No dia 15 de maio de 1948, 24 horas depois da independência do Estado de Israel, David Ben Gurion declarou: vou mencionar apenas uma grande personalidade dentre as que ainda se encontram entre nós. Ninguém contribuiu tanto para as conquistas do movimento sionista quanto o Dr. Chaim weizmann.
Há 60 anos, em fevereiro de 1949, o cientista mundialmente consagrado e líder judeu incomparável era eleito o primeiro presidente da nação que acabava de nascer.
A pequena cidade de Motal, hoje localizada no sudoeste da Bielorússia, é uma das mais antigas desse país. Promove, anualmente, uma concorrida feira de artesanato, mas é de fato famosa por sua sofisticada culinária e, em função disso, vem-se tornando atração turística.
Entretanto, no ano de 1874, quando Chaim Weizmann ali nasceu, no dia 27 de novembro, era uma aldeia isolada, com cerca de 500 famílias russas e cerca de 200 famílias judias. Sua comunicação com o mundo exterior era quase inexistente porque não havia agência de correios e as correspondências eram trazidas por qualquer um que morasse perto da estrada de ferro. Essa gente prestativa guardava as cartas recebidas e só as entregava quando bem entendia. As casas eram todas feitas de madeira, inclusive as duas sinagogas, a "nova" e a "velha", sendo a primeira freqüentada pelos ricos e a segunda pelos mais pobres. O pai do menino Chaim tinha assento na "velha", mas às vezes era convidado especial para a "nova", onde atuava como respeitado chazan, o cantor litúrgico que oficiava as orações. Em sua autobiografia, Weizmann assim se lembra de sua mãe, também nascida em Motal, que os judeus chamavam de Motol: "Lembro-me de que minha mãe estava sempre grávida, sempre amamentando uma criança. Ela deu à luz 15 filhos, três dos quais morreram ainda bebês. Considerava ser esta sua missão como mulher judia. Teve o primeiro filho com 17 anos de idade e o último com 46". Mais adiante, acrescentou: "Recordo a figura de meu pai conduzindo as orações na sinagoga. Sua voz ainda ecoa em minha memória quando me sinto triste ou solitário".
Chaim estudou no cheder, a escola religiosa local, e, com 11 anos de idade, escreveu uma inusitada carta para seu professor, na qual argumentava em tom emocional que os judeus não poderiam ter outro destino que não fosse a terra de Sion. Ele tinha essa idade quando a família Weizmann mudou-se para Pinsk, cidade próxima, que, comparada à Motol, podia ser considerada uma metrópole. Nela, o menino foi matriculado em uma escola vocacional e, depois de se formar, com pouco dinheiro no bolso e enorme vontade de crescer na vida, prosseguiu, estudando química na Alemanha, na Suíça e mais extensamente na Inglaterra.
Chaim estava em Berlim quando, em 1896, já participante de um grupo estudantil de caráter sionista, o Kadima, ele e seus companheiros tomaram conhecimento de um pequeno livro intitulado "O Estado Judeu", lançado por um jornalista vienense chamado Theodor Herzl. Weizmann anotou, anos depois, que, em matéria de fundamentos, o livro de Herzl não continha qualquer novidade para seu grupo, e escreveu: "O efeito produzido pelo livro foi profundo. Não tanto as idéias, mas o que nos atraiu foi a personalidade por trás delas. Havia em seu texto audácia, clareza e energia". A mesma impressão causada nos jovens em Berlim se estendeu aos universitários judeus da Áustria e da França, dando corpo ao incipiente movimento sionista.
Ele não pôde comparecer, em 1897, ao histórico Primeiro Congresso Sionista Mundial, na Basiléia, Suíça, por total carência de recursos financeiros. Só veio a conhecer pessoalmente Theodor Herzl no ano seguinte, por ocasião da realização do Segundo Congresso, também na Basiléia: "Havia nele uma grande autenticidade e um toque de patético. Pareceu-me, quase desde o início, que se propunha a uma tarefa de tremenda magnitude sem a adequada preparação. Tinha grande talento e dispunha de relações. Mas, isso não bastava. Na medida em que melhor o conhecia, nos sucessivos congressos, meu respeito por ele foi confirmado e aprofundado. Era poderoso em sua crença de que havia sido chamado pelo destino para realizar sua formidável obra".
