De dona-de-casa a ativista pela paz, a viúva do primeiro-ministro Yitzhak Rabin, assassinado por um extremista judeu em novembro de 1995, tornou-se internacionalmente conhecida após a morte do marido como uma das mais ardorosas defensoras da coexistência árabe-israelense.
Leah Rabin, z'l faleceu aos 72 anos, em 12 de novembro último.
Mas, se Leah Rabin era intensamente aplaudida no exterior, não gozava do mesmo prestígio junto à população de Israel, onde era considerada por alguns como uma personalidade controvertida. Seus críticos mais ferrenhos foram os adeptos do ex-primeiro ministro Binyamin Netanyahu, do Partido Likud, a quem ela acusou de insuflar o ódio que provocou o assassinato de seu marido durante um comício pela paz em Tel Aviv. "Bibi", como é mais conhecido, opôs-se, desde o início, aos acordos de paz assinados por Rabin com os palestinos.
Mesmo tendo assumido a bandeira da paz e da negociação com os palestinos, Leah Rabin manifestou-se contra algumas das medidas anunciadas em julho último pelo primeiro-ministro Ehud Barak, principalmente no referente às concessões aos palestinos sobre Jerusalém, oferecendo-lhes o controle sobre o setor leste da cidade. Ela disse, em alto e bom tom, a quem quisesse ouvir - e os jornais de Israel e do mundo divulgaram: "Yitzhak está se revirando em seu túmulo, pois ele nunca pensou em algo semelhante".
Vítima de câncer há alguns meses, Leah Rabin sequer pôde comparecer à manifestação realizada em Tel Aviv, no início de novembro, em homenagem ao quinto aniversário da morte de seu marido. Segundo o ex-primeiro-ministro e atual ministro da Cooperação Regional, Shimon Peres, do Partido Trabalhista, Leah Rabin "era como uma leoa. Quando soube de sua doença, não se rendeu e continuou a grande batalha por sua vida com a mesma coragem com a qual havia lutado para eternizar a memória de seu marido". Peres dividiu o Prêmio Nobel da Paz, em 1994, com Rabin e com Yasser Arafat, presidente da Autoridade Palestina, pela assinatura dos Acordos de Oslo.
Sua morte foi recebida com pesar em Israel e no exterior. Barak disse que "ela foi uma mulher corajosa e devotada que trabalhou com seu marido por duas gerações para trazer uma situação segura para Israel e, nos últimos anos, para trazer a paz". O presidente norte-americano Bill Clinton fez a seguinte afirmação: "Perdemos uma grande amiga e o Oriente Médio perdeu uma amiga da paz".
Desde que eclodiram os conflitos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, a viúva de Rabin vinha fazendo apelos para o fim da violência entre israelenses e palestinos.
Sua vida
Leah Schlossberg nasceu em 8 de abril de 1928 no seio de uma família abastada de Koenigsberg, na Alemanha. Sua família emigrou para Eretz Israel em 1933. Conheceu Rabin quando estudava na Universidade de Tel Aviv e ele era oficial do Palmach, força de elite militar anterior ao Estado de Israel. Casaram-se durante a Guerra da Independência, em 1948. Certa vez ela descreveu esse encontro, perto de uma sorveteria em Tel Aviv, como amor à primeira vista.
Após a guerra, formou-se em Pedagogia. Leah acompanhou Rabin ao longo de sua carreira militar, diplomática e política, apoiando e encorajando-o. Lidava com naturalidade tanto com a realeza e com chefes de estado, quanto com as crianças autistas, causa à qual se dedicou por mais de 20 anos.
Enquanto Rabin era reservado e, até certo ponto, tímido, Leah era espontânea em suas reações. Seu estado de espírito refletia-se em seu olhos. Quando ela sorria, seus olhos brilhavam e, mesmo quando não estava sorrindo, seu olhar expressivo impressionava os que a cercavam. Consciente de sua aparência, sempre gostou de se vestir bem.
Dedicou-se ao lar e à educação dos filhos - Dalia Rabin-Pilossof, atualmente deputada na Knesset, e Yuval Rabin, empresário que, após a morte de seu pai, fundou o movimento pacifista Dor Shalom.
Diferentemente de outras mulheres, Leah não manifestou abertamente o seu ressentimento. Lembrando-se de quem era a viúva, não se permitiu rompantes públicos de emoção. Ao enxugar as lágrimas, vestiu uma máscara de coragem enquanto aceitava as condolên-cias das autoridades e chefes de estado que foram compartilhar sua dor.
Como herdeira do legado de paz de Rabin, empenhou-se em uma missão: não deixar a nação israelense esquecer a razão pela qual a vida de seu marido fora sacrificada. Desde a sua morte, participou de inúmeros eventos para perpetuar seu nome. Ela era a vela acesa em sua memória. Infelizmente, a chama foi extinta.
Morashá publicou entrevista com Leah Rabin, em sua edição nº 13, de junho de 1996.