O tsunami online, de publicações antissemitas, que surgiu logo após o ataque mais mortal contra o Povo Judeu desde o Holocausto, deixou as pessoas aterrorizadas. O discurso de ódio na internet tem gerado consequências no mundo real e vem formando uma nova geração de antissemitas. Além da guerra que ocorre no campo de batalha, ocorre, também, uma intensa batalha pela opinião pública nas redes sociais: uma guerra de informação para a qual Israel não estava preparado.

Informação é poder, e a luta pelo controle da narrativa é uma tática comum em tempos de guerra. Como afirmou o presidente do Congresso Judaico Mundial, Ronald S. Lauder: “Por um breve momento, após o dia 7 de outubro, o mundo mostrou solidariedade ao Estado Judeu. Porém, poucos dias após o ataque – enquanto Israel ainda contava seus mortos – vimos o mundo se voltar contra nós. Custou-nos perceber que estávamos testemunhando o desenrolar da primeira guerra premeditada e completa nas redes sociais contra um povo e uma nação – a nossa. Os inimigos de Israel estavam bem preparados para lançar sua campanha global, culpando as próprias vítimas do ataque terrorista”.

No dia 7 de outubro, o Hamas causou alvoroço online. Terroristas invadiram o sul de Israel, transmitindo ao vivo assassinatos e depredação usando câmeras GoPro de US$ 150 e seus celulares. Membros do Hamas documentaram o massacre de homens, mulheres, crianças e idosos, a incineração de famílias vivas e o sequestro de pessoas, inclusive de um bebê de menos de um ano e idosos sobreviventes do Holocausto. Seu objetivo era humilhar e mostrar ao mundo que Israel não é indestrutível.

O Hamas e seus aliados lançaram uma guerra nas mídias sociais – guerra essa que, ao que tudo indica, tem muito mais chance de fazê-los sair vitoriosos do que aquela travada nas ruas de Gaza. Ainda citando Ronald Lauder, 97% da cobertura do conflito nas redes sociais é hostil, e apenas 3% é favorável a Israel e ao Povo Judeu. Esses números indicam que não se trata de um fenômeno orgânico, pois não refletem a opinião pública sobre o conflito entre Israel e Hamas, nem mesmo entre a geração mais jovem. Isso demonstra que há grupos organizados e eficientes por trás dessa enorme guerra de desinformação.

No mês seguinte à invasão de Israel pelo Hamas, de acordo com a Liga Anti-Difamação (ADL), o conteúdo antissemita aumentou mais de 919% no X (anteriormente Twitter) e 28% no Facebook. Assim que as notícias surgiram em 7 de outubro, já havia pessoas online celebrando os atos de terror do Hamas.

Campanhas em mídias sociais fazem parte da estratégia geral do Hamas para conseguir ajuda de simpatizantes, espalhar sua narrativa, conquistar corações e mentes – principalmente dos jovens –, e pressionar a comunidade internacional a se posicionar contra Israel. Muitos têm acreditado na narrativa do Hamas, onde terroristas são as vítimas e Israel é o agressor.

O aumento do ódio nas redes sociais

As redes sociais são um terreno fértil para o ódio e o extremismo. Extremistas, neo-nazistas e terroristas usam táticas para atrair e recrutar jovens adultos e adolescentes. Fazem apologia à violência contra negros, judeus e outras minorias. Promovem a violência, a intolerância, o antissemitismo, o racismo, o negacionismo e teorias da conspiração. O intuito é seduzir esses jovens com uma ilusão de que pertencem à alguma causa, direcionar sua raiva e radicalizá-los. Esses jovens tendem a ser emocionalmente mais frágeis e menos informados – combinação ideal para grupos como o Hamas.

