carismático.
Membro da Sinagoga Bevis Marks, de rito hispano-português, ele comparecia diariamente aos serviços religiosos e desempenhava várias funções administrativas nas instituições da congregação. Em 1808 tornou-se um dos Lavadores(equivalente à Chevrá Kadishá),voluntários encarregados da lavagem e purificação dos mortos e do enterro, honra concedida aos mais respeitados membros da comunidade.
Casamento
O mais importante evento da vida de Montefiore, como ele próprio afirmava, foi seu casamento, realizado em Londres, em 1812, com Judith Cohen (1784-1862), segunda filha de Levi B. Cohen, proeminente comerciante asquenazita.
Bonita, inteligente e com esmerada educação em assuntos seculares e judaicos, Judith seguia com convicção as leis e tradições. O fato de falar fluentemente francês, alemão e italiano, além de ler e traduzir o hebraico, foi de grande ajuda para Montefiore em suas viagens e freqüentes contatos com as mais diferentes comunidades judaicas mundiais. Seu casamento foi harmonioso e ela, uma esposa dedicada. Apesar de não terem tido filhos, eles compartilhavam ideais e crenças e, principalmente, o amor pelo judaísmo.
Em termos profissionais, o casamento também foi um marco
na vida de Montefiore, pois se tornara cunhado de Nathan Rothschild, que alguns anos antes se casara com Hannah, irmã de Judith. Gênio financeiro, Nathan tornara-se o homem mais rico da Inglaterra. Nasce entre os dois uma calorosa amizade e estreitos laços comerciais. Entre outros, a Montefiore Bros. passa a ser a corretora dos Rothschild.
Os irmãos Montefiore tornam-se homens de grandes posses, com interesses em inúmeras empresas, algumas consideradas inovadoras, como uma empresa de gás para iluminação pública. Em 1824, Moses decide afastar-se parcialmente dos negócios. Tendo o total apoio da esposa, passa a dedicar seu tempo e recursos ao trabalho filantrópico, fazendo de sua residência um centro para as atividades de benemerência judaica. Sua filantropia, no entanto, não se limitava ao seu povo – sempre estava pronto a ajudar os necessitados, independentemente das diferenças religiosas.
A primeira viagem a Eretz Israel
Em maio de 1827, Moses e Judith decidem realizar um antigo sonho: conhecer Eretz Israel. Ele realizaria outras seis viagens à Terra Santa: em 1839, 1848, 1855, 1857, 1866 e 1875 – esta última, aos 91 anos. Essa primeira viagem teve a duração de 10 meses. No século 19, as viagens eram longas, difíceis e cansativas e, para Eretz Israel, especialmente perigosas. Poucos se aventuravam a tanto. Embaixador de fato dos judeus britânicos, Montefiore viajava sob auspícios semi-oficiais, sendo portador de cartas de apresentação de seu governo. Os Montefiore desembarcam em Alexandria, em agosto de 1827. Sir Moses é recebido pelo governante do Egito, Mohamed Ali Pashá, que alguns anos depois conquistaria a Síria Otomana, que incluía Eretz Israel. O encontro é o início do que viria a ser um longo relacionamento pessoal.
Em outubro, o casal chega a Yaffo e segue para Jerusalém. Entram na Capital Eterna do Povo Judeu com a mais profunda reverência. Em seus diários registram a dor que sentiram ao ver “a situação destituída, miserável e desesperançada” em que se encontrava a cidade e a indescritível pobreza da grande maioria dos habitantes, principalmente os judeus.
Jerusalém, a Cidade de D’us, tornar-se-ia, para Moses, fonte de inspiração de sua vida, não apenas no sentido restrito da própria cidade e seus habitantes, mas como o local que refletia a essência de nosso povo. É imensurável o impacto da chegada de Montefiore – um judeu abastado e homenageado pelas mais altas autoridades – sobre os 6 mil judeus que, na época, viviam na Terra de Israel. Em seus diários, Judith e Moses descrevem a miséria e as humilhações, as restrições, os impostos e extorsões aos quais eles eram submetidos.Tristemente constatam que o único meio de sustento da maioria era a generosidade de seus irmãos da Diáspora.
