O drama dos judeus de Vichy não começou em Vichy. Suas raízes mais acentuadas remontam ao início do século 19, quando o antissemitismo já permeava grande parte da sociedade francesa e Napoleão Bonaparte agia de forma ambígua com relação aos judeus.

Por um lado, ordenou a suspensão de todas as restrições aos judeus e a demolição dos guetos, tanto na França como nos territórios que ocupou. Por outro, se empenhava em ver os judeus se assimilarem, em vez de formar uma comunidade. Esse objetivo obviamente não se consumou e o antissemitismo francês foi assumindo contornos cada vez mais malignos até expor-se ao mundo, sem pudor, em 1894, no processo contra o Capitão Dreyfus, um militar judeu injustamente acusado de traição, primeiro condenado e depois reabilitado.

A nova e escancarada onda de antissemitismo na França teve início pouco antes da década de 1930, quando um judeu chamado Sholem Schwarzbard assassinou, à luz do dia, na rua Saint Michel, o militar nacionalista ucraniano, Semyon Petliura, como vingança pelas dezenas de pogroms (massacres) que este havia ordenado na Polônia. O julgamento de Schwartzbard, que foi absolvido, atraiu quase tanta atenção quanto o de Dreyfus e fez crescer o antissemitismo.

Nos anos seguintes, esse comportamento atraiu grande número de homens públicos e, inclusive, escritores de renome. Os historiadores concordam que esse antissemitismo não foi importado diretamente daquele disseminado por Hitler na Alemanha nazista. Era um antissemitismo gerado e nutrido na própria França, voltado principalmente contra os estrangeiros, ou seja, os judeus europeus que tinham deixado seus países e buscavam refúgio no território francês, acreditando no postulado da igualdade, fraternidade e liberdade.

Naqueles dias, alcançou grande repercussão, por exemplo, uma série de artigos escritos no jornal Le Temps, assinados pelo respeitado jornalista Raymond Millet, que incitavam o governo a agir contra o que ele classificava como “desordem”. O famoso dramaturgo Jean Giraudoux escreveu: “Nossa terra tornou-se uma terra invadida. É uma invasão igual àquela que sofreu o império romano, não por exércitos, mas por uma contínua invasão de bárbaros”.

Como consequência, foi decretado um Estatuto dos Estrangeiros com proibições aos imigrantes que pretendiam estabelecer negócios na França. Os ânimos anti-judaicos se tornaram ainda mais virulentos quando, no dia 7 de novembro de 1938, o judeu Herschel Grynzpan, de dezessete anos de idade, assassinou na embaixada alemã, em Paris, o diplomata Ernst von Rath, para, segundo suas próprias palavras, chamar a atenção da opinião pública para a perseguição aos judeus na Alemanha. A polícia francesa prendeu Grynszpan, porém seu julgamento foi interrompido por causa da guerra, e o assassinato de Rath deu origem à tristemente célebre Noite dos Cristais. Em 1940, o jovem judeu foi entregue aos ocupantes nazistas.

Os antissemitas franceses tornaram-se ainda mais furiosos em 1936 quando a Frente Socialista Popular subiu ao poder, tendo como primeiro-ministro o judeu Léon Blum. Vociferavam que a chamada Terceira República da França estava à beira de uma revolução bolchevique liderada pelos judeus. Em oposição a Blum, um político chamado Louis Darquier de Villepoix, ardente defensor do fascismo e editor do jornal Action Française, declarou o seguinte em um ato público: “Precisamos, com a máxima urgência, resolver o problema judaico, seja através da expulsão ou de um massacre”. Suas palavras foram endossadas por outro político de destaque chamado Xavier Vallat.

Em 1940, acreditando poder conter o avanço militar alemão em uma obsoleta sucessão de trincheiras conhecida como Linha Maginot, o exército francês foi derrotado de forma fulminante pelas tropas nazistas. A Terceira República, comandada pelo Marechal Pétain, respeitado herói da 1a Guerra Mundial, rendeu-se quase sem resistência e as suásticas desfilaram orgulhosamente sob o Arco do Triunfo, em Paris.

