Entrevistado por Eduardo Shor Nascido no Brasil, o major Rafael Rozenszajn, o primeiro porta-voz em língua portuguesa da história das Forças de Defesa de Israel (FDI), responde a questões relacionadas à guerra Israel-Hamas, em entrevista exclusiva à Revista Morashá. Entre outros temas, Rozenszajn aborda questões de Direito Internacional e a atuação do grupo terrorista na […]

Entrevistado por Eduardo Shor

Nascido no Brasil, o major Rafael Rozenszajn, o primeiro porta-voz em língua portuguesa da história das Forças de Defesa de Israel (FDI), responde a questões relacionadas à guerra Israel-Hamas, em entrevista exclusiva à Revista Morashá. Entre outros temas, Rozenszajn aborda questões de Direito Internacional e a atuação do grupo terrorista na Faixa de Gaza, além de destacar a importância das comunidades da Diáspora em um dos momentos mais duros nos 76 anos da trajetória do Estado de Israel.

Poucos dias depois dos atentados de 7 de outubro de 2023, enquanto o mundo ainda tentava entender o que havia acontecido no sul do território israelense, próximo à fronteira com a Faixa de Gaza, Rozenszajn foi convidado pelo Exército de Israel a assumir o recém-criado cargo de porta-voz em língua portuguesa da instituição. 

Hoje com 41 anos, o atual major se estabeleceu em Israel há duas décadas, formou-se em Direito pela Universidade de Tel Aviv e obteve o mestrado na Universidade de Northwestern, em Chicago (EUA). Em 16 anos de carreira nas forças armadas, atuou em diversas frentes no âmbito jurídico, como Promotor Militar, Advogado da Marinha e do Comando Central.

Dada a urgência do momento, seu preparo para a função de porta-voz levou, em vez dos habituais 12 meses, apenas quatro horas. O restante do treinamento deu-se na prática, nas cerca de 100 reportagens de alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil para as quais Rozenszajn contribuiu.

Sua primeira missão depois do 7 de outubro foi comunicar a israelenses a perda de familiares nos ataques. O porta-voz esteve pessoalmente com os avós dos gêmeos de dez meses da família Berdichevsky. As crianças, que perderam os pais na ação terrorista, sobreviveram dentro de um bunker no Kibutz Kfar Aza.

Em uma entrevista, o major respondeu a diversas perguntas relacionadas ao conflito.

Morashá: De acordo com a lei internacional de guerra, o que constitui uma “resposta proporcional” em um conflito armado?

Major Rozenszajn: O Direito Internacional entende que, infelizmente, civis pagam o preço do conflito. A questão é se eles são o alvo dos ataques, como no 7 de outubro. O conceito de resposta proporcional é, muitas vezes, mal compreendido, como se, para uma reação ser considerada justa, o número de vítimas de ambos os lados tivesse que ser semelhante. No entanto, a questão não está ligada a termos quantitativos.

O primeiro protocolo de 1977 da Convenção de Genebra, em seu artigo 57, exige uma avaliação da vantagem militar concreta esperada em relação aos danos previstos a civis. Se os danos a civis superarem a vantagem militar, o ataque fere as normas de guerra. Em outras palavras, desde que os alvos e os objetivos tenham caráter militar e grande importância estratégica, o Direito Internacional pode considerar legal até mesmo um elevado número de mortes de civis.

Na prática, se para atingir um membro do baixo escalão do Hamas for necessário um ataque que ameace uma creche, é natural que essa missão seja abortada. Por outro lado, se o líder atual da organização, Yahya Sinwar, o “arquiteto” do ataque de 7 de outubro, estiver escondido em um túnel cercado por sua família, a operação não seria considerada desmedida, exatamente devido à importância militar do alvo.

Morashá: Segundo as normas do Direito Internacional, é proporcional a resposta de Israel aos acontecimentos de 7 de outubro?

Major Rozenszajn: Sim, pois obedece às exigências do regramento em vigor, que considera os princípios de necessidade militar, proporcionalidade, distinção e humanidade. Além de observarmos o artigo 57 da Convenção de Genebra, todos os alvos das FDI são militares; ou seja, terroristas, ou locais utilizados por terroristas para armazenar armamentos e realizar ataques.