Vida pública
A visita a Jerusalém causara profunda impressão em Montefiore e, após seu regresso à Inglaterra, ele assume um papel ainda mais ativo na vida comunitária anglo-judaica. Em 1828, passa a fazer parte do Board of Deputies of British Jews (Conselho de Representantes dos Judeus Britânicos) ou simplesmente Board, onde se tornou membro da comissão encarregada de lutar pela emancipação total dos judeus locais. Participavam dessa campanha, lado a lado de proeminentes membros da comunidade judaica, entre os quais os Rothschild e os Salomon, o Duque de Sussex, tio da Rainha Vitória. O objetivo era remover as últimas barreiras anti-judaicas que ainda vigoravam no país, principalmente na área política.
Como muitas das autoridades jurídicas ainda afirmavam que os judeus não podiam por direito possuir terras na Inglaterra, Sir Moses decide derrubar essa barreira e, em 1830, compra uma propriedade em Ramsgate, a East Cliff Lodge.
A inauguração, em 1833, da sinagogaque construiu nessa propriedade foi um dos momentos mais felizes de sua vida. No ano seguinte, quis o destino que a futura Rainha Vitória passasse férias numa propriedade adjacente. Para dar à jovem a liberdade de passear por onde quisesse, Sir Moses lhe entrega uma chave do portão entre os jardins das duas propriedades. Iniciava-se uma estreita amizade entre ele e a futura soberana britânica.
Montefiore assume, em 1835, a presidência do Board, cargo que ocupará até 1874. Sob sua liderança, esse Conselho se torna o porta-voz de fato dos judeus britânicos e, de certa forma, de toda a Europa, bem como ponto de convergência para os pedidos de ajuda de judeus de outros países.
Ainda em 1835, os judeus ingleses dão mais um passo em direção à sua total emancipação. Após David Salomon ser eleito Sheriff de Londres, é sancionada uma lei que lhe permite, em sua qualidade de judeu, assumir o posto. Esse respeitado cargo municipal, apenas subordinado ao prefeito, implicava numa série de deveres legais, políticos e protocolares. Dois anos mais tarde, Montefiore é eleito Sheriff de Londres e Middlesex e, como tal, profere, em julho daquele ano de 1837, um discurso em homenagem à Rainha Vitória. Em novembro, é agraciado pela soberana com o título de Cavaleiro – era o primeiro judeu praticante a receber tal honraria.
Nessa mesma época, Sir Moses toma a decisão de atender, como sua principal prioridade, os apelos de ajuda vindos das comunidades judaicas do exterior, principalmente de Eretz Israel.
As viagens para Eretz Israel
O desejo de rever Jerusalém faz com que, em novembro de 1838, Moses e Judith deixem a Inglaterra para sua segunda viagem a Eretz Israel,apesar da epidemia de peste que grassava na região e da explosiva situação política reinante. O casal chega a Safed em maio de 1839, pois, querendo ver as condições das comunidades judaicas do continente, a viagem até o Oriente Médio não foi direta.
Na qualidade de amigo de Mohamed Ali Pashá, as autoridades islâmicas os recebem com honras de Estado e, em meio a brados de “Viva o nosso protetor!”, os Montefiore adentram Safed. Em toda Eretz Israel a situação era penosa, mas como Sir Moses escreveu em seu diário: “A pobreza em Safed vai além de qualquer imaginação”.
Em uma Jerusalém assolada pela peste, encontraram desolação. Um terremoto sacudira a área em 1837 e, ao chegar ao Túmulo de Rachel, nossa matriarca, viram que o local fora bastante danificado. Decidem restaurá-lo e ainda adicionar uma sala. Este foi um projeto que Lady Judith acompanhou de perto e, quando faleceu, Sir Moses a enterrou numa réplica que manda construir em sua propriedade em Ramsgate.
Recebidos com entusiasmo, em cada local que visitavam se reuniam com judeus para ouvir suas necessidades. Antecipando o estado lastimável da população, Sir Moses viera prevenido com grandes somas em espécie, para distribuir principalmente aos seus, mas não exclusivamente a eles.