A manifestação online de ódio contra os judeus já era uma grande preocupação antes da guerra e aumentou exponencialmente desde 7 de outubro. Antes do ataque, as redes sociais já estavam repletas de mensagens antissemitas do tipo  “Hitler deveria ter terminado seu trabalho” e “Hitler tinha razão”. Após 7 de outubro, X, Facebook, Instagram, TikTok e outras redes não tão conhecidas pelo público, em geral, foram rapidamente inundados com milhões de postagens incitando ao ódio e clamando por violência e assassinatos em massa de judeus e israelenses – usando slogans como “gas the Jews” (“Mate os judeus nas câmaras de gás”) e “morte a Israel”. Postagens violentas e antissemitas foram compartilhadas e curtidas milhões de vezes, apesar de que o discurso de ódio viola as regras de uso das redes sociais e é supostamente proibido.

Em uma análise realizada pela Liga Anti-Difamação entre 30 de setembro e 13 de outubro, quase duas milhões de postagens com a hashtag #IsraeliNewNazism (#NovoNazismoIsraelense) apareceram no X durante esse período, e mais de 46 mil postagens usaram a hashtag #HitlerWasRight (#HitlerTinhaRazão). Nos meses anteriores ao ataque, esta última aparecia menos de cinco mil vezes por mês. Já #DeathtotheJews e #DeathtoJews (#MorteAosJudeus) surgiram mais de 51 mil vezes no mês seguinte a 7 de outubro, em comparação com duas mil vezes no mês anterior.

A imagem de um parapentista descendo com uma bandeira palestina e as palavras “Eu apoio a Palestina” (“I Stand with Palestine”) viralizou. A imagem faz referência aos homens armados do Hamas que usaram parapentes para invadir o festival de música Nova, em Israel, onde mais de 360 pessoas foram mortas. Em algumas dessas postagens no Facebook e Instagram, havia comentários como “Eles deveriam ter matado mais” e “Matem mais judeus”.

O crescente sentimento anti-Israel e antijudeu nas mídias sociais tem gerado consequências no mundo real. Um exemplo claro disso é que, desde 7 de outubro, a Liga Anti-Difamação registrou um aumento de 10 vezes nos incidentes antissemitas em campi universitários nos EUA. Esse aumento está ocorrendo paralelamente ao aumento de conteúdo anti-Israel e antissemita nas redes sociais. Khymani James, por exemplo, um dos líderes do protesto estudantil anti-Israel na Columbia University, usava o TikTok para transmitir suas mensagens. Em um vídeo nessa mídia ele declarou: “Não deveria haver sionistas em lugar algum. Sionistas são nazistas... Sionistas não merecem viver neste mundo. Agradeçam-me por não sair por aí matando sionistas a torto e à direita”.

O Relatório sobre a Situação do Antissemitismo nos Estados Unidos em 2023 do Comitê Judaico Americano revela que online e nas redes sociais continua sendo onde os judeus americanos – 62% dos entrevistados – mais se deparam com o antissemitismo. Adolescentes e jovens adultos judeus são mais propensos a sofrer assédio antissemita online do que os mais velhos.

As companhias de mídia sociais têm sido amplamente criticadas. Governos mundo afora pressionam para que as empresas se empenhem bem mais em controlar e filtrar o conteúdo. Pessoas que foram radicalizadas online já cometeram ataques terroristas, ataques antissemitas, jovens já foram levados ao suicídio, a desinformação já influenciou campanhas de vacinação e eleições. O aumento do antissemitismo online destacou novamente a falha dessas empresas em investir adequadamente em tecnologias e pessoas destinadas a remover conteúdos falsos, violentos e perigosos.

Os algoritmos

Os algoritmos das redes sociais são a programação complexa que determina qual a pequena fração dos bilhões de conteúdos – como posts, vídeos ou memes – que será exibida para cada pessoa. Esses algoritmos ajustam os feeds de acordo com os interesses individuais, tornando única a experiência de usuário. Os algoritmos moldam diariamente a forma com que bilhões de pessoas recebem e processam informações.