Desde então, compareceu como delegado aos demais congressos sionistas e teve papel destacado na conferência de 1901, quando parte dos presentes estavam dispostos a aceitar a proposta da implantação de um estado judeu em Uganda, alternativa que chegou a seduzir o próprio Herzl. Entretanto, Weizmann opôs-se ferrenhamente a essa iniciativa e, apesar de jovem, seus argumentos derrubaram os dos delegados mais idosos que apoiavam Uganda, principalmente porque queriam ver um estado judeu concretizado ainda enquanto vivessem. Mas tiveram que se render a uma proposição definitiva de Weizmann: "Não há sionismo sem Sion".
Daquele momento em diante, as atividades de Weizmann dividiram-se em duas. Havia épocas em que sobressaía o cientista de talento e outras em que avultava o ardoroso defensor do ideal sionista. Passou a residir em Londres, mas completou em Genebra o doutorado em química, tendo recebido a nota máxima e sendo convidado para lecionar na universidade local.
Pesquisando sobre tintas, conseguiu vender uma patente para uma fábrica alemã de corantes, o que lhe proporcionou uma renda mensal de 600 marcos alemães. Em fins de agosto de 1914, quando voltou à Inglaterra, recebeu uma circular do Gabinete de Guerra britânico, convidando todos os cientistas que tivessem feito alguma descoberta de valor militar a informar a respeito.
Ele ofereceu ao Gabinete um processo que havia desenvolvido de produção de acetona por meio da fermentação bacteriana. De início, não recebeu qualquer resposta até que, em 1916, no auge da Primeira Guerra Mundial, foi convocado para comparecer ao Alto Almirantado da Grã-Bretanha, comandado por Winston Churchill. Este foi direto ao assunto: "Doutor Weizmann, precisamos de 30 mil toneladas de acetona. O senhor é capaz de produzi-las?". Até então, em seu laboratório, ele conseguira manipular apenas pequenas quantidades de acetona, com sua fórmula. Apesar do susto que levou na hora, julgou que bastaria fazer em grande escala o que ainda era diminuto. Respondeu que sim e, pouco depois, apresentou o plano de uma usina-piloto. Seguindo suas instruções, foram construídas indústrias de acetona no Canadá, França, Inglaterra e Estados Unidos.
O produto serviria para armar os canhões dos navios de guerra britânicos, sendo a acetona essencial para a fabricação de bombas, sem as fortes fumaças que dificultavam a visão dos militares navais em suas embarcações. No final da guerra, Weizmann foi chamado por Churchill, que lhe disse: "O senhor foi o responsável por um trabalho excepcional para nosso país e eu pretendo pedir à Sua Majestade, o Rei da Inglaterra, que lhe conceda uma condecoração". Weizmann respondeu: "Não quero nada para mim, mas gostaria de pedir algo para o meu povo". Esse "algo", batalhado intensamente por Chaim Weizmann, resultaria na Declaração Balfour, de 1917, primeiro documento oficial da superpotência daquela época, no qual era reconhecida a possibilidade da criação de um Lar Nacional judeu na antiga Terra de Israel.
Antes, porém, Weizmann teve que enfrentar um obstáculo. A numerosa corrente de judeus ingleses alheios ao sionismo argumentou que, com a vitória da revolução bolchevique, não haveria mais anti-semitismo e, portanto, seria desnecessário haver um Estado judeu. Weizmann fez, então, um pronunciamento definitivo: "Os sofrimentos dos judeus russos nunca foram a causa do sionismo. A causa fundamental do sionismo foi - e continua sendo - o inquebrantável impulso do povo judeu para ter o seu próprio lar, um Lar Nacional com uma vida nacional judia. Uma comunidade judaica russa forte e livre apreciará, mais do que nunca, os esforços da Organização Sionista". Finalmente, após uma série de rascunhos, no dia 2 de novembro, Lord Balfour, ministro britânico do exterior, emitiu uma declaração dirigida a Lord Rothschild, por indicação de Weizmann. Ele julgava que, nesse contexto, a declaração ganharia mais peso, embora fosse ele o presidente da Organização Sionista da Inglaterra.
O texto dizia: "O governo de Sua Majestade encara de modo favorável o estabelecimento na Palestina de um Lar Nacional judeu e empregará seus melhores esforços para facilitar a realização desse objetivo, ficando claramente compreendido que nada será feito que possa prejudicar os direitos civis e religiosos das comunidades não-judaicas existentes ou os direitos e o status político gozados pelos judeus em qualquer outro país". Houve euforia entre os sionistas do mundo inteiro, mas Weizmann anotou em seu diário: "Um estado não pode ser criado através de declarações. Somente se o povo judeu cerrar fileiras em torno da Palestina o Estado judeu será uma realidade". Ele anteviu que tal realidade exigiria enormes recursos para erguer vilas e cidades, o estabelecimento de instituições educacionais e culturais e a criação de milhares de empregos naquela terra.
