Autor da Lei da Relatividade e Prêmio Nobel de Física de 1922, Albert Einstein foi eleito Personalidade do Século XX pela revista Time.

Não há ninguém no mundo que não tenha ouvido o nome de Einstein. Seja como humanista, cientista ou homem, todos falam de maneira corriqueira sobre a Teoria da Relatividade. No entanto, nem sempre foi assim. Houve mesmo momentos, no início de sua vida profissional, em que nem emprego como professor ele conseguia, apesar de seu diploma e de seus excelentes resultados acadêmicos.

Segundo a revista Time, que traz em sua edição de 10 de janeiro deste ano uma ampla reportagem sobre o físico, Einstein conseguiu seu primeiro emprego graças a uma recomendação do pai de Marcel Grossman, um de seus melhores amigos. Foi, então, em 1901, contratado como assistente técnico do Departamento de Patentes da Suíça. Quatro anos mais tarde, obtinha o seu doutorado.

Judeu assumido, apesar de ter sido criado em um lar no qual o judaísmo jamais fora praticado e, posteriormente, simpatizante do sionismo, Einstein sempre acreditou em D’us. Sempre defendeu a idéia de o cosmo ser uma obra harmoniosa, fruto de uma inteligência suprema, responsável pela organização da matéria e da vida.

Foi elogiado por um grão-rabino da França, Jacob Kaplan, que admirou a sua capacidade de conciliar a rigorosa pesquisa sobre o universo com a convicção da existência de uma força criadora superior. Sua ligação com o sionismo e o Estado de Israel levou o então primeiro-ministro David Ben-Gurion, em 1952, a convidá-lo a suceder Chaim Weizmann na presidência do Estado Judeu, convite que o físico recusou alegando não estar à altura do cargo. Anteriormente, havia participado ao lado de Weizmann da campanha para arrecadação de fundos para a criação da Universidade Hebraica de Jerusalém.

Einstein conseguiu ser a rara combinação de um gênio que possui um profundo senso de moral e é totalmente indiferente às convenções. Dono de uma personalidade controversa, segundo os seus amigos mais próximos, um tanto quanto temperamental principalmente em suas relações pessoais, Einstein foi o símbolo de tudo o que era novo, original e incerto na era moderna.

O jovem Einstein

Albert Einstein nasceu em Ulm, Alemanha, em 1879. Em sua certidão de nascimento constam as seguintes informações: "Nº 224. Ulm, 14 de março de 1879. Hoje, o comerciante Hermann Einstein, residente em Ulm, Bahnhofstrasse, 135, judeu, pessoa conhecida, compareceu perante o escrivão abaixo e declarou que uma criança do sexo masculino, que recebeu o nome de Albert, nasceu em Ulm, na sua residência, filho de Pauline Einstein, sua esposa, com o sobrenome Koch de solteira, judia, no dia 14 de março de 1879, às 11h30. Lido, confirmado e assinado: Hermann Einstein. O escrivão, Hartman". A casa de Bahnhofstrasse foi destruída durante um ataque aéreo em 1944, mas o registro de nascimento ainda se encontra nos arquivos de sua cidade natal.

Albert foi o primeiro dos filhos de Hermann e Pauline, depois do qual nasceu Maria, em 18 de novembro de 1881. Segundo Abraham Pais, autor da obra "Sutil é o Senhor…A Ciência e a Vida de Albert Einstein", provavelmente ela foi o ser humano a quem Einstein se sentiu mais ligado ao longo de sua vida. Chamava-a, carinhosamente, de Maja. Criados no seio de uma família predominantemente liberal, Einstein e sua irmã não receberam educação religiosa no lar e lhes foi transmitida uma visão pragmática face à religião.

Em um ensaio biográfico de Maja sobre o irmão, terminado em 1924, e mencionado na obra de Pais, há muitas informações sobre os primeiros anos de Einstein. São recordações familiares entre as quais ela menciona a preocupação da mãe, quando Einstein nascera, por causa da grande e angulosa parte posterior da cabeça do bebê; e da primeira reação de uma das avós ao ver o então mais jovem membro da família: "Viel zu dick! Viel zu dick" ("É pesado demais"). Maja fala também dos primeiros receios familiares de que a criança pudesse ser retardada, por causa do tempo excessivo que levou para começar a falar.

Segundo a obra de Pais, com base em uma das primeiras memórias de infância do próprio Einstein, quando tinha entre dois e três anos, ele queria dizer frases completas. Ensaiava a frase para si mesmo, dizendo-a em voz baixa. Se lhe parecesse boa, pronunciava-a em voz alta. Pais afirma, também, que Einstein era muito calmo quando pequeno, preferindo brincar sozinho. "Todavia era temperamental. Podia explodir de cólera. Nesses momentos, a face empalidecia, a ponta de nariz embranquecia e podia descontrolar-se. O pequeno e querido Albert chegou a arremessar objetos na irmã em várias ocasiões, mas os ataques de cólera cessaram por volta dos sete anos", lembra Maja em seu ensaio. Ainda em sua infância, aprendeu a tocar violino, tornando-se um amante da música, mas jamais um músico brilhante.