Em muitos casos, um prédio aparentemente civil em Gaza, como uma escola, um hospital e até uma mesquita, é usado como centro de operações militares do Hamas. O uso de civis palestinos como escudos humanos pelos terroristas exige ainda mais cuidados nas operações das FDI contra os redutos, os comandos e a infraestrutura da organização extremista. Sempre atuamos de forma direcionada e precisa.

Qualquer análise do cumprimento das leis de guerra por Israel deve basear-se em provas e seguir as leis internacionais. Quando um grupo terrorista ataca a população civil do nosso país e utiliza o seu próprio povo para proteger-se, não há espaço para avaliações superficiais.

Morashá: Como você analisa as manifestações pró-Hamas no mundo democrático?

Major Rozenszajn: O ataque de 7 de outubro foi a maior operação terrorista da história contemporânea. Cerca de 3 mil terroristas palestinos vindos de Gaza invadiram uma festa no sul de Israel; atacaram 20 kibutzim, além de outras comunidades da região; assassinaram cerca de 1.200 pessoas; sequestraram 251 e deixaram mais de 5.500 feridas, em sua maioria civis. No Brasil, um ataque dessas proporções atingiria cerca de 160 mil pessoas de uma só vez, o equivalente a dois Maracanãs lotados. 

Algumas vítimas foram retiradas da cama; outras queimadas vivas, e ainda outras, decapitadas. Bebês foram mortos; mulheres, estupradas; casas, incendiadas e idosos, agredidos. Tudo foi registrado por equipamentos acoplados ao capacete dos terroristas e por seus celulares, ou por sistemas de segurança das comunidades, como câmeras de carros, residências e postes de rua. Em respeito às famílias das vítimas, Israel não divulgou todas as imagens, e o mundo só teve acesso a uma pequena parte do que aconteceu.

Quem levanta a bandeira do Hamas apoia uma violência indiscriminada. A cada mil israelenses, um foi assassinado, sequestrado ou ferido. É muito difícil encontrar, no país, uma família que não tenha pelo menos um conhecido afetado diretamente pelos ataques.

Acredito que a maior parte dos brasileiros seja a favor da paz e da coexistência. Dados divulgados por um portal de notícias israelense indicaram que, no primeiro mês de guerra, o Brasil era o segundo país a expressar mais apoio a Israel nas mídias sociais (85,97%), atrás apenas dos israelenses (91%) e uma posição à frente dos americanos (85,61%).

Embora as denúncias de antissemitismo tenham aumentado quase 1000% nos dois últimos meses de 2023 no Brasil, segundo o Ministério da Diáspora em Israel, acredito que o apoio ao Hamas, quando existe, se deva mais à falta de informações. Se a maioria dessas pessoas soubesse o que os terroristas fizeram e ainda fazem, não haveria tanta aprovação.

Morashá: Poderia comentar sobre algumas alegações de que o Hamas é “um grupo de resistência” que visa à criação de um Estado Palestino?

Major Rozenszajn: Muitos dos que se manifestam dessa forma acreditam que a luta do grupo terrorista tenha dois objetivos: a formação de um Estado Palestino e o fim da ocupação israelense. Essa guerra, porém, não tem a ver com nenhuma questão geopolítica, como limites territoriais, ocupação ou formação de um novo país. O único objetivo do Hamas, declarado no estatuto do grupo, é a destruição do Estado de Israel.

A organização perpetua-se no poder desde nossa retirada de Gaza, em 2005. Nesse período, gastou, na construção de 500 quilômetros de túneis subterrâneos, US$ 1,3 bilhão, quantia suficiente para erguer, por exemplo, dois hospitais, quatro escolas e três shopping centers.

O ataque terrorista de 7 de outubro não contribui em nada para os palestinos. Pelo contrário. Antes da guerra, cerca de 18.500 deles trabalhavam em Israel com salário de quatro a seis vezes maior do que ganhariam na Faixa de Gaza, que registra um índice de desemprego muito alto. Além disso, em 2022, 7.500 palestinos receberam tratamento em hospitais israelenses. Atualmente isso não é mais possível.

Morashá: E com relação às restrições de Israel à entrada de produtos e matérias-primas na Faixa de Gaza?