A partir da Declaração Balfour, Weizmann tornou-se um propagandista ambulante do sionismo. Passou a percorrer as principais capitais do mundo com a finalidade de levantar fundos para a Organização Sionista, mas sabia que o dinheiro não era o essencial. Percebeu, desde logo, que os árabes radicados na Terra de Israel sob domínio otomano, não seriam bons hospedeiros para os pioneiros sionistas, mesmo porque ali já haviam ocorrido choques entre judeus e árabes. Foi com essa preocupação que Weizmann chegou à Eretz Israel no ano seguinte, onde lançou a pedra fundamental da Universidade Hebraica, que seria inaugurada sete anos mais tarde. Sua principal missão, porém, era avistar-se com o emir Faissal, líder do nacionalismo árabe em luta contra os turcos, que aceitara recebê-lo, atendendo a uma solicitação do general britânico Allenby. Após uma exaustiva, atribulada e desconfortável viagem através do deserto do Neguev, chegou até Áqaba, onde o Emir o aguardava dentro de uma tenda.
Os dois tiveram uma conversa que Weizmann definiu como agradável, tendo-se surpreendido com o bom conhecimento de Faissal sobre o movimento sionista. O Emir lhe disse que estava ansioso para ver judeus e árabes atuando em harmonia durante a Conferência de Paz que ocorreria ao término da Primeira Guerra, e que, em sua opinião, o destino dos dois povos estava vinculado ao Oriente Médio e dependeria da boa vontade das grandes potências. Após duas horas de entendimentos, o Faissal prometeu que levaria o conteúdo da conversa a seu pai, Hussein, responsável pelos desdobramentos da política árabe. Nasceu, assim, entre os dois uma boa amizade que se prolongou em diversos encontros posteriores na Europa. Weizmann e Faissal chegaram, inclusive, a assinar um documento de mútua cooperação que foi redigido pelo coronel inglês T.E. Lawrence, o famoso Lawrence da Arábia. Entretanto, Hussein, que viria a ocupar o trono do Iraque, não alcançou seu objetivo de unir o mundo árabe e a iniciativa de Weizmann e de Faissal caiu no vácuo.
Em 1920, Weizmann foi eleito presidente da Organização Sionista Mundial e, em 1929, da Agência Judaica. Ao lado de Ben Gurion, era a personalidade mais proeminente do movimento sionista. Ao mesmo tempo em que se dedicava a novas atividades científicas, viajou aos Estados Unidos e África do Sul com a missão de arrecadar fundos. Percebendo a ascensão do nazismo, também começou a organizar uma estrutura que permitisse a emigração de judeus para a então Palestina sob mandato britânico. Ele estava convencido de que o Lar Nacional judaico só seria alcançado através da "construção de casa por casa e do cultivo de duna por duna". Assim, em 1934, com 60 anos de idade, para dar o exemplo, radicou-se na cidade de Rehovot, onde, com recursos advindos da família Sieff, de judeus ingleses, implantou um centro de ciências que mais tarde receberia seu nome e que se tornaria uma das mais famosas e competentes instituições do mundo, o Instituto Weizmann de Ciências. Em 1939, quando os ingleses emitiram o infame White Paper que fechava as portas da Terra Santa aos judeus, Chaim Weizmann partiu para Londres onde tentou dissuadir os governantes britânicos dessa decisão. Não conseguiu, mas continuou atuando de forma conciliadora, acreditando que somente com o favorecimento da Coroa Britânica os judeus chegariam a ter um país na então Palestina. O então chamado ishuv (a população judaica da Terra de Israel) desaprovou a atitude de Weizmann, dizendo que a hora não era para punhos de renda, mas para ações efetivas.
Em 1942, Weizmann estava em Londres com a mulher, Vera, que além de esposa, também exercia as funções de secretária, arquivista, mensageira e guarda-costas, quando recebeu uma convocação do presidente Roosevelt para viajar imediatamente a Washington. Enquanto os dois aguardavam o táxi que os levaria ao aeroporto, receberam a notícia de que seu filho, o piloto de caça Michael, tinha sido derrubado e morto em um combate aéreo. Mesmo assim, embarcaram para os Estados Unidos, onde Roosevelt indagou a Weizmann se ele podia participar do esforço de guerra americano na elaboração da fórmula da borracha sintética. Por isso, ele permaneceu nos Estados Unidos e pôde comparecer a um dos momentos cruciais na trajetória do movimento sionista: a conferência realizada no Hotel Biltmore, em Nova York, dos dias 6 a 11 de maio, à qual compareceram os mais importantes e destacados líderes sionistas, tendo à frente David Ben Gurion, secretário-geral da Agência Judaica, e Nahum Goldman, membro de seu Executivo. Nessa reunião foram definidos os futuros caminhos do ishuv e sua ligação com os judeus de todo o mundo, uma nova estrutura da Agência Judaica, a implementação da arrecadação de recursos e outras providências de caráter imediato e pragmático. Foi durante essas discussões no Hotel Biltmore que os passos de Weizmann e de Ben Gurion tomaram caminhos diferentes. Ben Gurion estava seguro de que os Estados Unidos emergiriam da Segunda Guerra como nova potência mundial e que era inútil prosseguir atuando junto aos ingleses, pois o Império Britânico entraria em colapso ao fim do conflito, como de fato aconteceu.