Seis meses após o nascimento de Einstein, a família mudou-se para Munique, onde ele iniciou sua vida escolar posteriormente no Luitpold Gymnasiun, no qual permaneceu até os 15 anos. Em todos esses anos, obteve sempre, ou quase sempre, as notas mais altas em Matemática e em Latim. Sobre este período, sua irmã escreveu: "No conjunto, Einstein, no entanto, não gostou daqueles anos de escolaridade; professores autoritários, estudantes servis, ensino livresco - nada disso lhe caía bem. Além do mais, tinha uma natural antipatia por (…) ginástica e esportes (…). Tinha tonturas e cansava-se facilmente. Sentia-se isolado e fazia poucos amigos na escola".

Alguns anos mais tarde, seus pais foram para Milão, Itália, mas ele continuou seus estudos na Suíça e, em 1896, ingressou na Escola Politécnica Federal, em Zurique, onde estudou Física e Matemática. Foi neste ano que decidiu desistir de sua cidadania alemã, pagando então três marcos por um documento, autenticado em Ulm, que declarava que já não era mais cidadão alemão. Em 1901, ao formar-se, adquiriu a cidadania suíça e começaram suas dificuldades para conseguir lecionar. Foi quando obteve o emprego no Departamento de Patentes em Berna.
Simultaneamente à sua vida profissional e científica, Einstein encontrou tempo para sua vida pessoal. Em 1903 casou com Mileva Maric, ex-colega de estudos, apesar da oposição da família. Teve dois filhos, Hans Albert e Eduard, divorciando-se. O mais velho tornou-se um importante professor de Hidráulica na Universidade da Califórnia e o mais jovem, formado em Música e Literatura, morreu em um hospital psiquiátrico na Suíça. Em 1919, Einstein e Mileva divorciaram-se e ele casou-se com sua prima, Elsa Einstein, que faleceu em 1936.

Início do sucesso

Em 1909, Einstein tornou-se professor Extraordinário em Zurique e, dois anos mais tarde, professor de Física Teórica em Praga. Em 1912, passou a ocupar o mesmo cargo em Zurique. Em 1914, foi indicado diretor do Instituto Kaiser Wilhelm de Física e professor da Universidade de Berlim, tornando-se, novamente, cidadão alemão no mesmo ano. Em 1920, durante uma de suas aulas em Berlim, foram realizadas manifestações anti-semitas, fato que o levou a deter-se com mais atenção aos fatos que então ocorriam na Alemanha.

Um ano mais tarde, fez sua primeira visita aos Estados Unidos cujo objetivo principal era arrecadar fundos para a construção da Universidade Hebraica de Jerusalém. Na ocasião, recebeu a Medalha Barnard e deu várias palestras. Em 1922, recebeu o Prêmio Nobel de Física, não pela Teoria da Relatividade, mas por um trabalho de 1905 sobre os efeitos fotoelétricos. Ele não participou da cerimônia de premiação pois estava no Japão. Ao longo de sua vida, visitou vários países, incluindo alguns da América Latina.

Em 1933, Einstein renunciou mais uma vez a cidadânia alemã por razões políticas e emigrou para os Estados Unidos, onde assumiu a função de professor de Física Teórica na Universidade de Princeton. Tornou-se cidadão americano em 1940, mas manteve a cidadania suíça. Aposentou-se em 1945.


Ao longo de sua vida, Einstein atuou em prol da paz. Em 1944, por exemplo, autografou o seu trabalho de 1905 e permitiu que fosse leiloado para ajudar as vítimas da guerra. Cerca de seis milhões de dólares foram arrecadados e o manuscrito encontra-se atualmente na Livraria do Congresso.

Doou os manuscritos de seus trabalhos científicos para a Universidade Hebraica de Jerusalém, da qual foi presidente de 1925 a 1928. Recusou um convite para retornar ao cargo em 1933, por discordar da forma como era administrada. Uma semana antes de sua morte assinou sua última carta. Foi endereçada a Bertrand Russel na qual concordava em que seu nome fosse incluído em um manifesto pedindo a todas as nações que abandonassem as armas nucleares. Uma posição totalmente diferente da que possuía em 1939, quando defendeu o desenvolvimento da bomba atômica.

Einstein morreu no dia 18 de abril de 1955 em Princeton, Nova Jersey. Seu corpo foi cremado e seu cérebro doado a Thomas Harvey, patologista do Hospital de Princeton. Deixou várias histórias sobre sua vida e personalidade, muitas da quais, apesar de repetidas inúmeras vezes como se fossem verdadeiras, não passam de simples histórias, como por exemplo, o fato de que não conseguiu passar em matemática quando ainda era jovem; ou então que não era capaz de lembrar o endereço de sua casa ou de contar o troco correto da passagem de ônibus…

Em 1996, a Fundação Filantrópica Jacob E. Safra e a família Safra doaram ao Museu de Israel os manuscritos de Albert Einstein sobre a Teoria Especial da Relatividade, datados de 1912.