O modelo de negócios das redes sociais é baseado em quantidade de usuários e o tempo que passam navegando. Os algoritmos buscam conteúdos que mais geram engajamento, fazendo com que o usuário permaneça mais tempo naquela plataforma, gerando mais receita de publicidade para a empresa. Portanto, o algoritmo de cada mídia social é desenvolvido para promover o conteúdo mais propenso a capturar a atenção. Uma vez que o algoritmo descobre o que prende a atenção do usuário, ele passa a mostrar mais do mesmo.

Conteúdos polarizantes, ultrajantes e inflamatórios tendem a engajar as pessoas mais do que as postagens menos controversas e, portanto, são mais promovidas pelos algoritmos. Quando o algoritmo entende a tendência de cada pessoa de se identificar com um lado de qualquer questão, tende a mostrar conteúdo somente desse lado. Essa estrutura de algoritmos distorce ainda mais os pontos de vista e gera opiniões cada vez mais polarizadas e conflitantes na sociedade, à medida que as pessoas são expostas a visões menos diversas e mais extremas.

Esse modelo de negócios muitas vezes acaba promovendo teorias da conspiração, racismo, antissemitismo e disseminando o ódio – pois esses conteúdos chamam mais a atenção de quem está navegando. As empresas de mídias sociais pouco fazem para controlar esse tipo de conteúdo pois ele gera receita.

A distorção de informações é até mais exacerbada no TikTok. No Facebook, Instagram ou X, os usuários geralmente veem postagens de pessoas que seguem – conhecidos, amigos ou parentes – misturadas com algumas postagens em alta ou postagem patrocinadas. No TikTok, alguns vídeos podem ser de pessoas que o usuário segue, mas a maioria delas não é. Nos seus feeds, os usuários visualizam vídeos sugeridos pelo algoritmo do aplicativo, que são reproduzidos um após o outro, podendo expor as pessoas a ideologias radicais mesmo quando não as estão procurando. E se o usuário demonstrar o mínimo interesse em teorias da conspiração ou qualquer outro tema de ódio, o aplicativo continuará a mostrar mais desse tipo de conteúdo.

Como a guerra entre Israel e o Hamas está em alta, os algoritmos tendem a promover mais conteúdo sobre esse assunto. Como vimos, devido ao design dos algoritmos, esse conteúdo, criado para capturar a atenção de quem está navegando pelo app, tende a ser mais extremo e provocativo, mostrando, na grande maioria das vezes, somente um lado do conflito.

Redes sociais são fonte de notícias

O uso das redes sociais está crescendo exponencialmente e se tornando parte integral do dia a dia das pessoas, ao redor do mundo. Em 2024, são 3,05 bilhões os usuários ativos mensais no Facebook, 2 bilhões no Instagram e 1,56 bilhão no TikTok.

Pesquisas mostram que, nos Estados Unidos, as redes sociais são uma das principais fontes de notícias. De acordo com uma pesquisa do Pew Research Center sobre os hábitos de consumo de notícias dos americanos, metade dos adultos nesse país obtêm, pelo menos, parte dessas informações pelas redes sociais. Para 66% dos jovens, TikTok, Facebook e X são as principais fontes de notícias. Os usuários do TikTok disseram que não usam a plataforma principalmente para notícias, mas a maioria acaba vendo conteúdos relacionados aos temas, independentemente de procurarem o TikTok para isso. A maioria das notícias nessa mídia social provêm de opiniões das pessoas (80%) sobre eventos atuais. A pesquisa revelou que em todas as plataformas muitos usuários encontram informações que consideram imprecisas.

Embora a maioria dos jornais e telejornais tenha inclinações políticas, as empresas de mídia ainda estão sujeitas a regulamentações. Elas são responsabilizadas pelo que reportam e, mesmo quando apresentam algum viés, tendem a oferecer uma cobertura mais abrangente dos acontecimentos. As redes sociais, por outro lado, não são regulamentadas. Elas se tornaram um terreno fértil para fake news e teorias da conspiração. Obter notícias através de mídias sociais – que não sejam as revistas e jornais respeitados – levam a uma população mal-informada. Essa falta ou distorção da informação tem tido impactos sérios em nossa sociedade, influenciando, por exemplo, o resultado de eleições.