Coube a Pétain assinar um armistício com Hitler segundo o qual a França seria dividida. Ao nordeste, o território permaneceria sob ocupação alemã; ao sudoeste, com dois quintos do território francês, seria criada uma “zona livre”, tendo Vichy como capital e abrangendo duas grandes cidades, Lyon e Marselha. Coube a Pétain assumir a chefia desse estado artificial. A chefia do governo foi entregue a Pierre Laval, que havia sido chanceler da França de 1931 até o ano seguinte. Quando a invasão alemã foi consumada, Laval apoiou Pétain, tornando-se o homem forte do regime de Vichy e sucessor do marechal, além de pregar uma união entre a França e a Alemanha nazista. Foi ele quem ordenou a perseguição sistemática aos judeus franceses e deu permissão para que a Gestapo agisse dentro das fronteiras do território que tinha Vichy como capital.

Um debate que até hoje perdura ocupa-se em averiguar até que ponto Pétain e Laval agiam por conta própria ou obedeciam às ordens dos ocupantes nazistas. Em outubro de 2010, o advogado Serge Klarsfeld, há anos notório em todo o mundo junto com sua mulher, Beate, por suas bem sucedidas caçadas a criminosos de guerra nazistas, trouxe a público um documento oficial intitulado “Lei Referente à Condição dos Judeus”, doado anonimamente ao Memorial do Holocausto, em Paris. Abaixo do carimbo “confidencial”, peritos atestaram que nas entrelinhas do documento datilografado havia anotações, correções e emendas manuscritas cuja caligrafia não deixava dúvida de que era do próprio punho do marechal.

Klarsfeld declarou em uma entrevista: “Ainda há quem diga que Pétain fez o possível para aliviar os sofrimentos dos judeus em Vichy, que ele era apenas um velho decrépito manipulado pelos alemães. Aquele documento mostra claramente que Pétain incrementou as medidas antissemitas, de forma ainda mais contundente do que as impostas pelos alemães no início da ocupação. Pétain foi além dos nazistas em termos de antissemitismo e o documento também prova que as autoridades de Vichy, nomeadas pelo marechal, se esforçavam em provar que se situavam na vanguarda da nova ordem européia conclamada pelo hitlerismo”.

Ao ser estabelecida a “zona livre”, cerca de 150 mil judeus se deslocaram para Vichy na esperança de que ali poderiam estar a salvo dos nazistas. Entretanto, encontraram uma realidade idêntica à dos judeus que haviam permanecido na zona ocupada. Dentre as humilhações que sofriam, veio a ordem para que exibissem a estrela amarela em suas roupas. As autoridades de Vichy implantaram um “Estatuto dos Judeus” pelo qual todos foram impedidos de exercer profissões, proibidos de atuar em atividades artísticas, banidos dos serviços públicos e do jornalismo. Em seguida, os comércios pertencentes a judeus foram “arianizados”, eufemismo para um implacável confisco.

Ao mesmo tempo, 40 mil refugiados judeus, oriundos da Europa do leste, foram confinados em um campo de concentração no território de Vichy sob horríveis condições. Enquanto isso, no dia 16 de julho de 1942, na zona ocupada, 12.884 judeus, incluindo 4.501 crianças e 5.802 mulheres, foram reunidos à força no estádio de ciclismo de Paris, em uma operação que passou a ser conhecida como La Grande Rafle.

Em Vichy, em agosto do mesmo ano, 11 mil judeus foram presos e mandados para Drancy, onde outros 4 mil já se encontravam. Há testemunhos sobre as terríveis condições às quais foram ali submetidos, a começar pela separação das crianças de seus pais. Em Drancy havia pouca água, nenhuma luz elétrica, ninguém tinha privacidade e as rações de comida eram insuficientes. Os adultos começaram a ser deportados para Auschwitz desde o mês de março. Os menores ficaram em Drancy, sem quaisquer cuidados, e muitos morreram de fome. Em setembro, 6 mil crianças, vindas de todos os cantos da França, foram aglomeradas em trens de carga e tiveram Auschwitz como destino final.

A par da ocupação nazista que vitimou mais de 70 mil judeus e se estendeu na França por quatro anos, a sociedade francesa foi sendo corrompida, durante esse tempo, pela prática da delação. Segundo um livro há pouco lançado pelo jornalista e escritor André Halimi, entre 1940 e 1944 circularam de 3 a 4 milhões de documentos de delação, tanto em Vichy como na zona ocupada. Essas delações eram feitas tanto em caráter particular como através da imprensa, onde se destacou o semanário Je suis partout, de responsabilidade do jornalista Robert Brasillach, condenado à morte depois da guerra e executado em fevereiro de 1945.