Major Rozenszajn: Um grupo terrorista não pode ter a liberdade de trazer nenhum tipo de suprimento para o território em que esteja estabelecido sem passar por uma inspeção. O que fazemos é uma verificação do que entra em Gaza por terra, ar ou mar para que o Hamas não tenha acesso a armamentos e matérias-primas importantes para o desenvolvimento de sua capacidade militar. Sem isso, o grupo poderia dispor de mísseis teleguiados para alcançar qualquer ponto de Israel, bem como de outros recursos tecnológicos avançados que levariam seu potencial destrutivo a um patamar muito maior.

Morashá: Desde o início da guerra, quanta ajuda humanitária e de que tipos entrou na Faixa de Gaza?

Major Rozenszajn: A perda de vidas inocentes é uma tragédia para Israel, porém uma estratégia para o Hamas. Não travamos uma guerra contra o povo palestino, mas contra um grupo terrorista. Por isso, a ajuda humanitária à população civil é parte de nossas operações. No Exército, sempre fizemos e continuaremos a fazer tudo que estiver ao nosso alcance para oferecer apoio aos palestinos.

Até agora, entraram na Faixa de Gaza, em cerca de 40 mil caminhões, mais de 800 mil toneladas de alimentos, água, medicamentos e roupas, além de aproximadamente 500 mil frascos de vacina contra sarampo, poliomielite, hepatite B, tétano e outras doenças. Isso é suficiente para atender a dois milhões de pessoas, o que corresponde a toda a população local. 

Também estabelecemos, em cooperação com a comunidade internacional, 11 hospitais de campanha até o momento para atendimento aos palestinos. O último, no sul de Gaza, tem 40 leitos, três salas de cirurgia e uma unidade de tratamento intensivo.

Morashá: Por que Israel é acusado de limitar o acesso à ajuda humanitária?

Major Rozenszajn: Atualmente, essa assistência é prestada de seis maneiras: por lançamentos aéreos com paraquedas, por mar e por quatro passagens terrestres, algumas das quais tiveram que ser recuperadas pelas FDI para ampliar a capacidade de distribuição, pois o Hamas bombardeou esses pontos durante a guerra.

Israel não impõe nenhuma restrição nesse sentido na Faixa de Gaza, mas realiza inspeções de segurança. O problema não é a entrada em si da ajuda humanitária, mas as dificuldades das instituições internacionais, algumas das quais ligadas à ONU, responsáveis pela distribuição dos recursos. Entre esses obstáculos, há os frequentes assaltos do Hamas às cargas e a incapacidade desses órgãos de ampliar a entrega. Parte dos alimentos, por exemplo, estraga por não serem retirados e entregues a tempo.

Morashá: Quais são os protocolos das FDI para evitar danos ao povo palestino e como o uso de infraestrutura civil pelo Hamas para fins militares complica esses esforços?

Major Rozenszajn: Temos provas amplamente divulgadas do lançamento de foguetes a partir de zonas de hospitais, escolas, instituições da ONU e mesquitas pelo grupo terrorista, que usa alguns edifícios civis como centros de operações. Os combatentes extremistas também se misturam às pessoas comuns, sem delas se distinguirem por meio de uniformes militares. São obstáculos adicionais.

Nesse contexto, as FDI buscam minimizar todos os danos a civis. Desde o início da guerra, antes de cada ataque, buscamos alertar a população. Já lançamos 10 milhões de panfletos com indicação das zonas de segurança e de combate para permitir a fuga antecipada das áreas de risco. Também enviamos 15 milhões de mensagens de voz e outras tantas de texto.

Por fim, temos centrais de atendimento com funcionários que falam árabe e já realizamos mais de 100 mil ligações para pedir a evacuação de determinadas áreas.

A situação piora quando o líder do Hamas, Yahya Sinwar, diz que a morte de civis é um “sacrifício necessário”, de acordo com informações publicadas pelo Wall Street Journal, um dos jornais mais importantes dos EUA. Para o grupo terrorista, quanto pior, melhor. O número crescente de vítimas civis palestinas é uma forma de aumentar a pressão internacional sobre Israel pelo fim da guerra sem o alcance de nossos objetivos, o que abriria espaço para a permanência do terrorismo no poder. 

