Em novembro de 2013, a Dra. Karnit Flug ganhou as manchetes dos jornais israelenses e internacionais por ter-se tornado a primeira mulher a assumir o cargo de Governadora do Banco de Israel, função equivalente à de presidente do Banco Central do Brasil.
Dra. Karnit Flug foi um dos nove governadores de bancos centrais a receber a classificação máxima na conferência anual do FMI e Banco Mundial. Após a cerimônia, ela declarou aos jornalistas: “O Bank Israel tem uma equipe do mais alto nível profissional e me sinto privilegiada de que nosso trabalho tenha merecido, novamente, grande apreço na arena internacional”.
Karnit Flug já atuara como vice-governadora da instituição na gestão de seu antecessor, Stanley Fischer, sendo que este último foi quem indicou seu nome para sucedê-lo. Ela passou a ocupar oficialmente o cargo 112 dias depois que seu antecessor se afastou da função. Esse vácuo foi visto com preocupação pelos economistas israelenses, pois isso jamais ocorrera desde a criação do Banco. Segundo fontes ligadas ao governo, esse lapso se deveu à resistência do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu em confirmá-la no cargo, pois sua preferência direcionava-se a outros candidatos. Ainda segundo comentaristas econômicos israelenses, o trabalho realizado por Flug ao longo dos anos e, principalmente, nos meses após a saída de Fischer, quando atuou como governadora interina, foram decisivos para sua confirmação na direção do Bank of Israel.
O que teria feito para que Netanyahu decidisse confirmá-la no cargo? Durante um debate de rotina perante o Primeiro Ministro e várias outras autoridades, Karnit Flug explicou por que, em sua capacidade de governadora interina do Banco desde 1º de julho, optara por reduzir as taxas de juros do país. Netanyahu ficou extremamente impressionado com sua análise e a clareza de sua linha de raciocínio em seu relatório sobre suas conversas com Ben Bernanke and Janet Yellen.
Como Governor do Bank of Israel, Flug é, por lei, o assessor econômico do governo. E o Departamento de Pesquisas do Banco conduz os estudos sobre a economia de Israel, delineando a base de pesquisa para a discussão pública nas áreas que fazem parte da pauta dos legisladores econômicos. Os problemas são vários e em seu discurso de posse em 13 de novembro do ano passado ela mencionou os mais importantes:
“Antes de mais nada, precisamos encontrar formas de aumentar a taxa de crescimento da produtividade na economia israelense. Há um tremendo potencial nos trabalhadores do país, mas o PIB real por trabalhador não se equipara ao das economias mais avançadas, e, por conseguinte, a economia não consegue proporcionar aos cidadãos um padrão de vida alinhado com o das economias mais desenvolvidas. O principal objetivo do Banco é manter a estabilidade de preços, já que se trata de uma condição necessária para uma economia pujante e em desenvolvimento”.
Em fevereiro de 2015, em uma das primeiras entrevistas a um jornal desde que assumiu o cargo de governadora interina do Banco de Israel, Karnit Flug, declarou, como já o fizera inúmeras vezes, “que a economia de Israel é uma economia aberta, e como tal, grandemente impactada pelos desenvolvimentos no exterior”.
“A meu ver, o principal objetivo da política econômica deve ser o crescimento econômico inclusivo e sustentável. E acredito que para esse fim há uma necessidade de aumentar a produtividade do setor empresarial; e isto se baseia em infraestrutura, em promover a inovação, melhorando o ambiente empresarial – não estamos bem classificados no ranking “fazer negócios” do Banco Mundial... – melhorar nossas habilidades através do treinamento vocacional, melhorar a educação de todos os setores da sociedade. Estas são as categorias gerais. Há a necessidade de continuar nossos esforços de integrar grupos que têm baixos índices de participação no mercado de trabalho, especialmente os homens ultra-ortodoxos e as mulheres árabes”.
Para a economista, aumentar a produtividade e enfrentar as questões relativas à pobreza são dois grandes desafios para o Governo. Ela está muito preocupada em fortalecer o shekel perante o dólar, principalmente devido ao efeito que causa sobre o desemprego. Em sua tese de doutorado, “Políticas governamentais em um modelo de equilíbrio geral entre o comércio internacional e o capital humano”, dedicou grande atenção ao mercado de trabalho israelense. Para ela, as empresas de tecnologia de ponta até podem aguentar um dólar fraco, mas as indústrias exportadoras low-tech que consequentemente dependem de mão-de-obra e que têm grandes contingentes de funcionários não o conseguem. Eles necessitam pagar seus funcionários em shekel e recebem dólares desvalorizados em troca. O resultado será demissões em massa. É verdade que as grandes indústrias se dão bem com o empenho do Bank of Israel para enfraquecer o shekel vis-à-vis o dólar. Mas o que preocupa Flug é o trabalhador e o desemprego...