No TikTok existe um agravante. Ao contrário do Facebook e do Instagram, onde amigos e familiares são as principais fontes de informação, as notícias no TikTok vêm de influenciadores, celebridades e até mesmo desconhecidos. Jornalistas e veículos de comunicação são as fontes menos comuns de informação no TikTok.

A guerra da informação

Desde o ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro, e a subsequente retaliação das forças israelenses em Gaza, o conteúdo que vem inundando as redes sociais revela, mais uma vez, que há algo fundamentalmente errado na maneira como milhões de pessoas ao redor do mundo consomem conteúdo. Falsas equivalências morais, meias-verdades, mentiras descaradas, desinformação e teorias da conspiração estão sendo disseminadas online em volumes enormes e a uma velocidade impressionante. Postagens, stories e vídeos são as armas usadas na batalha pela opinião pública.

Mas o que coloca a guerra Israel-Hamas em patamares diferentes é o quão desproporcional se tornou o conteúdo consumido online.A Digital Bridge’s analisa dados através da CrowdTangle, uma ferramenta de análise social de propriedade da Meta que provou que, nas plataformas como Facebook, X, TikTok e Instagram, há uma assimetria na qual se cria mais conteúdo pró-palestinos, comparando-se com material a favor de Israel. No auge, segundo o relatório da Generation Lab, 98,6% das visualizações de conteúdos relacionados à guerra, no TikTok, nos EUA, tinham uma hashtag pró-palestina.

Mesmo antes de Israel iniciar sua invasão terrestre de Gaza, a internet já estava repleta de pessoas justificando, zombando ou negando o massacre que ocorreu no sul de Israel. Segundo a Liga Anti-Difamação, nove dias após aquele fatídico 7 de outubro, um vídeo no TikTok promovia teorias da conspiração sobre as origens dos ataques do Hamas, incluindo falsas alegações de que Israel o havia orquestrado, já havia sido visto por mais de 300 mil usuários. Uma postagem mentirosa no X foi visualizada mais de 20 mil vezes, mostrando israelenses encenando mortes de civis para as câmeras. E muitas pessoas acreditaram. Pessoas filmadas removendo cartazes de reféns afirmaram que não havia reféns e que os sequestros eram propaganda israelense.

Nessa luta pela opinião pública, a estratégia do Hamas é se apresentar como vítima e Israel como o agressor, utilizando o número de mortos e o sofrimento civil em Gaza como tática de relações públicas. Em 26 de outubro de 2023, o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, que foi morto em julho último no Irã, comentou sobre a perda de vidas civis em Gaza e disse: “Precisamos do sangue das mulheres, crianças e idosos na Faixa de Gaza, para despertar dentro de nós o espírito revolucionário”. Essa estratégia do Hamas tem funcionado. À medida que as pessoas, especialmente os jovens, veem as imagens comoventes de Gaza nas redes sociais, sua raiva vai sendo fomentada e eles acabam acreditando nas mentiras e na narrativa do Hamas.

Por outro lado, o governo de Israel optou por proteger a privacidade e a dignidade das vítimas, publicando somente evidências das atrocidades cometidas com autorização de suas famílias. O mundo teve acesso somente a uma pequena parte do que aconteceu.

Hoje, as imagens e vídeos que circulam nas redes sociais oferecem uma representação muito distorcida da verdade do que aconteceu em Israel e Gaza durante e após 7 de outubro.

TikTok

O TikTok é a rede social que mais cresce em termos de usuários. Em 2024, o TikTok possui 1,56 bilhão de usuários ativos mensais, que passam em média 58 minutos e 24 segundos por dia nesse app. Popular entre os mais jovens, 69,3% dos usuários do TikTok têm entre 18 e 34 anos.