O historiador Henri Amouroux fez um levantamento no qual revela que a SS pagava os delatores conforme uma tabela: mil francos por um judeu, três mil francos por um comunista ou um seguidor de De Gaulle e de cinco a trinta mil francos por uma informação referente a um local que escondesse armas ou munições. O general Otto von Stulpnagel, governador militar de Paris, oferecia dez mil francos (de três a quatro meses de salário de um trabalhador comum) a quem indicasse o paradeiro de qualquer piloto britânico que tivesse sido abatido sobre o território francês.

Grande parte das delações tinha violento caráter antissemita, como esta carta enviada ao Ministério da Justiça: “A população de Nice não mais suporta a efervescência judaica. O descontentamento é geral em face da atitude escandalosa de todos os judeus que flanam na Promenade des Anglais (a orla marítima), que ocupam lugares nos cinemas, nas boates noturnas e passam o tempo criticando as obras empreendidas pelo governo”. No dia 5 de janeiro de 1943, a Secretaria de Assuntos Judaicos recebeu uma carta com os seguintes dizeres: “Será que ainda estamos na França? Há razão para dúvida quando andamos pelas ruas da cidade de Pau. Demos um suspiro de alívio quando soubemos que havia sido criada uma Secretaria de Assuntos Judaicos. Pensamos que, finalmente, iríamos assistir a uma depuração radical em todos os lugares invadidos por aquela gente. Pensávamos que estaríamos livres desse bando de rapinas, era uma esperança que afagava os corações de muitos franceses. Mas, hélas, depois de dois anos constatamos com grande pesar que nada, ou quase nada, mudou. O que foi feito contra esses mercantilistas, esses traficantes do mercado negro? É o que eu lhes pergunto”.

Em março de 1942, o jornal L’Appel publicou como manchete na primeira página: “Como os judeus escapam da lei e continuam a controlar de forma fraudulenta as indústrias que lhes são proibidas”. As delações se voltaram inclusive contra cidadãos franceses que, de alguma maneira, pretenderam ajudar os judeus. O jornal La France de Bordeaux publicou o seguinte, em abril de 1942: “O padre de Chateaunef-sur-Loire e seu abade falsificaram papéis, registrando em sua paróquia o batismo de dois judeus. Eis um padre que merece uma punição exemplar”.

Uma das figuras mais sinistras do regime de Vichy foi Louis Darquier de Villepoix, político conhecido por sua militância em organizações fascistas e irredutível antissemita. Por conta de suas estreitas ligações com os ocupantes nazistas, Darquier foi nomeado comissário-geral para os Assuntos Judaicos em Vichy, sucedendo a Xavier Vallat, que os nazistas julgavam moderado. Couberam a Darquier as primeiras deportações em massa de judeus de Vichy e ele acabou sendo destituído da função que ocupava em 1944, acusado de corrupção e de pilhagem de bens de judeus. Depois da guerra, Darquier foi condenado à morte pela Alta Corte de Justiça da França, mas fugiu para a Espanha, onde, sob a bênção do general Franco, escapou de todos os processos de extradição contra ele expedidos. (Ver na pág. 28 a entrevista que concedeu ao semanário L’Express).

Outro personagem abjeto daquela época foi Maurice Papon, chefe de polícia do regime de Vichy. Ele manteve estreita colaboração com as tropas SS e, sob ordens suas, 1.560 judeus foram mandados de Bordéus para Drancy. Depois do desembarque aliado na Normandia, em 1944, Papon percebeu que os ventos da guerra estavam soprando a favor dos aliados, razão pela qual conseguiu esconder seu passado e infiltrar-se na Resistência, a ponto de ser condecorado e de receber a Legião de Honra das mãos do general e presidente Charles de Gaulle. Mais tarde, serviu ao governo de Valéry d’Estaing como ministro do orçamento. Entretanto, por volta de 1980, sua cumplicidade com o regime de Vichy começou a aparecer na imprensa francesa. Passaram-se catorze anos de lutas judiciais até que Papon fosse declarado cúmplice de crimes contra a humanidade. Em suas alegações perante o tribunal, Papon não demonstrou remorso, não se referiu aos deportados, rotulando-se como “uma vítima do mais triste capítulo da história legal da França”. Foi-lhe imposta a pena de dez anos de prisão e retiraram-lhe todas as medalhas e condecorações. Papon morreu em 2007, aos 96 anos de idade.