Morashá: Existem provas da participação ativa de funcionários da UNRWA (órgão da ONU para assistência a refugiados palestinos) no massacre de 7 de outubro?

Major Rozenszajn: Sim, em Israel temos várias, inclusive vídeos feitos pelas tropas. São cintos explosivos, granadas e armas escondidas na sede da entidade, no centro da Cidade de Gaza. Há imagens de armas em bolsas com o logotipo da UNRWA, ataques contra as FDI a partir de uma escola e civis alvejados por terroristas em um complexo logístico da instituição, em Rafah, destinado à distribuição de ajuda humanitária.

Em uma ligação interceptada pelo Exército, um participante do massacre de 7 de outubro menciona diversos atos de violência. Não era apenas um membro do Hamas, mas um professor de uma escola primária da ONU em Gaza que, a seu interlocutor, se referia a mulheres reféns como “cavalos nobres”. Ambos os homens falaram de estupros e invasões, entre outras ações.

Mais de 450 funcionários da UNRWA são agentes militares de grupos terroristas em Gaza. Não é uma coincidência. O Hamas usa organizações humanitárias para cometer crimes contra a humanidade. As doações da comunidade internacional têm sido desviadas para o financiamento do terrorismo.

Morashá: E com relação a jornalistas da Al-Jazeera? Quais as consequências das alegações de que participaram do sequestro e da manutenção de reféns israelenses durante o conflito?

Major Rozenszajn: Temos provas da participação de jornalistas filiados a grupos terroristas, como no caso do profissional que mantinha três reféns resgatados pelas FDI em uma residência de Gaza, no início de junho. De todo modo, o Exército investiga a atuação do indivíduo como terrorista, não a sua carreira.

Morashá: Como o Hamas conseguiu construir uma rede extensa de túneis subterrâneos?

Major Rozenszajn: Sabemos dessas estruturas há alguns anos, mas não é fácil descobrir sua localização exata e fechar as passagens, ainda mais sem uma ação terrestre, que costuma apresentar um custo mais alto em vidas humanas. A partir da operação “Margem Protetora”, em 2014, conseguimos eliminar alguns túneis e construímos uma barreira subterrânea para impedir a entrada de terroristas em nosso território.

Durante a guerra atual, foi exibido na imprensa um vídeo que fiz diante de um dos maiores túneis encontrados até agora. São quatro quilômetros de extensão e 50 metros de profundidade, o equivalente a um prédio de 16 andares para baixo da terra. Localizado a 400 metros de uma das passagens de ajuda humanitária para Gaza, tem ventilação, estrutura para comunicação, energia elétrica, encanamento de água e largura para passar um veículo.

Morashá: Qual a situação atual do Hamas depois de uma série de ataques à sua infraestrutura? 

Major Rozenszajn: O grupo está sendo “sufocado”. Já eliminamos mais da metade de suas lideranças: seis comandantes de Brigada, 20 de Batalhão e mais de 150 de Companhia, assim como cerca de 14 mil combatentes. Além de atingirmos mais de 40 mil alvos militares, controlamos uma passagem que permitia a entrada de armamentos para os terroristas no Corredor Filadélfia, na fronteira de Gaza com o Egito. Entre essa região e esse país, também encontramos túneis, o que mostra a grande importância dessa operação para nossa defesa. Em todo o território, são mais de 5 mil saídas dessas estruturas subterrâneas. O Hamas está bem enfraquecido, e o Exército está próximo do objetivo de desmantelar a capacidade militar do grupo terrorista.

Morashá: Quais obstáculos restam para Israel em relação à organização terrorista?

Major Rozenszajn: É comum ouvirmos a pergunta: “Dá para acabar com o Hamas?”. Costumo responder que o grupo é, na verdade, uma ideologia, um conceito, e, como tal, não há como eliminá-lo militarmente. A única forma de acabar com uma ideia destrutiva é oferecer outra melhor como alternativa. Nosso desejo é que, ao menos no longo prazo, prevaleça na região uma atmosfera de coexistência, paz, harmonia e respeito.