A rede é fácil de ser usada e permite que qualquer pessoa consiga produzir vídeos curtos – de até três minutos – para postar. Seu algoritmo também torna bem mais fácil a viralização de um vídeo, em comparação com outras redes sociais. Um vídeo de um usuário sem nenhum seguidor pode rapidamente ganhar audiência.

Conteúdos em formato de vídeo são difíceis de serem monitorados por meio de Inteligência Artificial, pois o conteúdo problemático pode ser exibido visualmente e é sempre mais fácil monitorar textos do que vídeos. Os usuários do TikTok também são conhecidos por burlar a censura por meio de abreviações ou linguagens codificadas. No mundo do antissemitismo, “H!tl3r” ou “aquele pintor austríaco” ajudam os usuários a falar sobre Hitler sem serem detectados. “Juice” ou “the joos” são usados para se referir aos judeus (Jews, em inglês).

Antissemitismo  no TikTok

As mídias sociais são um campo fértil para o antissemitismo – e o TikTok seu pior infrator. A disseminação do ódio pelo TikTok é mais alarmante e perigosa considerando-se seu público jovem e a força da influência que tem sobre esse grupo tão vulnerável. Crianças e jovens são mais ingênuos e crédulos, em se tratando de conteúdo malicioso, e constituem um risco maior de serem radicalizados e mobilizados. E os extremistas exploram a frágil segurança da plataforma para recrutar seguidores.

Postagens antissemitas no TikTok aparecem no formato de vídeos, comentários, textos, hashtags e nomes de usuários. Mesmo antes de 7 de outubro, usuários judeus relatavam que a “vida” no TikTok vinha acompanhada de antissemitismo. Uma canção antissemita sobre judeus sendo mortos em Auschwitz, por exemplo, foi acessada mais de seis milhões de vezes em todo o mundo. Um vídeo mostrava uma sucessão de jovens fazendo saudações nazistas. Outro vídeo no TikTok incluía uma mensagem: “Tenho uma solução; uma Solução Final”, referindo-se ao Holocausto. Os comentários sobre e essa tragédia são do tipo: “Traga de volta o Holocausto”, “Todos os judeus devem morrer”, “Feliz Holocausto” e “Paz para Hitler”.

Outro formato recente usado para espalhar ódio são os desafios no TikTok. Em 2020, surgiu o “#holocaustchallenge” (“#DesafioDoHolocausto), em que as pessoas fingiam ser vítimas do Holocausto, fazendo vídeos com hematomas falsos e vestindo roupas que os nazistas obrigavam os judeus a usar. E vários outros desafios antissemitas.

O antissemitismo também se faz ver através dos nomes de usuário como “@holocaustwasgood” (holocausto foi bom), “@holocaust.is.fake” (holocausto é falso), “@eviljews” (judeus malignos), “@antisemiticandproud” (antissemita e orgulhoso), “@violentantisemite” (antissemita violento) e “@thejewsrunmedia” (os judeus controlam a mídia).

Comentários e vídeos promovem teorias da conspiração, como a ideia de que os judeus estão conspirando para controlar o mundo, a mídia, os bancos e o governo. Nos comentários estão emojis de nariz, emojis de chuveiro e de bomba de gasolina (referindo-se às câmaras de gás do Holocausto), além da palavra “Heil” acompanhada de um emoji de uma pessoa levantando a mão, em referência à saudação nazista.

Embora o TikTok afirme que implementa ferramentas de moderação para manter discursos de ódio, desinformação e incitação à violência fora de suas plataformas, os usuários continuam publicando esses conteúdos, ainda que sejam proibidos.