Ele, no entanto, sabia que a caridade não era a solução. Durante sua estada, escreveu em seu diário: “Trata-se de uma terra onde praticamente quase tudo frutificaria… Se o plano que tenho em mente tiver êxito, será o meio de trazer felicidade e fartura à Terra Santa. Farei um pedido a Mohammed Ali de uma cessão de terreno, por 50 anos, para 100 ou 200 aldeias. … e encorajarei nossos irmãos na Europa a retornarem a Eretz Israel”.
Para obter mais informações sobre a população judaica, encarrega seu braço direito, o grande lingüista, Dr. Loewe, a iniciar a realização de um censo – o primeiro desde os tempos bíblicos.
Obter a permissão para a compra de terras não era tarefa simples, pois a lei islâmica proibia a venda aos não-muçulmanos. Como em 1838 Eretz Israelaindaestava sob o domínio de Mohamed Ali Pashá, Sir Moses segue para Alexandria para se reunir com ele. O Pashá lhe faz uma série de concessões, mas, quando em 1841, a Síria Otomana volta para o domínio do sultão turco, Montefiore vê-se obrigado a adiar seus projetos agrícolas. No entanto, estava determinado a melhorar a vida da população judaica emEretz Israel, que já ultrapassava os 17 mil, no final da década de 1840. Ele despacha para Jerusalém uma prensa tipográfica, abre uma fábrica têxtil e uma escola para meninas. A educação feminina era uma de suas preocupações.
Dez anos mais tarde, em 1848, um surto de cólera atinge a Terra Santa. Prontamente, os Montefiore para lá se dirigem levando ajuda. A estada é curta, mas retornam, outra vez, em 1855, devido à difícil situação na qual se encontrava a população judaica. Sir Moses decide, ele mesmo, aplicar os fundos arrecadados em Londres, bem como o legado de Judah Touro, rico judeu americano que, apesar de não conhecê-lo, deixara-lhe uma soma como doação para seus correligionários na Terra Santa.
Sua visita resulta na construção de inúmeras obras, entre as quais, um hospital judaico, o Asilo Touro para Pobres, mais uma escola feminina e outra profissionalizante, além de um moinho que se torna a fonte de emprego para os judeus da cidade. Adquire também, terras nas proximidades da estrada que ia de Jerusalém a Hebron. Nesse local seria criado o primeiro bairro judaico fora da Cidade Velha, Mishkenot Sha’ananim. Estabelece também comitês agrícolas encarregados de escolher terras produtivas e fornecer aos judeus os meios para lavrar a terra.
No ano de 1865, Eretz Israel é novamente atingida por uma terrível seca, uma devastadora epidemia de gafanhotos e de cólera. Preocupado com as condições de vida de seus irmãos, Sir Moses decide ir, no ano seguinte, pela sexta vez, à Terra Santa. Dessa vez, porém, sem sua fiel companheira, Judith, que falecera em setembro de 1862 . No caminho, faz uma parada em Istambul, onde se encontra com o recém-empossado sultão Abdul-Aziz, que lhe reconfirma a permissão de comprar terras e construir casas, em Jerusalém.
Ao chegar à Terra Santa, distribui entre os necessitados grandes somas em dinheiro, além de contribuir para a construção de um hospital para leprosos e para a melhoria do abastecimento de água em Jerusalém.
O último dos grandes Shtadlanim
Montefiore jamais mediu perigos ou sacrifícios pessoais quando se tratava de ajudar seu povo. Uma de suas mais importantes missões, realizada em 1840, logo após sua segunda visita à Eretz Israel, foi o “Caso Damasco” (ver Morashá ed. 60).O Caso teve início em fevereiro daquele ano, quando 13 membros da comunidade judaica de Damasco são acusados de ter assassinado, para fins rituais, um frade capuchinho e seu criado. Presos, são brutalmente torturados. Decididos a defender seus irmãos sírios, os judeus do mundo todo se mobilizam.
Como escrevera em seu diário, Montefiore acreditava que o Cônsul francês em Damasco, Benoit Ratti-Menton, era responsável pela situação, pois apoiara, perante as autoridades islâmicas, as acusações engendradas pelos capuchinhos contra os judeus. A França, no entanto, não estava disposta a interceder a favor dos judeus, por não querer, entre outras razões, desacreditar seu Cônsul. Além disso, a Igreja Católica estava irrevogavelmente convencida da culpa dos judeus. Na Inglaterra, no entanto, Sir Moses e o Barão Nathan Rothschild obtêm o apoio da Coroa britânica e de Lorde Palmerston, ministro das Relações Exteriores.