Depois da guerra, Pétain e Laval foram levados a julgamento. Acusado de traição, o marechal foi condenado à morte, mas De Gaulle interveio e comutou a pena para prisão perpétua. Pétain foi levado para uma prisão na ilha de Yeu, onde morreu senil, aos 95 anos de idade. Pouco antes do fim do conflito, Pierre Laval fugiu para Barcelona.

No dia 30 de julho de 1945 foi extraditado para a França. Considerado culpado por colaboração com o inimigo e por violação da segurança do estado, foi condenado à morte e fuzilado na prisão de Frennes, no dia 15 de outubro daquele ano.

Por ocasião da ocupação nazista, o político Xavier Vallat foi nomeado pelo governo de Vichy Comissário Geral para os Assuntos Judaicos. Nessa função, ocupou-se da “arianização” da economia, dos serviços educacionais e da obrigatoriedade de todos os judeus se registrarem na polícia. Antissemita por convicção, porém um patriota francês, Vallat começou a se indispor com as autoridades da ocupação, das quais pedia menos rigor com a população. O embaixador da Alemanha nazista na França, Otto Abetz, pediu, ou melhor, ordenou que Pétain demitisse Vallat.

Quando os aliados desembarcaram na Normandia, ele se apossou da rádio de Vichy, onde produziu uma série de programas antissemitas, até ser preso. Levado a julgamento, objetou a presença do juiz Maurice Kriegel-Vairimont, alegando que o mesmo tinha origem judaica. Eximiu-se das deportações e mentiu ao afirmar que todo o antissemitismo de Vichy fora ordenado pelos alemães. Ele foi condenado a dez anos de prisão, tendo sido anistiado em 1954. Imediatamente retomou suas atividades antissemitas expostas no jornal Aspects de la France. Quando Vallat morreu, em 1972, Serge e Beate Klarsfeld compareceram a seu funeral e jogaram sobre o caixão uma coroa de flores todas amarelas. A coroa tinha o formato da Estrela de Davi.

Zevi Ghivelder é escritor e jornalista

Bibliografia
Vichy France and the Jews, Michael R. Marcus e Robert O. Paxton, Stanford University Press, 1995; La Délation Sous L’Occupation, André Halimi, Le Cherche Midi, 2010

Os passos da infâmia

22 de junho de 1940
Assinatura do armistício entre a França de Vichy e a Alemanha nazista. O país é dividido entre uma zona ocupada pelo exército alemão e uma zona “livre”, cujo governo se instala em Vichy sob o comando do Marechal Pétain e tendo Laval como primeiro-ministro. Entretanto, a chamada liberdade era apenas aparência.

27 de agosto de 1940
A lei francesa que proibia manifestações de antissemitismo foi revogada.

3 de outubro de 1940
Promulgação do primeiro estatuto dos judeus em Vichy que foram considerados uma raça e não uma eligião. Os judeus vindos do exterior viram-se privados de todos os seus direitos. Os judeus nascidos na França foram excluídos de quaisquer cargos públicos e de diversas profissões.

7 de outubro de 1940
Promulgação de um decreto segundo o qual os judeus da Argélia foram privados da cidadania francesa.

- Qualquer comércio empreendido por um judeu devia afixar um cartaz com um fundo amarelo e letras pretas na vitrine ou no interior da loja explicitando que o negócio pertencia a um judeu,
com os seguintes dizeres: Jüdisches Geschäft e Entreprise Juïve.

18 de outubro de 1940
O diário oficial de Vichy publicou um estatuto destinado aos judeus não-franceses, que deveriam ser internados em campos especiais.

-  Foi publicado outro estatuto voltado para os judeus em geral com restrições de diferentes naturezas. Foram considerados judeus os descendentes de duas gerações de judeus.

21 de outubro de 1940
Os judeus da zona ocupada pela Alemanha deviam ter carimbada a palavra juif em seus documentos de identidade.