Após 7 de outubro

Essa plataforma, de propriedade chinesa, presta contas a seu governo. Desde 7 de outubro, a China tem-se posicionado contra Israel. Desde então, o sentimento antissemita e anti-Israel cresceu desenfreado na internet chinesa e na mídia dominada pelo Estado. Alguns críticos afirmam que o TikTok está impulsionando conteúdo e vídeos pró-palestinos e não censura conteúdo antissemita e antissionista para alinhar-se com o governo de Pequim. Por outro lado, o algoritmo do TikTok é acusado de não impulsionar postagens de criadores de conteúdo pró-Israel e de censurar ou até fechar suas contas. Relatos pessoais de civis israelenses sobre atrocidades vividas no dia 7 de outubro chegaram a ser removidos da plataforma.

Em uma reunião de celebridades judias com executivos do TikTok, o ator Sasha Baron Cohen expressou suas preocupações: “O TikTok está criando o maior movimento antissemita desde os nazistas. Vocês deviam se envergonhar! Se pensarmos no dia 7 de outubro, a razão pela qual o Hamas pôde decapitar jovens e estuprar mulheres é que eles foram alimentados desde pequenos com imagens que os levaram ao ódio”.

Algumas celebridades judias escreveram uma carta afirmando que o TikTok “não é seguro para usuários judeus” devido a ameaças, assédio e antissemitismo. Judeus criadores de conteúdo, na plataforma, relatam receber uma enxurrada de ódio, mesmo quando compartilham conteúdo não relacionado a Israel, mas sim de natureza religiosa ou cultural. Quando alguém posta, por exemplo, sobre seu bar-mitzvá, os comentários muitas vezes são inundados com o slogan “Palestina Livre” e o emoji da bandeira palestina.

De acordo com uma pesquisa conduzida por Anthony Goldbloom, cientista de dados e CEO da Kaggle, a maior comunidade de ciência de dados do mundo, há 54 visualizações de vídeos com hashtags pró-Palestina para cada visualização de um vídeo com hashtags pró-Israel, no TikTok nos EUA.

Os números oficiais dessa mídia social apontam uma disparidade, mesmo que confirmem essa tendência. A plataforma diz que vídeos com a hashtag #StandWithPalestine (#ApoiemaPalestina) acumularam cerca de 4,8 bilhões de visualizações. Por outro lado, a hashtag #StandWithIsrael (#ApoiemIsrael) recebeu pouco menos de 600 milhões de visualizações. Ou seja, a hashtag #StandWithPalestine recebeu oito vezes mais visualizações. Segundo os dados dessa rede social, a hashtag #StandwithPalestine é mais prevalente na Malásia, seguindo-se Paquistão, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Catar. E a #freepalestine (#PalestinaLivre) é uma das mais populares em todo o TikTok.

Uma reportagem na Fox News apresentou relatos anônimos de funcionários judeus do TikTok que disseram que, após 7 de outubro, a empresa criou grupos de apoio para funcionários palestinos, mas afirmou que não poderia oferecer a mesma opção para funcionários israelenses por ser “muito político”. Capturas de tela também foram vazadas, mostrando como há moderadores que promovem abertamente o movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra Israel, celebram as atrocidades do Hamas e usam o emoji de melancia – um símbolo político da Palestina. Essa reportagem mostrou capturas de telas que apoiam alegações de que os moderadores estão permitindo a passagem de conteúdo antijudaico e anti-Israel.

O TikTok afirma que, desde o ataque do Hamas contra Israel, em 7 de outubro, a empresa removeu mais de 24 milhões de contas falsas e mais de 500 mil comentários de “bots” em conteúdos com hashtags relacionadas ao conflito.

Quem está por trás das contas?

Segundo Ronald S. Lauder, presidente do Congresso Judaico Mundial, desde o início do conflito “operadores sofisticados ligados ao Hamas começaram uma barragem 24x7 contra Israel, disparando fluxos contínuos de infame antissemitismo pela mídia social e outras plataformas”.