Montefiore organiza, então, junto com Adolphe Crémieux (ver Morashá ed. 70), uma delegação de judeus ocidentais para ir ao Egito interceder junto a Mohammed Ali Pashá em prol dos judeus presos. Antes de iniciar a missão, Montefiore é recebido pela Rainha Vitória e por Lorde Palmerston, que envia uma ordem aos cônsules britânicos para que ajudem a delegação no que fosse preciso.
Sir Moses, Lady Judith e o resto da delegação judaica chegam a Alexandria em outubro. A delegação é recebida por Mohammed Ali, a quem entregam uma petição solicitando permissão de prosseguir até Damasco para ver os prisioneiros e obter as evidências em seu favor.Não queriam apenas a libertação dos judeus, mas um novo julgamento público que lhes permitisse limpar seu nome. Mohammed Ali estava disposto a libertar os prisioneiros, mas sem alardes. Considerando a perturbada situação política da região, a delegação judaica concorda. Quando o decreto de soltura chega a Damasco, em 6 de setembro, dos 13 prisioneiros, nove ainda estavam vivos, mas sete tinham ficado aleijados para sempre, em virtude das torturas.
Os Montefiore preparavam-se para partir quando Mohammed Ali é obrigado a devolver a Síria ao sultão turco Abdul-Medjid. Montefiore decide, então, ir a Istambul. Seu encontro com o sultão turco foi uma grande vitória, pois o sultão promulga um édito declarando caluniosa a acusação de que os judeus usavam sangue cristão em seus rituais. Após ressaltar que os judeus do Império estavam sob sua proteção e gozavam dos mesmos direitos que todas as demais minorias, o decreto proíbe qualquer assédio e discriminação contra a população judaica. O documento foi recebido com euforia pelo mundo judaico. Na Inglaterra, a Rainha Vitória homenageia Sir Moses, dando-lhe o privilégio de adicionar animais heráldicos a seu brasão, que porta, em destaque, bandeiras nas quais a palavra Jerusalém aparece grifada em letras hebraicas.
Seis anos mais tarde, em 1846, chegam ao conhecimento do Boardalarmantes notícias vindas da Rússia. O czar Nicolau I ordenara a expulsão de todos os judeus domiciliados ao longo das fronteiras. Apesar do severo inverno, Montefiore vai a São Petersburgo para interceder junto ao Czar. Em seu retorno, em reconhecimento por seus esforços humanitários em prol de seu povo, a Rainha o agracia com o título de barão da Ilha de Thanet.
Incansável, Montefiore se envolve, em 1858, no Caso Mortara. O mundo judaico ficara indignado ao ver a Inquisição de Bolonha remover, à força, um menino judeu de apenas seis anos, Edgard Mortara, da guarda de seus pais. A alegação era que, como a criança fora secretamente batizada, teria que ser educada dentro do catolicismo. Inutilmente, personalidades judias e não judias, reis e governantes, intercederam junto à Santa Sé para que o menino fosse devolvido aos pais. Numa inútil tentativa, Montefiore chegou a ir até Roma, mas a resposta do Papa era uma só: “Non possumus”. Edgard foi ordenado padre em 1872.
Nos anos seguintes, Sir Moses intercedeu em prol dos judeus romenos e persas. Em 1860, arrecadou mais de mais de £12.000 para os judeus do Marrocos e, no mesmo ano, quando os cristãos da Síria são atacados por drusos do Monte Líbano, ele inicia uma campanha de arrecadação para socorrê-los.
Em 1863 recebe a notícia de que 12 judeus de Saffi, cidade portuária marroquina, haviam sido presos e torturados após a repentina morte de um espanhol. Levados prisioneiros a Tânger, um deles havia sido executado. E, embora estivesse comprovada sua inocência, as autoridades se recusam a libertá-los.