Weizmann, por seu turno, continuava acreditando nas boas intenções de Londres e achava que assim como, 25 anos atrás, obtivera a Declaração Balfour, conseguiria então arrancar dos ingleses algum novo compromisso com relação a um possível Estado judeu. Ele estava sendo absolutamente sincero quanto a essa intenção, até mesmo porque, pouco tempo atrás, havia obtido dos ingleses a permissão para a formação de uma Brigada Judaica que viria a lutar contra o nazismo sob bandeira britânica. A esquerda judaica, freqüentemente obtusa (ontem e hoje), posicionou-se contra os postulados enunciados na Conferência, defendendo a tese de um estado bi-nacional governado em iguais condições por árabes e judeus. Mas, a resolução de Biltmore não comportava emendas. A principal decisão tinha como foco a criação de um Estado judeu soberano.
Nessa moldura, a posição de Chaim Weizmann na base do movimento sionista sofreu acentuado declínio. Ao fim da guerra, em 1945, ele levou um forte baque quando o Partido Trabalhista, vencedor das eleições na Grã-Bretanha, descumpriu todas as promessas de apoio à causa judaica, feitas a ele mesmo, ao longo dos anos, por seus principais líderes. Weizmann jamais poderia imaginar que o ministro do exterior, Ernest Bevin, se revelaria um virulento anti-semita. Assim, no 22º Congresso Sionista Mundial, realizado em 1946, Weizmann não foi reconduzido à presidência da organização mundial. Nessa reunião, em seu pronunciamento de despedida, manifestou inarredável repúdio às ações perpetradas pela organização Irgun contra os ingleses, na então Palestina.
Embora não detivesse nenhuma função oficial, Chaim Weizmann continuou atuando como vigoroso porta-voz das aspirações sionistas. Sua imponência pessoal tornou a brilhar no ano seguinte, quando o executivo da Agência Judaica batalhava, nas Nações Unidas, para que o plano de partilha da então Palestina fosse aprovado. Defendiam a criação de dois estados, um árabe e outro judeu. Em primeiro lugar, a liderança judaica estava quase em pânico, insegura quanto à aprovação dos Estados Unidos à partilha. Em segundo lugar, o plano previa que o deserto do Neguev pertenceria aos árabes e, portanto, os judeus não teriam acesso a Áqaba, de onde um novo porto poderia escoar embarcações na direção do Mar Vermelho. O presidente da B'nai Brith americana pediu a um amigo pessoal de Truman, Eddie Jacobson, que intercedesse junto ao Presidente para que este recebesse Chaim Weizmann, que lhe faria uma exposição sobre a situação pendente nas Nações Unidas. Jacobson mandou um telegrama para Truman: "Eu lhe imploro que receba o Dr. Weizmann". A resposta foi negativa. Eddie Jacobson pegou um avião para Washington, em Independence, Missouri, e adentrou o Salão Oval, ao qual tinha acesso. Quando Truman o viu entrar, disse: "Eu já sei por que você está aqui, e a resposta é não". O Presidente disse que estava magoado com diversos líderes judeus que o acusavam de não dar tratamento apropriado e sobretudo vistos de entrada para os sobreviventes dos campos de concentração. Jacobson apontou para uma pequena escultura de Andrew Jackson, que Truman tinha em sua mesa, e disse: "Harry, durante toda a sua vida você teve este herói. Pois eu também tenho meu herói, o maior judeu de todos os tempos, o Dr. Chaim Weizmann. Pois ele é um homem doente que viajou milhares de quilômetros somente para vê-lo. É incrível que você se recuse a recebê-lo só por causa do que alguns poucos judeus andaram falando por aí". Truman acedeu e Weizmann escreveu em suas memórias: "Na manhã de quarta-feira, dia 19 de novembro, fui recebido pelo presidente Truman com a maior cordialidade".