Uma pesquisa da Generation Lab descobriu que grande parte do conteúdo problemático, sobre o conflito, no TikTok, provém de países como Paquistão e Catar. Rússia, Iraque e Irã também têm espalhado mensagens antissemitas, além de desinformação sobre a guerra.

De acordo com a Cyabra, uma empresa israelense que analisa mídias sociais, uma em cada cinco contas engajadas em conversas sobre a guerra Israel-Hamas são “bots”, ou seja, robôs que operam automaticamente. E muitas outras contas são de pessoas reais que usam identidades falsas para espalhar propaganda pró-Hamas e mentiras contra Israel. Esses perfis sugerem, por exemplo, que nunca foram cometidos estupros e que o Hamas trata bem os reféns, mesmo quando todas as evidências provam o contrário.

Banindo o TikTok

O TikTok já foi banido na Índia e corre o risco de ser banido nos Estados Unidos. O governo indiano citou preocupações com a privacidade dos usuários, afirmando que os aplicativos chineses ameaçam a soberania e a segurança do país.

O presidente americano Joe Biden assinou um projeto de lei, em abril deste ano, para banir o TikTok, caso a chinesa ByteDance não encontre um comprador americano. Segundo o projeto de lei, o problema decorre do fato de o TikTok ser propriedade de um “adversário estrangeiro”, o que representa uma ameaça à segurança nacional.

A preocupação reside no fato do TikTok ter acesso aos dados sensíveis de 170 milhões de usuários americanos – praticamente metade da população – e que essas informações possam ser compartilhadas com o governo chinês. Esse conteúdo pode ser usado para manipular e influenciar milhões de americanos.

O que se pode fazer?

Não interaja com antissemitas nas redes sociais; não responda, compartilhe, reposte ou interaja com o material de forma alguma. Os algoritmos das redes sociais recompensam o conteúdo que gera respostas dos usuários, mesmo que sejam negativas. Ao interagir com esse conteúdo, está-se aumentando a chance de promovê-lo na plataforma.

Se alguém for vítima de antissemitismo, apoie essa pessoa em sua página. Se você for vítima, não compartilhe a postagem em que foi atacado. Em vez disso, crie uma nova postagem para alertar seus amigos e familiares.

Para combater as narrativas anti-Israel, não devemos ficar em silêncio. Quando alguém postar a favor de Israel, é crucial comentar, repostar e compartilhar a publicação para ajudar a influenciar o algoritmo. Além disso, precisamos postar para amplificar as vozes pró-Israel nas redes sociais, postando fatos e defendendo a verdade.

A desinformação que se espalha no X, TikTok e outras plataformas vem moldando a visão do público sobre a situação em Gaza e Israel. E a opinião pública, por sua vez, pressiona os políticos. Como alertou Ronald Lauder, “Israel não pode se dar ao luxo de perder essa frente”.

Foram necessários aproximadamente 10 anos de propaganda nazista para moldar as mentes dos alemães – culminando no Holocausto. Imaginem o dano que pode ser causado pelas mídias sociais se não abordarem a mesma propaganda que hoje circula em suas plataformas. As mídias sociais normalizaram o antissemitismo. É ódio e antissemitismo com fins lucrativos. Só que, desta vez, o alcance da propaganda antissemita é global.

Bibliografia

Antisemitism: ‘Free Palestine’ Supporters Harass Jewish creators. Artigo publicado por Joshua Nelken-Zitser no site Business Insider, 23 de maio de 2021
Citing ‘trauma porn,’ MK raps TikTok for failing to halt spread of anti-Semitism. Artigo publicado pelo jornal The Times of Israel em de 14 de outubro de 2020
TikTok: a growing source of news, especially for young adults. Artigo publicado por Sabrina Quagliozzi no site The Media Leader em 12 de junho de 2024
The Israel-Hamas war reveals how social media sells you the illusion of reality. Reportagem de Brian Fung and Clare Duffy da CNN em 16 de outubro de 2023