Ciente disso, o Estado de Israel busca a paz com seus vizinhos, o que já conseguimos com o Egito e a Jordânia. Há quatro anos, firmamos os Acordos de Abrahão e, assim, normalizamos as relações com os Emirados Árabes, Bahrein, Sudão e Marrocos. Antes do 7 de outubro, caminhávamos a passos largos para a inclusão da Arábia Saudita nessa lista.

Morashá: Então, de uma perspectiva militar e política, o que seria considerado uma vitória de Israel no atual conflito?

Major Rozenszajn: Como porta-voz do Exército, não tenho como responder do ponto de vista político, mas posso falar da visão militar. Dentro dessa ótica, a vitória é o cumprimento do objetivo estabelecido pelo governo: o desmantelamento da capacidade militar e governamental do Hamas, bem como o retorno de todos os 101 reféns que ainda permanecem nas mãos dos terroristas e a garantia de segurança dos nossos cidadãos.

Um ponto que muito nos preocupa é o regresso dos reféns, e faremos tudo que for necessário para trazê-los todos de volta. As ações das FDI são mais um meio para esse fim. O outro são as negociações conduzidas pelo governo israelense, cujas decisões o Exército só segue, sem participar dessas discussões.

Não temos como acabar com a ideologia do Hamas, mas podemos destruir a sua infraestrutura e desencorajar tudo que ameace tanto a segurança quanto à existência de Israel. Esse é o primeiro passo para uma paz duradoura.

Morashá: Que desafios o Estado de Israel e suas Forças de Defesa enfrentam nas relações públicas e na mídia internacional?

Major Rozenszajn: Em paralelo ao conflito militar, também lutamos uma guerra midiática, não menos desafiadora. Como estratégia, o Hamas e seus apoiadores mentem sobre a quantidade de mortos e feridos, bem como sobre os tipos de alvos atingidos. Além disso, o grupo não identifica os terroristas entre as vítimas de forma que, segundo ele, todas são civis e, em sua maioria, mulheres e crianças.

Nas FDI, nosso compromisso é com a verdade e as normas do Direito Internacional, o que implica uma série de etapas e confirmações antes da divulgação de qualquer informação. Um exemplo foi a explosão de um foguete nas proximidades do Hospital Al-Ahli, na Faixa de Gaza, no primeiro mês da guerra. O Hamas logo culpou Israel pelo ataque e pela morte de 500 civis. Do nosso lado, levamos pelo menos quatro horas para verificar a origem do disparo. Em primeiro lugar, não identificamos nenhuma operação do Exército na área, tampouco características compatíveis com o uso de armamentos israelenses na explosão.

Além disso, interceptamos uma ligação entre dois terroristas na qual ficou claro que o foguete não havia sido disparado por Israel. Em imagens de satélite da região, observamos que o artefato havia sido lançado pela Jihad Islâmica de um cemitério atrás do hospital e, por uma falha técnica, não caiu nem mesmo no prédio, mas no estacionamento. Morreram algumas dezenas de pessoas, um número bem inferior aos 500 declarados.

Morashá: Que estratégias Israel poderia implementar para divulgar melhor suas ações, intenções e, assim, melhorar a percepção mundial da atuação do país na guerra?

Major Rozenszajn: Antes do conflito, o Exército tinha porta-vozes para os idiomas árabe, francês, alemão, russo e espanhol, mas não para o português. Israel reconhece a importância, na comunidade internacional, do Brasil, que ocupava a presidência temporária do Conselho de Segurança das Nações Unidas quando estourou a guerra.

Daí a necessidade de manter um porta-voz que domine a língua dos brasileiros, povo que, de modo geral, apoia Israel, mas nem sempre tem argumentos para discutir com pessoas que fazem falsas acusações contra o Estado Judeu, em muitos casos com base em informações distorcidas.  

A atuação do porta-voz, porém, é só uma parte do trabalho. Por vestir uniforme militar e representar o Exército, posso ser visto como parcial. As pessoas que me escutam podem usar informações corretas para conversar com seu círculo de conhecidos e argumentar melhor com aqueles que fazem acusações falsas a Israel. A abertura de canais é uma das estratégias que têm proporcionado uma melhoria da nossa comunicação.

Morashá: Qual é o papel das redes sociais e da mídia digital na formação da opinião pública sobre a guerra?