"Falei-lhe sobre o Neguev e como a baía de Áqaba era importante para nós, porque seria dragada, aprofundada e convertida numa via marítima capaz de acolher navios de grande porte. Disse, ainda, que os egípcios poderiam obstar nossa passagem pelo Canal de Suez e assim ficaríamos completamente isolados da Ásia". Truman pediu um mapa para melhor entender o que estava sendo explanado, ouviu Weizmann calado e, em seguida, lhe disse: "Já entendi tudo sobre o Neguev. Vou orientar minha delegação nas Nações Unidas. E também vamos aprovar a partilha, mas isto fica como um segredo. Não diga nada a ninguém, sobretudo no meu Departamento de Estado".
Após dramáticas idas e vindas, e dezenas de contagens e recontagens de hipotéticos votos, a partilha acabou sendo adotada no dia 29 de novembro de 1947. No entanto, a partir daquele momento vitorioso, a questão primordial era que a nova nação fosse reconhecida por outros países e, mais do que tudo, pelos Estados Unidos. Os colaboradores mais próximos de Truman estavam em dúvida. Ele reconheceria a nova nação para conquistar os votos dos judeus nas eleições que se aproximavam ou estava de fato convencido da razão da causa judaica? É bastante viável considerar que a conversa com Weizmann lhe tenha causado profunda impressão, porque os Estados Unidos reconheceram o Estado de Israel apenas onze minutos depois de sua Declaração de Independência. Consta que, ao receber esta notícia, Weizmann teria comentado: "É... milagres às vezes acontecem, mas a gente tem que trabalhar duro para que ocorram".
Chaim Weizmann foi eleito primeiro presidente de Israel em fevereiro de 1949, quando pronunciou um histórico discurso perante o Knesset, o Parlamento de Israel, em Jerusalém: "Hoje é um grande dia para nós. Não se considere arrogância se eu disser que este também é um grande dia para o mundo. Uma mensagem de fé e de encorajamento emana agora desta Casa e desta Cidade Sagrada para todos os povos oprimidos e perseguidos que lutam por liberdade e igualdade. Desta Casa e desta Cidade Sagrada mandamos mensagens de saudações para todos os membros dispersos de nossa nação onde quer que se encontrem. Estendemos nossas mãos de paz para nossos vizinhos e nossa amizade para todas as nações amantes da paz. Lembramos todos nossos irmãos deste país e do movimento sionista que partiram sem poder partilhar conosco deste dia. Curvamo-nos em honra e em memória de nossos preciosos e amados filhos que morreram para que o Estado de Israel pudesse existir".
Foi já como presidente que Weizmann tornou a se avistar com Harry Truman, na Casa Branca, e lhe deu de presente um Sefer Torá, os rolos que contêm a Lei Judaica. Truman agradeceu: "Muito obrigado, eu sempre quis ter uma Torá". No mesmo dia, convidou Eddie Jacobson para visitá-lo no Hotel Waldorf Astoria, onde estava hospedado. Jacobson contou em uma entrevista: "Quando eu cheguei em frente ao hotel e vi a bandeira de Israel ao lado da bandeira dos Estados Unidos, mal consegui subir para falar com o presidente; fiquei parado na calçada sem parar de chorar".
Chaim Weizmann, enquanto presidente de Israel, não ficou confinado às formalidades do cargo. Continuou a residir em Rehovot e engajou-se em diversas iniciativas educacionais e científicas. Seu mandato durou até o dia 9 de novembro de 1952, quando faleceu, com 78 anos de idade. Seu funeral, ao qual compareceram milhares de pessoas, foi no jardim de sua casa, conforme sua vontade expressa. Naquele dia deixava de existir um ser humano extraordinário, um cientista detentor de mais de 100 patentes, um ativista e idealista que já era um estadista antes mesmo da existência do Estado. Ainda no começo do século 20, o primeiro-ministro Lloyd George, da Inglaterra, declarou: "Quando todos nós já estivermos esquecidos, a Palestina erguerá um monumento para este homem". Na verdade, tal monumento lá está, no moderno Estado de Israel. Mas não é o monumento de uma pessoa.
O monumento de Chaim Weizmann é o país inteiro tal como hoje existe. Contudo, ele mesmo se viu de forma bem mais modesta, conforme escreveu em sua autobiografia: "O meio em que nasci e me criei, a educação que recebi, tudo isto fez do judaísmo uma parte orgânica do meu ser. Nunca fui nada além de um judeu e não sou capaz de conceber que um judeu possa ser algo diferente do que sou".
Zevi Ghivelder é escritor e jornalista