11 de março de 1941
O estatuto concedeu algumas regalias aos judeus que lutaram pela França na 1ª. Guerra Mundial.

29 de março de 1941
Criação do Comissariado Geral para Assuntos Judaicos, dirigido por Xavier Vallat, que instituiu
a expressão “antissemitismo de Estado”.

31 de março de 1941
Começou a atuar o Comissariado que teve como missão fixar datas para os confiscos de bens pertencentes a judeus e propor ao Chefe do Estado todas as medidas legislativas destinadas a restringir as atividades profissionais dos judeus.

5 de setembro de 1941
Aberta no Palais Berlitz, em Paris, a exposição antissemita “Os judeus e a França”.

-  9 de outubro de 1941
Criação em Vichy de um departamento de polícia destinado exclusivamente à vigilância dos judeus.

29 de novembro de 1941
Foi instituído um censo dos judeus chamado União Geral dos Israelitas da França que serviu para as futuras deportações.

6 de maio de 1942
Louis Darquier de Villepoix assumiu o cargo de Comissário para os Assuntos Judaicos com o entusiasmado aval dos alemães.

29 de outubro de 1942
Obrigatoriedade do uso da estrela amarela em Vichy para crianças acima de seis anos de idade. Não houve exceções para os adultos. Qualquer relutância deveria ser severamente punida.

1943 e 1944
Deportação dos judeus de Vichy primeiro para Drancy e depois para Auschwitz, somando 31.889 homens, mulheres e crianças. O último trem para o campo de extermínio partiu em agosto de 1944, pouco antes da libertação de Paris pelos aliados. No total, foram deportados 75.721 judeus da França. Menos de 2 mil sobreviveram.

Os passos da infâmia

22 de junho de 1940
Assinatura do armistício entre a França de Vichy e a Alemanha nazista. O país é dividido entre uma zona ocupada pelo exército alemão e uma zona “livre”, cujo governo se instala em Vichy sob o comando do Marechal Pétain e tendo Laval como primeiro-ministro. Entretanto, a chamada liberdade era apenas aparência.

27 de agosto de 1940
A lei francesa que proibia manifestações de antissemitismo foi revogada.

3 de outubro de 1940
Promulgação do primeiro estatuto dos judeus em Vichy que foram considerados uma raça e não uma eligião. Os judeus vindos do exterior viram-se privados de todos os seus direitos. Os judeus nascidos na França foram excluídos de quaisquer cargos públicos e de diversas profissões.

7 de outubro de 1940
Promulgação de um decreto segundo o qual os judeus da Argélia foram privados da cidadania francesa.

-Qualquer comércio empreendido por um judeu devia afixar um cartaz com um fundo amarelo e letras pretas na vitrine ou no interior da loja explicitando que o negócio pertencia a um judeu, com os seguintes dizeres: Jüdisches Geschäft e Entreprise Juïve.

- 18 de outubro de 1940
O diário oficial de Vichy publicou um estatuto destinado aos judeus não-franceses, que deveriam ser internados em campos especiais.

-  Foi publicado outro estatuto voltado para os judeus em geral com restrições de diferentes naturezas. Foram considerados judeus os descendentes de duas gerações de judeus.

21 de outubro de 1940
Os judeus da zona ocupada pela Alemanha deviam ter carimbada a palavra juif em seus documentos de identidade.

11 de março de 1941
O estatuto concedeu algumas regalias aos judeus que lutaram pela França na 1ª. Guerra Mundial.

29 de março de 1941
Criação do Comissariado Geral para Assuntos Judaicos, dirigido por Xavier Vallat, que instituiu
a expressão “antissemitismo de Estado”.

31 de março de 1941
Começou a atuar o Comissariado que teve como missão fixar datas para os confiscos de bens pertencentes a judeus e propor ao Chefe do Estado todas as medidas legislativas destinadas a restringir as atividades profissionais dos judeus.

5 de setembro de 1941
Aberta no Palais Berlitz, em Paris, a exposição antissemita “Os judeus e a França”.

-  9 de outubro de 1941
Criação em Vichy de um departamento de polícia destinado exclusivamente à vigilância dos judeus.