A Dra. Flug acredita que a estabilidade financeira, lado a lado com a concorrência e a justiça social, interessa a todos os cidadãos e a todas as famílias, em qualquer país. “Passamos por crises no mundo todo que incluíram crises financeiras ou quebras bancárias, e o custo em termos de sofrimento humano nesses países foi muito mais severo – e há dados empíricos sobre isso – do que em países que não vivenciaram esses problemas. Portanto, acho que quando falamos de estabilidade financeira ou bancária, estamos pensando no bem-estar das famílias, dos consumidores e das pessoas”.
Nessa mesma entrevista ela afirmou que o fato de ser mulher nunca foi um problema para ela nessa área dominada por homens. E demonstrou que não tem medo de dar passos ousados, ao diminuir a taxa de juros a um patamar histórico de 0,1%, um mês depois de assumir o cargo interinamente. E ainda afirmou que dificilmente essa taxa subiria, no futuro próximo. Sem tocar na taxa de juros, Flug tem dando a entender que estava querendo usar “outros instrumentos”, como a flexibilização monetária, a tão falada “quantitative easing”, se necessário. Ela entrou numa discussão, de igual para igual, com o ex-Ministro das Finanças, Yair Lapid, com o seu jeitinho calmo, mas bem direto de falar, contra políticas dele, como o já extinto plano de habitação de IVA zero.
Ao responder à pergunta se acreditava que a ameaça de boicotes políticos fosse impactar a economia de Israel, a governadora do Bank of Israel respondeu: “Acredito que, até agora, não vimos nenhum efeito substancial causado pelos boicotes. Tampouco vimos boicotes substanciais… E imagino que o Ministério das Relações Exteriores esteja realmente monitorando e tentando identificar essa questão com a antecedência necessária. Isto dito, como somos uma economia pequena, aberta e voltada às exportações, os mercados abertos e receptivos são fator importante para nossa performance”.
Sua Vida
Pouco se sabe sobre a vida de Karnit Flug, pois ela faz questão de manter sua vida pessoal longe da mídia.
Ela nasceu na Polônia, em 9 de janeiro de 1955. Seus pais, Noah e Dorota Flug nasceram em 1925 em Lodz, também na Polônia. Durante a 2a Guerra Mundial, eles se juntaram ao movimento juvenil subterrâneo no gueto de Lodz. Mais tarde, seu pai foi preso nos campos de Auschwitz, Gross-Rosen e Mauthausen, ao passo que sua mãe foi levada a Auschwitz, Bergen-Belsen e Salzwedel.
Sobreviveram à Shoá e, em 1958, quando Karnit tinha 3 anos, a família fez Aliá para Israel. Seu pai trabalhou no serviço civil durante 30 anos, como economista no Departamento de Orçamentos do Ministério da Fazenda, como Assessor Econômico do Comitê de Finanças do Knesset, como Cônsul Econômico em Zurique e na Embaixada de Israel em Bonn. Após se aposentar do serviço público, ele trabalhou para proteger os direitos e a honra dos sobreviventes e perpetuar a memória do Holocausto. Até o dia de sua morte, serviu como Presidente do Centro de Organizações dos Sobreviventes do Holocausto, em Israel. Sua mãe, Dorota, sempre trabalhou como pediatra.
Casada com Saul Lach, diretor do Departamento de Economia da Universidade Hebraica de Jerusalém, Karnit Klug tem dois filhos, Maya e Michel, e vive com a família no bairro de Beit HaKerem, em Jerusalém.
Karnit formou-se em Economia pela Universidade Hebraica de Jerusalém, instituição onde fez o Mestrado em Economia, em 1980. Fez o Doutorado em 1985, na Universidade de Columbia, em Nova York (EUA), com a tese “Políticas governamentais em um modelo de equilíbrio geral entre o comércio internacional e o capital humano”.
Ela iniciou sua carreira no Fundo Monetário Internacional, em 1984, como economista, retornando a Israel em 1988, onde trabalhou durante alguns anos no Departamento de Pesquisa do Banco de Israel. Nessa função, publicou artigos sobre vários temas, incluindo macroeconomia, mercado de trabalho e políticas sociais. Ao longo de sua vida profissional, a economista participou de vários comitês públicos e privados, incluindo o Comitê para Aumento da Competitividade na Economia, o Comitê para Mudanças Sociais e Econômicas (“The Trajtenberg Committee”), Comitê do Orçamento de Defesa (“The Brodet Committee”) e o Comitê para Estudo do Aumento da Idade das Mulheres para a Aposentadoria.
De 1994 a 1996 atuou como pesquisadora em Economia no Banco Interamericano de Desenvolvimento, retornando à instituição israelense em 1997, quando foi nomeada vice-diretora do Departamento de Pesquisa. Em 2001, assumiu a chefia do setor e foi nomeada membro do Departamento de Gerenciamento da instituição, posição que manteve até 2011, quando foi indicada vice-governadora do Banco de Israel.