Major Rozenszajn: Embora a legalidade de uma guerra se sustente em definições claras do Direito Humanitário Internacional, a legitimidade do conflito pode ser questionada pela opinião pública, nas mídias sociais inclusive. Assim, ainda que plenamente respaldada no ordenamento jurídico mundial, determinada operação pode ser injustificável aos olhos de certos países.

Para alguns, a morte de 20 civis em um ataque para eliminar um alto comandante militar do Hamas pode ser ilegítima. No entanto, avaliadas todas as condições em que se deu a ação, há bases do Direito que permitem considerar a estratégia de acordo com a lei.

Agora, imagine que a única maneira de acabar com os túneis subterrâneos fosse o uso de uma bomba química que nem ferisse civis, nem comprometesse a infraestrutura das cidades. Nesse exemplo, o ataque, ainda que só eliminasse terroristas, talvez até contasse com legitimidade, mas seria ilegal aos olhos do Direito Internacional já que a utilização desse tipo de artefato é proibida.

Além de respeitar esse regramento, também é importante garantir a legitimidade das ações e dos objetivos do Exército. As pessoas precisam compreender que essa é a única forma de combater grupos terroristas que utilizam a população civil como escudo humano e lutam pela destruição de outros países.

Morashá: De que maneiras os israelenses têm sido afetados pela guerra e quais são as principais dificuldades que enfrentam?

Major Rozenszajn: As repercussões foram trágicas para a população, e nosso objetivo é não só resgatar a tranquilidade, mas também fortalecer a sensação de segurança. Somente neste conflito, foram lançados, contra o território israelense, 12 mil mísseis a partir da Faixa de Gaza, 3 mil dos quais caíram no próprio território palestino. Esse total corresponde praticamente à metade do que foi atirado dali contra nosso país nos últimos 17 anos. Isso sem contar os 7 mil disparos do Líbano e outras origens, como Irã, Iraque e Iêmen.

A guerra alterou a rotina de inúmeras comunidades. Há atualmente mais de 120 mil pessoas evacuadas, 60 mil no sul e 60 mil no norte de Israel, as quais, para se precaverem de possíveis agressões terroristas, estão impossibilitadas de voltar ao próprio bairro, ao lar e retomar a vida normal. Há traumas físicos e psicológicos. É gente que perdeu amigos, familiares, vizinhos e toda uma história nos kibutzim e nas cidades.

Um dos trabalhos do Exército é a criação de unidades especiais em áreas estratégicas para reforçar a proteção dos cidadãos. Os cuidados e o atendimento à população civil, bem como a recuperação das comunidades afetadas, ficam sob a responsabilidade de órgãos não militares.

Morashá: Qual é o papel da Diáspora judaica no apoio a Israel durante e após os conflitos?

Major Rozenszajn: Percebemos aqui essa mobilização. Depois do 7 de outubro, tornou-se mais forte e evidente a ligação entre o Povo Judeu e o Estado de Israel. Não sabia o quanto era próxima a relação entre alguns amigos aparentemente afastados e nosso país, a ponto de se sentirem profundamente abalados. Fiquei impressionado com a maneira pela qual aqueles trágicos acontecimentos influenciaram a comunidade judaica no Brasil e no mundo todo.

O apoio da Diáspora é essencial, sobretudo porque demonstra a união do nosso povo em torno de um objetivo comum, o que transmite ao mundo a mensagem de que essa guerra não tem outro fundamento senão uma base de ódio que visa destruir o Estado de Israel.

As comunidades da Diáspora, ao lado de outros apoiadores, possuem contatos, estudam em universidades e trabalham em meio a pessoas que demonstram interesse em saber mais, perguntar e conversar sobre o conflito. Isso proporciona ótimas oportunidades de fazer circular a informação verdadeira e legítima.

Morashá: Já há alguma conclusão sobre eventuais falhas que tenham levado aos acontecimentos de 7 de outubro?

Major Rozenszajn: Não há dúvida de que houve algumas muito graves. Estão sendo investigadas questões, como: por que o Exército demorou a chegar aos kibutzim, ou por que atuou de uma forma e não de outra na defesa das comunidades.Também estão em andamento outras averiguações para descobrir como o Hamas conseguiu entrar em nosso território e avançar até onde chegou.