Idéias e teorias

Einstein sempre teve uma visão clara sobre os problemas da Física e a determinação de encontrar soluções. Tinha uma estratégia própria e era capaz de visualizar as etapas para atingir seus objetivos. Para ele, cada êxito era apenas mais um passo para o próximo avanço. Ele descobriu, apenas pensando sobre isso, a estrutura essencial do cosmos. Os pilares do mundo atual – a bomba, viagens espaciais, eletrônica, entre outros – têm a marca de suas impressões digitais.

Desde que começou a se dedicar à ciência, o então jovem físico percebeu algumas inadequações nas idéias de Newton e desenvolveu uma teoria especial da relatividade em uma tentativa de reconciliar as leis de mecânica com o campo da eletromagnética. Lidou com problemas clássicos de mecânica estatística os quais se fundiam com a teoria quântica, entre outros temas.

Durante sua permanência no Departamento de Patentes da Suíça, aproveitando o tempo livre que tinha, produziu uma grande parte dos seus trabalhos científicos que lhe garantiram posterior notoriedade. Em 1903 e 1904 publicou artigos sobre os fundamentos da mecânica estatística. Em 1905 terminou um trabalho que lhe garantiu o Prêmio Nobel de Física em 1922, além de finalizar o texto que lhe deu o título de Doutor pela Universidade de Zurique. Em finais de 1906, acabou um artigo fundamental sobre calores específicos e, no ano seguinte, deu as primeiras contribuições importantes para a Teoria da Relatividade geral.

Durante os anos 20, Einstein trabalhou no campo da unificação das teorias, embora prosseguisse com seus estudos sobre as probabilidades de interpretação da teoria quântica. Deu continuidade a estas pesquisas após emigrar da Alemanha para os Estados Unidos. Contribuiu também para o desenvolvimento da mecânica estatística. Ao aposentar-se continuou a trabalhar rumo à unificação dos conceitos básicos de física assumindo uma posição geometricamente oposta a da maioria dos físicos.

Seus principais trabalhos são: "Teoria Especial da Relatividade", 1905; "Teoria Geral da Relatividade", 1916; "Investigações sobre a Teoria do Movimento Browniano", 1926; e "Evolução da Física", 1938. Entre seus trabalhos não científicos destacam-se "Sobre Sionismo", 1930; "Minha Filosofia", 1934; e "Meus últimos anos", 1950.

Einstein recebeu o título de Doutor Honoris Causa em Ciência, Medicina e Filosofia de diferentes universidade americanas e européias. Durante os anos 20, lecionou na Europa, América e Leste Europeu e recebeu os títulos de Fellowship e Membro-Honorário da várias instituições científicas renomadas de todo o mundo. Recebeu vários prêmios entre os quais O Nobel de Física em 1922; a Medalha Copley da Sociedade Real de Londres, em 1925; e a Medalha Franklin, do Instituto Franklin, em 1936.


Frases de Einstein

"A paixão pelo conhecimento em si mesmo, a paixão da justiça até o fanatismo e a paixão da independência pessoal exprimem as tradições do povo judeu e considero minha pertença a esta comunidade como um dom do destino.

Aqueles que hoje se desencadeiam contra os ideais de razão e de liberdade individual e que, com os meios do terror, querem reduzir os homens a escravos imbecis do Estado, nos consideram com justiça como seus irreconciliáveis adversários. A História já nos impôs um terrível combate. Mas, por longa que seja nossa defesa do ideal de verdade, de justiça e de liberdade, continuamos a existir como um dos mais antigos povos civilizados, e sobretudo realizamos no espírito da tradição um trabalho criador para a melhoria da humanidade".

"A História confiou-nos nobre e importante missão sob a forma de uma colaboração ativa para construir a Palestina… Temos a possibilidade de instalar focos de civilização nos quais todo o povo judeu pode reconhecer sua obra. Esperamos profundamente estabelecer na Palestina um lugar para as famílias e para uma civilização nacional própria, que permita despertar o Oriente Médio para uma vida econômica e intelectual".

"Tem um sentido a minha vida? A vida de um homem tem sentido? Posso responder a tais perguntas se tenho espírito religioso, Mas, ‘fazer tais perguntas tem sentido?’ Respondo: ‘Aquele que considera sua vida e a dos outros sem qualquer sentido é fundamentalmente infeliz, pois não tem motivo algum para viver".

Bibliografia

Pais, Abraham, "Sutil é o Senhor…A Ciência e a Vida de Albert Einstein"
Einstein, Albert, Como Vejo o Mundo
Revista Time, 10/01/2000
Manuscritos de 1912 da Teoria Especial da Relatividade de Einstein