29 de novembro de 1941
Foi instituído um censo dos judeus chamado União Geral dos Israelitas da França que serviu para as futuras deportações.

6 de maio de 1942
Louis Darquier de Villepoix assumiu o cargo de Comissário para os Assuntos Judaicos com o entusiasmado aval dos alemães.

29 de outubro de 1942
Obrigatoriedade do uso da estrela amarela em Vichy para crianças acima de seis anos de idade. Não houve exceções para os adultos. Qualquer relutância deveria ser severamente punida.

1943 e 1944
Deportação dos judeus de Vichy primeiro para Drancy e depois para Auschwitz, somando 31.889 homens, mulheres e crianças. O último trem para o campo de extermínio partiu em agosto de 1944, pouco antes da libertação de Paris pelos aliados. No total, foram deportados 75.721 judeus da França. Menos de 2 mil sobreviveram.

SHOÁ

Entrevista com um facínora

Um dos principais responsáveis pela deportação de 75 mil judeus da França foi Louis Darquier de Pellepoix. De maio de 1942 a fevereiro de 1944, ele ocupou a função de Comissário Geral dos Assuntos Judaicos no governo de Vichy. Depois da guerra, Darquier fugiu para a Espanha, onde foi localizado em 1978 pela revista semanal francesa L’Express, para a qual concedeu um longo depoimento, publicado em duas edições consecutivas. Seguem-se trechos de sua entrevista.

Louis Darquier de Pellepoix nasceu em Cahors, França, em dezembro de 1897 e morreu em Málaga, Espanha, em agosto de 1980

L’Express – Há 36 anos o senhor entregou aos alemães 75 mil judeus, homens, mulheres e crianças. Eis um documento que comprova isto.
Darquier – Era o que eu imaginava! Um documento judaico! Este número é uma invenção pura e simples. Assim são os judeus: fazem qualquer coisa para obter publicidade.

L’Express – Eu sou jornalista, não sou promotor. Só quero entender o que se passava na sua cabeça, 36 anos atrás.
Darquier – Eu procurei tornar a situação dos judeus a mais confortável possível.

L’Express– O senhor acha que alguém vai acreditar nisso?
Darquier – Vejo que o senhor é mais uma vítima da propaganda judaica. Enquanto eu fui Comissário, passei a maior parte do meu tempo aliviando os judeus.

L’Express – Em fevereiro de 1943 o senhor sugeriu ao governo de Vichy que todos os judeus pregassem em suas roupas estrelas de David amarelas com a inscrição "juif".
Darquier – Eu não me lembro disso. Deve ser mais uma invenção da propaganda judaica.

L’Express – Os deportados foram mandados para Auschwitz?
Darquier – Auschwitz... Auschwitz... Toda hora vocês falam sobre Auschwitz. Alguém deve procurar a verdade sobre Auschwitz.

L’Express – Um milhão de mortos, inclusive crianças. Todos nas câmaras de gás.
Darquier – Ninguém nunca vai conseguir que eu acredite nisso. Essa diabólica propaganda judaica virou uma lenda.

L”Express – O próprio Eichmann admitiu a existência de uma “solução final”.
Darquier – É outra invenção pura e simples. Você conhece alguém que tenha visto com os próprios olhos uma câmara de gás?

L’Express – Milhares de sobreviventes de Auschwitz, comissões de inquéritos dos aliados depois da guerra e os visitantes do museu de Auschwitz, entre os quais eu me incluo.
Darquier – Essas câmaras de gás foram fabricadas depois da guerra. Ninguém me convence do contrário.

L’Express– O senhor quer ver as fotografias que eu trouxe?
Darquier– Não, não quero. É tudo forjado e manipulado. Os judeus são mestres em falsificações.

L’Express – O senhor pode me dizer onde estava nos dias 16 e 17 de julho de 1942?
Darquier – O que houve de extraordinário nesses dias?

L’Express – Foram os dias nos quais milhares de judeus, homens, mulheres e crianças, foram reunidos no estádio de ciclismo (Velodrome d’Hiver), em Paris, e em seguida mandados para Auschwitz. O senhor esteve no estádio?
Darquier – Claro que não! O que eu faria lá?

L’Express – O senhor sente algum remorso?
Darquier- Remorso de quê? Não estou entendendo a sua pergunta.