Ainda não há uma previsão para a divulgação dos resultados, pois agora o Exército está concentrado na guerra. No entanto, assim que terminarem as diligências, as conclusões serão compartilhadas de forma transparente.

Eduardo Shor é jornalista e escritor. Autor de biografias e livros institucionais.

N.R. Os números mencionados no texto foram atualizados até a publicação desta edição da revista.

Mais informações, fotos e vídeos sobre os temas abordados na entrevista:

Utilização de instituições da ONU para terrorismo

Embalagens da UNRWA utilizadas para guardar armamentos

https://bit.ly/3IbP2D5

Túnel subterrâneo descoberto sob escola da UNRWA, em Al-Rimal, próximo ao centro da Faixa de Gaza
https://bit.ly/4bvaVe5

Vídeo exibe estrutura para sistema de energia elétrica em túnel subterrâneo
https://bit.ly/3usw4oA

Armamento encontrado por tropas em escritórios da UNRWA, na Cidade de Gaza
https://bit.ly/42yQybM

Complexo escolar das Nações Unidas utilizado como base, depósito de armas e refúgio por terroristas
https://bit.ly/49Ce7CS

Interceptação telefônica apresentando a conversa de um terrorista que participou do 7 de outubro
https://www.idf.il/184076

Terroristas atiram em civis a partir de complexo logístico da UNRWA, em Rafah
https://bit.ly/3QE5WyQ  

Evacuação da ala infantil do Hospital Shifa, com assistência de soldados israelenses
https://bit.ly/3G7U1Ug

Evacuação da população civil

Chamada telefônica para moradores de Gaza, recomendando que deixem zonas de risco
https://www.facebook.com/share/v/KCmpgYCoVx7wEjpv/

Panfletos com indicação de zonas de risco e de segurança
https://idfanc.activetrail.biz/ANC06052024648645645846584685

Ajuda humanitária

Soldados israelenses entregam suprimentos de combustível no Hospital Shifa
https://bit.ly/3SBp5Di

Incubadoras para doação à ala pediátrica do Hospital Shifa
https://bit.ly/49wJBLv

Entrega de suprimentos médicos realizada por soldados
https://bit.ly/3u9Nh5w

Entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, via Rafah
https://bit.ly/47qHO97

Caminhões com ajuda humanitária em pouco mais de um mês de guerra
https://bit.ly/3N0Ofb8

Soldados israelenses transportam cilindros de oxigênio para o Hospital “Al Amal”
https://bit.ly/3wdIzor

Chegada de ajuda humanitária no Hospital Nasser
https://bit.ly/3wuxjUE

Entrega de suprimentos de combustível no Hospital Nasser
https://bit.ly/3UQOFW0

Ajuda humanitária via paraquedas
https://bit.ly/4bLPyVU
https://bit.ly/3IojTwp

Preparo de área para desembarque de navio com ajuda humanitária
https://bit.ly/3VdEQBQ

Chegada de navio com ajuda humanitária
https://bit.ly/4cbyc5f

Caminhões desembarcam ajuda humanitária
https://bit.ly/3Wcassb

Organização de contêineres e embalagens com ajuda humanitária para distribuição
https://bit.ly/43X8MEF
https://bit.ly/4awNSyw

Entrada de ajuda humanitária via passagem de Erez
https://bit.ly/3wr0NTP

Ajuda humanitária chegando via passagem de Kerem Shalom
https://bit.ly/3UAujyy

Lançamento de panfletos com indicação das zonas de segurança
https://bit.ly/3QfF1JP

Resgate de reféns em Rafah, na Faixa de Gaza

Exato momento de resgate de 3 reféns
https://bit.ly/3UCyNWY

Imagens de helicóptero de resgate com reféns
https://bit.ly/49xFKNj
https://bit.ly/45g2H6J

Decolagem de helicóptero com os reféns resgatados
https://bit.ly/4aSqECr

Reféns sobrevoam aeroporto Ben Gurion dentro de helicóptero
https://bit.ly/3RgWGRK

Brigada Kfir durante operação de resgate de reféns
https://bit.ly/3Rj6jiI

Discurso do comandante da 98ª Divisão, depois da operação de resgate dos reféns
https://bit.ly/3KGWjMx