Assim, apesar da idade avançada, Montefiore decide ir pessoalmente ao Marrocos. Sua missão ia além do mero resgate dos prisioneiros. Queria obter do Sultão Sidi Mohammed Abd-al-Rahman algum édito que melhorasse a vida dos 500.000 judeus que viviam no país. Ao chegar a Tânger, é recebido com entusiasmo pela comunidade judaica local. Após conseguir a libertação dos presos, decide ir, em pessoa, agradecer ao Sultão. Abd-al-Rahman o recebe com grandes honras e, atendendo seu pedido, promulga um édito que determina um igual tratamento aos judeus e todos os demais súditos.
Mesmo já em sua nona década de vida Montefiore se mantém ativo. Em 1867, parte para Bucareste para tentar sensibilizar o Rei Carlos sobre a violenta perseguição aos judeus de seu país, e, em 1872, para São Petersburgo.
Última visita a Jerusalém
Chegando aos 90 anos, em 1874, Sir Moses retira-se da presidência doBoard, sendo eleito Presidente Honorário. Em julho, segue pela sétima e última vez para Eretz Israel, apesar da situação epidêmica local.Não se tratava de uma mera viagem espiritual; ele começara, mais uma vez, a estudar os problemas relacionados à situação dos judeus na Terra Santa.
Ao lá chegar, observou muitos sinais de melhorias desde a última visita, e ficou particularmente satisfeito de perceber que vários dos campos eram cultivados por judeus. As iniciativas de Montefiore criaram as bases para as colônias agrícolas da década de 1880, ainda que a inspiração para as mesmas tivesse advindo da Europa Oriental. Ademais, graças à atuação doMontefiore Testimonial Committee (Comitê de Recomendação Montefiore), o recém-construído subúrbio de Jerusalém Ocidental possuía 600 casas, habitadas por cerca de 4.000 judeus.
Sir Moses acreditava na esperança messiânica e, ao ser questionado sobre o assunto, ele respondia com um sorriso: “Isto se tornou meu sonho constante e espero que se realize, algum dia, quando eu já não estiver mais entre os vivos. A Terra de Israel tem que pertencer aos judeus, e Jerusalém está destinada a se tornar a sede de um Estado Judeu”.
Após seu retorno de Jerusalém, o grande benfeitor passa a viver em Ramsgate, de onde continua o trabalho filantrópico ao qual dedicara a vida. Em 1880, arrecadou um Fundo para os judeus da Pérsia e, no ano seguinte, para as populações carentes da Armênia e Curdistão.
Seu centenário de vida
Em seu centésimo aniversário, Montefiore ainda era um interlocutor prazeroso. A data foi comemorada na Grã-Bretanha como um grande acontecimento nacional e, no universo judaico, como feriado oficial.
Faleceu em 1885, três meses antes de completar 101 anos. No discurso por ocasião de sua morte, na Sinagoga Bevis Marks, o Grão Rabino Dr. Herman Adler, disse: “A vida de Moses Montefiore foi extremamente útil e honrada. Em cada uma de suas viagens, conseguia fazer com que leis cruéis anti-judaicas fossem abolidas. Mas, suas simpatias não eram confinadas às reivindicações de seu país nem eram suas afeições determinadas por sua raça e fé. Moses Montefiore carregava em si os melhores e mais nobres traços da personalidade de um judeu. Imbuído da viva crença na força eternamente vinculante dos preceitos do judaísmo, jamais deles se afastou, pois foram o júbilo de sua vida longa, produtiva e abençoada. E era ainda mais estimado por não se envergonhar de sua fé e por proclamá-la abertamente.”
Sir Moses era um Homem, um “Mentsch”, um Ser Humano em todo o significado desta palavra. Que sua memória seja abençoada e que sirva de exemplo para todas as gerações.
Bibliografia
Franklin, Myrtle, Bor, Michael,
Sir Moses Montefiore ( 1784-1885),
Ed. Blond, 1984
Wolf, Lucien, Sir Moses Montefiore:
a centennial biography with selections from letters and journals, http://www.sirmoses.org.uk/
Sir Moses Montefiore, Encyclopedia Judaica, Second Edition, pag. 457, vol.14
http://www.sirmoses.org.uk/